A linguagem do poder tem sido um tópico atraente
desde os tempos clássicos até os dias de hoje, suscitando comentários e investigação
sistemática. Os gregos demonstravam fascínio pelos diferentes usos da linguagem
tratando-a como um instrumento a serviço da verdade, meio de expresão artística e
agente de persuasão. Na Idade Média, a comunicação verbal refletia no número de obras
dedicadas aos sermões. Há provas de que muitos oradores sacros tinham uma aguda
percepção de sua posição como pregadores.
O alto nível de conscientização dos pregadores fica patenteado nas anotações
encontradas no manuscrito de um sermão proferido em 1500 por Oliver Maillard e que se
encaixa bem no perfil dos políticos: "Sente...Levante...Enxugue o suor do seu
rosto...Agora berre para valer". Com o advento da imprensa na Europa no século XVI
e, posteriormente do cinema e do rádio no século XX, mais uma vez a voz e o gesto passam
a ser valorizados no uso da sedução, persuasão e no convercer.
Quando falam rápido não podemos segui-los ou, pelo menos, temos mais dificuldades para
acompanhá-los ainda mais quando utilizam palavras complicadas que ainda não dominamos o
que é uma característica pseudopublicitário da conversação.
Os estudiosos dos discursos políticos, freqüentemente apontam supostas consistências ou
inconsistências entre diferentes doutrinas, quando se trata de analisar o impacto da
linguagem política. Exemplos de análises é que não nos faltam na história. JK,
Getúlio Vargas, Collor, Lula, Mário Covas, Stálin, Hitler...
Direita, esquerda ou centro. A análise do discurso político se
destaca mais ainda quando estamos em vésperas de eleições.
"Deve-se considerar que nas campanhas eleitorais,
caracterizadas como episódio sazonal, os discursos levados ao público, elaborados pelos
candidatos e suas assessorias, recebem interferências desde questões puramente factuais
e momentâneas (como as denúncias de parte a parte ou as mudanças de estratégicas no
conteúdo do programa de governo até o compromisso implícito previamente firmado com o
pensamento político que norteia cada uma das representações partidárias ao longo dos
anos", explica a jornalista Adriana Tigre Lacerda Nilo em sua dissertação de
Mestrado intitulado A retórica e a razão no discurso político: a
argumentação nas eleições presidenciais de 1989 .
"É interessante ainda perceber que mesmo não tendo por
objetivo básico informar, vender, nem muito menos possibilitar entretenimento, as
propagandas eleitorais podem se aproximar das tipologias textuais da multimídia
recorrendo aos estilos jornalísticos ou publicitários", ressalta.
Cada vez mais os políticos estão recorrendo às estratégias de
marketing para lançamento e divulgação de propostas, geralmente costumam dizer que tem
solução para todos os problemas que aflige a população. Para isso, utilizam múltiplos
argumentos para ganhar os diversos elementos de seu auditório. Este parece
ser o limite imposto pela definição de Charaudeau Apud Carvalho "o que marca a
diferença entre a propaganda política e a comercial é que enquanto a primeira se baseia
em valores éticos, a segunda explora o universo dos desejos". Assim aconteceu na
campanha eleitoral de 89 entre Collor e Lula que trocavam farpas no horário político.
"Na propaganda de Collor foi colocada em evidência a
necessidade de um presidente jovem e com coragem. Enquanto na propaganda de Lula foi
enaltecido o seu passado de luta e, por conseguinte, a sua condição de líder dos
trabalhadores", relembra Adriana Tigre.
"Collor explorou a idéia de que o principal não era se
pobre; coisa que ele hoje não é mais, referindo-se indiretamente a Lula: e sim dizer eu
sou pelo pobre...coisa que ele não tem demonstrado na prática ser..., outra vez faz
referência a Lula. Já Lula acusava Collor de fazer o jogo do esconde-esconde em
relação ao apoio de Roberto Marinho", ressalta.
Uma coisa é certa, todos os políticos usam símbolos-chaves em
suas promessas como: liberdade, segurança, educação, democracia, justiça...mas é o
estilo que nos interessa ao compararmos a cadência pausada e o tom coloquial das
palestras radiofônicas de Franklin Roosevelt com a gritaria bombástica de Adolf Hitler,
ou a grosseiria do governador de São Paulo Mário Covas com o estilo teatral ou
cara-de-pau de Paulo Maluf, assim como o cinismo de Romeu Tuma com a loucura de Leonel
Brizola.
Este acesso às massas não se obtém meramente através de
palavras e frases simples. Estão igualmente em jogo as idéias e o conteúdo interno
dessas palavras e frases. Para que a linguagem interesse às massas, o político lida com
os problemas das massas, suas alegrias, tristezas, esperanças e aspirações. Deve
representar e espelhar a vida de todo o povo, e não apenas de um grupo restrito no topo.
Os símbolos políticos dominantes em determinada época proporcionam parte da
experiência comum a milhões de pessoas. É fascinante pensar quantos seres humanos
estão vinculados por laços tão tênues quanto a ressonância de um nome ou o eco de um
slogan que penetram diretamente no foco de atenção de todos os homens e propiciam um
elemento de experiência comum.
Fora as manias, os cacoetes, é certo que cada um tem um estilo que é moldado por fatores
sociais, individuais e por um bom marketeiro ou assessor de imprensa. Aí, se encaixa a
frase de Sigmund Freud: "O estilo é a história do homem" , assim como a
grafia, os gestos, a postura, o modo de andar, a entonação e os vícios de linguagem por
mais ordinários ou engraçados que sejam.