Dia do Guido é comemorado com muita história em Guidoval

Comunidade deu exemplo de determinação

Rodrigo M. de Oliveira

A comunidade da Serra da Onça reuniu-se dia 05 de setembro para realizar os festejos do Dia do Guido. Thomaz Guido Marlière foi um militar, que segundo a história, vindo para o Brasil junto a D. João VI, encontrou Guidoval em seu caminho. Chegou aqui a mando de superiores, tendo como uma das finalidades combater a escravidão indígena em nossa região. Viviam por aqui várias tribos; destaque para os Coroados e os Coropós.

As comemorações iniciaram logo cedo com a tradicional corrida de charretes. Muito futebol para quem gosta.

A missa solene realizada na igrejinha local reuniu muitos fiéis, principalmente moradores da região. Durante todo o dia, uma barraca cultural, armada pelos moradores, apresentava a história da região. Muito bem montada, ali era possível aprender um pouco mais sobre as fazendas erigidas no local, entre elas a Fazenda Guidowald, onde morou Guido Marlière e que mais tarde deu origem ao nome da cidade. Algumas fazendas já não existem mais. Outras resistem bravamente até hoje à ação do tempo. Alguns objetos como o tronco de escravos e a máquina manual de fazer massa de tomate, objetos do século passado, atraiu a atenção de muitos. A comunidade local foi presenteada com um belo quadro doado pela Fundação Cultural Chico Boticário, de Rio Novo. No quadro, pinturas retratando momentos de Baptist Spix e Von Martius - naturalistas e escritores alemães - junto aos índios em companhia de Marlière e publicadas na notável obra "Viagem pelo Brasil". O túmulo teve ampla visitação.

O Movimento Ecológico Guidovalense também montou uma pequena barraca a convite da comunidade local. Ali a Poaia (Cephaelis ipecacuanha) e sua influência na história de Guidoval foram apresentadas aos visitantes. Trata-se de uma planta com auto valor terapêutico (vomitiva, amebicida e expectorante principalmente) que era muito usada pelos indígenas que aqui viviam. Tal era a sua importância, que Marlière teve que combater o tráfico da planta que hoje é muito rara por aqui. O MEG aproveitou a oportunidade para transmitir informações sobre a "Doença de Chagas" uma vez que o "barbeiro" (T. viticeps e P. megistus) é muito encontrado na região. Eidivar Afonso, representante da FNS em Guidoval, foi quem forneceu os insetos para apresentação. O movimento contou com o apoio do Grupo de Jovens do município.

Um grupo de jipeiros veio fazer a sua homenagem à Guido Marlière. Vieram de Cataguases e Ubá.

A vizinha Cataguases trouxe uma bela apresentação com a escola Guido Marlière. Um pequeno teatro, relembrou o momento em que Marlière recebia a ordem enviando-o à nossa localidade. Após o teatro, canto do hino de Marlière, prova indiscutível da valorização histórico-cultural. Ao entardecer, muitas autoridades e representantes de comunidades reuniram-se num cerimonial, com boa retórica e homenagens junto ao monumento. Todos queriam mostrar a importância de Marlière para o desenvolvimento da Zona da Mata Mineira.

Às 18:00 hs as comemorações chegaram ao final com um belo espetáculo pirotécnico.

Apoiando-me nas palavras de Oiliam José em seu livro "Marlière, o Civilizador"; não nos é dado o direito de afirmar se Marlière foi um catequista, militar ou simples naturalista. Hoje, apenas temos acesso a dados deixados por este homem que comprovam sua influência em grande fração do estado de Minas Gerais.

Quem esteve presente, gostou de compartilhar informações, aprender história e notar como fatos que, muitas vezes, passam despercebidamente podem apresentar laços com a história de todo um estado e até mesmo país. E viu que não precisa muito... naquela homenagem, não havia especialistas, apenas voluntários e gente disposta a manter viva nossa história.

(transcrito do Jornal Saca-Rolha, setembro/99)