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Revista Placar
Fotos de Eduardo MonteiroRonaldos Colecionador de taças, Mauro Galvão completa 20 anos de Brasileirão e deixa uma pergunta no ar: por que não é convocado?

Por Jorge Luiz Rodrigues

 
 

 

A dois meses de completar 38 anos, sendo 20 como jogador profissional, o gaúcho Mauro Geraldo Galvão tem resposta para quase tudo na carreira. Exceto para uma pergunta: por que não é chamado para a Seleção Brasileira? Vivendo uma fase de esplendor, não há voz para contestar sua vitalidade, muito menos a categoria. Nem mesmo Wanderley Luxemburgo, o técnico da equipe nacional. "Mauro Galvão, Gamarra e Luiz Alberto são aqueles zagueiros que sabem jogar bola e que não precisam usar violência para se impôr. Manter-se jogando em alto nível depois de 20 anos de futebol prova o talento dele", elogia Luxemburgo, deixando a dúvida: então, por que jamais convocou Mauro Galvão em 23 jogos como comandante das seleções principal e olímpica? "Seleção é uma outra coisa, meu camarada!", completa Luxemburgo, encerrando o assunto, em tom de irritação, diante da contradição.

Em 23 de dezembro próximo, Mauro Galvão vai festejar 20 anos da conquista de seu primeiro título brasileiro -- de 1979, pelo Internacional. Tinha feito 18 anos quatro dias antes da decisão, mas já era titular da quarta-zaga colorada havia seis meses. Desde então, ganhou 15 títulos expressivos, além de uma medalha de prata olímpica pela Seleção Brasileira, nos Jogos de Los Angeles, em 1984. "É muito chato ser sempre 'quase' convocado", confessa Galvão, em meio a fotos, medalhas, troféus e recortes sobre a carreira, mantidos num dos quartos da confortável casa no Recreio, Zona Oeste do Rio. "Não alimento mais esperança. Em toda convocação, aparece no noticiário que eu tenho chance. Mas a expectativa não se concretiza. Por isso, resolvi não pensar mais". Falar sobre ser chamado para as Olimpíadas de Sydney, no entanto, traz uma ponta de nostalgia ao zagueiro. "Já disputei uma Copa do Mundo (a de 1990) e uma Olimpíada e sei bem o que representam. Os Jogos Olímpicos têm mais emoção", lembrou.

Vaga na zaga verde-amarela não seria problema se alguém entendesse o que passa na cabeça dos técnicos. Em 22 jogos da seleção principal, Wanderley Luxemburgo testou duplas compostas por oito zagueiros diferentes: Antônio Carlos, Aldair, Odvan, Cléber, Scheidt, João Carlos, Luiz Alberto e César. Tomou 21 gols ­ sendo dez nas últimas quatro partidas. "Os técnicos da Seleção vivem dizendo que convocam os melhores, mas só na cabeça deles deve haver um critério que não permita convocar um zagueiro em forma como o Mauro Galvão", criticou o ex-lateral e apoiador Júnior, hoje comentarista do canal SporTV. "Mauro Galvão foi discriminado por causa da idade já na Copa de 1998, quando era o melhor zagueiro brasileiro. Exatamente como eu fui na Copa de 1990".

 



Até no rival Flamengo o coro pelo vascaíno Mauro Galvão ganha eco. "Ele jogaria no meu time tranqüilamente", opinou o técnico Carlinhos. "Gosto de zagueiro como o Mauro: técnico, firme e com liderança. Soma muito em qualquer equipe". Parar no auge não passa pela cabeça do zagueiro. "Seria egoísmo de minha parte me aproveitar de um momento para deixar boa impressão", justificou com franqueza. Sorte de quem gosta de bom futebol. Com um estilo de liderança sereno, quase invisível, aliado a categoria no campo, o zagueiro do Vasco amealhou respeito em 20 anos de carreira profissional e quase mil jogos disputados (veja quadro). Um respeito que ultrapassa as fronteiras do Estádio de São Januário. Caminhando pelas ruas ou pelos shoppings do Rio, não raramente, ele é parado por torcedores rivais para ouvir desde um pedido de autógrafo até os mais rasgados elogios. "Fui bicampeão estadual pelo Botafogo já há nove anos, mas ainda tem torcedor que me pede para voltar ao clube. É sinal de que devo continuar", avaliou o jogador.

No Vasco, do roupeiro Severino ao presidente Antônio Soares Calçada, não há voz que questione o talento de Mauro Galvão. Contratado pelo clube há dois anos, o zagueiro não se sentiu constrangido ao perder, por conveniência, a braçadeira de capitão para Edmundo -- o artilheiro e Senhor de São Januário. Sabe que continua sendo uma voz ouvida com atenção. Chega a ser uma contradição que a idade só pese quando o assunto é Seleção Brasileira. No início de 1998, Wanderley Luxemburgo quis levar para o Corinthians o zagueiro -- então com 36 anos e recém campeão brasileiro pelo Vasco. "Fiz o convite dentro da ética, pois o contrato dele com o Vasco tinha acabado", recorda Wanderley. Em 1997, alías, Mauro Galvão se tornou o único jogador brasileiro a conquistar, num mesmo ano, a Copa do Brasil (pelo Grêmio) e o Campeonato Brasileiro (pelo Vasco). É o único jogador a ganhar em três décadas diferentes a Bola de Prata -- troféu oferecido por PLACAR aos melhores do Brasileiro (em 1979, pelo Internacional; em 1985, pelo mesmo clube, e em 1997, pelo Vasco).

Mauro Galvão não costuma dar muitas entrevistas. Gosta de falar apenas do que entende. Cavalheiro, evita críticas a Luxemburgo, com quem jamais trabalhou, e concorda com outros polêmicos critérios do treinador: "Ele está certo em não levar para a seleção jogador que dá problema, pois isso cria desgaste. O técnico tem que ter o grupo na mão."

Mauro Galvão mostra ser um campeão também de esportividade. No empate do Vasco por 1 x 1 com o Paraná, no último dia 19, em vez de um pontapé para parar a jogada, segurou o rival pela camisa e recebeu seu primeiro cartão vermelho depois de 20 meses. A última expulsão fora há 85 partidas, em 24 de janeiro de 1998, na vitória por 1 x 0 sobre o Botafogo, pela primeira fase do Torneio Rio-São Paulo daquele ano. "Falta faz parte do jogo, mas tem que saber fazer", opina. "Não entro com o pé mole em dividida, mas jogador que dá uma voadora tem que levar cartão vermelho na hora."

Aos 17 anos, era quarto-zagueiro titular do time principal do Inter, que tinha Falcão como astro. Curiosamente, um talento que o rival Grêmio custou a reconhecer. Apesar de torcedor colorado, foi no tricolor gaúcho que Galvão começou, quando tinha 12 anos. Um dia, o União dos 11, time do bairro Menino Deus, pelo qual atuava há cerca de um ano como ponta-direita, tinha um amistoso marcado contra a equipe mirim (até 14 anos) do Grêmio. Choveu e a partida foi cancelada. Para não perder o dia, seu Oquelésio, pai de Mauro Galvão e ex-jogador de futebol amador, foi com o filho assistir a um treino das divisões de base do tricolor, no suplementar -- campo ao lado do Estádio Olímpico. Bendita decisão!

Para surpresa da dupla, o técnico era Fernando, um ex-companheiro de seu Oquelésio nos campeonatos amadores da capital gaúcha. Veio o convite para um teste como lateral-direito. "Fiquei meio assim porque torcia pelo Inter, mas topei e não saí mais", relembra Mauro. Depois, subiu para a categoria de até 16 anos. Mas, com 15, como zagueiro-central, foi chamado por Jaime Schmidt, técnico dos juvenis, para um jogo. Saiu-se bem. O técnico ficou incomodado com os elogios ao guri e preferiu devolver o zagueiro à equipe infantil. Ninguém entendeu.

 

Por onde passou

Grêmio (1996 e 1997)
Lugano (1990 a1996)
Botafogo (1987 a 1990)
Seleção (1980 e 1990)
Internacional(1979 a 1986)
Bangu (1986 a 1987)



Mauro Galvão no Internacional-RS

 

A história chegou aos ouvidos de Abílio dos Reis -- o maior descobridor de talentos da história do Inter. Chamado para treinar no Beira-Rio, Mauro Galvão entrou diretamente no juvenil. Os dirigentes do Grêmio quiseram brecar. Protestaram na Federação e o rapaz ficou seis meses sem jogar partidas oficiais, cumprindo o estágio de transferência para amadores. Enfim regularizado, levou apenas um ano para subir ao time profissional, como quarto-zagueiro. No primeiro semestre de 1979, o Inter já tinha perdido o título do Gauchão por antecipação para o Grêmio. O então técnico Zé Duarte aproveitou para dar chance aos novatos. Mauro Galvão foi titular nas cinco últimas rodadas. Não saiu mais da equipe, disputando 22 partidas no Brasileiro daquele ano, sagrando-se campeão em 23 de dezembro e ganhando sua primeira Bola de Prata. Era a decolagem para uma carreira vitoriosa, sem data para terminar.

 

 

O exemplo de Júnior

por Leão Serva

17 de maio de 1992. O Brasil entra em campo no estádio de Wembley, Londres, para um amistoso contra a Inglaterra, no início de sua preparação para a Copa de 1994. Os ingleses estranham a presença do grisalho Júnior no meio campo brasileiro, alguns até brincam chamando-o de "sênior". Ao fim, o Brasil arranca um bom empate (1 x 1).

Antes de entrar em campo, o técnico Carlos Alberto Parreira explica ao repórter: "Estamos fazendo experiências, testando jogadores e táticas. Num momento assim, precisamos muito de alguém como Júnior". Experiência não faltava ao veterano Júnior, então 38 anos, para ajudar as experiências do técnico.

O próprio Júnior revelava humildade ao repórter: "Não trabalho pensando que vou chegar à Copa do Mundo. Quero ter o gostinho de colaborar nessa fase inicial".

Parreira queria dar ao Brasil o primeiro título mundial desde 1970. Procurava afirmar um futebol mais eficiente, em que os indivíduos se submetem ao coletivo.

Hoje como então, o técnico Wanderley Luxemburgo afirma a importância do "grupo" acima do talento individual. Enfrenta até resistências de craques que não querem
se submeter aos seus esquemas táticos. Mas, acima de tudo, tem de resolver as deficiências tradicionais da defesa brasileira. Num momento assim, a experiência de um veterano como Mauro Galvão pode ser fundamental para dar ao técnico a calma necessária para se concentrar nos outros objetivos. E quem sabe o Brasil inicie assim o caminho para um novo título mundial.

Profissão Campeão
Os números superlativos em 20 anos de carreira

15 títulos
1 Libertadores (Vasco/98)

1 Copa América (Seleção Brasileira/89)
3 Brasileiros (Internacional/79, Grêmio/96 e Vasco/97)
1 Copa do Brasil (Grêmio/97)
1 Copa Suíça (Lugano/93)
1 Rio-São Paulo (Vasco/99)
4 Gaúchos (Internacional/81/82/83/84)
3 Cariocas (Botafogo/89/90 e Vasco/98)


977 jogos*
Internacional (391 jogos de 1979 a 1986)
Bangu (64 jogos de 1986 a 1987)
Botafogo (110 jogos de 1987 a 1990)
Lugano-SUI (186 jogos de 1990 a 1996)
Grêmio (67 jogos de 1996 a 1997)
Vasco (121 jogos desde julho de 1997)
Seleção Brasileira (38 jogos)


61 gols*
Internacional 16
Bangu 03

Botafogo 01
Lugano 26
Grêmio 05
Vasco 10
Seleção 0

* (até 23/9/99)

De sola
Galvão deixa de lado a habitual categoria e detona os colegas de 1990 e os chefões atuais do Botafogo

COPA DE 1990 "Os interesses pessoais foram maiores do que o coletivo. O time era bom, mas todo mundo achou que tinha que ser titular. Para reverter um quadro daqueles, só dando o bilhete de volta para quem não se enquadrasse."

O LíBERO DE LAZARONI "A seleção jogava com três zagueiros, mas não com um líbero. Os três não saíam para jogar porque a função era cobrir os laterais, liberados para atacar sempre. Faltou explicar melhor à opinião pública."

O GRANDE TIME "O Botafogo de 1989. Tecnicamente, era muito inferior ao Vasco campeão brasileiro de 1997. Mas acabou campeão carioca, quebrando um tabu de 21 anos sem títulos, devido à superação e à vontade do time."

O BOTAFOGO HOJE "Tenho um carinho imenso pelo clube. O que está acontecendo agora não dá para aceitar. E de que adiantou o ex-técnico (Carlos Alberto Torres) e o dirigente (Carlos Augusto Montenegro) ficarem falando que vão abandonar o futebol se o time cair para a Segunda Divisão? O torcedor não quer saber de falsa promessa. Tem é que trabalhar."

LUGANO "O futebol suíço é uma correria só. Por quê? Eles erram muitos passes, por isso correm tanto."

MAIOR PEITAÇO "Antes do Botafogo, joguei no Bangu, de 1986 a meados de 1987.
Foi um peitaço (desafio, na gíria gaúcha) trocar a estrutura do Inter pela do Bangu.
O Carpegiani me chamou. Eles tinham bons projetos e ainda ganhei uma Taça Rio (segundo turno do Estadual de 1987)."

HORA DE PARAR "Seria muito egoísmo de minha parte parar de jogar no auge para manter viva uma boa imagem. Enquanto sentir prazer no que faço, sigo jogando."

SER TÉCNICO "Nem cogito. Vida de técnico é uma troca de lugar a todo instante. Não há tempo, nem paciência para deixar desenvolver um trabalho. O Vasco, do Lopes, é uma exceção. O Grêmio, do Luiz Felipe, foi outra. Nem assim os dirigentes seguem os bons exemplos."

 

Bico de Pena

Hélio Ricardo e o livro

A história do beque que abomina chutão só podia virar livro
Um zagueiro que aos 38 anos corre como um garoto. Um garoto que aos 17 anos se portou como um veterano e ganhou um Brasileiro invicto. Um jogador que largou seu grande clube para jogar em um time de bicheiro. Um becão que não abria mão da elegância (veja a coluna de Falcão na página 26). A história da carreira de Mauro Galvão é rica demais para não se transformar em livro. O ator, produtor teatral e autor Hélio Ricardo percebeu o potencial das histórias do zagueiro e escreveu "Mauro Capitão Galvão -- Lições de vida, lições de futebol", a biografia do zagueiro que deverá ser lançada em outubro.

O autor fez incontáveis entrevistas durante um ano. O livro, que leva o selo da Editora Gryphus, tem dez capítulos divididos em atos, como a estrutura de uma peça teatral.
Histórias não faltam nas 202 páginas. Afinal Galvão participou do Inter campeão invicto em 1979 e do Vasco campeão da Libertadores 1998. Trocou o tricampeão Inter pelo Bangu do bicheiro Castor de Andrade. Dali, foi para o Botafogo. Em 1990 encarou o obscuro Lugano, da Suíça. O então dirigente Emil Pinheiro negociou o jogador por US$ 400 mil para quitar dívidas do clube consigo próprio. Galvão estava com 28 anos, era ídolo da torcida e jogava na Seleção Brasileira. Viu, nos salários em dólar e na oportunidade de conhecer uma outra cultura, a chance que não mais teria. O Lugano era um time pequeno, mas o zagueiro ficou por lá durante seis anos. Esperou que o único filho, Diogo, hoje com 14 anos, completasse o 1º Grau. "Para a minha carreira, a Suíça foi ruim, pois a gente fica escondido. Mas é importante dar uma base de educação aos filhos", justificou.