OS PRINCIPAIS ESQUEMAS TÁTICOS DO SÉCULO XX (3)

 

ESQUEMA COM LÍBERO

 


            O objetivo é o de ter sempre um zagueiro mais recuado para dar o último combate na defesa. Este último defensor é o chamado “líbero”. O líbero não ocupa posição fixa e, quando o outro time ataca, se posta atrás da zaga. O líbero verdadeiro tanto ataca quanto defende (Beckenbauer, por exemplo), já o “zagueiro de sobra” raramente apóia. Na ilustração vemos uma das alternativas para um esquema com líbero verdadeiro. Com este jogador-chave, a defesa joga um pouco mais adiantada. Neste caso, para ilustrar, usamos um 3-4-1-2.

 


ESQUEMA COM SOBRA

 

Neste caso, um dos zagueiros centrais joga mais recuado, pegando o último adversário que entrar área adentro. Ele é o “zagueiro de sobra” que, ao contrário do líbero, pouco vai à frente. Dependendo do lado onde o adversário ataque, um dos centrais fica na sobra. No caso da ilustração, o ataque vem pela esquerda da defesa, e o ala esquerdo cai para o miolo da zaga para dar o primeiro combate, sobrando o zagueiro de área esquerdo. Se a defesa jogar com zagueiro de sobra, este será um dos centrais (o central esquerdo, neste exemplo) e a posição do sobra será preenchida pelo volante, que recuará para perto da zaga.

 


 

4 – 4 – 2

 

É, atualmente, um dos esquemas mais empregados no mundo inteiro, com todas suas possíveis variantes. Consta de 4 zagueiros (os laterais se transformam em “alas”, constantemente subindo para o ataque), 4 no meio de campo, com 2 mais recuados (os “volantes”) e 2 armadores na criação (os “meias”). Todos os 4 meio-campistas devem saber defender e apoiar, quando necessário. Na frente, 2 atacantes esperando pelos lançamentos e pela chegada dos meias e, quase sempre, dos alas. É um esquema que depende muito de contra-ataques rápidos. Há muitas variações do 4-4-2, como a do Real Madrid dos 90, com um 4-1-3-2 (4 zagueiros, 1 volante à frente dos mesmos, 3 armadores e 2 atacantes). Há, também, a variação 4-4-1-1 (ou 4-5-1), que predominou na Copa de 98. O Brasil foi tetracampeão na Copa dos Estados Unidos (1994) empregando um 4-4-2. A consolidação deste sistema praticamente

extingüiu os pontas abertos. As jogadas de linha-de-fundo são feitas, geralmente, pelos laterais (ou alas).

 

 


4 – 3 – 1 – 2

 


Neste caso, em comparação com o 4-4-2, um dos meias armadores (aqui, o meia esquerda) recua para perto dos 2 volantes, enquanto o outro meia (o “1”  do sistema) joga mais avançado pelo centro, como um “meia de ligação” entre o meio de campo e o ataque. Para a Copa de 98, Zagallo adotou na seleção brasileira o esquema 4-3-1-2. Na fase de preparação para a competição, o treinador enfrentou grandes dificuldades para definir quem seria o número “1”, jogador-chave no esquema. Pelo menos cinco foram testados na posição (Leonardo, Rivaldo, Denílson, Juninho e Giovanni), sem convencer o técnico. Se até a Copa não encontrasse o jogador ideal, Zagallo estava decidido a repetir o 4-4-2 de 1994.

 


3 – 4 – 1 –2

 

 

Este é um esquema alternativo do 4-3-1-2. Neste caso, joga-se com 3 zagueiros de área, 5 no meio de campo, ou seja, os 2 alas liberados para apoiar, mais 2 volantes-armadores e 1 jogador pelo centro na ligação meio de campo-ataque e, na frente, 2 atacantes. É um esquema mais ofensivo. Foi frequentemente usado por Zagalo na seleção brasileira no final dos anos 90.

 


 

 


3 – 5 – 2

 

É um esquema tático moderno. Jogam 3 zagueiros marcando, em geral, 2 atacantes adversários, sendo que o zagueiro central é um zagueiro de sobra ou um líbero, atuando um pouco mais mais recuado. Os laterais transformam-se em alas, apoiando pelas extremas. No meio de campo, 5 jogadores: os 2 alas, 1 volante à frente dos 3 zagueiros e 2 armadores. No ataque, 2 jogadores enfiados.

 


 

 

 


5 –3 – 2

 

É um dos esquemas mais defensivos usados atualmente. Ainda não é adotado com muita freqüencia, mas certas equipes utilizam-no em algumas situações de jogo. O 3-5-2, por exemplo, pode ser facilmente modificado para um 5-3-2, recuando-se apenas os 2 alas.
No 5-3-2 joga-se quase sempre com 1 líbero, seguido por uma linha de 2 zagueiros centrais, 2 laterais, 1 volante à frente da zaga, 2 meias, 1 atacante um pouco recuado e 1 fixo na frente. Defensivamente, o esquema possibilita uma boa retranca, mas os atacantes tendem a ficar isolados e fáceis de serem marcados. Normalmente, os times que utilizam esse esquema tático fazem uso de lançamentos em profundidade ou, por vezes, até mesmo simples chutões da defesa para frente, a chamada “ligação direta” com a linha de frente.

 


 

 


ESQUEMA DO AJAX (anos 90)

 

Este é um esquema novo e muito interessante, à moda holandesa. Utiliza 3 zagueiros, sendo o central um líbero, 1 volante (o centro-médio), 2 alas no meio de campo, 1 jogador na ligação do meio-campo com o ataque e 3 atacantes, sendo 1 centro-avante e 2 pontas, relançando, assim, a figura dos pontas verdadeiros. Este sistema de jogo não se enquadra em nenhum dos anteriores. O futebol mundial que parecia ter decretado o fim dos pontas, já que era muito difícil achar jogadores tão versáteis para essa função, relançou-os no Ajax. Com essa filosofia de jogo, o time holandês ganhou muitos títulos nos anos 90, surpreendendo o mundo. O bom ponteiro é capaz de defender, bloqueando o avanço do lateral adversário, e de atacar com precisão, constituindo-se num dos grandes trunfos do time.

 

 


 

 

 



ESQUEMA NORUEGUÊS (4-5-1)

 


Sistema introduzido na seleção norueguesa pelo técnico Egil Olsen. Trata-se de um esquema moderno de jogo, baseado num 4–5–1. Consta de 4 zagueiros, 5 meio-campistas jogando em linha e 1 avante lançado. A vantagem do esquema é que pode rapidamente transformar-se num 4-4-2 ou mesmo num 4-6-0, quando o atacante, se necessário, recua para fechar o meio de campo.

 

 

 

 

 

O ESQUEMA DO FUTURO

 

Pode-se apenas especular quanto ao que nos espera no próximo século em têrmos de esquemas táticos. Segundo vários técnicos de futebol, deverá ter algo em torno de um 4-6-0, com 4 zagueiros e 6 no meio-campo, estes últimos defendendo e atacando coesos e em bloco. Os ataques terão que ser muito rápidos, devido à distância que separará os jogadores da área adversária. Em compensação, serão ações ofensivas em que muitos integrantes estarão presentes, o que certamente dificultará as defesas contrárias. Seria este, enfim, o tão sonhado futebol-total do futuro?

 

 

CONCLUSÕES

 

De tudo  o que vimos, podemos tirar algumas conclusões:

 

         Seja qual for o esquema tático, todos eles funcionam como um ponto de referência para o time. É claro que, com o decorrer do jogo, qualquer equipe modifica sua disposição em campo de acordo com o adversário, com as nuances da partida ou com a necessidade circunstancial de se jogar mais ofensiva ou defensivamente.

 

         A tática apresentada como exemplo para o esquema com líbero é apenas ilustrativa. O líbero poderá ser utilizado em uma série de sistemas de jogo diferentes.

 

         O mesmo pode ser dito quanto ao exemplo dado no caso do uso do esquema sem pontas e do esquema com zagueiro de sobra. Aliás, ao contrário do líbero, o sobra poderá ser qualquer um dos zagueiros de área, de acordo com o lado por onde o time esteja sendo atacado.

 

         O futebol moderno parece ter definitivamente extingüido com o jogador rigidamente especialista em sua posição. Todos devem possuir a capacidade de ser, o quanto possível, polivalentes, deslocando-se por diversos setores do campo. Isso fica bem claro com o fim dos pontas: toda jogada de linha de fundo é efetuada por alguém que caia pelas laterais. Acabaram-se os pontas, não as jogadas pelas extremas.

 

         Uma tendência irreversível parece ser o povoamento cada vez maior da intermediária. Aí teremos, em breve, de 5 a 6 jogadores prontos a defender ou a atacar em bloco e com grande velocidade. É o fim de uma era em que os defensores não atacam e os atacantes não defendem. Assim sendo, o preparo físico será um fator determinante para o sucesso de uma equipe, pois a mobilidade em campo será fundamental.

 

         Que significativa evolução tática observamos desde o aparecimento da Pirâmide até os últimos sistemas aqui apresentados. Com isso, o  futebol só tem a ganhar, tal a riqueza de jogadas, a complexidade de esquemas e a ocupação dos espaços. Consequência imediata: um certo nivelamento observado nas equipes de hoje.

 

         E, finalmente, em qualquer esquema, tática ou formação, o craque sempre será um fator de desequilíbrio importante em uma partida. Ele, felizmente, nunca morrerá.  

 

   

André Luiz Medeiros  

Janeiro de 1999

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André Luiz Medeiros é
arquiteto e pesquisador
do futebol.

 

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