click
|
Bellini (1958), Mauro (62), Carlos Alberto (70) e Dunga (94)
Bellini
( abaixo) tentando segurar a copa com uma das mãos.
HONRA AOS GUERREIROS HONOR TO THE WARRIORS JOÃO AREOSA English version below
Quando Hideraldo Luís Bellini ergueu a copa Jules Rimet naquele estádio sueco, num dia frio e chuvoso de 1958 , não estava apenas exaltando a conquista do primeiro título do Brasil. Da mesma forma, o gesto acabou não se limitando a um tributo à excelência do futebol praticado por um time que escreveu com os pés o que muita gente não consegue descobrir com a cabeça : o campo esportivo não é a passarela dos exibicionistas, pois para isso existem palcos e picadeiros. Aquele gramado que os suecos protegeram da chuva forte da manhã com carinho e insuspeitado cavalheirismo (cobriram-no com lonas) estava reservado a guerreiros, a homens que entenderam que o prazer lúdico existe, mas que o esporte de competição foi feito para consagrar os lutadores e festejar os vitoriosos. Aos derrotados restam as explicações , as lágrimas, a fuga ou a rendição incondicional. E se caíram sem luta ou por descaso, pior ainda. Não há tréguas no campo esportivo. E a história se encarrega de fazer a distinção entre o triunfo e a derrota, entre ganhadores e perdedores. Cada um no seu devido lugar. Tanto melhor se a estratégia da guerra for confiada a soldados de talento, como eram todos os onze que estiveram ali. Nove craques e dois gênios, Pelé e Garrincha. Como diria o cronista, houve a mistura perfeita de inspiração e transpiração. Como deve ser, aliás. Nem tanto ao mar de quem valoriza em demasia a transpiração. Nem tanto à terra dos que despem dos guerreiros as armas em troca de uma fantasia de mestre-sala ao estilo Marquês de Sapucai. Pois bem, no alto daquele pódio, Bellini, o capitão deste exército, era a imagem bem traçada da batalha. Estava cansado o nosso guerreiro. Já não tinha forças para ficar exibindo com uma das mãos a copa para tantos fotógrafos. O braço direito doía. Bellini tratou de segurar o troféu com as duas mãos e erguê-lo aos céus. Daquela tarde de 1958 até os dias de hoje, o gesto acidental transformou-se na pose obrigatória dos campeões. Em 62 foi a vez de Mauro. Em 70, Carlos Alberto. Em 94, Dunga. Em 82,... bem, em 82, se a memória não me falha, a copa foi para Roma, embora muitos brasileiros, que não conseguem distinguir um estádio de uma montanha-russa, jurem que a copa viajou no avião da delegação brasileira. Vejo várias hipóteses no caso: 1) A taça viajou por conta própria. 2) Foi emprestada pelos bondosos italianos. 3) Trata-se de uma réplica comprada no jornaleiro de Barcelona. 4) Burlou a vigilância e entrou no aparelho como clandestina. 5) Fato grave, aliás gravíssimo: foi surripiada da bagagem azzurra na calada da noite. Ah, meu caro Zico, ah meu caro Ademir Menezes, o gesto de Bellini cairia tão bem em vocês. Dois ídolos, dois valentes, dois artilheiros, obrigados a abandonar uma guerra por culpa dos generais. Uma guerra, cujo triunfo estava ali, ao alcance das mãos.
ENGLISH VERSION
When Hideraldo Luís Bellini raised the cup Jules Rimet in that Swedish stadium, in a cold and rainy day of 1958, it was not just showing the conquest of the first title of Brazil. In the same way, the gesture finished not limiting to a tribute to the excellence of the soccer practiced by a team that wrote with the feet that a lot of people don't get to discover with the head: the sporting field is not the catwalk of the exhibitionists, because for that stages and circus exist. That field that the Swedes protected with love and kindness of the strong rain of the morning - they covered it with canvases - it was reserved to warriors, to men that understood that the game pleasure exists, but the competition sport was done to consecrate the fighters and to celebrate the victorious ones. To those defeated remain the explanations, the tears, the escape or the unconditional surrender. And if they dropped without fight, worse still. There are not truces in the sporting field. And the history takes charge of doing the distinction between the victory and the defeat, between winners and losers. Each one in its due place. So much better if the strategy of the war be entrusted the talent soldiers, as they were all the eleven that were there. Nine great players and two geniuses, Pelé and Garrincha. As master Armando Nogueira would say, there were the perfect mixture of inspiracion and perspiration. As it should be, in fact. Well then, in the high of that podium, Bellini, the captain of this army, was the image traced of the battle. It was tired our warrior. No longer had forces to be exhibiting with one of the hands the cup for so many photographers. The right arm hurted. So Bellini holds the trophy with the two hands and raises it to the skies. Of that afternoon of 1958 until today, the accidental gesture became the real gesture of the champions. In 62 it went to time of Mauro. In 70, Carlos Alberto. In 94, Dunga. In 82,... well, in 82, if the memory doesn't fail me, the cup went to Rome, although many Brazilian, that they don't get to distinguish a stadium of a circus, swear that the cup came in the airplane of the Brazilian delegation. I see four hypotheses in the case: 1) the cup came independently. 2) it was lent by the kind ones Italian. 3) it is a response bought in the newsvendor of Barcelona. 4) and that is serious: it was taken of the baggage azzurra.
|
