Os Amantes Crucificados
(Japão, 1954)

"O roteiro do Sr. Kawaguchi (N. do R.: Yoda trabalhou nesse roteiro inicialmente como colaborador) era muito fiel à história de Chikamatsu: era a fatalidade que fazia dessa história de amor uma tragédia. Mizoguchi, por sua vez, queria absolutamente uma tragédia "social" passada na época feudal. (...) O roteiro definitivo só terminou depois de várias versões. A filmagem começou, mas no estúdio, Mizoguchi teve muitas dificuldades com o ator Kazuo Hasegawa (...). Mas nós fomos bem recompensados por nossos esforços, porque esse filme revelou-se uma obra-prima de pureza e de nobreza."

Yoshikata Yoda

Em Os Amantes Crucificados, é a imbecilidade e ambição do homem que dá as cartas. A exploração da mulher pelo marido se mistura à do trabalhador por seu senhor, numa história fortemente mizoguchiana em que apenas as características femininas servem como solução a uma vida de hipocrisia e de subjugo. As características masculinas são sempre trabalhadas no sentido da mesquinharia, da covardia e do abuso do poder.

Como em todo melodrama, pouco importa a história, o importante é como ela se desenrola. O final trágico, e já revelado pelo próprio título do filme, aparece como a única solução possível para um mundo em que as relações só podem ser ditadas pelos senhores do poder. A esposa Osan vê seu marido gastar seu dinheiro com galanteios a empregadas mas é incapaz de trazê-lo para ajudar a família. Um funcionário seu, por sua vez, é humilhado e preso apenas por vingança. Os dois acabam fugindo e encontrando um amor que não podiam sentir na casa da opressão. Com essas pequenas células de história, Mizoguchi realizou um de seus filmes visualmente mais fortes, em que a força da fotografia acha o seu equivalente narrativo na força das tensões dramáticas. Nesse sentido, a única imagem serena acontece quando os dois amantes dormem num barraco que recebe os primeiros raios de luz. E o encerramento é filmado com honra e emoção que fazem lembrar o último filme de Takeshi Kitano, Hana Bi.