Leitores
Esquecidos na Proposta do Estatuto da Carreira Docente Universitária
Por
BÁRBARA WONG
Quinta-feira,
30 de Maio de 2001
São leitores
e exercem a profissão a tempo inteiro. Na proposta de alteração
do estatuto dos docentes universitários, o ministério esqueceu-se
deles
No anteprojecto do Estatuto Carreira Docente Universitária (ECDU)
jamais se enuncia a palavra "leitor". Os leitores são os professores
que nas universidades têm a função de ensinar línguas
estrangeiras. Só na Universidade de Lisboa e na Universidade Nova
de Lisboa existem cerca de 70 que, se o ECDU for aprovado, não terão
qualquer enquadramento legal para continuar a leccionar. E vão continuar
a fazê-lo num regime de "precariedade profissional contratual permanente".
É que estes professores não têm acesso à
carreira universitária. Uma situação apenas justificável
pela definição "legal e arcaica" do que era um leitor, acredita
Cristina Avelino, leitora de Francês na Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa (FLUL). O leitor era o professor, nativo da língua que
era contratado a prazo. "Mas essa definição deixou de corresponder
à realidade há muito tempo", explica.
Actualmente estes professores são, na sua maioria, portugueses,
exercem a profissão a tempo inteiro e em regime de dedicação
exclusiva. Por exemplo, na FLUL, dos 61 leitores existentes, apenas cinco
leccionam ao abrigo de acordos de cooperação entre Portugal
e os seus países de origem. Dos 56 portugueses ou estrangeiros radicados
no país, apenas quatro não optaram pelo regime de dedicação
exclusiva, estabelecido para os leitores desde 1987. "Uma maneira de reconhecer
que somos um corpo docente estável", justifica Francine Arroyo,
leitora de Francês na FLUL.
Se a nova proposta do ECDU se aplicar, os leitores perdem acesso ao
regime de exclusividade, o que significará um corte de um terço
nos seus ordenados. "Ficaremos com salários mais baixos do que os
professores do básico e secundário, inclusive os que ensinam
línguas e que foram formados por nós", lamenta Francine Arroyo.
Por isso, os leitores reclamam o reconhecimento da sua situação
e exigem o ingresso na carreira docente universitária, bem como
a manutenção do regime de exclusividade. Num documento enviado
à Plataforma Reivindicativa Comum, que reúne os sindicatos
representativos dos professores universitários, os leitores propõem:
para os docentes não doutorados, a sua passagem à categoria
de assistentes; para doutorados, a passagem a professor auxiliar. Pretendem
ainda que as futuras contratações de novos docentes de língua
estrangeira se façam nos mesmos moldes que as dos outros professores.
"Porque é que o Ministério da Educação reconhece
os professores que fazem a sua formação inicial nas universidades
e não reconhece as pessoas que os formam?", conclui Francine Arroyo.