Igreja de S. Tiago de Antas
 

Situada na freguesia de Antas, está classificada como imóvel de interesse público pelo decreto 42007 de 6 de Dezembro de 1958.
Foi igreja de um antigo Mosteiro da Ordem do Templo e atestam documentos que em 1549 estava na posse dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Do mosteiro, nada resta; a antiga igreja do mosteiro é hoje igreja paroquial.

Vista sobre a Igreja de Antas

A datação filia-se em documentos que, em muitos casos se existiram, hoje não são conhecidos e depois na análise das características da construção e da decoração que conjugadas com paralelismos obtidas em outras fontes permitem estabelecer com razoável critério a época mais provável da sua fundação.
Ora a igreja de Antas apresenta elementos românicos e góticos e ainda da época posterior aos característicos do gótico. E é atendendo ao conjunto dos elementos românicos e às suas particularidades, reparando na presença de elementos que se filiam já no gótico, que é possível atribuir a sua fundação ao segundo quartel do séc. XIII. Entre os elementos que levam a estabelecer esta época como a mais provável figuram a existência de arco ogival na porta principal e o arco de volta inteira no portal sul, a existência de elementos lisos e ornamentados nos saimeis dos arcos das portadas, a rosácea  da frontaria e ainda a existência de elementos decorativos nos cantos dos pilares das bases das colunas. Tais elementos são característicos da transição do românico para o gótico.

Portal ogival da Igreja de Anta

São porém românicos, no exterior, o portal sul e a cachorrada dos muros laterais, a cruz na empena da ábside; e no interior o arco triunfal, este sem dúvida o elemento de maior interesse.
Falando um pouco de todos os elementos românicos desta igreja começo pela porta do muro lateral da nave, que nos apresenta duas arquivoltas de ponto muito ligeiramente subido e de arco também ligeiramente ultrapassado. A exterior, de secção quadrangular, com a face coplanar com o paramento do muro é decorada: na face um motivo semelhante ao da face da arquivolta intermédia do portal principal de Santa Eulália de Arnoso e no intradorso um motivo formado por fitas entrelaçadas. A interior também quadrangular mas lisa.
As arquivoltas assentes em dois pares de colunas, implantadas na reentrância formada pelas pilastras, guarnecidas de capitéis decorados em que se podem ver nos exteriores volutas e folhas de loureiro estilizadas e nos interiores duas figuras humanas; no mais a poente um ser humano entre vieiras e volutas e no mais a nascente uma outra figura humana.
As colunas monolíticas, mas esbeltas, assentam em bases formadas por um dado entre dois toros que por sua vez tomam apoio em plintos dos quais um só está decorado com motivos geométricos.
No par de pilastras mais no interior, coroadas por duas repisas não decoradas, assenta o lintel do tímpano que não existe.
Em relação às cornijas e cachorradas dos muros laterais, um apontamento simples dá indicações sobre os motivos ornamentais, tendo a contagem sido feita de Oeste para Este nos muros sul e de Este para Oeste nos muros norte por regra.
a) Norte da nave – dezanove cachorros, todos lisos com excepção do 7º que apresenta um rolo de volume apreciável e o 12º que mostra um par de volutas muito estilizadas.
b) Sul da nave – só com cachorros lisos, com excepção do 9º decorado com uma figura humana e dos 8º e 10º que são duas vezes almofadas;
c) Norte da ábside – doze cachorros. São lisos os 2º, 3º, 4º e 5º; duas vezes almofadadas os 9º e 10º, sendo este diferente do interior por a almofada exterior ser inusitadamente larga; o 11º com um par de rolos insculpidos elementos circulares em baixo relevo nos topos e o 12º com um par de volutas muito finas; com decoração animalista, o 1º com uma cabeça de um animal no acto de comer um outro esguio e com duas pernas; com decoração vegetalista, o 6º que apresenta duas flores estilizadas dentro de duas coroas e o 7º que bem poderá representar a estilização de duas folhas de hera geminados; ainda o 8º com duas bolotas ou pinhas ligadas pelos topos.
d) Sul da ábside – cachorros em número de doze. Lisos – 8º, 9º, 10º e 11º; decorados com uma esfera – 1º e 3º; almofadados – 2º e 4º; o 5º decorado com um par de bolotas ou pinhas; decorados com motivos fitomórficos, o 6º e o 7º, que fazem lembrar heras estilizadas no interior de um par de círculos, o último com sinais de forte erosão; e finalmente o 12º decorado com uma carranca, máscara ou cabeça de animal com acentuada erosão que dificulta a percepção do motivo

 Cachorrada na cornija da Igreja

O arco Triunfal é sem dúvida o elemento mais românico que existe na igreja de S. Tiago de Antas. Desde a sua execução em colunas monolíticas, muito pouco esbeltas, especialmente a do arco principal, até este mesmo arco principal, baixo, largo e muito robusto, até à decoração com relevo acentuado e rica de simbolismo tudo é bem característico da arte românica, onde as formas são severas e pesadas, a decoração rude e forte e a sobriedade e a hieratismo são características tipológicas a que a nudez fria das superfícies lisas dos silhares de granito majora a expressão plástica.
Tem este arco triunfal uma particularidade que lhe empresta carácter de excepção. Na verdade ele é assimétrico em relação ao plano médio longitudinal do seu arco principal, o que significa que tem concepção muito mais próxima de um portal que de um arco triunfal. Se bem que algumas vezes os arcos triunfais sejam mais ricos na parte voltada à nave que na virada à ábside, este surge na zona da ábside como se cortado fôra por um plano vertical, com agressiva nudez, constituindo assim, caso único.
O arco triunfal é constituído por três arquivoltas, cuja largura vai diminuindo da ábside para a nave. A mais volumosa – a que separa a ábside da nave – é quadrangular, lisa e de arestas vivas; as outras duas, molduradas com boceis nas arestas, capacitando artesões já com certo sabor gótico.
As arquivoltas tomam apoio em pares de colunas – as extremas – e num par de pilastras – a intermédia – fazendo-se a transição das arquivoltas para os capitéis das colunas e para o coroamento das pilastras por intermédio de um ábaco que os percorre e cujo perfil é em caveto invertido.
As colunas são guarnecidas de capitéis com decoração zoomórfica que no lado norte é representada por grupos de aves e no lado sul por quadrúpedes. Os fustes das colunas, apoiam em bases de inspiração ática, guarnecidas de esferas nos cantos sobre os plintos quadrangulares e não decoradas.

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