Mosteiro de Arnoso St.ª Eulália
 

Situado na freguesia de Arnoso (Santa Eulália), está classificado como monumento nacional pelo Decreto 28536 de 22 de Março de 1938.

Zona de protecção do Mosteiro de Arnoso

Tratando-se do exemplar mais valioso do concelho, e figurando entre os melhores do Românico Português, está ao encargo da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que se ocupa das obras de reparação, bem como do seu estado de conservação. A esta direcção deve-se a mais recente obra tendo-se extirpado todos os elementos que não
pertencessem à época referida.

Vista parcial do Mosteiro

Em termos de construção é notável o aparelho das cantarias , quer pela regularidade dos silhares talhados em formas que muito se aproximam da de sólidos geométricos, com sequente horizontalidade das fiadas das cantarias dos seus muros e verticalidade das juntas, quer ainda pela organização dos cunhais que obedecem quanto à travação dos elementos que neles concorrem a uma aplicação quase integral das boas regras da arte de construir, tal como hoje as concebemos.
É ainda notável o portal axial quer em termos de construção quer sob o ponto de vista ornamental.

 Portal axial do mosteiro de Arnoso

Três arquivoltas de arco de volta inteira, a primeira sem decoração e de aresta viva e as suas outras, menores em desenvolvimento, decoradas. Estas arquivoltas tomam apoio em dois pares de pilastras simétricas em relação ao eixo vertical do vão. Todo este conjunto, não decorado, o lintel, as repisas, as pilastras e ainda a soleira constituem um marco que contorna o vão e parecem não ser coevos do resto do portal.
A decoração que as superfícies vistas de alguns elementos apresentam reforça a expressão que os elementos constituintes do portal, pelo equilíbrio dos seu volumes e pelo ritmo dos seus perfis, oferecem, imprimindo-lhe carácter e harmonia, a que o contraste com as superfícies lisas das pilastras a da arquivolta exterior provoca  elevada satisfação estética, tudo concorrendo para que o portal principal da Igreja de Santa Eulália de Arnoso muito mérito tenha, tanto mais de admirar porquanto se trata de uma igreja singela e de pequenas dimensões. A arquivolta intermédia é decorada na face com lanças estriadas dispostas radialmente em relação ao centro da curvatura do arco e lavrada em repetição simples, dispostas com uma regularidade que nem sempre é constante na decoração românica. No intradorso  da mesma arquivolta a decoração é constituída por arcos concêntricos de coroas circulares e elípticas em movimento seguido, com sobreposições alternadas. A aresta, boeada, é guarnecida com um artesão.
A arquivolta interior é decorada na fase com representações não repetidas do bestiário românico, dispostas segundo o arco, entre as quais se distinguem grifos, leões, águias e um par de aves mergulhando o bico num mesmo vaso, isto é, elementos típicos da simbologia românica. No intradorso, em repetição simples, quadrifólios em motivo isolado. A aresta guarnecida de cilindros, estes dispostos segundo a directriz do arco.
A imposta corrida, que prolonga os ábacos sobre os capitéis é decorada com motivos cordiformes, definidos por coroas ligadas por travessões, em repetição simples e, coroadas por uma orla com um filete horizontal, contínuo, em baixo relevo.

Capitel e imposta do portal de Arnoso

Quanto às colunas, os capitéis estão decorados com volutas, e os fustes são monolíticos, como é característico da arte, e as bases de inspiração ática apresentam plintos  com decoração simples nas fases vistas constituída por motivos geométricos.
O tímpano é decorado a meio com uma cruz dupla, vasada, inscrita numa coroa circular, sendo todos os contornos da cruz decorados com uma fita saliente que se conjuga harmoniosamente com toda a decoração que dum e doutro lado a margina, sempre com uniforme tipo de relevo, com interesse no centro da cruz e descrevendo percursos que se não fecham sobre si mesmos, expressão simbólica esta característica da decoração românica, de que há mais exemplares em Portugal e à qual é comum atribuir-se o símbolo da eternidade.

 Tímpano do portal principal do mosteiro

No interior da igreja, na parte nascente dos dois muros laterais da nave e em disposição assimétrica em relação ao eixo longitudinal da nave, podem ver-se arcaturas cegas cujas colunas, apoiadas num estilóbato , são adossadas aos muros.

 Interior do Mosteiro de Arnoso

Os arcos adossados ao muro lateral norte são todos desiguais, quer em vão, quer em raio de curvatura e apresentam a particularidade de serem ultrapassados.
Os arcos de secção quadrangular e de aresta lisa contrastam com os capitéis ou bases que os servem já que uns e outros se apresentam com uma decoração notável. Analogamente se processa a arcada do muro lateral sul.
Ainda duas arcaturas cegas, com os fundos decorados com frescos, concorrem na empena nascente da nave em alinhamento comum ao arco triunfal. E ainda arcaturas  cegas no tramo mais a nascente da ábside , duas na testeira e mais duas, uma de cada lado dos muros laterais da ábside, também com capitéis decorados com mérito sobre colunas assentes num estilóbato corrido como na nave.
Ora estas arcaturas cegas no interior das igrejas que são raras no Românico Português são caso único em igreja tão modesta como Santa Eulália.
Na porta do muro sul da nave, na parte inferior do tímpano, está numa inscrição em que se pode ler ERA MCXXXXIIII, a que corresponde na era de Cristo o ano de 1156. Esta inscrição em caracteres unciais, deverá corresponder à data da sagração da igreja.

Planta do Mosteiro de Arnoso

Para não fugir a uma regra que quase é lei nas igrejas românicas, podem notar-se desvios angulares constituindo anomalias construtivas que quase só por excepção é que se não verificam em edifícios medievais. Na verdade a nave que em planta quase tem a forma rectangular é em trapézio rectângulo, o que equivale a dizer que dois dos ângulos dos seus cunhais não são rectos. Por outro lado, o que também é regra em edifícios medievais, há um desvio angular entre os eixos da ábside e da nave. Estes desvios que chegam a atingir valores da ordem dos 5º é, no caso de Santa Eulália, da ordem de 2,5º.
Se bem que não possam ser consideradas românicas as pinturas murais existentes no paramento interior da empena nascente da nave, dum ou doutro lado do arco que possibilita a passagem da nave para a ábside – elas devem ser quanto muito do séc. XV -, não quero deixar de referir aqui os quatro frescos que existem na igreja de Santa Eulália de Arnoso. E isto porque actualmente são os únicos frescos que conheço na área geográfica do Concelho de Vila Nova de Famalicão, já que um outro, creio bem que de mais valor que qualquer um desses, julgo ter ficado destruído quando da demolição da igreja de Joane.
Os frescos, em número de quatro como antes dizia, dispõem-se aos pares sob duas arcadas cegas: os inferiores em painéis rectangulares são guarnecidos por molduras decoradas com motivos geométricos e representam figuras humanas; os superiores, constituídos por figuras isoladas, constituem um fundo limitado superiormente pelo arco que sobressai nas arcadas em que uns e outros se alojam.

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