CÉLULA: Juventude, Envelhecimento e Morte


                     
É inegável  que todos o seres humanos, pelo menos os normais, sentem uma enorme ânsia de vida eterna. As religiões sempre tentam aliviar essa inquietude, oferecendo a seus fiéis a possibilidade  de derrotar a morte pelo renascimento em outro mundo e de poder descansar eternamente em algum paraíso onde não exista a dor,  a miséria e  a angústia. Partindo de uma perspectiva menos metafísica, cientistas do mundo inteiro tentam descobrir algo que permita ao homem desfrutar de uma imortalidade terrena, ou mais exatamente, de um prolongamento indefinido da vida material. O objetivo desses ambiciosos pesquisadores nada mais é do que encontrar alguma maneira de impedir a inevitável deterioração progressiva a que todo ser humano está condenado: o envelhecimento.  Mesmo que nenhum investigador sério se atreva ainda a falar de algo tão descabido como a imortalidade, muitos acreditam que, no futuro, será possível retardar o processo de envelhecimento e, portanto, prolongar consideravelmente a vida dos seres humanos.

                   Os critérios do envelhecimento estão sendo discretamente modificados. Armados com crescente conhecimento sobre a Biologia, uma nova classe de especialistas em longevidade está obtendo soluções para uma vida mais longa. A História mostra que isso é possível. Em 1900, a expectativa de vida de uma pessoa nascida no Brasil não chegava a 40 anos. Segundo cálculos do Ministério da Saúde, hoje, a expectativa média de vida de um brasileiro é de 68 anos, e muitos vivem bem mais do que isso.

                   Existem várias teorias para se vencer a batalha contra o envelhecimento. As maiores esperanças situam-se no campo da genética, uma vez que muitos cientistas acreditam que as chaves da vitória se encontram no DNA da célula. Uma dessas chaves é a pequena zona situada nas extremidades de cada cromossoma da célula eucariote e que foi denominada de telômero. Trata-se de um fragmento de DNA, com elevado conteúdo de Guanina, que consiste na repetição de uma série de 6 ou 7 bases e que se assemelha à terminação plástica na ponta de um cordão de sapato. Os telômeros constituem uma estrutura essencial para a bioduplicação completa do DNA, evitam degradações e fusões terminais e participam na associação dos cromossomas homólogos em sua distribuição no núcleo da célula.  Para alguns cientistas, o sucesso na luta contra o envelhecimento há que ser buscado no processo de divisão celular. Tal argumento  baseia-se no fato de que, cada vez que uma célula se divide, o telômero vai se encurtando, até chegar a um ponto em que a célula não pode mais reproduzir-se porque os telômeros de seus cromossomas estarão demasiado curtos. Dessa forma, os telômeros poderiam atuar como um "relógio biológico" que controla a vida de todas as células, sendo um dos determinantes do envelhecimento celular. O telômero não mais se divide, quando a célula atinge  um limite em torno de 50 a 60 multiplicações. Apenas algumas células não sofrem perda do telômero, durante o processo de divisão celular. Entre essas, encontram-se as células espermáticas e as células cancerosas, cuja capacidade de se dividir não se limita apenas a 50 ou 60, mas a milhares de vezes. Já está comprovada a existência de uma enzima chamada telomerase que pode impedir a redução gradual do tamanho dos telômeros. O gene responsável pela produção dessa  enzima já ganhou "fama"  de ser o gene da imortalidade. Também já foi demonstrado "in vitro" que as células podem viver mais tempo, quando  os  telômeros de seus cromossomas são  artificialmente alongados. A telomerase não é inofensiva, pois ao impedir que uma célula deixe de reproduzir-se , pode acelerar a expansão de um tumor canceroso.

                    Outros cientistas, entretanto, acreditam que a batalha contra o envelhecimento poderá ser ganha de uma forma totalmente distinta. Já faz várias décadas que uma série de experimentos demonstrou que uma redução drástica de calorias na dieta de ratos permitia que esses animais vivessem entre uns 30 e 40% mais do que o tempo normal. Tal fato reforça a idéia de que uma das causas fundamentais do envelhecimento é a deterioração provocada pela combustão de energia nas células de um organismo. Para o homem, isso representaria uma dieta espartana de cerca de 1500 calorias por dia, em troca de mais 30 anos de vida. Acredita-se que quando as calorias são restringidas, a temperatura do corpo cai em cerca de 1o C, pois ingerindo menos calorias, queimam menos.  Uma temperatura mais baixa significa um metabolismo menos vigoroso, o que representa menos alimentos processados. Assim, qualquer  animal submetido a uma dieta hipocalórica passa de um modo de crescimento para um modo de sobrevivência.

                    A redução calórica, todavia, não é mais do que tapar alguns buracos de um navio que está naufragando. O que os pesquisadores querem mesmo é chegar à casa de máquinas do organismo - os próprios genes - e reconstruir tudo. O notável é que parece existir um meio de fazê-lo. A genética do envelhecimento tem dois ramos principais:

                     O primeiro propõe que o envelhecimento está programado sob o controle de genes que vão ordenando inteligentemente uma série de alterações nas células que a levarão ao declínio e à autodestruição.  Seu mecanismo de ação se baseia na ativação de uns genes maléficos ou na desativação de outros benéficos, ou na associação de ambas.

                     O segundo ramo baseia-se em modificações ou imperfeições sofridas pelo DNA de um modo mais ou menos aleatório. As células teriam mecanismos de reparação que não seriam 100% eficientes. Essas modificações seriam produzidas por radicais livres e  por desmetilação  do DNA, ou por perda de fragmentos de telômero. Sob a ação de radicais livres, o DNA vai acumulando mutações que pouco a pouco tornam inviável o funcionamento da célula. Um elevado número de mutações explicaria  as características homogêneas  do envelhecimento dentro de uma mesma espécie. A desmetilação do DNA é a base da teoria genética que sustenta que o envelhecimento ocorre porque o DNA das células perde grupamentos metilas, os quais seriam responsáveis por uma função primordial na diferenciação celular, marcando quais os genes que deveriam se expressar e assim as células perderiam as características próprias de sua classe.

                    Uma outra teoria admite que o envelhecimento é o resultado da evolução e seleção das espécies, de modo a haver uma relação de interdependência entre longevidade e descendência. As espécies que se reproduzem muito devem morrer para deixar espaço vital à sua descendência. Se uma espécie se reproduz pouco, deverá apresentar longevidade, ou então sua densidade populacional será tão baixa que desaparecerá à mínima pressão seletiva do meio ambiente. Para que uma espécie se mantenha, é necessário um mínimo de densidade populacional. A taxa de reprodução é inversamente proporcional á longevidade de uma espécie. Também, as espécies de maior longevidade apresentam maior tamanho e haverá um grande consumo de alimentos para se chegar à maturidade. O alimento consumido por um casal de humanos comprometido com a criação de quatro filhos até atingirem a maturidade é suficiente para criar um casal de ratos e seus milhares de descendentes. Isso significa que é bem mais possível uma melhora genética entre os milhares de ratos do que entre os quatro filhos dos humanos. Historicamente, os grandes animais vão se extinguindo, porém seu lugar vai sendo logo ocupado por outras espécies que vão evoluindo até alcançar de novo grandes tamanhos. Existe uma tendência a que dentro de uma espécie apareçam subespécies de maior tamanho que passam a competir com os indivíduos da  espécie original, na conquista dos alimentos, com a sobrevivência somente dos indivíduos de maior tamanho. Um mutante de maior tamanho terá maior êxito em sua reprodução se apresentar também uma maior longevidade. Isso porque terá mais tempo para poder fecundar e defender sua prole. Tendo vida mais longa, o número de descendentes em cada geração será em camadas menores para não ter que competir com seus próprios filhos. Se em algum momento da história da terra, produzir-se uma grande alteração nas condições de vida, como por exemplo uma alteração do clima, as espécies de maior longevidade se encontrarão em condições de inferioridade para produzir mutantes que se adaptem com suficiente rapidez a essas alterações. As espécies menores e mais prolíficas terão maiores probabilidades estatísticas de produzir um mutante que se adapte à alteração climática. Se uma espécie se altera, deve haver obrigatoriamente alteração de outras espécies para manter   o equilíbrio do ecossistema: A lei é: MUTAR  OU  EXTINGUIR-SE

           


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