DUAS LENDAS:

(Por Delmina Alves, profª especializada em Animação Sociocultural, esposa e colega de Eduardo Ribeiro Alves  )

 

 

 

1- Lenda do Senhor dos Aflitos[1]

 

              Era uma vez um homem, que regressava a sua casa, já altas horas da noite.

 

Passou pelo alto dos Fogueirões,  um monte nos arredores de  Andrães e fosse  ele,  dos copos que já tinha bebido  ou não, o certo é que viu uma pita[2] com leitões!...

 

Apesar do medo, que sentiu, lá continuou o seu caminho. Mas ao chegar ao Alto de Mosteirô, viu uma reca[3] com pintainhos!...

 

O Homem  ainda mais admirado e cheio de medo  ficou. E vai daí ajoelhou-se no chão e disse:

- Valha-me, o Senhor dos Aflitos!

 

E ...naquele mesmo instante,  todo o encanto desapareceu!

O Homem foi para casa pensativo...e ao outro dia, mandou logo construir naquele mesmo lugar uma capelinha, que ainda hoje é conhecida pela "Capelinha do Senhor dos  Aflitos"

E o povo, que tudo versifica, ainda hoje canta nas suas canções:

Se tu visses o que eu vi,

No alto dos Fogueirões:

Uma reca com pitinhos

E uma pita com leitões!

 

 

  

3- Lenda do Acusado[4]

 

Um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. Na verdade, o verdadeiro autor era pessoa influente do reino e por isso, desde o primeiro momento se procurou um bode expiatório para encobrir o verdadeiro assassino. O homem foi levado a julgamento, já temendo o resultado: a forca. Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas hipóteses de sair vivo desta historia.

O juiz, que também estava combinado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado que provasse sua inocência.   Disse- então o juiz

- Sou um homem de grande religiosidade, por isso vou deixar a tua sorte nas mãos  do   Senhor: vou escrever num pedaço de papel a palavra INOCENTE e noutro pedaço a palavra CULPADO. Vais sortear um dos papéis e aquele que te sair será o veredicto. O Senhor decidirá teu destino! - determinou o juiz.

Sem que o acusado percebesse, o juiz preparou os dois papéis, mas em ambos escreveu CULPADO de maneira que, não existia assim nenhuma possibilidade do acusado se livrar da forca.

O juiz colocou os dois papeis numa mesa e mandou o acusado escolher um. O homem pensou alguns segundos, ajoelhou-se e pediu ajuda a Deus. Depois aproximou-se confiante da mesa, pegou num dos papéis e rapidamente colocou-o na boca e o engoliu-o. Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem:

 - E agora? – perguntavam- Como vamos saber qual o verdadeiro veredicto?

- É muito fácil - respondeu o nosso homem- basta olhar o outro papel que está em cima da mesa e saberemos assim todos  que acabei de engolir o seu contrário.

É claro que como o papel dizia CULPADO, imediatamente o homem foi libertado, deduzindo-se que o que tinha engolido dizia INOCENTE.

Mensagem cultural:

NÃO DEIXE DE ACREDITAR E DE LUTAR ATÉ AO ÚLTIMO MOMENTO!

SEJA CRIATIVO!

MESMO QUANDO TUDO PAREÇA PERDIDO... OUSE!

 

 



[1] - Contada por Manuel Alves Matias,  morador em Andrães, sogro de Delmina Alves.

[2] - Termo popular de “galinha”

[3] - Termo popular de “porca”.

[4] - Contada por José Alexandre Tabosa, avô materno de Delmina Alves

 

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