A estrutura do aparelho psíquico

1º Teoria sobre a estrutura do aparelho psíquico

Em 1900, no livro A interpretação dos sonhos, Freud apresenta a primeira concepção sobre a estrutura e funcionamento da personalidade. Essa teoria refere-se à existência de três sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré - consciente e consciente.

Inconsciente: Para entender a teoria de Freud, é importante aceitar a existência dos fenômenos mentais inconscientes. São fenômenos que se realizam em nossas mentes sem que o saibamos. Eles nos passam despercebidos, nós os ignoramos. Já se afirmava, antes de Freud, a existência da vida mental inconsciente. Ele, porém, teve o mérito de: fornecer meios, para conhecer a vida mental inconsciente; as técnicas psicanalíticas (a associação livre, a análise dos sonhos e a análise dos atos falhos) afirmar que os atos inconscientes têm grande influência na direção de nosso comportamento na orientação de nossas ações. Por exemplo, podemos ignorar a existência em nós de emoções, tendências e impulsos, os quais, na realidade, estão influenciando fortemente as nossas vidas.

Pré-consciente ou subconsciente: Há fenômenos que não estão se passando agora em nossa mente, mas que são do nosso conhecimento. Sabemos da existência dos mesmos, podemos chamá-los à nossa mente quando quisermos ou necessitarmos. Podemos reviver, em certos momentos, muitos fatos que se passaram conosco, nos quais não estamos continuamente pensando; evocamos lembranças, emoções, etc. Estes fatos, tanto os que estão agora se processando em nossa mente como aqueles que poderíamos evocar neste momento. (consciente e pré consciente), são fatos de nosso domínio e conhecimento. Temos consciência de sua realização.

Consciente: Há fenômenos mentais que se estão processando e deles temos conhecimento imediato. Por exemplo: Tomamos conhecimento dos pensamentos, das percepções, das emoções que estão se processando agora em nossa mente.

2º Teoria sobre a estrutura do aparelho psíquico

Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego para referir-se aos três sistemas da personalidade. É importante considerar que estes sistemas não existem enquanto uma estrutura em si, mas são sempre habitados pelo conjunto de experiência pessoais e particulares de cada um, que se constitui como sujeito em sua relação com o outro e em determinadas circunstâncias sociais.

Id: Há na nossa personalidade, uma parte irracional ou animal. Essa parte biológica, hereditária, irracional, que existe em todas as pessoas procura sempre satisfazer nossa libido, os nossos impulsos sexuais. Freud chamou-a de Id. Esse impulsos do Id, na sua maioria, são inconscientes, passam despercebidos, são por nós ignorados.

Superego: Desde que nascemos, vivemos em um grupo social do qual vamos recebendo influências constantes. Desse grupo vamos absorvendo, aos poucos, idéias morais, religiosas, regras de conduta, etc.; que vão constituir uma força em nossa personalidade. E essa força adquirida lentamente por influência de nossa vida em sociedade, é que Freud chama de Superego. O Id e o Superego são forças opostas, em constante conflito. O Superego, quase é contrário à satisfação da natureza animal, enquanto o Id procura satisfazê-la. Essa luta entre Id e Superego, não é percebida por nós, na maioria das vezes.

Ego: É quem procura manter o equilíbrio entre as forças opostas, Id e Superego, é a nossa razão, a nossa inteligência, à qual Freud chama de Ego. O Ego tenta resolver o constante conflito entre Id e o Superego. Numa pessoa normal, o conflito é resolvido com êxito. Quando o nosso Ego consegue o equilíbrio entre as duas forças, nossa saúde mental é considerada normal. Mas, no momento em que o Ego não consegue mais manter essa harmonia, aparecem os distúrbios mentais.

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Desenvolvimento da Personalidade

Freud explica nosso desenvolvimento emocional, dizendo que o ser humano passa por diferentes períodos desde que nasce, até alcançar a adolescência. Em cada um desses períodos, a libido toma uma direção característica. As fases da libido, ou as mudanças de uma fase para outra, ocorre tão gradativamente que uma fase se confunde com a seguinte e as duas se superpõem.

Período narcisista - no início da vida, a criança dirige sua libido para seu próprio corpo. Ela ama a si mesma. Suas reações emocionais, dependem principalmente de seu bem-estar ou de seu mal-estar físico. É egocêntrica. Esta fase é chamada auto-erótica: nela, a criança busca prazer em seu próprio corpo, chupa o dedo, suga os próprios lábios, etc.. Este período recebe o nome de narcisista devido à lenda grega de um jovem muito formoso -Narciso- que se apaixona pela própria imagem refletida nas águas.

Período edipiano - nesta fase, a criança dirige a sua libido para o progenitor do sexo oposto, manifestando hostilidade para o progenitor do mesmo sexo. Ainda, a criança se identifica com o genitor do mesmo sexo. A menina, portanto, ama seu pai e hostiliza a sua mãe. Da mesma forma, o menino ama sua mãe e manifesta hostilidade para com o pai. Os psicanalistas explicam os fatos do período edipiano da seguinte maneira: o menino, por exemplo, ama a mãe e, percebendo que ela tem uma afeição especial pelo pai, vai procurar tornar-se igual a ele para merecer também o amor da mãe. É neste período que cada qual adota o papel sexual para toda a vida. Seguidores de Freud afirmam que essa preferência baseada no sexo, que existe dentro do lar, não se dá somente em relação a criança para com os progenitores, mas também destes para com a criança do sexo oposto. Este período é chamado edipiano por causa da lenda grega em que Édipo, jovem príncipe, assassina seu pai para casar-se com a mãe.

Período de latência sexual - Depois das dificuldades da fase edipiana, a criança passa para um período mais calmo. Esse período corresponde aos anos da escola primária, em que a criança se ocupará em adquirir habilidades, valores e papéis culturalmente aceitos. Ele é denominado de latência, porque os impulsos são impedidos de se manifestar. Neste período, a energia dos impulsos é desviada de seu uso sexual e dirigida para outras finalidades, processo esse chamado de sublimação. A sublimação tem importante papel no desenvolvimento do homem civilizado e nas realizações culturais.

Período da puberdade - Há autores que intercalam, entre o período de latência e a adolescência, a fase da puberdade. Essa fase, de duração aproximada de dois anos, se inicia mais cedo para as meninas que para os meninos. É a época das grandes modificações físicas e, principalmente, de grande desenvolvimento dos órgãos sexuais. Nesta fase, o jovem inicia sua libertação emocional dos progenitores. A principal característica da puberdade, também chamada homossexual, é a ligação afetiva que se estabelece entre jovens do mesmo sexo e de idade aproximada. É a idade em que as meninas têm sua "amiga predileta" e os meninos tem seu "companheiro inseparável", com os quais trocam confidências.

Adolescência - nesta fase, a libido do jovem se dirige a um adolescente do sexo oposto. Essa ligação emocional heterossexual, fora da família, vais exigir a emancipação do adolescente de seus pais. A separação emocional ocasiona, pelo menos por algum tempo, rejeição, ressentimentos e hostilidades contra os pais e outras autoridades. Esta é uma fase difícil não só para o adolescente mas, também, para os pais que querem retardar essa libertação. Há casos em que o desenvolvimento emocional não se processa normalmente, não apresenta essa seqüência de fases devido a fatores biológicos ou condições ambientais.

Casos de anormalidade na evolução emocional: a fixação e a regressão

Fixação- Freud chama de fixação a parada que uma pessoa pode apresentar em uma determinada fase. Estaciona-se o desenvolvimento emocional, embora continuem a se processar o desenvolvimento físico e intelectual. Vejamos o caso de uma menina de três anos, cuja a mãe morre e o pai a entrega a avó. O ambiente emocional em que esta criança vivia, se transtorna por completo. Ela perde a afeição materna, e de certo modo perde também o afeto do pai, pois este é quem iria lhe auxiliar a passar do período narcisista (em que se encontra), ao período edipiano. Seu desenvolvimento físico e intelectual parece se processar normalmente, mas seu comportamento emocional continua igual ao de uma criança de menos de três anos. Sua libido continua ligada ao seu próprio corpo, em vez de dirigir-se a seu pai, que dela se distancia cada vez mais. Permanece egocêntrica, preocupada com seu bem estar ou mal-estar físico, e com seus objetos pessoais, visivelmente indiferente com o bem estar das pessoas com quem vive e de quem espera receber cuidados. Torna-se narcisista, egoísta e isolada. Tem dificuldades em manter amizades e em conservar um namorado.

Regressão - Outra anormalidade que se pode verificar no desenvolvimento da personalidade, é depois de se ter atingido certa fase, regressar a fase anterior. Vejamos o exemplo de uma criança que tem seu desenvolvimento normal até a idade escolar, em que estará no período de latência. Nessa ocasião, o ambiente afetivo de seu lar é grandemente modificado com o nascimento de um irmãozinho. A criança de quem falamos, e que, até os 8 anos, se mostrava bem ajustada, começa a se sentir insegura emocionalmente. ( Será que seus pais continuam a querer-lhe bem depois do nascimento do nenê?). A grande modificação em seu ambiente emocional, leva-a a desajustar-se. Não se sentindo satisfeita emocionalmente, deseja, obter satisfação como a conseguia fazer no período em que tinha atenção dos pais voltada só para si mesmo; então passa a se comportar como antes: volta a molhar o leito, chora alto, chupa o dedo, pede para tomar leite na mamadeira, fica novamente apegada aos adultos, exige ser carregada no colo, não quer mais ir à escola etc. Regrediu, assim, ao período narcisista.

Mecanismos de Defesa

A percepção de um acontecimento, do mundo externo ou do mundo interno, pode ser algo muito constrangedor, doloroso, desorganizador. Para evitar este desprazer, a pessoa "deforma" ou suprime a realidade - deixa de registrar percepções externas, afasta determinados conteúdos psíquicos, interfere no pensamento. São vários os mecanismos que o indivíduo pode usar para realizar esta deformação da realidade, chamados de mecanismos de defesa. São processos realizados pelo ego e são inconscientes. Esta defesa é uma operação pela o qual o ego tenta equilibrar duas forças opostas existentes em nossa personalidade: O Id - força biológica, natural, que procura satisfazer nossos impulsos sexuais - e o Superego - força social adquirida, que procura impedir a satisfação da libido. Nossa razão, ou nosso ego, poderá harmonizar os conflitos de várias maneiras. Vejamos alguns dos modos de equilíbrio entre essas duas forças.

Repressão é o "dinamismo" que comumente usamos para acomodar a oposição entre nossas tendências naturais e nossa consciência moral, que às julga más e socialmente indesejáveis. Esse 'dinamismo" consiste em não admitir a existência das tendências do Id, não pensar nelas, ignorá-las , torná-las inconscientes. Como exemplo, podemos citar uma pessoa que tenha agressividade para com seu pai, esta poderá reprimir este antagonismo, recalcá-lo; ela não admitirá a existência do mesmo, conseguirá torná-la inconsciente. Essa tendência não desaparecerá totalmente, mas continuará a existir e procurará se manifestar no pensamento, procurando passar para o nível consciente. Os impulsos reprimidos conseguirão se manifestar, algumas vezes, através dos sonhos; e outras vezes, quando estamos acordados, através dos atos falhos; e também, em estado de intoxicação.

Atos falhos são aqueles que praticamos aparentemente sem querer e de modo inexplicável. É comum cometermos enganos, trocarmos palavras, esquecer objetos, etc. Os atos falhos são causados pelos impulsos reprimidos que procuram se descarregar de qualquer modo, mesmo interferindo em nossas ações não submetidas a repressão. De acordo com Freud, os atos falhos devem ser atentamente observados pelo psicanalista, pois são sintomáticos, possuem um valor revelador de alguma coisa que o paciente procura ocultar. Podemos citar como exemplo de ato falho, o seguinte caso: Um presidente da Câmara austríaca, ao abrir a sessão, numa noite em que todos temiam um escândalo, disse: "Senhores deputados, está encerrada a sessão" em vez de "está aberta a sessão". È freqüente perdemos objetos que nos foram dados por pessoas de quem não gostamos, enganarmos com o itinerário ou perdemos a condução quando vamos aborrecidos a algum lugar.

Sonhos: as tendências recalcadas procuram se manifestar enquanto dormimos através de nossos sonhos; entretanto são tão condenáveis que precisam se "camuflarem" para se manifestarem. Um rapaz, por exemplo, que tem conseguido recalcar sua agressividade para com seu pai, poderá sonhar que agrediu uma pessoa adulta, ou que algum colega agrediu seu pai. Atrás do conteúdo manifesto de um sonho, está seu conteúdo latente que se obtém pela interpretação psicanalítica.

Intoxicações: em caso de intoxicação alcoólica, o indivíduo pode demonstrar tendências libidinais ou agressivas, que ele próprio desconhece quando sóbria. Isto também é válido com outros tóxicos.

Racionalização é o "dinamismo" pelo qual a nossa inteligência apresenta razões socialmente aceitáveis para nossas ações que, na realidade, foram motivadas pelos impulsos do Id. Racionalizar é inventar pretextos, razões para desculpar diante da sociedade e de nós mesmos os nossos atos cujos motivos reais percebemos. Por exemplo: Um rapaz compra um carro, realizando uma despesa exagerada em relação a sua situação financeira e as suas necessidades profissionais, porém tranqüiliza sua consciência e justifica-se diante dos outros, afirmando que o carro vai ser muito útil para seu trabalho e facilitará as atividades de suas irmãs e de seus pais já idosos. Na realidade, o que ele desejava eram as vantagens que o automóvel apresentava para seus passeios e suas "conquistas". Ninguém se vê livre da racionalização, porém quanto mais inteligente e mais dominadora for a pessoa, mais se valerá desse processo. Esse mecanismo de defesa é empregado pelos ditadores que, para atingir seus fins, iludem a seu povo e a si mesmos. A finalidade da racionalização é manter o auto respeito e reduzir as tensões resultantes da frustração e dos sentimentos de culpa.

Projeção é atribuir aos outros nossos próprios desejos e impulsos. As tendências indesejáveis, cuja manifestação em nossas ações não podemos permitir e cuja existência em nós não podemos em absoluto admitir, vão influir consideravelmente no modo de interpretarmos o comportamento de outras pessoas, ou seja serão projetados em outros indivíduos. Por exemplo: uma senhora que encontra defeitos em todas as pessoas, que julga más todas as ações alheias, está sendo influenciada por seus impulsos reprimidos, cuja existência não pode admitir em si. Outro exemplo: em visita ao jardim zoológico com seu avô, um garoto aproximou-se da jaula dos leões e, ouvindo o rugir de uma das feras, puxou o velho pela manga dizendo-lhe "Vamos vovô, que o senhor está com medo!" .

Conversão: Freud explicou que, muitas vezes, não conseguimos harmonizar os impulsos do Id, com o nosso superego através de outros mecanismos. Sendo assim , a luta, o conflito entre essas duas forças se converterá em um sintoma físico; paralisia, dores de cabeça, perturbações digestivas, etc. No século XX, a medicina mudou seu modo de encarar certos problemas: os médicos atualmente, não consideram o corpo como algo isolado da mente. Aceitam que o estado da mente influi no corpo e vice-versa; existindo uma inter-relação entre corpo e mente. Este conceito difere do conceito de antigamente, quando os estudiosos consideravam separadamente esses dois componentes do indivíduo. A medicina atual é, então, psicossomática, ou seja, corpo e mente estão muito ligados; não podemos, então, considerar nosso corpo saudável, quando há problemas emocionais. Assim como, quando há uma doença física, nos tornamos indivíduos pessimistas, deprimidos, etc. Corpo e mente são dois elementos que se interinfluenciam. Conversão é, portanto, a transformação de conflitos emocionais em sintomas físicos e vice - versa. Dr. Arthur Ramos, diz no livro "A criança problema", que muitos de seus problemas emocionais, podem se converter em tiques.

Tiques são contrações que o indivíduo realiza automaticamente, sem nenhuma finalidade e sem perceber. É comun nas escolas, crianças apresentando tiques, os quais são causados por conversões de conflitos emocionais.

Sublimação é a satisfação modificada dos impulsos naturais, em atos socialmente mais aceitáveis. São três os tipos de sublimição:

A - Mudança de objetos - Neste caso, a ação desejada realiza-se totalmente dirigindo-se a um objeto diferente. Exemplos: 1) Um empregado satisfaz seu impulso de agredir o patrão, dando um murro na mesa ou um pontapé no caixote. 2) O povo muito oprimido por um ditador, reúne-se em praça pública para discursar e depois queima ou apedreja o retrato de seu opressor. Nestes dois exemplos, o desejo de agressão foi satisfeito, sem grandes conseqüências anti-sociais por ter havido a mudança no objeto da satisfação do mesmo. Outro exemplo em que os impulsos naturais são satisfeitos sem desrespeitos às convergências sociais: Um cavalheiro aproxima-se de uma jovem senhora e sente o desejo natural de acariciá-la; satisfaz esse impulso acariciando uma criança que a acompanha.

B - Mudança de reação - Neste caso, a ação desejada é substituída por outra que se dirige ao mesmo objeto. Exemplo: 1) Um empregado satisfaz seu desejo de dar um soco em seu patrão, agredindo-o somente com palavras. 2)Um cavalheiro satisfaz seu desejo de acariciar uma jovem dama oferecendo-lhe um ramo de flores, etc.

C - Mudança de objeto e de reação - Os psicanalistas afirmam que uma pessoa pode satisfazer seus desejos naturais entregando se a arte, a religião, as obras sociais, etc. A sublimação tem importante papel no desenvolvimento do homem civilizado e nas realizações culturais. É o mecanismo de defesa mais recomendado em Educação.

Formação reativa: o ego procura afastar o desejo que vai em determinada direção, e, para isto, o indivíduo adota uma atitude oposta a este desejo. Um bom exemplo são as atitudes exageradas, ternura excessiva, super – proteção, que escondem o seu oposto, no caso, um desejo agressivo intenso. Aquilo que aparece (a atitude0 visa esconder do próprio indivíduo suas verdadeiras motivações (o desejo), para preservá-lo de uma descoberta acerca de si mesmo que poderia ser bastante dolorosa. É o caso da mãe que superprotege o filho, do qual tem muita raiva porque atribui a ele muitas de suas dificuldades pessoais. Para muitas destas mães, pode ser aterrador admitir essa agressividade em relação ao filho.

Transferência: Toda relação psicoterapêutica é uma relação social, pois inclui o relacionamento entre paciente e terapeuta. No tratamento psicanalítico, as atitudes do paciente em relação ao médico adquirem importância para a verificação de seu progresso. Mais cedo ou mais tarde, durante a análise, o paciente desenvolve fortes reações emocionais ligadas ao analista. Admira-o às vezes em uma sessão, e em outra, o analista é desprezado. Esta tendência que o paciente tem de fazer de seu analista, objeto de suas reações emocionais, chama-se transferência e a interpretação desta, embora seja um tópico controvertido, é um dos fundamentos da terapia psicanalítica. De acordo com a teoria, o paciente vê no terapeuta atitudes semelhantes às dos seus pais, dos seus irmãos, ou irmãs embora o terapeuta possa ser diferente de seus familiares. As transferências, podem ou não incluir percepções falsas; freqüentemente, o paciente apenas exprime, com relação ao analista, sentimentos que já teve por pessoas importantes em sua vida. A partir desses sentimentos apresentados, o analista consegue interpretar a natureza dos impulsos que foram deslocados em sua direção.

Teoria do Chiste: O chiste ou trocadilho representa produção psíquica muito próxima, em sua estrutura e em suas funções, dos processos do sonho. A diferença decorre do sentido social do chiste, por oposição ao sonho, marcado por caráter estritamente individual. Mas o paralelismo se revela no tocante aos processo de elaboração, pois que, em ambas, ganham relevo os mecanismos do deslocamento e da condensação. Freud distinguiu dois tipos fundamentais de chiste: o inofensivo e o tendencioso. Este por sua vez, se subdivide-se em dois grupos: os que se caracterizam por sentido agressivo e os que se definem como obscenos. Ambos - os agressivos e os obscenos - caracterizam-se como processamentos catárticos, isto é, como processamentos que possibilitam a redução de tensão. Quanto aos chistes inofensivos, o que os caracteriza é o fato de que neles a gratificação é intrínseca. A propósito da natureza do prazer que se obtém por meio do chiste inofensivo, Freud explica através do conceito de economia do esforço psíquico.

Teoria da Cultura: A problemática sociocultural está presente em três obras fundamentais de Freud - Totem e Tabu (1912-1913); Psicologia Coletiva e Análise do Ego; O mal - estar na civilização. Em Totem e Tabu o tema é a origem da sociedade. Freud parte de teses acerca da constituição dos grupos humanos primitivos, nos quais se consagra a figura paterna e sua autoridade é aceita sem restrições. Em Psicologia Coletiva e Análise do Ego, Freud se aplica à análise das razões que determinam a formação e a persistência dos grupos humanos. Propõe que os processos de associação teriam fundamentos na libido dessexualizada, o que implica na necessidade de consagrar um chefe, que funcionaria como objeto comum de vinculação afetiva. E finalmente no Mal - Estar da Civilização, Freud tenta responder à pergunta: é possível a felicidade, considerado o fato de que a sociedade impõe uma drástica redução das satisfações individuais? Como se poderá conciliar o impulso inato para a destruição, para a agressão, com a paz, igualmente desejada por todos? Freud considera que existem duas alternativas: (a) a do escoamento das pulsões agressivas para o exterior, atingindo outros grupos humanos, e essa alternativa implica na perpetuação da guerra: (b) a da interiorização do impulso destrutivo, com esmagamento do ego pelo superego e produção de intenso sentimento de culpa e profunda ansiedade. Ambas as alternativas conduzem, afinal, a conseqüências pessimistas: a de que Eros possa dominar o seu eterno inimigo, Tânato, o que Freud considera como impossível.

Teoria da Neurose: Para a Psicanálise, está presente nos indivíduos "normais" e "anormais" as mesmas estruturas de personalidades e as mesmas estruturas de conteúdos que, se mais ou menos "ativadas", são responsáveis pelos distúrbios nos indivíduos. Essas estruturas são as estruturas neuróticas e psicóticas. Os sintomas da Neurose - distúrbio de aspectos da personalidade - são a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem suas raízes na história infantil do indivíduo. Neurose Obsessiva leva a comportamentos compulsivos (lavar as mãos com uma freqüência não usual), ter idéias obsedantes (imaginar que está sendo perseguido por alguém, e ao mesmo tempo, ocorre uma luta contra esses pensamentos e dúvidas quanto ao que faz e ao que fez). Neurose fóbica ou histeria de angústia: a angústia é fixada, de modo mais ou menos estável num objeto exterior, isto é, o sintoma central é a fobia. Fobia de altura, de animais, de ficar sozinho, etc. (associada a conflitos infantis de ordem sexual). Neurose histérica ou histeria de conversão: o conflito psíquico simboliza-se nos sintomas corporais de modo ocasional, isto é, como crises. Por exemplo: crise de choro com teatralidade ou sintomas que se apresentam de modo duradouro, como a paralisia de um membro, a úlcera, etc. Neurose traumática: os sintomas: pensar obsessivamente no acontecimento traumatizante, perturbações de sono, etc., aparecem após um choque emotivo do indivíduo, ligado a uma experiência em que ele correu risco de vida.

 

Psicose - distúrbio de personalidade total - apresenta uma intensa perturbação do indivíduo na relação com a realidade. Acontece uma ruptura entre o ego e a realidade, ficando o ego sob domínio do id, isto é, dos impulsos. Na evolução da doença, o ego reconstrói a realidade de acordo com os desejos do id. Paranóia: psicose que se caracteriza por um delírio mais ou menos sistematizado, articulado sobre um ou vários temas. Não existe deterioração da capacidade intelectual. Aqui se incluem os delírios de perseguição, de grandeza. Esquizofrenia: caracteriza-se pelo afastamento da realidade - o indivíduo entra num processo de centramento de si mesmo, no seu mundo interior ficando progressivamente entregue as suas fantasias. Manifesta incoerência do pensamento, das ações e da afetividade. Acentuam-se os delírios e estes são mal sistematizados. A característica fundamental da esquizofrenia, é apresentar um quadro progressivo, que leva a uma deterioração intelectual e afetiva. Mania e Melancolia ou Psicose maníaco depressiva: caracteriza-se pela oscilação entre o estado de extrema euforia (mania) e estados depressivos (melancolia). Na depressão, o indivíduo pode negar-se ao contato com o outro, não se preocupa com cuidados pessoais (higiene, apresentação pessoal) e pode mesmo, em casos mais graves, buscar o suicídio.

Freud e a Educação

A educação é tema que perpassa toda obra de Freud, e sempre foi para ele motivo de análise e reflexão. Não se encontra uma obra específica dedicada ao tema educação, mas pode-se encontrar, em textos que abordam outras questões, uma conexão entre a educação e idéias de Freud que foram produzidas para compor sua teoria psicanalítica: ao construir um determinado conceito psicanalítico, Freud refletia as conseqüências dessa conceituação sobre o seu modo de pensar a cultura, a sociedade e a educação, encaminhando o que era particularidade do funcionamento psíquico e o que era fruto das influências educativas recebidas pelo indivíduo. Desta forma, torna-se necessário conhecer a teoria freudiana para estabelecer uma conexão dela com a educação. O que precisa ficar claro é que não existe uma pedagogia analítica ou uma psicanálise aplicada à educação, ou seja, uma construção de métodos e de instrumentos de trabalho de inspiração psicanalítica que se apliquem à situação de ensino propriamente dita. O que se espera, é que o professor, através do conhecimento da teoria freudiana, possa refletir , apropriar-se das idéias e delas tirar proveito para seu fazer diário em sala de aula. Mas não se pretende criar uma nova disciplina, a Pedagogia Psicanalítica e nem transformar professores em analistas.

As idéias freudianas sobre a educação, inspiradas pela psicanálise, eram de certa forma "desditas" por ele, ou seja, eram sempre questionadas: O educador deve promover a sublimação, mas como se a sublimação é inconsciente? Deve esclarecer as crianças sobre a sexualidade, mesmo que estas não dêem ouvidos por tecerem suas próprias explicações de acordo com o momento sexual que se encontram? O educador tem que se reconciliar com a criança que há dentro dele, pois como afirma em "Múltiplos interesses da Psicanálise", mais particularmente na seção intitulada "Interesse Pedagógico": "Só pode ser pedagogo aquele que se encontrar capacitado para penetrar na alma infantil. Nós, os adultos, não compreendemos nossa própria infância" (Kupfer 1989, 12). Os adultos esquecem de como foi ser criança. Freud disse em uma de suas últimas obras: "educar, ao lado de governar e psicanalisar é uma profissão impossível." (Kupfer 1989, 12). Esse pensamento mostra uma desilusão de Freud à educação. Impossível, não é, no entanto, sinônimo de irrealizável, mas indica principalmente a idéia de algo que não pode ser jamais integralmente alcançado: o domínio, a direção e o controle estão na base de qualquer sistema pedagógico.

O que se pode concluir, então, é que a Psicanálise não serve como fundamento pedagógico, não serve como princípio organizador de um sistema ou de uma metodologia educacional. Apesar de todas tentativas de pós freudianos tentarem aplicar a psicanálise à educação, o que tudo indica é que não obtiveram sucesso, e que até hoje "a psicanálise é convocada apenas para selecionar crianças para classes especiais, ou seja, para estigmatizá-las e segregá-las do convívio com os demais" (Kupfer1989, 71). É preciso buscar um ponto de equilíbrio em que o educador possa beneficiar-se do saber psicanalítico sem, contudo, abandonar a especificidade de seu papel, ou mesmo propor-se a uma sistematização desse saber em uma pedagogia analítica. Objetivo de transmitir a psicanálise ao educador é para que esta possa produzir efeito de natureza diversa na postura do professor, e não para que este aplique o conhecimento no trato com os alunos.

Freud enfatiza que, na relação professor – aluno, não são os conteúdos cognitivos, mas as relações afetivas, ou o campo, que se estabelecem entre o aluno e o professor e que estabelecem as condições para o aprender, sejam quais forem os conteúdos. O educador inspirado por idéias psicanalíticas renuncia a uma atividade excessivamente programada, instituída, controlada com rigor obsessivo. Aprende que pode organizar seu saber, mas não tem controle sobre os efeitos que produz sobre o seus alunos, sobre as repercussões inconscientes de sua presença e de seus ensinamentos. Pode-se dizer, por isso, que a Psicanálise pode transmitir ao educador, uma ética, um modo de ver e entender sua prática educativa. É um saber que pode gerar, dependendo, naturalmente, das possibilidades subjetivas de cada educador, uma posição, uma filosofia d trabalho, uma maneira de formar seu pensamento. De fato, o que se conclui, é que o encontro da psicanálise com a educação continua sendo um desafio.

A teoria da sexualidade como em tema transversal

Apesar de Freud afirmar, em carta a um amigo , que a Psicanálise talvez nunca se tornasse popular, vemos hoje que, de alguma forma, ela, está implícita ou explicitamente em várias áreas de ciências humanas - sociologia, literatura, artes, estudo das religiões, etc. - e no próprio estilo de vida e nos costumes do século XX, inclusive e, talvez, mais claramente, no que diz respeito à liberdade e à preocupação em relação aos problemas sexuais. As discussões acerca desta temática tem se intensificado por ser considerada importante na formação global do indivíduo. Por isso, desde a década de 80 é que vem aumentando os trabalhos na área da sexualidade nas escolas. Esses trabalhos culminaram com a inclusão da sexualidade como tema transversal proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1997, pelo MEC, com o nome "Orientação sexual". A sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres humanos. Neste sentido, se manifesta desde o nascimento até a morte, de formas diferentes a cada etapa, sendo construída ao longo da vida e marcada pela história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e sentimentos. A proposta de Orientação Sexual considera a sexualidade nas dimensões biológica, psíquica e sociocultural. As formulações conceituais sobre a sexualidade infantil feitas por Freud, no começo deste século, ainda não são conhecidas ou aceitas por parte dos profissionais que se ocupam de crianças, inclusive educadores, mas as questões que envolvem a sexualidade são bastante atuais e presentes no cotidiano destes profissionais. Por isso faz-se necessária a adoção, por esses profissionais, de uma postura, dentro das escolas, em face as manifestações da sexualidade dos alunos. Daí, a proposta de trabalho, que legitima o papel e delimita a atuação do educador neste campo, com a finalidade de contribuir para o bem estar das crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade atual e futura. Este encontro da "Teoria da sexualidade" freudiana com a atuação do educador se constitui, sem dúvida, num desafio. Que cada interessado tome como seu esse desafio!




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