Usuários de computador precisam ser ensinados
a valorizar a liberdade, diz Richard Stallman, para que eles a defendam – e
reconhecer o valor da liberdade você mesmo é o primeiro passo para ajudar a
fazer isso.
Por Richard Stallman
[Dee-Ann LeBlanc explorou recentemente aqui em LinuxWorld.com a questão se na
comunidade Linux estamos deixando a política influenciar demais a tecnologia.
Aqui estão as opiniões de Richard Stallman sobre este assunto, recém
recebidas... longe de compartilhar esta preocupação, ele está, ao contrário, com
a preocupação de que um foco estreito sobre os desenvolvimentos tecnológicos
“possa desviar nossos melhores ativistas de fazer seu melhor trabalho...”]
“Prezados editores da LinuxWorld,
Quando li a reação de surpresa da Srta. LeBlanc sobre a idéia de que “Linux” é
sobre política – inicialmente negativa, seguida de um reconhecimento que talvez
tenha se tornado assim – fiquei surpreso principalmente por causa da ironia.
Este sistema operacional foi lançado para ser sobre política, começando com seu
anúncio 20 anos atrás a contar deste mês:
Iniciando neste Dia de Ação de Graças, escreverei um sistema completo compatível
com o Unix chamado GNU (de Gnu’s Not Unix – Gnu Não é Unix)... Considero que a
regra de ouro requer que se eu gosto de um programa eu devo compartilhá-lo com
outras pessoas que gostam dele... Para que eu possa continuar a usar
computadores sem violar meus princípios, decidi reunir um conjunto suficiente de
software livre para que eu possa trabalhar sem qualquer software que não seja
livre.
Se a idéia de que o sistema operacional GNU/Linux é sobre política surge como
uma surpresa para muitos dos seus usuários hoje, é porque eles esqueceram sua
origem. A prática de chamar todo o sistema de “Linux” levou muitos a supor que
foi iniciado por Linus Torvalds em 1991 (Torvalds desenvolveu um kernel que, uma
vez tornado livre em 1992, preencheu a última lacuna do quase completo sistema
operacional GNU). Também dizem que o projeto GNU desenvolveu “ferramentas”,
diminuindo seu objetivo real.
A única idéia do propósito do sistema GNU/Linux que eles encontraram é a visão
“apolítica” autodescritiva de Torvald, a visão do Movimento de Código Aberto;
muitos deles fazem desta visão a sua inspiração. Alguns vão tão longe como dizer
que a tecnologia não deveria ser manchada por preocupações que não sejam
técnicas – sustentando uma idéia de “tecnologia pura” que explicitamente rejeita
a lição, tão dolorosamente aprendida da Segunda Guerra Mundial, que engenheiros
têm a responsabilidade de considerar como o seu trabalho pode afetar a
sociedade.
Porém você não pode manter a sua liberdade fazendo com que o avanço técnico seja
seu único objetivo. Em 1983, nós, usuários de computadores, perdemos nossa
liberdade de cooperar: a única maneira pela qual você poderia comprar um
computador moderno e usá-lo era assinando um acordo de não-divulgação.
Prometendo não compartilhar com seus amigos, você não poderia dizer o que o
programa realmente fazia, e não poderia mudá-lo somente aplicando um patch no
código binário. Readquirir esta liberdade demandou 20 anos de esforço
persistente, mas podemos perdê-la novamente muito mais rapidamente se falharmos
em defendê-la.
O Movimento do Software Livre ensina aos usuários de computadores a valorizar a
liberdade, de modo que eles a defendam. Reconhecer o valor da liberdade por você
mesmo é o primeiro passo para ajudar a fazer isto.
Sinceramente,
Richard Stallman
Chefe do Projeto GNU”
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Traduzido por Erik Kohler. <ekohler at
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