É   possível conviver com um lobo?

 Irmão,  eu acho que  não estou convertido. Constantemente sinto vontade de pecar. A minha vida é um permanente conflito. Quero servir a Jesus, mas ao mesmo tempo sinto vontade de fazer coisas erradas. Tem  solução para mim?

A pergunta veio de um rapaz simples de 20 anos, lá do  sertão de Pernambuco, embora pudesse ter saído dos  lábios de um empresário bem-sucedido dirigindo seu Ômega na Avenida Paulista.  O problema  é o mesmo para homens e mulheres, jovens e adultos, ricos e pobres.

Por alguma  razão , temos a  idéia de que no momento da  conversão a nossa luta acaba, e que a partir desse momento,  não pecaremos mais; seremos perfeitos, no sentido de ser exemplo de vida para outros.

Mas,  por que  é que a partir do momento que nos entregamos a Cristo a nossa luta se torna maior e o conflito aumenta?

Antes de mais nada temos que entender o que acontece no momento da conversão .   Muitos  tem a  idéia  de que na hora da conversão Deus tira de  nós  a natureza pecaminosa e a joga fora para sempre, colocando em  substituição a nova natureza que gosta de amar e obedecer.   Isto  não é completamente verdade. Seria maravilhoso se fosse assim,   já que nunca mais  teríamos vontade de pecar. A fonte da " concupiscência e das  paixões deste mundo"  não existiria mais. Em  conseqüência, nossa vida seria como a de  Adão e Eva antes da queda.

Infelizmente  não é assim que sucedem as coisas. Ao converter-nos, Deus coloca dentro de  nós uma nova natureza, a natureza de Cristo. Mas o que acontece com a velha natureza pecaminosa, a natureza de lobo? Ela  não sai, como muitos imaginam. Ela fica  aí, agonizante. "Aquela parte que em cada um de  vocês gosta de pecar, foi esmagada e mortalmente ferida" ( Rm 6:6), afirma o  apóstolo .   E agora? Agora passamos a ser pessoas com duas naturezas: a natureza de Cristo,  nova,   recém-implantada e a velha natureza pecaminosa, "esmagada e mortalmente ferida" que continua dentro de  nós.

O ideal seria que a velha natureza permanecesse sempre "mortalmente ferida". Mas essa  situação não é definitiva;  é circunstancial.    Na primeira oportunidade que receber alimento, ela  ressuscitará, e se continuar sendo alimentada, ela recuperará completamente as  forças e  lutará para expulsar de nossa vida, a nossa natureza.

É por isso que depois da  conversão a luta aumenta. Existe muito mais conflito num homem depois de sua  conversão do que antes dela.  Você está surpreso? Tente entender o que estou dizendo. Depois de aceitar a Jesus,  você pode esperar maior luta em seu  coração, um conflito interno, que muitas vezes o  levará ao desespero, se  você não parar a fim de entender o problema.

O assunto é simples. O homem sem Cristo tem uma  só natureza, a natureza com que nasceu e essa natureza faz as coisas erradas na hora que deseja.    Não existe luta,  não há conflito.

Mas  você entregou sua vida a Cristo,  você experimentou o milagre da  conversão,  você tem agora uma nova natureza e ela se  opõe a velha.   Você entende por que a vida do homem inconverso pode parecer mais leve? Ele  só tem uma natureza e ela assume o controle da vida, sem  oposição.   Mas logo depois da  conversão,  quando o homem pensa que a velha natureza foi embora, descobre que ela continua dentro e inicia-se aí o conflito.

Ele tem duas natureza e as duas  estão lutando.

 Você conhece a  história de Paulo? Houve um momento em sua vida em que ele chegou  a beira da loucura. Na sua carta aos  cristãos de Roma ele diz: "Eu  não entendo o que  faço , porque  não  faço o que gostaria de fazer. Ao  contrário,   faço justamente aquilo que odeio... E isto mostra que de fato  já não sou eu quem faz isso, mas o pecado que vive em mim... Assim, eu sei que  é  isto que acontece comigo... Dentro de mim sei que gosto da Lei de Deus.  Mas vejo que uma lei diferente age em meu corpo, uma lei que luta contra aquela que minha mente aprova".

Entende, meu amigo? Duas natureza,  duas  forças lutando dentro do  apóstolo Paulo. Um conflito que o levou ao desespero, porque no verso seguinte ele clama: "Que  situação terrível esta em que estou! Quem  é  que me  livrará da minha  escravidão a esta  mortífera natureza interior?".

Agora pergunto.   No momento em que Paulo escreveu a carta aos Romanos estava ou  não convertido?   Claro que estava.   Ele tinha sido convertido  lá na estrada de Damasco, quando se encontrou com Jesus e caiu do cavalo.    Porém,  aqui  está a  experiência de um homem convertido sentindo dentro de si o conflito que produz a luta das duas natureza.

Não se preocupe  meu amigo  por causa da  tensão e do conflito que  vem após sua  conversão.    Duas natureza, entende?       Você e eu somos homens com duas natureza e elas  não gostam uma da outra. O  apóstolo Paulo um dia conseguiu entender este conflito, e  aí  ele escreveu:  "Isto é o que eu quero dizer:  Deixem que o  Espirito de Deus dirija suas vidas,   e  não obedeçam os desejos da natureza humana.   Porque o que a nossa natureza humana deseja é contra o que o  Espírito quer,  e o que o  Espírito quer  é contra o que a natureza humana deseja.   Os dois  são inimigos,  e por isso  vocês não podem fazer o que querem"

- Irmão,  - (você dirá) -   "quer dizer que toda minha vida vai ser uma vida de conflito?"   Não, necessariamente: e isso vai depender de sua  decisão.     As duas natureza  estão hoje em luta mas, finalmente, uma delas vencerá.    Uma delas assumirá o controle completo de sua vida.    Uma delas  sobreviverá e a outra  morrerá. Qual delas  será a vitoriosa?    Também isso vai depender de sua  decisão.

Vamos ilustrar o assunto desta maneira. Suponhamos que estão soltas na arena de um circo duas feras envolvidas numa luta de morte.   Os  empresários do circo separam as duas feras e as colocam em jaulas separadas.    Uma delas é fartamente alimentada. Recebe comida e  água em  abundância.    A outra  é deixada no esquecimento quase total.     Vez por outra  alguém dá para ela apenas um bocado de alimento, o suficiente para  não morrer. Quando chegar o momento do confronto, qual delas  vencerá?

Existe alguma  dúvida?

Você sabe que  serah a que for melhor alimentada,  não sabe?

É isso o que acontece na luta das natureza por obter o controle da nossa vida.    Só uma delas  assumirá finalmente, por completo, o  domínio do  território .    E sem  dúvida será a que for melhor alimentada.

Ocorre que os seres humanos, geralmente, alimentaram mais a natureza pecaminosa e esta  é a causa de nosso fracasso constante, mesmo depois de nossa entrega a Cristo.

Deus realizou em  nós o milagre da  conversão, implantou em nosso  coração a nova natureza, mas  nos não cuidamos dela,  não a alimentamos e em  conseqüência a velha natureza  está sempre tomando o controle de nossa vida.

Como  é que se alimentam as natureza?  Através dos cinco sentidos. Tudo o que entra em nossa mente  através dos sentidos  é  alimento para uma ou outra natureza. Especialmente aquilo que vem  através da  visão e da  audição. Este  é o motivo por que precisamos ser cuidadosos na escolha dos programas a que assistimos, dos filmes que vemos, das revistas e livros que lemos, das conversas das quais participamos e das  músicas que ouvimos.

É verdade que enquanto estivermos neste mundo, mesmo sem querer, estaremos sempre filtrando comida para a natureza má.    Eu  não posso evitar ouvir uma  música que inspire sentimentos negativos enquanto estou num  ônibus ou no local de trabalho, por  força das  circunstâncias.    Não posso  também evitar que  apareça uma imagem negativa enquanto leio ou assisto um  noticiário.   É impossível deixar de ouvir conversas pouco edificantes na escola ou na rua.   Mas posso evitar colocar voluntariamente esse tipo de "alimento" em minha mente.     É inevitável que, vez por outra, passem "migalhas" para a natureza  má.   Mas posso evitar que entre para ela "  filet mignon". Posso evitar  alimentá-la consciente e voluntariamente.

Na realidade a nossa vitória e, em  conseqüência, a nossa felicidade na vida  cristã,  dependem, de certo modo,  de aprendermos a conviver com ambas as natureza.  Como ?  Alimentando a natureza de Cristo e matando de fome a outra.  É isso que  São Paulo diz quando afirma que  "os que  são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com suas  paixões e  concupiscência".

Nos tempos de Cristo, quando um homem era crucificado, era declarado legalmente executado e morto, mas na realidade continuava vivo na cruz, sofrendo e agonizando.  Às vezes os parentes ou amigos vinham  à  noite e resgatavam o corpo do executado, cuidavam dele e o homem tornava a viver e muitas vezes voltava  a sua vida de  delinqüência e crime.

O que Paulo  está querendo dizer é que temos que manter nossa velha natureza pregada na cruz.    Não  deixar que ela  desça, e muito menos cuidar dela e  alimentá-la.

"Bem,  irmão" -  você dirá - " até quando terei de conviver com essa luta das natureza?"

Enquanto estivermos neste mundo,  não há modo de nos livrarmos dela completamente, embora possamos tornar a luta mais leve, deixando de alimentar a natureza  má. Podemos manter esta  última "mortalmente ferida e agonizante", mas  jogá-la fora de nosso ser, não.    Até uma  cristã  vitoriosa como Ellen White declarou: " Não podemos dizer isto;   Eu  não tenho pecado;    enquanto este corpo vil  não for mudado e transformado à imagem do corpo glorioso de Cristo".

Mas,  graças a Deus, existe uma promessa maravilhosa:   "Digo-lhes isto, meus  irmãos: um corpo terreno, feito de carne e sangue,  não pode entrar no reino de Deus. Estes nossos corpos mortais  não são do tipo adequado para viver eternamente. Contudo eu lhes estou contando este segredo estranho e maravilhoso: nem todos morreremos,  porém todos receberemos novos corpos! Tudo  acontecerá num instante, num piscar de olhos, quando for tocada a  última trombeta. Porque  virá  do  céu um toque de trombeta, e todos os  cristãos que  já  morreram, de repente,   voltarão a vida,  com novos corpos que nunca jamais  morrerão;  e  então,  nós, que ainda estivermos vivos,  também receberemos, de  súbito, novos corpos. Porque os nossos corpos terrenos, os que temos agora e que são mortais  serão transformados em corpos celestiais que  não podem pecar, mas  viverão para sempre. Quando isso acontecer, finalmente, se  tornará  verdadeira esta escritura:  "A morte foi tragada na  vitória!  Oh! morte, onde  está agora tua  vitória ? Onde  está  o teu  aguilhão?    Porque o pecado  -  o  aguilhão que causa a morte  -  terá desaparecido completamente".

Não  é  isto maravilhoso?    Um novo corpo.    Sem natureza pecaminosa.   Finalmente Deus  arrancará a velha natureza de  nós e a  jogará fora,  para sempre.    Aí sim,  não haverá mais luta, mais conflito interior, mais vontade de pecar. Tornaremos a ser homens com uma  só natureza, a natureza de Cristo, perfeita e que se deleita em amar, obedecer e andar nos caminhos de Deus.

Enquanto esse dia  não chegar, vamos aprender a conviver com a velha natureza, matando-a de fome, desnutrindo-a, asfixiando-a e alimentando constantemente a nova natureza. Esse foi o segredo que descobriu um dia o  apóstolo Paulo.

Alguns anos depois de escrever o desesperado  capítulo aos Romanos, Paulo escreveu aos Filipenses dizendo: "E agora  irmãos, ao terminar esta carta, quero dizer-lhes mais uma coisa. Firmem seus pensamentos naquilo que  é verdadeiro, bom e direito. Pensem em coisas que sejam puras e  agradáveis".

Ele  está falando do alimento da nova natureza,  você percebe? Ele tinha descoberto o segredo da vida vitoriosa.   Ele  não alimentava mais a natureza velha.         A natureza de Cristo tinha assumido agora o controle de sua vida. "Eu  próprio não vivo mais, sim  é Cristo que vive em mim".

E  a  medida que os anos passaram, a sua velha natureza ficou cada vez mais fraca, de tal modo que quando chegou o momento de sua morte ele exclamou:   "muito tempo lutei incansavelmente e no meio de tudo eu me conservei fiel ao Senhor. Agora chegou a hora de parar de lutar e descansar:   Venci.  Lá no  céu me espera uma coroa a qual o Senhor me  dará no dia de Seu regresso".

Ah! meu caro leitor como é bom ver o final da vida de Paulo!   "Venci", diz ele.   "Consegui",  "alcancei".      Emociono-me ao pensar em tais palavras. Quer dizer que eu  também posso vencer"   Eu também posso ser um vitorioso?   É isso mesmo meu amigo.   Você e eu  também podemos.   Cristo garantiu a nossa  vitória  na cruz. Ele  está bem pertinho de  você nas horas de luta. Nos momentos em que  você acha que todo mundo o abandonou, que  você nunca  conseguirá,  que  você é um fracasso completo,  lembre-se de que Ele  está aí, amando-o, perdoando-o, sustendo-o. "Porque Deus  está operando em  vocês,  ajudando-os a desejar obedecer-lhe, e depois ajudando-os a fazer aquilo que Ele quer".

Tudo  éh  uma  questão de tempo. Ele  virá e  não tardará aí a  vitória será definitiva e eterna.

"Deus, te agradeço pela promessa de que um dia a luta  findará. Ajuda-me, enquanto estiver neste mundo a alimentar a natureza de Cristo e matar de fome a natureza carnal.   Essa  é minha parte  oh!  Deus, eu sei, mas preciso de sua ajuda também, como disse nosso Senhor Jesus no evangelho segundo João  15:5 :  "Sem Mim nada podeis fazer".    Por favor,  vem e me ajude a fazer o que é de minha incumbência.   Amém ".
 

Enviado por
Célia Regina, da
Igreja Nova Vida
em Brasília/Br
 
 
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