Caio Vianna Martins
Escoteiro Símbolo do Brasil
"O
Escoteiro caminha com as próprias pernas"
Ao final do 1938 uma delegação do Grupo Escoteiro "Afonso
Arinos", de Belo Horizonte, formada por 6 lobinhos, 12 escoteiros,
3 pioneiros e 2 chefes, embarcou no trem noturno em direção a
São Paulo, numa excursão técnica-cultural que marcava o encerramento
das atividades do ano. A composição estava formada por 11 carros.
O carro do meio, 1a classe, era ocupado pelos escoteiros.

A viagem transcorria normalmente. Às 2 horas
e 5 minutos da madrugada do dia 19 de dezembro, descendo a Serra
da Mantiqueira, entre as pequenas estações de Sítio e João Aires,
o Noturno chocou-se com um cargueiro que subia. Com o choque muitos
carros descarrilaram, outros engavetaram e alguns se desmontaram.
O carro a frente do ocupado pelos escoteiros
saltou dos trilhos e atravessou para a direita. Contra ele foi
o carro dos escoteiros, engavetando-se e partindo, deitando-se
contra um barranco e sendo comprimido pela pressão dos carros
restaurante e leitos.
Na noite escura os escoteiros foram reunidos
pelos chefes em ponto da estrada. Percebeu-se a ausência do escoteiro
Gérson Issa Satuf e do lobinho Hélio Marcos de Oliveira Santos.
Na procura foram encontrados mortos.
Com o desastre estabeleceu-se o pânico. Liderados
pelos seus chefes - Clairmont Orlando Gomes e Rubens Amador, os
escoteiros passaram a socorrer os feridos, confeccionando macas
com lençóis e paus, e providenciando uma fogueira com tábuas retiradas
dos vagões, facilitando o trabalho de resgate e socorro.
As 7 horas da manhã chegou ajuda externa.
Os passageiros feridos, inclusive os escoteiros, foram transportados
para Barbacena.
Vítima do choque, o escoteiro Caio Vianna
Martins, de 15 anos, recebeu forte pancada na região lombar. Retirado
do carro pelos companheiros apresentou grande melhora, parecendo
resistir ao impacto. Quando o socorro chegou, e o quiseram colocar
numa maca, Caio apontou para as vítimas que pareciam em estado
mais grave dizendo: "Há muitos feridos. Um escoteiro caminha com
as próprias pernas" E caminhou, para cair a uns cem passos adiante.
Morreu horas mais tarde, em conseqüência do rompimento de vísceras
e um grave derrame interno.
O fato teria passado desapercebido, não fosse
o testemunho de dois homens públicos - Alcides Lins e Otacilio
Negrão de Lima, que impressionados com a ação dos escoteiros,
no socorro aos feridos, e com o gesto de desprendimento de Caio
Martins, levaram aos jornais o que tinham assistido. Elegia-se,
assim, Caio Vianna Martins como o escoteiro símbolo do Brasil.
Em 1941, em Niterói, o Governo do Estado
do Rio de Janeiro inaugurou uma grande praça de esportes, denominando-a
"Estádio Caio Martins", em homenagem ao jovem que, por seu gesto,
tornou-se modelo para os escoteiros de todo o Brasil.