Entre em projetos que façam a
DIFERENÇA

Tom Peters ensina uma nova fórmula para garantir o seu êxito profissional: você é igual aos seus projetos que deixam marca. Ignore-a e correrá o risco de não demonstrar o que vale

Por: Tom Peters

Aprendi muito acerca do futuro do trabalho trabalhando em projetos — o tipo de projetos que se fazem rotineiramente em empresas de serviços profissionais. Comecei a trabalhar como consultor de gestão para os escritórios da McKinsey & Co., em São Francisco. No primeiro dia, comecei às 9 da manhã. Às 3 da tarde entrei num avião com destino a Iowa, para trabalhar num projeto que envolvia um investimento numa fábrica petroquímica no valor de 150 milhões de dólares. A vida era assim mesmo — feita de projetos.
Passaram-se 25 anos. Todo o trabalho dos colarinhos brancos é realizado através de projetos. O trabalho está a ser reinventado. A revolução no local de trabalho, que transformou as vidas dos trabalhadores de colarinho azul nas décadas de 70 e de 80, está finalmente a chegar aos cubículos dos trabalhadores de colarinho branco. Para os primeiros, a força motora da mudança foi a automatização fabril. Para o trabalhador do escritório, a tecnologia informática.
As empresas estão finalmente a enfrentar o fato da produtividade dos colarinhos brancos ser patética e a compreender que precisam de organizar o trabalho de uma forma radicalmente nova. Se desejam trabalhar no futuro, os trabalhadores de colarinho branco deverão demonstrar, clara, precisa e convincentemente, de que forma adicionam valor. A única resposta reside no projeto. Não num projeto qualquer, mas sim no que eu e os meus colegas chamamos «Projetos UAU!»: projetos que adicionam valor, que fazem a diferença, que deixam um legado — e que fazem de si uma estrela. Como profissional, com 56 anos, posso dizer honestamente que vivo de acordo com a fórmula Eu = meus projetos.
Existem algumas regras para pensar de forma adequada nestes projetos.

Onde está o seu projeto?

O seu projeto que faz a diferença existe e está à sua espera. Só precisa encontrá-lo, identificá-lo e depois criá-lo. É simultaneamente fácil e difícil. Como reconhecê-lo, saber como moldá-lo, desenvolvê-lo, torná-lo «UAU»? Para responder a estas questões, seguem-se quatro passos que farão o seu Projeto UAU! ocorrer, uma armadilha mortal a evitar e cinco critérios para o julgar.

Saiba vender a sua paixão

Se olhar para a literatura de gestão de projetos, de certeza que não encontrará a palavra «venda». Presume-se sempre que um bom projeto se vende a si próprio.
Embora os especialistas em gestão de projetos possam não apreciar a necessidade de venda, existe um grupo de profissionais de negócios que compreendem o papel crucial da venda de projetos. Eles são as pessoas que vivem no interior das «verdadeiras» empresas de serviços profissionais. Qualquer consultor de gestão, qualquer gênio de uma agência de publicidade, qualquer corretor de bolsa é um profissional de vendas. Eles vendem o seu forte ponto de vista, a sua mestria reconhecida e os seus serviços brilhantes aos clientes no exterior. E vendem a sua confiança e talento aos colegas no interior. Esta é apenas mais uma parte da nossa velha amiga «Uma marca chama da Você» (Executive Digest, n.º 36). O seu projeto e a sua marca andam de mãos dadas: ambos dependem da capacidade de se vender a si próprio e ao seu projeto. Se realmente deseja que o seu Projeto UAU! aconteça, terá de aprender a vendê-lo — com esperteza, força e do princípio ao fim.
Um LAPU (líder apaixonado de Projeto UAU!) tem de gerir duas competências essenciais de vendas: a organização do lançamento e da comunidade. A arte do lançamento vai ao encontro daquilo que denominamos «discurso de dois minutos no elevador». Você está a caminho do escritório, no elevador. As portas abrem-se e entra o presidente executivo da empresa. Logo que as portas se fecham, ele pergunta-lhe: «Em que é que o seu trabalho faz a diferença para esta empresa?» Você tem dois minutos para explicar até que ponto o seu projeto é importante. Tem borboletas no estômago e martelos no coração — mas o problema do elevador não se resume a lidar com a pressão, mas também com a comunicação. Consegue sintetizar o conjunto de problemas complicados que encontra no seu projeto em três pontos compreensíveis para qualquer pessoa?
Outra competência essencial para um LAPU é a organização da comunidade, conceito que alerta para a necessidade de se identificar as pessoas com as quais é possível criar uma causa apaixonada e comum e que visa ignorar igualmente as políticas empresariais e jogar o jogo mediante novas regras.
Por exemplo, é comum ouvir-se dizer: «Consiga o apoio do chefe, e verá que tudo anda para a frente.» Errado! Nunca fale com o seu chefe demasiado cedo. E nunca fale com ele antes de ter construído a sua comunidade de apoio, necessária para transformar o seu projeto em realidade. A organização da comunidade significa identificar quem poderá abraçar a sua causa e contribuir com os seus conhecimentos. Depois de organizar a sua comunidade, na altura em que se dirigir ao chefe, ele reconhecerá que você já tem apoios importantes na organização.
O segundo erro político que deverá a todo o custo evitar é gastar tempo e energia emocional preciosos com os seus inimigos — e se o seu projeto é genuinamente UAU, não duvide que terá inimigos. Lembre-se: nunca poderá mudar a mente dos seus inimigos. O melhor que poderá fazer é rodear-se de apoiantes apaixonados e determinados.

Chegou a hora de executar

Nesta fase de execução, é necessário que se concentre em três fatores que deverá praticar e em três que deverá evitar.

Parta para outro

Chegou agora a (verdadeira) parte difícil. Está na altura de entregar o projeto a alguém que o possa gerir numa base diária. Está na hora de se afastar do projeto no qual trabalhou tão arduamente para se empenhar num novo ciclo de criação. É algo saudável, necessário e difícil. É saudável e necessário porque as pessoas com os requisitos para criarem Projetos UAU! raramente têm os requisitos para os operarem. Mas é igualmente difícil, porque a gestão de projetos significa gestão de emoções. Você e a sua equipa investiram tudo na consecução desse projeto e agora terá de o delegar noutra pessoa. Este é o teste final do LAPU.
Se a gestão de projetos é acerca da gestão das emoções, deverá fazer uma festa inesquecível para celebrar o acontecimento. Não seja tímido, pois ainda está a vender o projeto e a construir a sua marca. Prepare um documento com a história do projeto, onde regista as contribuições de cada membro e enuncia as lições importantes que foram aprendidas durante o seu desenvolvimento. Envie notas de agradecimento a todos os que tornaram possível a realização do projeto. Irá precisar deles no seu próximo projeto. Certifique-se de que dá ao seu sucessor as ferramentas necessárias por forma a facilitar o seu trabalho. O projeto foi feito para ter sucesso, não para demonstrar que, sem você, está votado ao fracasso.
O fim de um projeto dá-lhe a oportunidade para se auto-avaliar. Despenda algum tempo a refletir sobre o verdadeiro significado que o projeto teve para si. O que é que aprendeu? Em que áreas é que você se destacou? Que problemas enfrentou? Que competências desenvolveu? Ao realizar o seu projeto post mortem, não está apenas a encerrar os seus livros profissionais e emocionais, como a preparar-se para o primeiro capítulo do seu próximo projeto.
Depois de efetuar a sua avaliação, estará pronto a iniciar de novo o ciclo dos Projetos UAU! Aprendeu a mover-se de um projeto para outro num mundo onde o trabalho é definido por esses projetos. Aprendeu a nova equação do mundo do trabalho: Você = seus projetos.

Fonte: Fast Company (Maio de 1999).