Liderança por detrás
da "cortina de fumo"
Por Pedro Dionísio
Todos aqueles que participaram no Seminário Mundial de Estratégia e Liderança terão verificado que os grandes gurus da gestão - como Peter Drucker, Ken Blanchard e Rosabeth Kanter - consideram que a liderança empresarial é fundamental para preparar as empresas para uma desejada mudança contínua do sucesso para o futuro.
Atualmente é comum avaliar o êxito das empresas, em primeiro lugar, pelos seus resultados econômicos e financeiros. Todavia, esses resultados referem-se sempre ao ano transacto e podem constituir uma verdadeira "cortina de fumo" que oculta a performance futura da empresa. Todos os anos assistimos a entradas e saídas mais ou menos inesperadas de empresas dos rankings sectoriais, nacionais e internacionais.
Poder-se-á perguntar quais as razões destas súbitas ascensões e quedas. Na realidade, os bons resultados econômicos e financeiros de um determinado período podem esconder incapacidades dessas empresas em acompanhar a velocidade dos seus concorrentes.
O papel dos líderes na mudança contínua e os desafios do futuro |
A mudança contínua exige que as empresas tenham como líderes pessoas capazes de fomentar essa mudança.
A primeira característica desses líderes deve ser uma visão inspiradora, que seja capaz de rasgar novos horizontes e congregar os colaboradores em torno de uma missão comum. Para muitas empresas portuguesas, tal visão pode passar por uma abertura internacional, deslocando as suas atividades comerciais ou de produção para outros mercados, nomeadamente para a União Europeia, PALOP e Brasil, ou repensar os negócios centrando-os no cliente de uma forma inovadora, tanto em termos do segmento-alvo como da forma de abordagem.
O segundo e não menos importante requisito de um líder é a sua capacidade de conduzir com entusiasmo toda a equipa, fazendo-a partilhar dessa mesma energia. Segundo Ken Blanchard, os três modos de potenciar a energia dos colaboradores de uma empresa são: atribuir trabalhos valorizadores que contribuam para um objetivo comum, acompanhar as ações e dar feedback sobre a execução e, por fim, reconhecer os bons desempenhos.
Estes requisitos, que às vezes são negligenciados por gestores com formação acadêmica, estão na base do sucesso de muitos empresários portugueses, que, não possuindo qualquer formação em gestão, souberam, no entanto, criar e dinamizar as suas empresas em torno de uma visão inspiradora e na transmissão de entusiasmo e de grande empenhamento.
A terceira característica de um líder consiste em fomentar continuamente a aprendizagem de todos os seus colaboradores. Este requisito adquire uma importância relevante na era da informação, época em que as necessidades de uma rápida e contínua aprendizagem mais se fazem sentir. A importância a dar à formação e ao desenvolvimento das competências constituem peças-chave das designadas learning organizations.
Outra característica importante do líder é a sua capacidade de fomentar a inovação. Num contexto em que a criação de novos produtos e serviços é essencial para assegurar a sobrevivência da empresa, é necessário que todos se empenhem nessa missão. Um bom exemplo desta filosofia é a 3M, onde cada colaborador deve apresentar anualmente propostas de criação de novos produtos para ser promovido ou ter um aumento salarial.
Por último, um líder deve identificar e escolher os parceiros adequados e desenvolver as relações de parceria.
As características de liderança que acabamos de enumerar têm sido, de uma forma geral, pouco valorizadas na formação dos gestores.
A primeira razão para este acolhimento prende-se com o fato de, em Portugal, só nos últimos 50 anos se ter desenvolvido a atividade empresarial. O segundo motivo tem a ver com o fato de a oferta formativa na área de gestão, designadamente nas licenciaturas e mestrados, ser habitualmente centrada nas competências técnicas relativas às estratégias e às áreas funcionais, negligenciando os aspectos comportamentais.
Temos vindo a assistir, nos anos 90, a uma maior valorização destas características de liderança por parte dos maiores pensadores mundiais em gestão, que têm vindo a chamar, com grande insistência, a atenção para a imprescindibilidade daqueles requisitos.
No último seminário mundial de estratégia e liderança, em 1997, pudemos assistir a diversas intervenções cujo denominador comum foi, sem dúvida, a assunção da importância das pessoas como recurso principal das empresas. Rosabeth Kanter, uma das oradoras desse seminário, vai mais longe quando afirma que, para além de recursos, as pessoas constituem a mais valiosa matéria-prima da empresa. Na realidade, esta matéria-prima terá de ser trabalhada - daí a importância da formação e da aprendizagem contínua -, para que possa fazer emergir todo o seu potencial e transformar-se num recurso valioso para a empresa.
O grande desafio que se coloca ao ensino de gestão nos próximos anos é o de desenvolver métodos de aprendizagem que sejam capazes de preparar os futuros líderes, dotando-os com as competências necessárias ao exercício da liderança. O chefe do futuro deverá conjugar a aptidão principal de um gestor, ao nível global e funcional, com a atitude de um empreendedor.
As competências que é previsível esperar num gestor, ao nível das técnicas, sendo embora já ensinadas nas universidades, estão em contínua evolução, pelo que se exige de um líder um esforço constante de atualização.
Quanto à atitude, muito está ainda por fazer. No entanto, o exemplo de muitos empresários que - em Portugal e no mundo, com pouca formação acadêmica - conseguiram criar e desenvolver sustentadamente empresas de sucesso deverá servir de fonte de inspiração e reflexão para o desenvolvimento destas competências por parte de muitos gestores.
Fonte: Executive Digest