Nos corredores da McKinsey
O que têm em comum a Bull, a IBM, a American Express, a Levi Strauss e a Bolsa de Frankfurt? Os seus presidentes passaram todos pela McKinsey. Onde é que os estudantes europeus ambicionam iniciar a carreira? Na McKinsey. Saiba o que é que transformou esta consultora numa referência no mundo dos negócios
Por: Ethan M. Rasiel
A McKinsey está para a gestão como a Cartier para a joalharia. Não existe no mundo empresa de consultoria mais bem sucedida. Pelas suas equipas passaram grandes nomes da gestão e dos negócios. Tom Peters, Kenichi Ohmae ou Jon Katzenbach desenvolveram a sua lógica e acuidade na McKinsey, e Lou Gerstner, da IBM, e Harvey Golub, da American Express, utilizam diariamente o pensamento estratégico adquirido na firma.
Os seus mais de 4500 consultores conhecem por dentro a maioria das 100 maiores empresas da Fortune, para além de muitas organizações estatais e federais dos Estados Unidos. Saiba como é que eles pensam, trabalham, vendem soluções aos clientes e... sobrevivem!
Como pensam
A McKinsey existe para resolver problemas e tem regras claras para o fazer. «Resolver problemas não é uma das coisas que fazemos. É o que fazemos na McKinsey», diz um antigo consultor da firma.
Os factos são como amigos. Os factos são os tijolos com que se constrói o caminho para a solução dos problemas. Eles não devem ser temidos, mas muitos homens de negócios receiam-nos. Com os consultores da McKinsey não têm hipótese: eles chegam a qualquer reunião de trabalho armados de factos até ao pescoço.
A eficácia da fórmula «MECE». Quando se estrutura o pensamento para resolver problemas, deve estar-se completamente dedicado ao tema. A listagem de todos os aspectos ligados ao problema deve ser «mutuamente exclusiva e colectivamente exaustiva» — é o que significam as iniciais «MECE». Ou seja, cada aspecto deve ser distinto dos outros e deverá dizer respeito apenas a uma parte bem definida do problema. Esta é a mensagem depositada na cabeça de todos os jovens assim que integram a firma.
Resolver o problema na primeira reunião. A formulação da hipótese inicial (HI) é o terceiro pilar do processo McKinsey de resolver problemas. Para isso, deve imaginar-se a solução do problema antes de começar a resolvê-lo. O primeiro passo para gerar a HI é a análise dos factos. Depois, há que verificar se a HI se adequa às necessidades do cliente, se terão sido ponderados todos os aspectos e se as recomendações são exequíveis.
Nem sempre o problema é o que parece. Os clientes não são muito bons em diagnósticos. A melhor forma de averiguar se o problema a resolver é mesmo aquele que foi apresentado é avaliar os factos, fazer perguntas e investigar. Se diagnosticar um problema diferente e até mais grave do que foi inicialmente apresentado, há que alertar o cliente. Assim se presta um bom serviço.
Não reinventar a roda. Tal como as outras empresas de consultoria, a McKinsey desenvolveu um conjunto de métodos de resolução de problemas aos quais deu nomes de código: análise de valor acrescentado, reestruturação do processo de negócio, análise do produto e do mercado, etc. Estas técnicas são valiosas, pois permitem aos consultores encaixar rapidamente os dados que caem sobre as suas mesas numa matriz coerente, que ajuda a perceber de imediato qual o tipo de problema do cliente.
A solução tem de se adequar ao cliente. A mais brilhante solução é inútil se o cliente não a conseguir implementar. Há que conhecer o cliente e descobrir os pontos fortes, fracos e as potencialidades da organização. A solução deve ser desenvolvida com estes factores em mente.
Como trabalham
Uma das maiores curiosidades da McKinsey, além da magia que tem para o seu staff o número três (qualquer consultor da firma lhe dirá que o seu problema tem três razões na sua origem... porquê, ninguém sabe), é a sua arte de vender estudos, sem os vender, propriamente. Nunca ninguém na McKinsey precisou de ligar para Bill Gates ou Ted Turner oferecendo-se para resolver os problemas das suas empresas. No entanto, os telefones não param de tocar.
Vender sem... vender. A firma produz um numeroso fluxo de livros e artigos, muitos deles com conteúdos de grande influência, como o famoso In Search of Excellence, de Tom Peters e Robert Waterman, Jr. Também publica o seu próprio jornal, intitulado The McKinsey Quartely, que envia para os clientes e antigos consultores, muitos deles ocupando hoje cargos-chave em potenciais clientes. Muitos dos seus consultores são conhecidos peritos nas suas áreas de especialidade. Para além disto, a firma encoraja os seus partners a participar em associações de caridade ou organizações culturais. É assim que mantém os telefones a tocar.
A importância do trabalho em equipa. Na McKinsey nunca se trabalha sozinho. A firma acredita que o trabalho de equipa é a melhor forma de resolver os problemas que os seus clientes enfrentam. Um número maior de pessoas permite analisar mais dados e representa mais cabeças para os interpretar.
Manter o moral elevado. É muito importante verificar se o moral no interior do grupo se mantém elevado. É necessário que o líder converse com as pessoas, não mude constantemente de opinião e transmita aos colegas os factos sobre o que estão a fazer e porquê. Além disso, deve lembrar-se que eles podem ter prioridades diferentes das suas e que têm uma vida fora da empresa.
Ajudar o chefe a fazer boa figura. Quem ajuda o chefe é, geralmente, retribuído. Ajudar o chefe significa duas coisas (curiosamente são apenas duas e não três!): primeiro, é fazer o trabalho o melhor possível — quanto melhor for o seu trabalho, mais facilitada ficará a vida do chefe; segundo, certificar-se de que o chefe sabe tudo o que precisa.
Usar a rede interna de informações. Qualquer que seja o problema, as hipóteses de alguém na empresa já ter trabalhado em algo semelhante são grandes. A McKinsey mantém uma base de dados (PDNet) contendo os relatórios sobre clientes e resultados de inúmeras pesquisas levadas a cabo pela firma.
Algumas pistas de investigação. Pode começar a investigação pela leitura do relatório anual da empresa cliente. Por outro lado, deve identificar quais os elementos que são realmente maus ou marcadamente bons. Isto servirá para desvendar o quadro real do problema. E deve também observar-se o mercado. Se houver alguns competidores com melhores resultados, por vezes basta imitar os seus métodos.
Preparar as entrevistas. O trabalho na McKinsey vive de entrevistas. Para as fazer há que estar preparado. Por vezes, só se tem 30 minutos com uma pessoa que não se voltará a ver. Um guião com as questões é uma boa forma de rentabilizar a entrevista. E procure saber o máximo sobre o entrevistado antes da reunião.
Saber ouvir os outros. Nas entrevistas é muito importante saber ouvir. Feitas as perguntas, o entrevistador deve mostrar que está atento às respostas. Isto pode ser apoiado pela utilização de vocábulos como «estou a ver», «sim», ou mesmo «uh-huh» (a esta escolha eu gosto de chamar «o grunhido McKinsey»).
Fazer entrevistas difíceis.
Algumas entrevistas são verdadeiras provas. É importante que o entrevistador esteja apto a ripostar a um ataque inesperado. Os limites do contra-ataque dependerão da sua autoridade na organização. Na McKinsey, os consultores estão protegidos pelos seus superiores. Também por isso, estão à vontade para, diante da recusa do entrevistado em fornecer as informações de que precisam, ligarem para o responsável pelo projecto na empresa-cliente a alertá-lo sobre o facto. Estão apenas a fazer o seu trabalho. Após a entrevista, deve escrever-se uma carta de agradecimento ao entrevistado. É um gesto que pode trazer inesperados dividendos.Como sobrevivem
Fonte: Executive Digest