A Igreja Adventista no
combate ao fumo
Reportagem do Jornal "O Globo" de 24/05/98
Onde há fumaça sempre há briga
Berenice Seara e Nívia Carvalho
Fumaça branca, sinal de guerra. Quatro anos depois de sancionada a primeira lei a restringir o espaço dos fumantes em bares e restaurantes do Rio (a Lei municipal 2.136, de 11 de maio de 1994), os cariocas ainda não decretaram o cessar-fogo entre os dois lados da trincheira. Pesquisa realizada pelo Instituto GPP em parceria com O GLOBO revela que 68,4% dos não-fumantes acham que os adversários estão desrespeitando as regras da batalha e que não evitam acender seus cigarros em lugares públicos, mesmo sabendo que estão incomodando os outros. No campo oposto, 86,5% dos fumantes juram que têm evitado fumar em lugares públicos. Apenas 13,5% dos fumantes admitem que soltam sua fumaça em qualquer lugar.
Nesse clima bélico, pela primeira vez o Rio sedia, na próxima quinta-feira, o lançamento da programação oficial da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o Dia Mundial Sem Tabaco, que se comemora em 31 de maio. Também na quinta, o ministro da Saúde, José Serra, virá ao Rio para lançar o Programa Saber Saúde, desenvolvido pelo Instituto Nacional do Câncer (INCa).
- O fumante carioca é muito mal-educado, fuma em qualquer lugar. A lei que manda preservar para nós, pobres não-fumantes, espaços arejados nos restaurantes é mais uma que não pega. E ele fuma até no nosso quarto - protesta a microempresária Maria Alice Santana, enquanto afasta com as mãos a fumaça produzida pelo marido, o engenheiro Marcos Ribeiro Santana.
- Eu fumo no quarto? Ela me põe no corredor - responde Marcos, entre risos. - Mas não pode me acusar de fumar em lugar proibido. Isso eu não faço mesmo, por maior que seja a vontade de furar tanta patrulha.
Além do diretor-geral da OMS, Hiroshi Nakajima, virão ao Rio os principais representantes da organização na área de tabagismo, como Neil Collishaw, coordenador do Programa de Combate ao Fumo. O Programa Saber Saúde pretente ensinar a 3 milhões de alunos das redes pública e privada como prevenir o câncer e, principalmente, evitar a tentação da primeira tragada.
- O cigarro traz um grande prejuízo econômico ao país pelos altos custos em cuidados com a saúde da população. Esse aumento também provoca elevação dos encargos sociais pelo sofrimento e pela morte de pessoas em decorrência do uso do cigarro - diz o ministro.
Entre os 378 fumantes e 420 não-fumantes, num universo de 1.493 residências visitadas pela pesquisa GPP/O GLOBO, 90,1% das pessoas ouvidas consideram o cigarro uma droga. A opinião não surpreende Vera Luíza da Costa e Silva, coordenadora dos Programas de Prevenção do Câncer, do INCa, para quem a imagem da droga queimando na ponta de um cigarro é absolutamente consolidada. Para a OMS, o tabagismo é considerado uma doença. São associadas ao hábito de fumar, identificadas pelo código internacional de doenças (CID) da OMS, infecções agudas por tabaco e até transtornos mentais e comportamentais.
- Só saber que a população considera o cigarro uma droga já é um bom começo - diz Vera, que luta contra o tabagismo desde 1996, quando foram iniciadas as campanhas do INCa. - O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas tem a nicotina como a segunda droga mais usada pelos jovens, logo depois do álcool.
A pesquisa do Instituto GPP em parceria com O GLOBO mostra que a maioria dos fumantes do Rio já tentou, mais de uma vez, deixar o vício. Eles formam um contingente de 70,1%.
- Eu fumei durante anos. Consegui parar, mas voltei. Agora já estou quatro meses sem ter recaída - conta o ator Du Moscovis, o Nando da novela "Por amor".
E que não se anime quem acha que discursos familiares ou declarações de amor fraternais vão convencer os fumantes a deixar o cigarro. Embora 50% dos fumantes se digam pressionados por parentes e amigos, dos ex-fumantes, só 5,9% deixaram o cigarro por causa disso. A grande maioria (51,9% dos cariocas entrevistados) pensou na própria saúde ao tomar a decisão e 26,4% dizem que resolveram a questão apenas por opção.
- Eu deixei de fumar quando me senti escravo a ponto de, por ter ficado sem cigarro de madrugada, trocar de roupa, pegar o carro, sair na chuva, apenas para comprar um novo suprimento - lembra o cartunista Ziraldo, um ex-fumante que hoje desenha os cartazes do Ministério da Saúde contra o tabagismo.
O discurso familiar contra o cigarro, especialmente dos filhos com menos de 12 anos, marca o que os fumantes chamam de patrulha. São os filhos menores que cercam os pais de símbolos antitabagistas, que deixam bilhetes espalhados pela casa e até tentam acabar com o hábito destruindo os cigarros.
- Meu filho menor desenhava, à mão, aquele símbolo internacional de "proibido fumar" e espalhava em todos os cômodos da casa, quando tinha 8 anos. Achei engraçado, mas não dava importância. Até que ele passou a esconder ou destruir meus cigarros. Foi quando tive uma conversa com ele sobre os limites de cada um - contou o analista de sistemas Eduardo Andrade.
Nos restaurantes, a briga tem, pelo menos, sempre um juiz. Mas nem sempre é bem-sucedida a experiência de interferir nas baforadas alheias. João Luiz Garcia, um dos donos do centro gastronômico Garcia & Rodrigues, no Leblon, que o diga. No restaurante, 50% dos lugares são reservados aos amantes do cigarro. Mas no café, logo na entrada da casa, nem pensar:
- Não pode, porque é lei. Há muitos alimentos expostos ali, como pães, queijos etc. A maioria entende, acho até que os fumantes estão ficando mais compreensivos. Mas já tive até que ameaçar chamar a polícia.
As chamuscadas fronteiras dos lugares públicos
O espaço foi delimitado por lei. Mas quem disse que a branca fumaça de um cigarro segue alguma regra que não seja o capricho dos ventos? Nos bares e restaurantes do Rio, a fronteira entre as áreas de fumantes e não-fumantes é tão tênue quanto o ar que as separa.
- Uma vez sentei na área de não-fumantes de um restaurante no Leblon com minha mãe e minha filha. Um sujeito acendeu um cigarro bem ao lado. Tentei não reclamar, mas quando minha mãe começou a tossir, achei demais. E pedi para ele apagar. Ele atendeu na hora - conta a assistente social Maria Alice Nogueira.
Maria Alice é uma exceção entre os cariocas, segundo a pesquisa do Instituto GPP em parceria com O GLOBO. Embora 84,2% dos não-fumantes admitam ficar incomodados quando alguém acende um cigarro ao seu lado, 52,8% dizem que não pedem ao fumante inconveniente que apague o alvo da irritação. Já o tal sujeito interpelado pela assistente social fez o que 58,3% dos fumantes diz que faria na mesma situação: apagar o cigarro sem reclamar.
Quem freqüenta o Esch Cigars, no Centro, não tem dúvidas. Lá, misto de charutaria e restaurante, fumante é prioridade e não há espaço exclusivo para quem não gosta de dar suas tragadas. Isso não assustou a família da advogada Natalie Sequerra, formada por cinco não-fumantes que na última quarta-
feira sentavam em meio a uma cortina de fumaça.
- Eu sempre venho aqui e gosto muito. Nunca me senti incomodada, a não ser uma vez em que, por azar, dez pessoas da mesa ao lado acenderam seus charutos ao mesmo tempo - conta Natalie. - Acho que o segredo é a exaustão, que funciona muito bem.
A ventilação é a palavra-chave do programa Convivência em Harmonia, importado pela Associação Brasileira das Entidades de Hospedagem, Gastronomia e Turismo (Abresi), para tentar melhorar a convivência entre os clientes fumantes e não-fumantes. Já aplicado em mais de 40 países, o programa chegou ao Brasil no ano passado e se disseminou por 12 cidades. No Rio, já está em prática em 40 restaurantes e dois hotéis. A idéia é usar um sistema de altas e baixas pressões atmosféricas e uma corrente de ar que desfaça a fumaça antes que ela chegue ao nariz de quem está por perto do cigarro.
- A reação contra fumantes é sempre uma coisa desagradável. E o cliente fumante é muito importante para nós, tanto quanto o não-fumante. O sistema foi aprovado até nos Estados Unidos, porque permite uma convivência pacífica entre os dois grupos tão opostos - diz o Antônio Conde, presidente da Abresi.
Um exemplo oposto ao do Esch Cigars é o centro gastronômico Garcia & Rodrigues, no Leblon. Como na área do café há alimentos (como pães e queijos) expostos, é proibido fumar no recinto. A grande maioria dos clientes respeita. Os fumantes chegam a ir para a calçada, quando a vontade de fumar é irresistível. No restaurante, porém, a convivência nem sempre é tão pacífica assim.
- Metade das mesas é reservada a fumantes. Mas, como tudo na vida, a boa convivência depende do bom senso. Uma vez um cliente acendeu um charuto que incomodou a mesa vizinha. Pedi que apagasse, mas ele se recusou. Então disse que saísse sem precisar pagar a conta. Ele foi sem pagar. Mas era exceção. Em geral, as pessoas estão respeitando o espaço dos outros - avalia João Luiz Garcia, dono do complexo gastronômico.
Ministério fará campanha nas escolas
Crescer sem tabaco. Esse é o nome da campanha que o ministro da Saúde, José Serra, vai lançar na próxima quinta-feira, no Rio. São dois livros, revistas, cartazes, um CD-Rom, tudo ilustrado pelo cartunista Ziraldo especialmente para manter os alunos da rede pública bem longe dos cigarros.
A campanha, coordenada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCa), vai atingir 127 mil professores e três milhões de estudantes em todo o Brasil, que estão matriculados em 20 mil escolas. Ao mesmo tempo em que serve de palco para o lançamento da campanha, o Rio recebe a cúpula da Organização Mundial de Saúde (OMS) para as comemorações do Dia Mundial sem Tabaco (dia 31 de maio). O chefe do Programa Tabaco ou Saúde da OMS, Neil Collishaw, que estará aqui para a solenidade, elogiou a campanha brasileira contra o tabagismo nas escolas públicas.
- A OMS recomendou que os países-membros desenvolvessem ações para reduzir o uso do tabaco. Essa é uma "epidemia" que atinge grandes escalas, e que continua crescendo, e somente medidas de grande alcance, incluindo o desenvolvimento de programas educacionais e preventivos, ajudarão a reduzir esse crescimento.
Além de informações sobre o tabagismo, o INCa vai mostrar aos alunos os riscos da exposição excessiva à radiação solar e do consumo de bebidas alcoólicas sem moderação.
Atritos são maiores no ambiente familiar
Na infância, ele tentou de tudo, escondeu pacotes inteiros, picotou maços fechados, escondeu cigarros, jogou vários na privada e deu descarga. Hoje, com 20 anos recém-completados, o ator Thierry Figueira deu a luta quase por perdida. Os pais, Thierry Figueiredo e Dina, continuam fumando tanto quanto na época em que ele era criança. O dia-a-dia da família de Thierry repete a frente de batalha entre fumantes e não-fumantes mais comum nos dias de hoje: a convivência familiar.
- Tinham que ter o mínimo de respeito com os outros dentro de casa - protesta o ator. - Na rua, nos locais públicos, a relação entre fumantes e não-fumantes até melhorou. Nunca vi ninguém acender cigarro em área reservada a não-fumantes. As pessoas começam a respeitar as regras. Mas aqui em casa....
- Como não respeitamos? Ninguém fuma no seu quarto, por exemplo - devolve Dina.
- Era só o que faltava - diz Thierry, que, como 62,7% dos entrevistados na pesquisa do GPP, tenta convencer fumantes a deixarem o vício.
O pai fuma praticamente dois maços por dia. A mãe, quase um. O irmão Guilherme, um atleta com 15 anos, já começa a se aliar a Thierry na tarefa inglória.
- Eles são de uma geração mais saudável do que a nossa. Fica difícil explicar que o cigarro me acalma, me livra do estresse diário. É claro que a solução seria não fumar mais, a gente é consciente do mal que faz à saúde. Mas é uma opção e eles têm que respeitar - lembra Dina.
Thierry pai é o principal alvo da fúria antifumaça do ator. Ele já teve problemas de saúde - e o filho atribui isso à quantidade de cigarros consumidos diariamente. Tentou fazer o pai, pelo menos, diminuir o número de cigarros. Mas, nem mesmo quando o problema ganhou dimensões concretas, Thierry pai mudou o comportamento, repetindo a reação de 34,8% dos fumantes entrevistados na pesquisa, que garante não se sentirem pressionados a parar como cigarro.
- Eu nunca tentei, a sério, parar de fumar. Acho até que não se deve tentar. Quando for para parar, tem que ser de uma vez. Meu pai fumava três maços por dia. Uma vez decidiu não pôr mais um cigarro na boca e conseguiu - pondera Thierry, o pai.
Na casa da cantora Fhernanda, que fuma há 28 anos, os patrulheiros antitabaco também são dois. Giulia, de 10 anos, e José Luiz, de 18. A campanha antitabagista foi intensificada recentemente, com a morte do deputado federal Luís Eduardo Magalhães, que fumava quatro maços de cigarro por dia:
- Está vendo, mãe? Você fuma e também pode morrer - repetia Giulia a cada vez que o assunto aparecia nos telejornais.
Giulia sacode as mãos quando quer afastar a fumaça do cigarro da mãe, não gosta que Fhernanda fume no seu quarto. O irmão mais velho é ainda mais incisivo.
- Ele costuma me dizer que o cigarro fede e não quer que eu chegue perto dele quando acabo de fumar - diz Fhernanda, que não fumou menos que seus habituais 35 cigarros diários durante as duas gestações e os períodos de amamentação.
O analista de sistemas Eduardo Lima chegou em casa uma noite e encontrou os símbolos internacionais de "proibido fumar" desenhados à mão espalhados em todas as portas da casa. Os autores, os filhos Ana Luísa, de 6 anos, e André Luís, de 10. Sob a supervisão da mãe, Ana Paula.
- Eles não querem que eu fume em lugar nenhum. Se bobear, me põem para fora de casa (risos). Mas estamos conversando, em fase de negociações. Sei que não é legal expor todo mundo ao meu vício. Mas não me agrada também essa postura fascista, com eles achando que podem mandar no mundo - argumenta Eduardo, que conseguiu delimitar na casa as áreas de fumantes: a copa, o corredor e a sala.
Mesmo tentando um acordo, Eduardo não está livre da patrulha doméstica. As caretas da filha, quando pega um cinzeiro cheio, são constrangedoras.
- Não dá para fingir que não vejo. Ela é uma atriz nata. Tapa o nariz com uma das mãos e leva o cinzeiro, bem distante do corpo, com os braços esticados, até a lata de lixo. Depois, enche o cinzeiro de desinfetante. E grita de longe: "Nossa, como deve estar o pulmão dele!" - conta Eduardo.
- Faço isso para ver se ele aprende - diz Ana Luísa, do alto de sua vasta experiência televisiva. - Um médico disse na TV que quem fuma morre. Não quero que meu pai morra. Nem meu irmão, nem minha mãe querem. E quem vai dizer que cigarro não fede?
Ziraldo, ex-fumante convicto, e Scarlet Moon, tabagista resolvida, duelam numa conversa sobre o fumo
A guerra, neste caso, é apenas de farpas inteligentes. Amigos há 30 anos, o cartunista Ziraldo e a jornalista Scarlet Moon estão em lados opostos pelo menos no que diz respeito ao cigarro. Ele, ex-fumante há mais de dez anos e autor dos cartazes das campanhas antitabagistas do Ministério da Saúde. Ela, fumante convicta. Os dois tiveram uma conversa sobre aquilo que os separa numa mesa de bar.
ZIRALDO: Antes de mais nada, não sou um ex-fumante chato. Aliás, acho que as pessoas continuam fumando justamente por causa dos ex-fumantes. Ô gente chata! Mas as moças perdem em beijo quando fumam. Ficam com gosto de cinzeiro. Parei de fumar porque não tinha mais prazer, saía de casa de madrugada quando o cigarro acabava, na chuva, para comprar mais. Na mesma época fiz a campanha para o Ministério. Mudei o vértice das campanhas. Antes tudo era justificado pelos problemas de saúde, eu passei para a questão comportamental. Fumar é brega, fumar é sujo... Ganhei uma medalha da OMS.
SCARLET: Foi o único benefício que você teve, ninguém parou de fumar por causa disso (risos). Mas há uma paranóia americana contra o cigarro. Há pesquisas que provam que espanhóis, franceses, italianos, que fumam muito mas tomam vinho tinto, morrem menos de doenças cardiovasculares que os americanos. Nem os ingleses são como eles.
ZIRALDO: É, os ingleses têm aquele último carro do metrô, reservado para fumantes, nunca vi coisa mais suja, mais imunda, mais enfumaçada.
SCARLET: Não há cena mais constrangedora do que no inverno, em Nova York, aquele bando de gente na rua fumando, os restaurantes vazios...
ZIRALDO: Aquele bando de malucos, tiritando de frio, fumando (risos)....
SCARLET: É a paranóia americana. Não tem mais comunismo, eles perseguem traficantes e fumantes. Enquanto isso, o número de viciados cresce. E eles continuam morrendo do coração, com a paranóia.
ZIRALDO: Mas não fumar é melhor. Nada pior do que cheiro de cigarro.
SCARLET: Eu me ofereço às suas cafungadas, vê se eu estou cheirando mal.
ZIRALDO: Quando parei, vi que minhas ressacas não eram de bebida, eram de cigarro. Ressaca de cigarro deixa gosto de cabo de guarda-chuva.
SCARLET: Praticamente não bebo, não sei o que é ressaca.
ZIRALDO: Mas o que me deixou irritado mesmo foi a escravidão que o cigarro impõe, aquela coisa de sair de madrugada de casa para comprar cigarro.
SCARLET: Mas você era compulsivo, o problema não é o cigarro, é a compulsão.
ZIRALDO: Vai dizer que o cigarro não te deixa com alguma seqüela, com problemas...
SCARLET: Nado sempre, no mínimo 1.200 metros por dia. E sou zen. O importante é o equilíbrio, é manter o que te faz bem e o que te faz mal numa posição de equilíbrio. E o cigarro é um prazer.
ZIRALDO: As pessoas fumam também porque o cigarro faz companhia. Mas um livro também serve para isso. Antigamente desconfiava de quem não fumava, achava o sujeito meio nazista. Hoje desconfio de quem fuma, um fraco de caráter.
SCARLET: E agora está você aqui, conversando com uma fraca de caráter (risos)...
ZIRALDO: Ela sempre foi assim, "adrenalinada".
SCARLET: Mas eu não acho que fumar é brega, que quem fuma é fraco de caráter.
ZIRALDO: Mas não fumar é melhor.
Educação e apoio, as armas antifumo das empresas
Mais de 500 empresas no Brasil descobriram que o fumante não deve ser o inimigo público número um nas campanhas antitabagistas. Para atingir o sucesso, o alvo tem que ser o ato de fumar. Foi pensando assim que a antiga Nuclen (hoje Eletronuclear) ganhou um prêmio do Ministério da Saúde, no ano passado, por seu trabalho de combate ao fumo.
- Começamos com uma campanha educacional e formamos grupos de convivência bem heterogêneos. Oferecemos o apoio de psicólogos, médicos, assistentes sociais e enfermeiros aos fumantes que queriam deixar de fumar - conta Lúcia Helena Fernandes, assistente social da empresa.
A Light também é citada pelo ministério como um exemplo bem-sucedido no combate ao tabagismo. Quando implantou a primeira fase da campanha, em 1994, 112 funcionários ficaram interessados no auxílio para deixar de fumar. Ao longo dos primeiros 18 meses, outros 78 aderiram. Do total de cadastrados, 46% conseguiram deixar o cigarro.
- O mais interessante no processo é que todo mundo foi chamado a opinar, todos participam de todas as decisões. Temos o amplo apoio, tanto dos fumantes quanto dos não fumantes, até na escolha dos locais onde implantaremos os fumódromos - comemora Catarina Maria Ribeiro Ferreirinha, psicóloga da Light.
Mas o cerco antitabagista nas empresas começa antes mesmo da contratação. Pesquisa que acaba de ser realizada pelo grupo Catho com 1.356 executivos de todo o país revela que os obesos, as mulheres com filhos pequenos e profissionais entre 50 e 55 anos de idade têm mais chances de ganhar a simpatia dos entrevistadores e conseguir o emprego desejado do que um fumante.
Mas engana-se quem pensa que os responsáveis pelas contratações são antitabagistas tão convictos assim: 19,6% dos executivos consultados na pesquisa são fumantes. Esses executivos fumam, em média, 14,7 vezes por dia e mantêm o vício há quase 20 anos. Os quase 34% dos que não fumam já consumiram no passado vários cigarros e abandonaram o vício há nove anos.
Os mais de 80% dos presidentes, vice-presidentes, diretores, gerentes e supervisores que têm muita objeção aos fumantes são os mesmos que em nada se opõem à contratação de mulheres com filhos pequenos. Para esses responsáveis pela contratação de pessoal, somente três outros obstáculos (de uma lista de 13) superam a antipatia pelos fumantes: o pretendente à vaga ter mais de 55 anos de idade, ter ficado menos que dois anos nos empregos anteriores ou possuir um negócio próprio paralelo.
Por último, a pesquisa revela que fumar, além de tudo, faz mal ao bolso: se é fumante, o executivo ganha US$ 563,80 mensais a menos do que um executivo não fumante.
Pesquisadores foram a 1493 residências
A pesquisa do Instituto GPP, em parceria com O GLOBO, foi realizada, através de amostragem estratificada, no dia 1º de maio.
Foram entrevistados 378 fumantes e 420 não fumantes, todos moradores da Região Metropolitana do Rio e maiores de 15 anos.
Para efeito de estudo, a Região Metropolitana foi dividida em seis diferentes grandes áreas: Niterói e São Gonçalo; Zona Sul, Centro e Barra da Tijuca; Zona Oeste; Zona Central; Zona da Leopoldina e Baixada Fluminense.
Os pesquisadores do Instituto GPP visitaram, na totalidade, 1.493 residências.
Todos os dados apurados pela pesquisa foram corrigidos pelas cotas de sexo, idade e população para as regiões pesquisadas.
Para efetuar essa correção, foram utilizados os dados censitários mais recentes, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os objetivos principais desta pesquisa foram verificar as opiniões dos moradores do Rio, fumantes e não fumantes, sobre cigarro e sobre os hábitos e as atitudes desse mesmo universo em relação ao tabagismo.
Verdades sobre o fumo
É VERDADE: Que há um ganho de peso quando se pára de fumar. O uso de nicotina faz com que o organismo, mesmo em repouso, gaste mais calorias. Há evidências também de que a enzima lipase lipoproteíca (proteína existente no fígado) tenha sua atividade aumentada quando se fuma, havendo, portanto, maior queima de gorduras. Um estudo realizado entre mulheres que param de fumar mostrou um aumento de peso de 1,5 quilo após um mês sem cigarros e de 4,5 quilos na revisão após um ano. A partir de ano de abstinência, o consumo diário de calorias volta ao nível normal. Isto indica que, a partir deste prazo, pode-se começar a perder o peso adquirido após parar de fumar. Portanto, é recomendado aumentar a ingestão de alimentos de baixas calorias, como frutas, legumes e verduras; diminuir o uso de alimentos gordurosos; beber, no mínimo, oito copos de água por dia; e aumentar a prática de atividades físicas
Mentiras sobre o fumo
É MENTIRA: Que o fumante pode levar até 20 anos para se livrar do malefícios do tabaco. Após 20 minutos sem fumar, a pressão sangüínea e a pulsação voltam ao normal. Duas horas depois, já não há nicotina circulando no sangue. Em oito horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza. Um dia basta para os pulmões funcionarem melhor. O olfato e o paladar demoram um pouco mais para se restabelecerem: em geral, dois dias. Mas em três semanas, o ex-fumante já poderá sentir, sem necessidade de exames, que a respiração se torna mais fácil e que a circulação sangüínea já está melhor. Um ano de abstinência já afasta metade dos riscos de morte por infarto do miocárdio. Ao fim de cinco ou dez anos sem recaídas, o risco que um ex-fumante corre de contrair doenças cardiovasculares já é o mesmo de uma pessoa que nunca fumou.