Minha opinião é o fogo que ilumina a resistência à assimilação de meu espírito. |
Durante
o decorrer da década perdida de 80, um grupo de jovens paulistas - à
exemplo do que ocorria então - resolveu utilizar seu conhecimento
musical, para contestar os desmandos do regime de transição
democrática. Alguns - Eu, inclusive - já haviam participado da
resistência ao regime militar, através da cultura, da resistência
pacífica e da mobilização
popular. Socialmente, houve uma grande inclusão de elementos, quando
tabus iam sendo quebrados e a divulgação dos arcanos sagrados e das
canalizações ocultas, que os místicos guardavam a sete chaves,
abriu-se como uma caixa de pandora sobre o status psico-social da
época. Mas houveram erros fatais e mesmo passando-se 20 anos, eles ainda
refletem na estrutura do país, envolvendo as vidas de cada um e
lançando um desafio às novas gerações, que terão que conviver com
estes reflexos.
Clique aqui e dê uma olhada! Logo explicarei o porque da Teoria do Módulo Orgânico, peço paciência pois estou ainda produzindo a segunda parte, enquanto isto dou meu depoimento, baseado nas assertivas deste módulo e as lembranças que constituem o banco de dados primário de todo organismo vivo. No caso deste texto, deixo de me expressar como um todo e declaro a posição de uma fração do condomínio existencial: O Módulo Orgânico Animado (veja maiores detalhes em Trindade). Como dizia, aqueles tempos eram de desolação. Não havia perspectivas de um futuro, os movimentos anárquicos ganhavam força e na periferia começavam a se esboçar as primeiras tentativas de se organizar o crime. A grande estrutura que fora erguida depois do período JK, começava a dar sinais de incapacidade e as cidades começaram a receber um massivo afluxo de migrantes e outras massas de miseráveis, em busca de um eldorado sulista ou, pelo menos, para estarem perto da presença do estado organizado. Décadas depois da revolução, a exaustão do sistema era evidente e começaram os grandes planos econômicos... Para a juventude, nada. Era o início das mega-corporações de ensino e o canto de cisne do sistema público de educação. As empresas ainda não contratavam trainees e ainda havia departamento de pessoal. Uma das poucas saídas eram musicais, teatrais e literárias. Pena que quase nada foi publicado, encenado ou gravado. Mesmo a classe artística profissional, penava para sobreviver ao solapamento das telenovelas. Nas ruas, a busca ávida do esquecimento, embalada pelas profecias de Zé Ramalho e muita cantoria. De concreto, só o cansaço. Na sociedade industrial de consumo, não adianta ser pobre e limpinho...o conceito é de anti-sistema mesmo! Mas, surpreendentemente, as coisas foram acontecendo e muito foi realizado. E, como tudo, que milhões como eu tenho para contar, por uma estúpida carência de meios, caminhos e acessos, se encontra relegado à segundo plano e esquecido. Mas que vive à sombra dos olhos e se comunica em silêncio com o a alma do mundo. No plano das idéias, naqueles dias o marasmo era total. Com a decadência da contracultura e o avanço dos sistemas hedonistas do capital das bolsas, houve um vácuo e a posterior fragmentação da sociedade, enquanto algo visível e atuante em suas relações de contrato social. No cenário musical, dominado pelos reis carnossauros, oportunistas e chacais, não se permitia a ascensão de nenhuma nova banda pobre; e no circuito oficial, o jabá era lei e a mídia continuava meretriz. Enquanto isto, a locomotiva do sertanejo vulgar, ganhava cada vez mais lambadas de cavalos a vapor. No embalo vinha o renascer do samba, que saira da favela e adquirira um carrão. Hoje o que é popular é puro merchandising e o que tem real valor, está oculto pelo anonimato e pela falta de oportunidades. Entre as elites, serviam-se os canapés já rançosos da bossa de Copacabana no fechado Clube da Esquina, onde ninguém era convidado, mas a baianidad, sempre apareceu sorvendo seu mamulengo drinquezinho tropical e sorrindo para as câmeras. Vez por outra, um penetra, um alpinista sonoro, provocava murmúrio e olhares. Sem mais. O resto era a programação da onda flutuante do mercado.A novidade era o walk-man, o minimalismo, vestidos trapézio e um negócio chamado cocaína. Alguns já falavam de holismo, monismo e espiritualidade, inclusive fazendo poemas e composições, mas eram tratados com o desprezo cético dos dominadores. Falo das torrentes da mídia e das correntes de prata, pelo meio-fio...Não falo da capacidade artística dos que representam movimentos, mas de sua abjeta apropriação pelo mercado cultural e da representação que é veiculada insistentemente como paradigma de arte e panteão a ser adorado. Hoje, os magos de araque e os astrólogos que nunca calcularam uma carta (há programas para isto), saem na Veja e dizem um disparate atrás do outro. Isto é o repeteco do que já conhecemos: Moisés proibiu a comunicação com os mortos e interferiu na civilização ocidental, porque a bagunça estava demais. Os teósofos e seguidores das chamas; os parahindús e alquimistas conseguiram feitos, mas que foram apagados pelas normas e estatutos das sociedades que detinham o conhecimento só para si. O mau uso das ciências espirituais gera os demônios do ceticismo, muitos ganhando a vida para dizer não, como aquele colunista amargo da Revista da Folha, que me lembra mais o Zé Fernandes do show de calouros do Silvio Santos (lembram? Aquele que era pago para ficar enfezado e não gostar de nada, fazendo o tipo de crítico). Sem falar nos atiradores de pedra de plantão há décadas, como os protoparapsicoterapeutólogos e outros quejandos, capitaneados pelo discurso infame, na linha de Quevedo e tais. Mas eis porque surgem: Haja estômago para ver os anúncios de Jogam-se Búzios e Tarot, Faz e Desfaz Trabalhos, Magia dos Celtas, Feng Shui, Oráculos pagos, Ciganos de Mentira e toda a espécie de ignorantes, pretidigitadores, ilusionistas e aproveitadores que se faz passar por veneráveis. Sem falar nos que se dizem médiums, mas na verdade possuem distúrbios de comportamente ou personalidade múltipla. O médium verdadeiro não cobra ou diz sandices, nem prevê o futuro ou resolve casos de amor. O genuíno, é um instrumento de consolação, só isto. É um laser cicratizante de feridas na alma e contusões no coração. Se abençoado, atua também na cura, no próprio plano físico ou psico-neuro-fisiológico. Consolo, cura e instrução. Nada mais! É triste constatar esta apropriação através do comércio espiritual ou da ditadura exorcista. Logo alguém proíbe tudo de novo e os pesquisadores sérios e os espíritas e espiritualistas éticos serão os mais prejudicados. No Brasil, hoje se somam mais de 10 milhões de adeptos de bom coração. O resto é farra do boi, leitores de buena dicha e picaretas assemelhados. A mediunidade virou modo de vida e isto é lamentável. Para a ciência e para os próprios enganadores, que lamentarão depois no umbral e nas trevas os malefícios que fizeram para si e para os outros. Quando já não sofrem aqui mesmo os efeitos. No resto a masturbação sociológica dos estagiários, socialites e starlets, sempre com novidades sobre o que faz o povo feliz e o mantém em seu lugar, regiamente pagas pelos produtores e gravadoras, famintas de royalties e jornalistas marrons famintos de escândalos, faziam o cenário. O que veio depois é história recente, axé, bunda music, crime music, rap-to music, MPBD (música para boi dormir), raves-maria, tecnóia, rock errou pasteurizado, forró de estudante, música de virgem, música de gás, música de fruta, funk de cachorra, música de truta...Uns poucos ainda resgatam música de qualidade, mas os songbooks custam mais que se pode pagar e, como dizia Tim Maia, o cara morre logo depois... De resto, nada de qualidade consegue acesso, a velha guarda que passa na TV Cultura que o diga. Na verdade, nada mudou muito não! Melhorou menos do que podia e, com a pirataria eletrônica, as gravadoras e editoras estão demitindo quadros e não investem em novos talentos, somente vivem a requentar o que é domínio público ou venda garantida. Mercado independente hoje é rapfunheavycore e artistas sérios não tem espaço ou não podem pagar o jabá! Hoje talvez seja até pior, porque a quantidade sempre age em detrimento da qualidade. Hoje qualquer um que use um sound emulator, vira maestro. E naquela época éramos poucos e fazíamos um som decente, e por isto mesmo não conseguimos nada. Mesmo porque éramos um bando de duros e não conhecíamos os barões do cacau. Subsídios ou projetos do governo secretaria da cultura e projetos sociais, então, nem pensar! Cartas marcadas ou simplesmente não havia vagas. Lei de incentivo à cultura? Somente para os que tem capital! Programas de TV: Só playback e paga-se por segundo. Festivais populares e com global patrocínio: Farsa e enganação. Bares, boates e gravadoras: Ou banca para aparecer ou desimpede a frente que atrás vem gente...Enfim, só quem pode continuar são os funcionários musicais, os enturmados e indicados, os bem nascidos e os poucos renascidos para vencerem. Um ou outro paraquedista, vá lá! É claro há chances sempre, mas não é minha opção fantasiar. Fora isto, o único meio de acesso é o direto pelo sentimento e este, não custa nada tentar. E em vez de eu ficar em casa, lembrando o que se passou e reclamando da super-estrutura dominante neste planeta e em especial, neste país de contrastes, eu vou é de novo à luta. Na verdade o que eu quero dizer é que toda a movimentação do meio artístico não é suficiente para garantir trabalho para todos os profissionais, somente os que estão em evidência, aqueles que possuem méritos e contatos e para os que são produzidos visando um segmento específico, que aliás, é o que entope o mercado de porcarias. E, com a falta de casas, projetos e locais para apresentação, o artista fica por aí, sem ter lugar. É preciso estruturar a cultura em todo o país e cumprir com a constituição no percentual de repasse das verbas, juntamente com nova legislação sobre o controle e uso do dinheiro. Durante dois ou três anos, eu recuperei o que sobrou das músicas, alguns trechos de gravações ao vivo e umas jam sessions, com microfone aberto ou gravador de bolso, do que a banda fez ao longa destes 20 anos de anonimato, e, principalmente depois da gravação do CD. Veja o site e dê sua opinião: |