Sebastião Falciano,
"O Mestre da Luz e Sombra",
tomou posse "dos talentos" que lhe foram confiados.
Soube reconhecer o “seu dom”,
respeitou, administrou e criou.
Acreditou, estudou, persistiu, cultivou.
E mesmo num mundo de valores
nem sempre favoráveis,
fez a multiplicação, devolveu à vida,
com a sua arte,
“os talentos" que recebeu
e aqueles que granjeou.
Apresentação do trabalho
Um dos meus questionamentos é o sucesso e o reconhecimento de muitos artistas no pós-morte. Pensar nesta realidade levou-me a propor ao meu amigo e mestre Falciano a criação de uma nicho na rede mundial de computadores para divulgação a fim de eternizar o seu trabalho e sua vida.
Como amigo e aluno viajamos juntos em busca de material que ele tinha vontade de trabalhar. Aprendi muito com ele. Aprendi antes de tudo a olhar e a ver: o estético e o belo, a proporção e a harmonia.
Assim, em 2001, iniciei um trabalho junto a ele, com entrevistas e colhendo trabalhos e referências, aprendendo mais sobre a arte e, em especial, sobre o impressionismo.
Nasceu o site www.oocities.org/falcianobr. E vale aqui uma explicação: o “br”, acrescentado como sufixo, foi colocado para caracterizar a nacionalidade do Bastian, pois Falciano tem muito na Itália. Comecei a trabalhar nas obras de Sebastião Falciano, que sempre tangiu suas telas com a assinatura “S.Falciano”.
Em 2005, ele deixou o convívio com os terrenos... passou para outro plano, nem imagino para qual, o que acontece ou que acontecerá. Mas neste nosso plano eu sei que tem muito trabalho importante, muita dedicação, muito desejo em fazer o melhor.
E fez.
Como qualquer ser humano, optou pela superação. Acertou, errou, equivocou-se. Mas jamais deixou de ser gente. Nunca quis ser um Deus e jamais foi anti-Deus. A sua fé sempre foi estruturada na vida e nas convicções que foram colhidas ao longo de sua jornada.
E sua fé está registrada em cada pincelada de tinta, em cada passada de espátula nas telas virgens, durante a criação.
E a Doca, esposa e companheira, Cida para todos nós e Maria Aparecida Marques Falciano nos documentos, pensou em fazer uma exposição das obras do seu amado. Eu tomei a dianteira e assessorei no que eu pude e no que eu sabia poder contribuir.
Continuei a pesquisar seus trabalhos, sempre ajudado pela Cida. Ela acreditava na exposição e no sucesso dela. Ela conheceu o marido e o trabalho que ele desenvolveu.
O Circolo Italiano di Sao Paolo foi o local escolhido para a empreitada. Os quadros foram fotografados, pedimos licença para alguns proprietários de obras do Falciano a gentileza de nos permitir fotografar os trabalhos. Não foi um levantamento completo, mas significativo.
Enquanto era feita a seleção das obras a serem expostas, os convites eram criados. Tive o cuidado de convidar o radialista e estudante de jornalismo David Prado para o desenvolvimento de um vídeo que “falasse” do Falciano por meio de suas próprias obras.
Foi produzido um filme de aproximadamente 10 minutos. De minha parte eu sabia que poderia fazer algo mais que mostrar as obras. Eu queria mais. Meu lado professor e educador falava mais alto. E no meio de tantas obras passando pelos meus olhos, também estavam ao meu alcance trabalhos de sua mãe e de um de seus netos. Estava aí a chave para a abertura do filme. E com um caráter didático ímpar: eu tinha três representantes do impressionismo à minha disposição, dentro de uma mesma família, sem necessitar recorrer a qualquer referência universalmente consagrada: o desenho impressionista do seu neto Daniel, a Pintura Primitivista de sua mãe, Antonieta Di Giorgio Falciano, e a Pintura Impressionista de Falciano.
Inspiração... usar os três estilos e tentar reproduzir sua criação, reconstruir as três obras para que um leigo pudesse ter a chance de pensar sobre elas. Nasceu a abertura do filme.
O momento era feliz e alegre, apesar da falta física do artista. Como colocar este clima no filme? Pesquisas e mais pesquisas até encontrar a solução escolhida: um chorinho, um som bem brasileiro, contagiante e marcado. E encontrei... O entrosamento entre o material visual e sonoro estava fechado. Feito. Acertamos os detalhes, sem perceber quantas vezes vimos e ouvimos a mesma música, as mesmas seqüências na tela sem que qualquer sinal de fadiga viesse a ser cogitado.
Daí tudo muito natural. A inspiração transpirava como se tudo fosse de nossa intimidade. Casarios, vielas, ruas de cidades interioranas e praianas, santos, santas ceias, frutas e tachos de cobre, palhaços e bailarinas, arranjos de rosas, de hortênsias... Feiras regionais e feiras de flores, barcos e cavalos, pescadores e maternidade, igrejas e catedrais. Trabalho no campo, com o gado, ou com família de retirantes, tudo retratado com traços de amor, firmeza e respeito. Dedicatórias e declarações de amor. Retratos da mãe, da esposa, de uma das filhas, e auto-retrato. Quanta inspiração! Quantas vezes ele deve ter sido chamado para ir almoçar, jantar ou dormir e ele não abandonava o pincel aproveitando a inspiração e força? A Doca que o diga!
Tenho a convicção de que o “Mestre da Luz e Sombras” colocou em tela toda a sua fé. Sua fé na Divindade, sua fé na Natureza, sua fé na Criação. Expressou as cores de sua fé com a certeza de estar fazendo o melhor. Seu saber sobre as relações humanas, sabê-las tão imperfeitas e com necessidade de eterna vigilância também foi carinhosamente expressa. Jamais se sentiu acuado, tenho a certeza disso, retratando o seu amor e reforçando com dedicatórias plenas de amor. Viveu comprometido com a troca - que esbarra sempre nos princípios éticos e morais de cada um – determinado a acertar aprofundando-se na representação do contrastes de cada momento, de cada análise, de cada ponto de vista: frente e verso, verso e reverso, luz e sombra.
Conhecendo o meu amigo Bastian, falo com convicção que ele foi e é um vencedor. Jamais deixou de respeitar o talento que a vida lhe ofertou ao nascer. Trabalhou seus talentos, lutou para fazer o melhor, lutou com a realidade da nossa estrutura social e jamais cedeu. Acreditava vencer na sua determinação. E foi até o fim.
Venceu.
Deixou frutos. Deixou exemplo. Deixou saudade.
Paulo Cezar