MODERATO

 




por Lucretia

1

Havia sido uma grande noite. Era a primeira vez que tinham tocado para tantas pessoas. O sucesso esperado por ele chegava de uma maneira tão avassaladora que nem mesmo Alan e Jack acreditavam que tudo aquilo era verdade. O show foi maravilhoso! Tudo dera certo e a energia trocada entre a banda e o público fora ótima.

Alan parecia estar num estado de "alfa". Jogara-se no sofá do camarim logo após o término do show, suas roupas estavam molhadas de suor e seu corpo pedia por uma cama macia, mas estava feliz pelo sucesso que batia a sua porta (na verdade eram as fãs enlouquecidas, mas deixa pra lá). De repente, olhou para Jack, mais eufórico do que o normal. Ele não conseguia ficar quieto, brincava com os outros integrantes da banda, ria, pulava e cantava, tudo ao mesmo tempo.

Lembrou-se de anos atrás, quando ele e Jack eram apenas estudantes secundários, meros adolescentes que sonhavam com a fama, e de quanto batalharam para chegar onde estavam. Jack fora um amigo fiel todos esses anos, mesmo com tantas mudanças de formações e tantas crises. Mas aquelas lembranças eram águas passadas e agora eles estavam conseguindo alcançar as estrelas, finalmente.

Passaram algum tempo trancados no camarim, longe dos fãs. Só conseguiram sair quando não havia mais sinal destes e foram direto para o hotel onde estavam hospedados. Jack continuava elétrico, falando o tempo todo, mexendo e brincando com todos. Os outros caras da banda também estavam bem animados... Apenas Alan era o mais quieto, parecia desanimado, mas aquela era a maneira dele curtir cada sensação que vivenciara naquela noite, guardando para si as lembranças da primeira noite de sucesso de sua vida. Alan sempre fora introspectivo, Jack sabia, o conhecia desde os tempos do segundo grau. Mas, naquela noite, simplesmente ignorou a maneira de ser de seu amigo e, quando este fechou os belos olhos azuis, demostrando cansaço, tratou de implicar com ele, forçando-o a abri-los novamente.

_ Qual é o teu problema, Jack? _ Alan, que desde o show não abrira a boca, perguntou um pouco irritado com a inquietação do seu amigo _ Acho que é fogo no rabo. Por que você não trouxe uma groupie aqui pro hotel. Pelo menos iria deixar todo mundo em paz.

_ Eu não tenho problema nenhum, meu amigo. Você é que deve ter, aí calado _ respondeu Jack, com um sorriso convidativo para a festa deles.

_ Você sabe que não gosto muito de festas. Além do mais estou cansado e preciso de um banho. Boa noite, pessoal. Até amanhã! _ E levantado Alan despediu-se de todos, dirigindo-se ao quarto que ele dividia com Jack.

_ Não vá, Alan! Ainda é cedo! _ Jack ainda fez um último pedido, seguido de sons de protestos dos outros membros da banda, mas foram ignorados por Alan, que retirou-se sem olhar para trás.

Ao contrário do que Jack dissera, já era tarde, passando das 3 h da madrugada quando Alan resolveu deitar-se.

Ao entrar no quarto foi direto ao banheiro. Precisava tomar uma ducha morna antes de deitar-se. A água morna bateu-lhe no corpo de uma maneira deliciosa, fazendo-o soltar um pequeno e abafado gemido, relaxando todos os seus músculos cansados. Era, contudo, um cansaço que lhe dava alegria. Era o cansaço da fama. Então, fechou os olhos, quando a água molhou-lhe os longos cabelos negros e lembrou-se do primeiro show, num baile da escola, as garotas gritando seu nome e de seu amigo. Eram os mais bonitos da toda a escola naquela época... Com certeza! Todas as meninas queriam namorar os dois, mas só Jack curtia esse assédio. A cada dia aparecia de braços dados com uma garota diferente. Eram lembranças adoráveis, que fizeram um pequeno sorriso brotar em seus finos e rosados lábios.

_ Finalmente um sinal de alegria _ Era um som familiar aos ouvidos de Alan. Era um timbre suave, melódico e doce... Sim, Alan sabia a quem pertencia aquela voz. Era Jack que forçava-o a voltar ao presente, deixando as lembranças de lado, abrindo os olhos, surpreso.

Jack estava ao seu lado, nu, queria tomar um banho também, nada mais do que normal, principalmente porque já haviam se visto sem roupas antes, mas aquela proximidade, tão provocadora, fazia a mente de Alan imaginar coisas. Assustado, saiu do chuveiro de imediato, liberando-o para Jack. Uma sensação estranha invadiu-o. Seu corpo reagiu de uma maneira que de súbito, enrolou-se numa toalha, procurando esconder a estranha excitação do amigo, tentadoramente tão próximo.

Não era a primeira vez em que sentia isso. A alguns anos atrás, quando haviam entrado para a faculdade de música, tivera a mesma reação. Jack com a sua euforia típica, insistira para que Alan fosse a uma festa, no campos da universidade. Seria uma festa espetacular e ele estava louco para conhecer pessoas novas e fazer contatos. Haveria também muitas mulheres e bebida, como haviam prometido. Alan tentou recusar o convite, mas acabou cedendo aos apelos do amigo para que o acompanhasse.

A festa realmente estava ótima, muito alegre e cheia de gente. Até Alan divertira-se muito! Mas, para Jack, a noite não acabara muito bem. havia saído dos limites e bebido além da conta. Sobrara para Alan levá-lo, bêbado, de volta ao dormitório. Resolveu dar-lhe um bom banho frio para melhorar a bebedeira. Tirou-lhe toda a roupa e levou-o ao banheiro, colocando-o debaixo do chuveiro gelado. Rira um pouco do estado em que seu amigo encontrava-se. Era engraçado ver Jack totalmente bêbado, fora de si, nu, debaixo daquela ducha fria. Foi quando Alan percebera que sentia uma estranha excitação e uma enorme vontade de poder tocar o corpo de seu amigo.

Jack era bonito aos 20 anos (tornara-se ainda mais lindo com o passar dos anos) os seus longos cabelos dourados, seus olhos azuis marotos, seu elegante e esbelto corpo. As meninas suspiravam ao vê-lo passar e ele divertia-se com essa situação. A esse altura Alan não conseguia conter seus pensamentos e logo seu sexo apertava-se dentro da sua calça jeans. Assustou-se com a indensidade de seus pensamentos e arrancou Jack daquele chuveiro, secou-lhe os cabelos e colocou-o na cama. Este caiu no mais profundo sono (acordando na dia seguinte com uma enorme enxaqueca). Alan, então, resolveu experimentar também um bom banho frio, talvez esfriar seus pensamentos.

Os anos passaram e nunca tais pensamentos haviam passado por sua mente outra vez. Continuavam grandes amigos como antes e a banda subia devagar e mais a cada ano a escalada da fama. Jack nunca soube o que acontecera naquela noite, nunca conheceu aqueles pensamentos, que pareciam tão errados para Alan. E a vida continuou desta forma, até aquela noite...



 

CONTINUA.....