MODERATO






por Lucretia



3

A casa da família de Jack ficava do outro lado da cidade, mas com um bom trânsito chegavam lá em meia-hora, e como era sábado não tiveram grandes dificuldades. Jack fora dirigindo o velho carro, que pertencera ao seu pai, e que lhe fora dado em sua formatura. Por nada no mundo desfaria daquele carro.

Alan tentava manter um diálogo, procurando disfarça a sua preocupação do amigo. O que tornava-a mais evidente, pois, Jack sabia, que não era ele, mas correspondia a conversa sem assunto aparente com seu amigo.

Quando chegaram a bela casa de subúrbio, de sua família, Jack tratou de tocar a companhia. Seu pai veio atender a porta, recebendo os dois rapazes com um abraço amável e saudoso.

_ Isabelle, venha ver quem está aqui!! _ o pai de Jack chamara sua mãe, que estava na cozinha terminando os preparativos para o almoço. Ela veio correndo até a entrada, ao ver o belo filho que chegara, com os olhos brilhando de tanta emoção, este a segurou nos braços, num abraço apertado, elevando-a um pouco do chão. Havia seis meses que não se viam, e eles sempre foram muito ligados.

Após a caloroso reencontro entra Jack e sua mãe, esta virou-se para Alan e o abraçou amorosamente e deu-lhe um logo beijo no seu rosto. Alan era para ela também como um filho.

_ Jack!... Alan!... _ uma voz doce e feminina vinha do topo da escada, era Jackeline, irmã de Jack. Era uma bela jovem, loira e de grande olhos azuis, era quase uma versão feminina de Jack.

Ela desceu as escadas, quase de uma só vez, caindo nos braços do irmão, que a pegou no colo, enchendo-a de beijos. logo que se livrou dos braços de Jack, pendurou-se ao pescoço de Alan, beijando-lhe o rosto, como um irmão muito querido, não tinha mais aquele ar de cobiça de quando era uma menina de 10 anos.

Alan sentia-se muito à vontade naquela casa, era como ter uma família de verdade, pois nunca tivera uma. Esse era o grande motivo de sua tristeza. Não conhecera seus pais, e sua irmã se sacrificara bastante para que ele tivesse a melhor educação. Mas no seio da família de Jack, ele se sentia querido e preenchido.

_ Então, cadê o meu cunhado? _ perguntou Jack a sua irmã, com um sorriso irônico nos lábios, quando todos já estavam a mesa, preparando-se para almoçar, fazendo a moça enrubescer-se com a indiscrição do irmão.

_ Como o nosso velho amigo Paul está se comportando, minha mãe?

_ Paul?! por acaso é o Paul Smith, que foi baterista da banda? _ Alan estava surpreso com a revelação que ouvira.

paul fora baterista da banda no início. Era uma pessoa ótima, um excelente músico, mas por alguns problemas pessoais e financeiros, não foi possível continuar tocando com eles. desistiu da música, assumido a loja do pai, que falecera naquela época. Porém, continuavam grandes amigos.

_ Sim, Jack não te contou? _ A mãe de Jack parecia espantada pela reação de Alan. seu filho nunca deixara de contar tais "fofocas", como ela mesma costumava falar.

_ Eu tentei, mas Alan acordou com a cabeça nas nuvens hoje, mãe. Deve estar apaixonado por alguém. _ Jack explicou sua displicência para com seu amigo sobre tal informação, com um sorriso sarcástico no rosto.

Alan sorriu sem jeito para todos na mesa, parecia que Jack conseguia ler seus pensamentos, mas como poderia ele brincar com coisas que o deixavam desesperado.

Logo após o almoço, Alan e seu amigo subiram para o antigo quarto de Jack. Ainda estava como o deixara, quando fora para a faculdade de música. Sua coleção de carrinhos de corrida continuava na mesma prateleira pendurada na parede, junto de vários postes de motos e carros de corrida. Tudo aquilo possuía um ar nostálgico e Jack suspirou ao admirar seu velho quarto, lembrando-se das coisas que vivera ali.

Alan também olhou atenciosamente ao seu redor, lembrou-se das muitas noites em que dormira ali, ora para estudarem para alguma prova difícil, ora virando noites na composição das primeiras músicas da banda. eram tempos felizes, em que eram como bons irmãos, ajudando um ao outro no que podiam, não havia em sua mente tais pensamentos obscenos como agora.

No meio das coisas, encostado a um canto, encontraram o velho violão de Jack. Alan tratou logo de ver se estava afinado. E realmente estava, talvez Jackeline tivesse cuidado dele, pois "arranhava" um pouco nas cordas também. Ela era muito cuidadosa com as coisas do irmão, tratava-as como se fossem dela.

Os dois amigos desceram e juntaram-se ao resto da família que reunira-se na sala. paul acabara de chegar e fora recebido calorosamente por Alan e Jack. Depois Alan começou a tocar algumas músicas, sempre acompanhado por Jack.

Passaram uma tarde maravilhosa, como as muitas que haviam passado em companhia um dos outros. Alan sentiu-se leve, não preocupou-se com o sentimento que o perturbava, mas agora que estava em seu quarto, a poucos metros do quarto de Jack, seu sangue começara a ferver e sua cabeça doía-lhe por tentar negar o que seu corpo implorava. não podia viver assim, tinha de encontrar um fim para aquela tortura. tentou dormir, mas sua mente não o deixou descansar e ele passou a noite quase toda em claro. havia uma guerra dentro dele que parecia não ter fim.
 

CONTINUA....