MODERATO




por Lucretia


6

Os dias passaram tranqüilamente sem grandes novidades. Alan recuperara-se completamente da sua enfermidade e voltara o mais rápido possível para o trabalho das composições, tinha muita coisa para colocar em ordem. Porem demonstrava total indiferença sobre o que acontecera naquele dia entre ele e seu amigo. Tratando-o com sempre.

Jack também fingia que nunca ocorrera aquele beijo. Voltara a ser o mesmo de sempre, alegre e brincalhão.

Ana, a irmã de Alan, visitava seu irmão com mais freqüência, pelo menos uma vez por semana. era super-protetora e depois daquela doença continuaria a ser muito mais. E assim continuou a vida dos dois músicos.

A paz reinava naquele apartamento... E realmente reinou, apenas até o dia em que Alan resolveu levar sua nova namorada para lá. Queria que seu amigo visse o quão bela era. E realmente o era. Tinha os cabelos pintados de vermelho, bem compridos, um pouco abaixo da cintura. Esbelta e alta, quase da altura de Alan, que tinha 1, 80m, mas com um corpo de causar inveja em qualquer garota, com seios fartos... Realmente linda! Mas um certo ar de vulgaridade envolvia-a.

Alan fizera isso de propósito. Ainda tentava lutar contra o que sentia por Jack. E principalmente depois daquele beijo, tentava esquecer aquilo de qualquer maneira, e esse era o motivo da namorada. Queria matar aquele sentimento a qualquer preço.

Jack, porem, que era só alegria todo esse tempo, fechou a cara a partir do dia em que Alan trouxe aquela mulher para dentro do apartamento deles. Mudara da água para o vinho, e todos notaram tal mudança. Às vezes até tentava ser simpático, mas estava muito desgostoso da vida, como nunca estivera antes.

A presença daquela ruiva era como viver no inferno para Jack. Alan ignorava ou simplesmente fingia não ter conhecimento sobre o aborrecimento de seu amigo e passara a leva-la quase todos os dias ao apartamento. Jack sentia-se torturado, vendo os dois juntos, trancando-se no quarto, de onde podia ouvir os gemidos deles. Saia de casa vagando pela cidade por horas, ora de carro, ora a pé, retornando somente quando já era madrugada, pois assim tinha certeza que não ouviria mais nenhum barulho.

As sadias de Jack quase todas as noites chamaram a atenção de Alan. Ele permanecia, deitado ao lado de sua namorada, sem dormir, esperando seu amigo voltar. Só conseguia dormir quando ouvia o barulho das chaves e os passos de estar com uma belíssima e fogosa mulher, não conseguia esquecer o que sentia por seu amigo um só minuto e as sadias noturnas dele deixava mais evidente o que sentia.

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Era um final de tarde comum. O apartamento estava tranqüilo, apesar dos dois rapazes estarem em casa. Alan estava sentado no sofá, com sua guitarra no colo e muitos papeis a sua frente. Tentava compor alguma musica nova. E Jack estava na cozinha, preparando um sanduíche, quando a campainha tocou.

_ Deixa que eu atendo! _ Jack, que já tinha terminado de preparar seu sanduíche e dirigia-se a sala, proclamou. Pousou o prato na mesa de centro em frente a Alan e abriu a porta. Mas que surpresa que teve ao deparar com a criatura que mais odiava no planeta. Seu rosto, que possuía uma expressão tranqüila, foi tomado por uma feição de nojo.

_ Oi, vi fazer uma surpresa! _ declarou a ruiva, com seu tom de voz que enjoava Jack.

_ Sua namorada, Alan _ abrindo a porta deixou com que a moça entrasse. Pegou as chaves, e virou para seu amigo _ E à propósito, estou saindo.

_ Jack, espera...

Mas seu amigo já havia saído, sem deixar que ele perguntasse para onde iria. Alan só viu sua namorada fechando a porta e vindo em sua direção.

_ Acho que ele não gosta de mim _ a ruiva deu-lhe um breve beijo, sentando-se ao seu lado no sofá.

_ Também acho... _ falou, ouvindo o barulho do velho motor do carro.

_ De quem é este sanduíche? _ perguntou a moça olhando para o sanduíche que Jack esquecera na presa de sair de perto dela.

_ Era do Jack, mas acho que ele não vai mais querer. Pode ficar se quiser. _ E olhando desoladamente para o prato com o sanduíche abandonado por seu amigo, Alan ofereceu-o para sua namorada, que o pegou e comeu-o, dividindo carinhosamente com ele.

Jack saiu de carro sem rumo. Estava muito puto da vida com Alan, sentia-se usado, como um brinquedo muito desejado e depois esquecido de lado por causa de outro mais interessante. Era bom estar na presença de seu amigo, eles não precisavam trocar nenhuma palavra, bastava estar ali no mesmo lugar, mas quando aquela "cadela" estava por perto tinha vontade de sumir e nunca mais aparecer. E era isso o que fazia, andava pela cidade sem direção.

Foi neste estado de profunda tristeza, que resolvera ir até um bar, um que tocava blues, mas que nunca tivera coragem de ir antes. encheria a cara para poder esquecer Alan e aquela ruiva dos infernos.

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Já eram quatro horas da madrugada, quando Alan olhou o relógio. Ainda não tinha dormido, preocupado com o amigo. Jack saíra apenas com uma camiseta de malha e uma camisa quadriculada de flanela, sentiria frio com certeza, pois a proximidade do inverno as noites passaram a ficar mais frias. Mas a preocupação também não se baseava nisso, Alan sabia da antipatia que sua namorada causava a seu amigo, começava a ter certeza sobre o que sentia e que as idas daquela mulher ao apartamento deles o magoava muito. Então olhou para a ruiva adormecida ao seu lado.

Subitamente ouviu o velho ruído do carro de Jack parando ao lado do prédio. Sobressaltou-se, levantou um pouco a cabeça, numa tentativa de certificação do que ouvira. Ouviu o barulho da porta do carro se fechando e depois um sonoro e embriagado " droga", e reconheceu a voz. Era Jack finalmente! Suspirou aliviado e cuidadosamente deixou os braços da adormecida namorada, dirigiu-se a porta do quarto e esperou que seu amigo entrasse na apartamento.

Quando Jack entrou, fazendo barulho suficiente para acordar todo o prédio, Alan saiu do quarto, fechou a porta com cuidado e encarou seu companheiro, percebendo que estava bêbado.

_ Oi, Alan. Ainda de pé. _ Jack, com um tom de voz débil, pendurou-se no ombro de Alan. Este, com os braços cruzados, virou o rosto de lado, fazendo uma careta de nojo, pois ficara tonto apenas com o hálito do amigo, que invadira as narinas.

_ Jack, vamos para cozinha. Eu vou te fazer um café forte _ disse isso puxando-o pelo braço, mas foi interrompido abruptamente por Jack.

_ Acho que não vai dar tempo. _ e soltando seu braço das mãos de Alan, correu para o banheiro. Ajoelhou-se do lado do vaso e começou a vomitar.

_ Jack, Jack... O que você andou aprontado? _ Alan, como um pai que não quer dar uma bronca na filho, perguntou sem esperar uma resposta.

Jack apenas levantou a cabeça e encarou Alan como se quisesse falar algo, alguma coisa que estrangulava-lhe o coração, como se o matasse a cada dia. Mas permaneceu calado, apenas olhando os oblíquos olhos azuis de seu amigo, enquanto este, agachado ao seu lado, limpava-lhe a boca. E como era belo! Quando finalmente tomara coragem para falar o que atormentava-o, uma nova onde de enjôo pegava-o, só dando tem para dizer um sonoro "droga", voltando a enterrar sua cabeça de novo no vaso.

_ O que está aconteceu? _ a voz enjoativa da namorada de Alan preencheu toda imensidão do banheiro. Ela acordara com o barulho que Jack fizera ao chegar e agora estava ali na porta do banheiro, enrolada em lençóis. Jack olhou-a por um breve instante, o que fez ele vomitar mais uma vez.

_ Nada. Só o Jack que chegou bêbado. Volta por quarto, já vou para lá _ Alan virou-se para ela, empurrando-a para fora do banheiro e fechando a porta na cara dela. Voltou-se para o amigo, que agora sentava no chão, encostado na parede oposta ao vaso, ofegando. Aproximou-se, enxugou-lhe as gotas de suor que molhava-lhe a testa e limpou-lhe a boca.

_ Jack? _ Alan chamou-o temeroso que ele entrasse em coma alcóolico, pois fechara os olhos e sua respiração tornara-se pesada.

_ Ahn...

_ Olha para mim. Vou pegar um café para você. Não demoro, tá bem?

Obediente, Jack abrira os grandes olhos azuis, ouvira atentamente o que seu amigo dissera-lhe e balançou a cabeça numa positiva débil. Não demorou muito para que Alan trouxesse o café que prometera, entregou o copo com o liquido fervente e observou-o a beber. Jack fez uma careta ao dar um pequeno gole e afastou o copo da boca.

_ Eu sei, está amargo. É assim mesmo, sem açúcar, que faz bem _ Alan, tomou o copo e levou-o a boca do amigo, declarou.

_ Não é só isso, é que está muito mal feito também. Nunca tomei um café tão horrível.

_ Mesmo assim tome, seu irresponsável _ e rindo Alan levou o copo a boca de Jack, forçando a beber todo aquele liquido negro. Só mesmo Jack poderia fazer piada naquela situação.

Quando Jack terminou de tomar o seu café, Alan levou-o ao quarto. tirou-lhe a camisa de flanela, que só agora via que estava rasgada devido ao puxão que dera para soltar da porta do carro, tirou-lhe também os tênis e deitou-lhe na cama, cobrindo-o atenciosamente.

_ Fica aqui comigo _ Jack pediu, quase que num murmuro, para Alan.

Alan parou, olhando dentro daqueles olhos grandes e azuis, e sentiu uma pontada no peito quando viu um brilho diferente neles. Era um brilho triste, diferente da alegria que costumava emanar.

_ Por favor... _ Jack insistiu no seu pedido, como numa pequena suplica.

Alan olhou-o longamente, guardando todos os traços do resto de seu querido amigo e olhou rapidamente para trás lembrando-se da namorada que esperava-o no seu quarto, mas não negaria um pedido vindo de jack, a pessoa que habitava seus pensamentos. Olhou o relógio, eram cinco horas, logo iria amanhecer.

_ Tudo bem, agora durma _ Alan tentou acalmar seu amigo com tais palavras, puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da cama.

Logo depois, Jack caiu no mais profundo sono. Alan ficou um pouco acordado, velando pelo sono de seu amigo, observando a beleza aquele rosto. E como era lindo! Como podia estar negando o que sentia por ele? Por que magoava a si e ao seu belo amigo daquele jeito? Acabou dormindo ali, tomado pelo cansaço. O queixo encostado no peito, os braços cruzados e as pernas esticadas.
 
 
 

CONTINUA