por Lucretia
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Depois daquela noite de total entrega e luxuria, Jack e Alan não conseguiam ficar muito tempo sem tocarem-se. faziam amor a qualquer hora e lugar naquele pequeno apartamento. Afinal moravam sozinhos e quase nunca eram interrompidos... A não ser pela irmã de Alan, Ana, que flagrara-os duas vezes entre beijos bem quentes... Chocara-se, a principio, mas estava se acostumando com a idéia aos poucos.
Os dois estavam realmente juntos. E a odiosa ruiva, que Jack detestava tanto, não aparecera mais. Alan terminara seu relacionamento com ela, longe dos olhos de seu amante loiro e sem lhe contar nada depois, mas ele sabia o que seu amado fizera. Conhecia-o, sabia o que faria, sem usar uma única palavra.
A vida realmente estava maravilhosa para os dois rapazes. Jack nunca estivera tão feliz e eufórico e parecia até que conseguia contagiar Alan com sua alegria, ele havia perdido um pouco da sua melancolia típica.
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_ Combinado então? Pai, tem certeza que sabe onde fica a lanchonete que eu falei?
O aniversario da mãe de Jack seria dentro de uma semana, e ele e o seu pai combinaram de comprarem os presentes juntos. Também seria uma ótima oportunidade de pai e filho ficarem juntos, sozinhos por uma tempo. E esse eram momentos tão raros entre eles!...
Jack combinava de encontra-lo numa lanchonete no centro da cidade, que costumava freqüentar com Alan e os companheiros de banda no tempo da faculdade. Era uma lugar agradável, onde vendiam o melhor café, na opinião dele, com janelas amplas, pois todo o movimento urbano podia ser observado por elas.
_ Tá bom, pai. Daqui um hora então. Beijo. Até logo!
Depois que desligou o telefone, correu imediatamente para o quarto e arrumou-se rapidamente. Vestia uma calça jeans, uma camisa de malha branca e por cima uma camisa quadriculada.
Ao perceber o movimento do parceiro, Alan saiu de seu quarto, onde separava algumas partituras para dar umas aulas. Não que precisasse do dinheiro, mas não agüentava ficar em casa sem fazer nada. Dirigiu-se ao quarto de Jack e observou-o. Estava lindo! Não que estivesse muito bem arrumado, mas que qualquer coisa que vestisse deixava-o lindo... Alan olhou-o cheio de cobiça, porem deteve-se na porta do quarto, não se atreveu a atiça-lo.
_ Vai sair? _ perguntou por fim _ Onde vai? Com quem?...
_ Vai fazer um interrogatório agora? _ retrucou Jack, mostrando-lhe um belo sorriso que iluminava todo rosto, tornando-o ainda mais bonito e irresistível para Alan. Aproximou-se do amante, envolveu-lhe a cintura com os braços, mas acabou respondendo todas as perguntas e mais algumas. _ Porem vou te responder. Sim, eu vou sair. Vou no centro com meu pai para comprarmos presentes para minha mãe. Satisfeito?
_ É mesmo! Sua mãe faz aniversario semana que vem! Como eu pude esquecer? _ exclamou Alan, surpreso com o próprio esquecimento _ Preciso comprar um presente para ela também. pena que hoje eu tenho que dar umas aulas, se não iria contigo.
_ Tudo bem ! _ disse o loiro dando um ligeiro beijo no seu amante de longos cabelos negros _ Agora deixa eu ir, não quero deixar meu pai esperando.
Os dois rapazes despediram-se com breves " Até logo!" e um suave e doce beijo.
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Ao chegar na lanchonete, enquanto esperava pelo pai, Jack pediu o tão desejado café, sentando-se numa mesa colada a uma das grandes janelas.
Alguns minutos depois da garçonete trazer-lhe o café, o belo loiro avistava o pai do outro lado da rua, esperando que o sinal fechasse. Acenaram-se, sorrindo de satisfação pelo encontro.
Por um segundo, enquanto esperava aquele sinal e olhava para o bondoso e amado pai, sentiu um súbito arrepio subir-lhe a coluna. E neste instante viu que um jovem, aproximava-se de seu pai e arrancou-lhe a carteira. O pai de Jack reagiu, tentando impedir o furto.
Jack levantou-se da cadeira que estava sentado e antes que conseguisse gritar um sonoro" Não", viu seu querido pai levar dois tiros no peito e o bandido fugir com a carteira em mãos. O loiro saiu da lanchonete em disparada, atravessando a rua sem se importar mais com o maldito sinal, caindo em prantos sobre o corpo do pai.
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Quando Alan chegou em casa já era noite e o apartamento estava escuro. Seria aquilo alguma brincadeira de Jack? pensou por um instante. Então andou por todos os cômodos, acendendo todas as luzes e chamando por Jack. Realmente ele não estava lá e começou a estranhar a ausência do amante.
_ Será que ele foi levar o pai em casa e ficou por lá conversando com o pessoal? _ falou num pensamento em voz alta.
Pegou o telefone e discou para casa dos pais de Jack. Deixou o aparelho tocar insistentemente por alguns minutos e quando já ia pensando em desligar, finalmente alguém atendeu.
_ Alô? _ disse a pessoa do outro lado ofegante.
_ Alô. Paul?! _ respondeu, reconhecendo a voz _ O Jack está aí?
_ Não, ele está no hospital.
_ No hospital?! O que aconteceu? _ desesperado, perguntou, desnorteado com a idéia que invadia-lhe a mente. Seu amado podia ter sofrido alguma acidente.
_ Ah, meu Deus! Você não sabe? O senhor Adams levou dois tiros e morreu. Estamos indo para o hospital para tirar o corpo de lá _ esclareceu Paul.
_ Oh, Deus! Eu não acredito! Oh, meu Deus! E o Jack? Está tudo bem com ele? _ perguntou ainda mais desesperado, lembrando-se do encontro que Jack marcara com o pai. E se ele também fora baleado? Não queria pensar nestas coisas, mas não podia evitar.
_ Está, sim! Calma, Alan _ respondeu o amigo percebendo a voz exaltada do outro _ Fisicamente, ele está bem... mas está muito abalado.
_ Em que hospital ele está?
_ No St. John. Não quer que eu passe aí para te pegar? _ sugeriu Paul, preocupado com atitude nervosa do amigo.
_ Não, não precisa. eu pego um taxi. _ Alan desligou o telefone com o coração apertado. Sofria pela morte de uma pessoa tão querida, que era como um pai que nunca tivera e também por imaginar o sofrimento de quem mais amava no mundo.
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Em poucos minutos estava no hospital. E mesmo com a confusão da emergência, Alan conseguiu encontrar seu amado. Jack estava sentado em uma das cadeiras da sala de espera, a cabeça baixa apoiada com as mãos. Sua expressão era de desolação, pouquíssimas vezes Alan vira-o daquele jeito. Então sentiu uma pequena pontada em seu peito, não agüentava ver seu querido loiro tão triste como agora.
Dirigiu-se até onde Jack estava, sentou-se ao seu lado e pouco uma de suas mãos no ombro do outro.
_ Jack... _ chamou-o quase que num sussurro.
O rapaz loiro levantou a cabeça, encarando-o, mostrando seus grandes olhos azuis rubros e sua fase corada provocados pelo pranto. Alan olhou-o. Como queria beijar seu amado naquela hora, fazer toda dor, que ele sentia desaparecer. Mas não pode, e a única coisa que conseguiu fazer foi trazer Jack para seus braços, num abraço acolhedor. O outro ocultou o rosto nos fios negros do moreno e deixou que o choro dominasse-o outra vez.
Os dois ficaram abraçados durante algum tempo. Alan acariciava os longos fios dourados de Jack, sem dizer uma única palavra, enquanto este chorava copiosamente. sofria demais, acabara de perder seu amado pai e ainda por cima fora a testemunha ocular daquele crime tão cruel.
_ Eu vi tudo, Alan... Eu vi... _ Jack começou a falar, não agüentava mais, seu peito parecia arrebentar de dor _ Eu vi quando atiraram no meu pai...
_ Shiiiiii... Não precisa falar sobre isso agora, meu querido _ afagando-lhe os longos cabelos, Alan tentou consolar Jack da melhor maneira que sabia.
Logo depois ouviu-se um voz feminina chamando, em alta voz, em volta em prantos, o nome do jovem loiro. Era Jackeline, dirigia-se para o irmão, correndo desesperada. Também tinha os grandes olhos rubros e a face corada de tanto chorar. Jogou-se nos braços de Jack, como se procurasse consolo para tanta dor. Os dois irmãos abraçaram-se, chorando como duas crianças abandonadas a própria sorte.
Atras da jovem, chegavam Isabelle, a mãe de Jack, com rosto levemente corado, talvez tivesse chorado um pouco, mas agora, vendo os dois filhos naquele estado, tentava ser a base solida entre os três, e o namorado da irmã de Jack, Paul.
_ Você está bem, meu filho? Não está ferido?
Mas Jack não respondeu com palavras, apenas acenou com a cabeça e atirou-se nos braços da mãe. Parecia um criança assustada. Depois Jackeline juntou-se e os três ficaram abraçados por um longo tempo, mas apenas os dois irmãos choravam e a mãe tentava consola-los dando-lhes pequenos beijos em seus rostos. Fora a cena mais triste que Alan presenciara, pois por mais que tentasse não conseguia lembrar-se do dia em que seus pais morreram, e ainda por cima tinha que ver seu amado sofrendo daquele jeito sem nada poder fazer para aliviar aquela dor.
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Por alguma graça divina, Alan e Paul, os únicos que ainda conseguiam suportar aquela onda de depressão e dor, conseguiram arranjar todos os preparativos para o enterro do senhor Adams. E depois de uma noite inteira sem dormir, ainda viria o velório, mas tudo estava arrumado.
Alan e Jack voltaram para o apartamento, a fim de comer algo e arrumarem-se para outra longa noite sem dormir. Alan fez dois sanduíches, um para ele e outro para seu amado, mas Jack nem tocou. ficou fitando a comida a sua frente, enquanto lagrimas escorriam umedecendo seu rosto. Como era triste para Alan ver seu querido amigo sofrendo aquele jeito. Então pegou-o pela mão e guiou-o para o banheiro. sabia que o outro não comeria nada naquele estado e também perdera a fome, mas mesmo assim precisavam se arrumar para o enterro.
No banheiro, abrira o chuveiro e testar a temperatura da água, conhecia Jack e sabia que ele não suportava banhos frios, e naquele momento faria qualquer coisa para agrada-lo. Esperou que seu amado loiro começasse a se despir, mas Jack parecia uma múmia, não mexia um único músculo. parecia que tinha perdido a vida, apenas as lagrimas que caiam dos olhos e os pequenos soluços denunciavam que estava vivo. O coração de Alan contraiu-se no peito e quase teve vontade de cair em prantos abraçado a seu amante.
_ Jack, você precisa reagir _ Alan, puxou Jack para si, num abraço acolhedor, falando para que as lagrimas não o controlasse _ Vamos, Jack! Não chora mais, por favor.
Mas foi inútil. Cada vez que Alan pedia para que ele não chorasse e saísse daquele estado deprimente, seu pranto aumentava, explodia com mais intensidade. Então, vendo que a única reação cabível a seu amado era chorar, resolveu reagir por ele. Beijando-lhe a face carinhosamente e falando-lhe palavras doces, de que tudo ficaria bem, Alan tirou-lhe a roupa e colocou-o no chuveiro.
_ Fica aqui, que eu vou separar a tua roupa.
Mas quando preparava-se para sair do banheiro, sentiu um forte puxão, levando-o para o chuveiro. sem tempo para reagir, viu-se todo molhado, abraçado por Jack.
_ Fica aqui comigo... Fica, por favor...! _ Jack sussurrava, entre soluços, abraçado fortemente a Alan.
Alan não deve outra escolha. já estava todo molhado, sua camisa, calça jeans, tênis... tudo, e depois o sofrimento de seu amado... Deixou que suas mãos envolvessem o loiro, afagando-lhe os longos fios e puxando-o cada vez mais para seus braços. Ficaram assim um bom tempo, a água escorrendo pelo corpos deles, como numa caricia doce.
Alan segurou-se varias vezes para que o pranto não lhe tomasse, enquanto escutava os soluços de Jack. O sofrimento também era terrível para o guitarrista, principalmente porque via seu querido amante sofrendo daquele jeito sem poder fazer nada.
Quando o choro de Jack acalmou-se, saíram do chuveiro. Alan tirou toda roupa molhada, amontoando-as num canto do banheiro, não era daquilo, mas tinha tempo, depois cuidaria delas. Pegou uma toalha e enxugou seu amado cuidadosamente. Depois, com a mesma toalha, começou a enxugar-se, mas foi impedido por Jack, que tomou a toalha, dando-lhe um leve beijo, e começou a secar-lhe, como retribuição pela atenção e carinho que o outro estava tendo com ele. Alan olhou-o com ternura, parecia-lhe que seu querido loiro estava tendo uma reação.
_ vou pegar umas roupas para você. Não sai daqui, o.k.? _ falou Alan, dando um doce beijo na testa de seu amante.
Retirou-se do banheiro, voltando minutos depois com uma calça e uma camisa preta, que Jack pegou com um olhar desolado. as roupas pretas denunciavam que alguém morrera e ele parecia não quer acreditar no que acontecia.
Alan saiu, durante alguns minutos, depois de ver, apesar do olhar triste, que seu amado Jack começava a expressar uma reação e vestia-se. Também precisava vestir alguma coisa.
Não demorou muito para se vestir. Afinal que tipo de roupa precisasse num velório alem de preto? Então, escolhera um boa camisa de linho preta e um calça também preta e um gravata de seda grafite.
Voltou para o banheiro, a fim de levar uma gravata para o amigo. Pegara três belas gravatas, com cores que covinha a ocasião. Uma azul marinho, uma vinho e a ultima verde escuro. Sabia também que eram cores que Jack gostava e levara-as para que ele pudesse escolher a que mais lhe agradasse.
Mas quando chegou a porta do banheiro, encontrou o mesmo Jack melancólico de outrora, Estava vestido, isso era uma fato, porem a camisa estava para fora da calça e, em frente ao espelho, tinha em mãos uma escova, talvez uma tentativa de pentear os longos fios dourados. Parecia um boneco, paralisado em frente sua própria imagem, enquanto longas lagrimas escorriam, molhando seu belo rosto. como o sofrimento era insuportável para ele!
_ Oh, Jack... _ Alan sussurro, passando a mão pelos negros cabelos, tirando-os do rosto, em desespero pela dor de seu amado. Encarou-o por breves instantes com extrema tristeza e depois dirigiu-se a ele, abraçando-o fortemente. Deixou que o loiro apoiasse a cabeça em seu ombro e chorasse mais um pouco.
Depois, calmamente, afastou Jack de seus braços, limpou-lhe as lagrimas do rosto, não agüentava mais ver seu amado chorando daquele jeito. Era doloroso demais para Alan! Ajudou o loiro a terminar de arrumar-se, colocando a camisa para dentro da calça e abotoando os botões restantes.
_ Você precisa ser forte, meu querido. Eu sei que dói, mas precisa lutar contra isso _ Alan falava, tentando anima-lo, beijando-lhe a face, enquanto escovava e amarrava os finos fios loiros.
Pegou, depois, a gravata azul e colocou envolta do pescoço de Jack, mas este, de repente, pronunciou um protesto contra a cor escolhida.
_ Verde... Meu pai gostava de verde.
Alan não falou nada, olhou seu amante com paixão e ternura e trocou rapidamente a gravata azul pela verde. Olhou-o mais uma vez antes de começar a escovar seus grossos fios negros e prende-los num rabo de cavalo.
Depois guiou Jack até a sala. em seguida voltou-se aos quartos trouxe um terno grafite para ele e para seu amante loiro um totalmente preto.
_ Vamos? _ pegando as chaves do carro, Alan perguntou, mas não obteve resposta.
Jack não queria ir, parecia que queria morrer também,
mas Alan não deixaria. Pegou-o pela mão e dirigiram-se para
o carro. Alan fora dirigindo, pois o loiro não tinha condições
para quase nada, muito menos dirigir.
CONTINUA...