A Virgem
4
_ Zacarias!... Zacarias!...
Hahael chamava Raziel pelo nome humano. Eram seis horas da manhã e eles combinaram irem cedo até a Ilha das adoradoras da Lua. Mas Raziel não abria nem os olhos. O tempo passava e a ruiva tornava-se impaciente.
_ Zacarias!... Por Deus, Raziel, acorda!... Raziel!! _ chamou pelo verdadeiro nome, já perdendo a paciência, sacudindo-o.
Raziel abriu lentamente os olhos, espreguiçou-se e sorriu reconhecendo o belo rosto de Hahael.
_ Bom Dia, meu doce anjo! Que horas são?
_ Já passam das seis, estamos atrasados _ respondeu Hahael, abrindo as cortinas, que clarearam imediatamente o quarto.
_ Ainda é tão cedo! _ falou Raziel, espreguiçando-se mais um pouco.
_ Não temos tempo a perder. Logo a criança irá nascer e não sabemos se algum demônio está atras de nós. Alem do mais, a preguiça é um pecado. E você sabe muito bem.
_ Está bom! Está bom! Eu já sei. _ disse o anjo e lembrando-se da encantadora noite que tivera e do encontro maravilhoso, completou _ Também hoje acordei tão feliz!
_ Por que? _ perguntou desconfiada.
_ Porque... Ora porque... estamos perto de conseguir a criança _ respondeu Raziel, com luxuriante figura de Damabiah em sua mente. A criança parecia um mero problema.
_ Mas acho melhor você não ficar tão animado assim. Ainda não sabemos se algum demônio está aqui atras da criança também. _ lembrou a bela figura.
_ Eu sei, minha fiel amiga, mas não consigo evitar ficar feliz _ declarou, lembrando-se do delicioso beijo.
Levantou-se da cama, apenas de cuecas e abraçou Hahael por trás. Estava realmente muito feliz.
_ O que é isso?! _ exclamou Hahel assustada, principalmente quando viu Raziel só de cuecas _ Vá logo se vestir, seu anjo assanhado!
Raziel obedeceu, dando um beijo fraternal no rosto da companheira e sorriu belamente.
Em pouco tempo estavam fora do quarto. Ao passarem pelo corredor que levava à saída, Raziel parou em frente a porta do ser que mexia com seu intimo. Respirou fundo, sentindo o aroma de ervas que provinha de lá. O belo moreno ainda estava dormindo. E sorriu, lembrando-se da beleza do rosto do outro.
_ Zacarias! Vamos! _ chamou Hahael, tirando Raziel do devaneio.
Raziel veio correndo em direção a amiga e os dois desceram as escadas em direção a saída.
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Damabiah abriu seus olhos rubros. Acordou calma e lentamente. Ajeitou seu travesseiro na cabeça e a imagem doce e bela do jovem Raziel, que ele julgava chamar-se Zacarias, formou-se em sua mente. Sorriu ao lembrar-se do ardente beijo.
Levantou-se da cama. Pegou o maço de cigarro ao seu lado e acendeu um. Deu uma longa tragada, lembrando-se do perfume do loiro. Um perfume de flores brancas, talvez lírio ou jasmim. Não lembrava direito o cheio delas, sempre enganava-se.
Ficou de pé, seus pés descalços sentiam o frio que vinha do piso. Algo peculiar para ele acostumado com as altas temperaturas. passou as mãos pelos cabelos afastando-os da face. dirigiu-se a janela abrindo-a, sentindo o calor do sol que entrava por esta. E logo alo chamou sua atenção para a rua abaixo dele.
_ O que deu em você, Zacarias? _ era a voz de Hahael, ou melhor Margot para ele, atravessando a rua com seu objeto de desejo.
_ Nada. Só estou feliz. _ falou o jovem loiro, abraçando sua companheira e lançando outro beijo em seu rosto. Correu um pouco na frente e virou-se para a ruiva _ Vamos logo, Margot!
Damabiah riu, sabia com certeza o motivo de tanta alegria. Também sentia-se assim. Mas não se contentaria com apenas um beijo, queria mais...
Olhou o relógio. Nossa! Tinha perdido muito tempo, não podia entregar-se a amores agora. outra hora talvez, mas não agora. Precisava encontrar a maldita criança, tinha uma missão a cumprir. E não sabia se algum anjo estaria a procura dela também. Arrumou-se e saiu.
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Raziel e Hahael pararam no pequeno porto. Esperaram pelo barco que levaria eles até o outro lado, para a Ilha da Lua.
No meio da névoa, os dois anjos ouviram o barulho dos remos batendo a água. Logo viram o pequeno barco, os dois barqueiros e uma bela senhora. Era uma das sacerdotisas, uma bela mulher de cabelos negros e compridos, aparentava quarenta anos. usava uma túnica preta e um colar de couro com um pingente em forma de meia lua.
A mulher desceu do barco e aproximou-se dos dois jovens angelicais. Era mais baixa que eles, mas quando olhou dentro dos olhos dos anjos seu tamanho perdeu a importância.
_ Cheiro de flores!... _ falou a bela sacerdotisa com um luminoso sorriso _ Isso é muito bom!
_ Queríamos saber se existe alguma mulher gravida entre suas virgens? _ começou Raziel seriamente.
_ Sim...
_ Podemos vê-la, por favor? _ perguntou Hahael ansiosa.
_ Não _ respondeu a bela senhora.
_ Não?!... Por que? Só queríamos fazer algumas perguntas _ explicou Raziel.
_ Porque simplesmente Lucy não encontrar-se mais aqui. Ela falou que se continuasse na Ilha, seu bebê traria uma guerra para esta terra _ falou a sacerdotisa, olhando atentamente para os dois anjos.
_ A senhora sabe para onde ela foi? _ indagou a bela ruiva preocupada e decepcionada.
_ Não, ela não disse. Simplesmente sumiu no meio da noite de ontem. Estamos todos preocupados com ela, pois seu filho está para nascer.
A sacerdotisa olhou para o céu com o semblante triste e suspirou profundamente. Parecia um pouco sem esperanças.
_ Ela deve ter ido para algum lugar que bloqueia todos os poderes, pois não consigo saber para onde foi.
_ Mas onde será esse lugar? Tem que existir um lugar assim _ falou Hahael, implorando, apoiando sua mão no ombro da velha sacerdotisa, encarando-a profundamente _ Pense... Por favor, pense! Isso é muito importante.
_ Calma, Margot! _ pediu Raziel.
_ Claro!!... _ exclamou a sacerdotisa _ Esse lugar existe sim! Porque eu não pensei nisso antes!
_ Conte, por favor! Fale!! _ implorou a bela e jovem ruiva.
_ Eu vou contar a vocês, porque sei quem são. Vocês precisam encontrar Lucy e o seu bebê. sei que não farão nada de mau com eles _ declarou a bela senhora, com os olhos cheios de lagrimas _ Existe uma caverna a oeste daqui, a duas noites. Ela é magica e sagrada para nós, pois é lá que fazemos todos os anos um importante ritual. Lucy só pode estar nesse lugar.
_ Obrigada! Muito obrigada! _ agradeceu Hahael aliviada.
_ Obrigado!
_ Só que quero que vocês cuidem dela para mim, meus anjos _ pediu a sacerdotisa emocionada _ E viajem a noite, porque a lua os protegerão.
Os dois jovens anjos entreolharam-se e olham para a sacerdotisa que quase chegou a implorara para cuidarem da jovem gravida. Eles agradeceram mais uma vez, prometendo cuidar muito bem de Lucy e de seu filho. E voltaram para o hotel.
No caminho do hotel, os dois anjos encontraram com o belo e sensual demônio, Damabiah.
O belo moreno passou por eles, com um semi-sorriso escondido, enquanto segurava um cigarro com os lábios. Acenou e disse um sussurrado "oi". Raziel sentiu um arrepio correr-lhe a espinha e o sangue ferver. Sorriu retribuindo o cumprimento. Mas Hahael fechou o rosto e encarou Damabiah com a fronte franzida.
_ Já falei para você tomar cuidado com ele _ repreendeu Hahael, vendo o sorriso que se formara no rosto de seu companheiro.
Raziel não respondeu ao comentário de sua amiga, apenas desmanchou o sorriso, mas não pode evitar que sua mente enchesse-se das imagens da noite passada.
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Damabiah chegou ao porto que levava a Ilha. A jovem senhora sacerdotisa ainda encontrava-se ali, como que esperando pelo demônio, cheirando algumas flores.
Os dois olharam-se. E quando a sacerdotisa viu os rubros olhos de Damabiah sua feição tranqüila transformou-se uma tensa. E o sorriso luminoso que enfeitou seu rosto quando ela viu os dois anjos não apareceu.
_ Sabia que você viria _ declarou a mulher.
_ Que bom! Então sabe o que eu quero _ falou o demônio encarando a sacerdotisa friamente.
_ Sei, mas não posso te ajudar.
_ Não, é?
Damabiah aproximou-se da jovem senhora e segurou-a pelo pescoço levantando-a do chão. A mulher continuou imparcial, enquanto os homens no barco chamaram-na de senhora, desesperados.
_ Não direi nada porque não sei e mesmo se soubesse não te diria _ falou a sacerdotisa calmamente _ Acha que eu não sei quem você é? Vi isso nos seus olhos.
_ Que bom que sabe quem sou. Fico muito feliz! _ Damabiah ironizou apertando ainda mais o pescoço da mulher _ Mas mesmo assim você vai falar o que eu quero e seu sei que você sabe o que é.
_ Mesmo que eu morra, não direi _ afirmou a bela senhora.
_ SENHORA!! _ gritou um dos jovens que era barqueiro.
_ Quem disse que você precisa morrer _ Damabiah disse, desviando o olhar da sacerdotisa para o jovem barqueiro.
O demônio largou a mulher, deixando-a cair no chão descuidatamente e dirigiu-se para o rapaz, que estava de pé com um remo na mão. Damabiah aproximou-se do jovem, arrancando o objeto dele e segurou-o pelo pescoço, assim como fizera com a sacerdotisa. A jovem senhora jogada sobre o chão, tentando recuperar o fôlego, seguiu-o com os olhos.
_ Acho melhor você me dizer onde está a criança ou, então, ele morre e depois o outro, e a seguir talvez a Ilha toda _ anunciou o demônio, virando-se para olhar a sacerdotisa.
Ela continuou calada. Nenhuma palavra era pronunciada de sua boca. A mulher continuava imparcial.
Vendo a imparcialidade da sacerdotisa, Damabiah apertou com mais força o pescoço do jovem com suas mãos.
O rapaz olhou para a sacerdotisa, sentada no chão, com as mãos no pescoço, recuperando-se. Ele olhava-a, implorando pela vida.
A piedade falou mais alto dentro da sacerdotisa. Ver um de seus "filhos" sendo morto na sua frente era demais para ela. Um segredo não valeria a vida de um ser. E depois os anjos já tinham sido avisados antes.
_ Está bem! Está bem! Eu falo o que você quiser! _ fala finalmente.
Damabiah soltou o jovem no barco, quase fazendo-o virar, e voltou-se para a mulher. Aproximou-se outra vez dela e agachou-se, encarando-a nos olhos.
_ Pode começar a fala então.
A jovem senhora conta-lhe tudo o que ela sabia e o que o demônio desejava saber sobre a moça gravida e sua localização.
Depois que a sacerdotisa deu-lhe todas as informações que sabia, ainda sem parecer satisfeito, levantou-se e dirigiu-se outra vez aos rapazes no barco. O jovem, que quase morrera nas mãos de Damabiah, olhou com enorme terror sua aproximação, mas não conseguiu fugir de suas mãos de novo. Pega-o pela gola da túnica preta, levantou-o e quebrou seu pescoço, sem piedade, num movimento rápido.
_ NÃO!!! _ a sacerdotisa e o outro jovem gritaram juntos com o terror da cena.
O rapaz caiu morto sobre os pés de Damabiah. O rosto virado para o lado, com um congelado olhar aterrorizado, metade do corpo na fria água do lago, sem movimento algum...
_ Seu desgraçado! _ gritou a mulher correndo em direção ao jovem morto _ Por que o matou? Já não tinha te contado tudo? Por que?
Damabiah seguiu seu caminho de volta ao hotel, mas antes parou por um instante e olhou a mulher por cima do ombro.
_ Apenas por diversão... _ falou, dando uma estridente risada.
Damabiah saiu daquele lugar com um sorriso nos lábios, enquanto
era amaldiçoado e xingado pelos outros. O demônio acendeu
um cigarro e tomou o rumo do hotel. Lembrava-se da imagem do belo loiro,
pensando na possibilidade de reencontra-lo e talvez até consegui
um pouco de diversão, antes da partida...
Continua.....