Por Rinko Himura
Pas-de-Deux é um movimento do balé onde se dança em par. Pronuncia-se "pa-de-dê".
Sanosuke acordara tarde naquela manhã; olhara para o lado e Saitou já havia saído para trabalhar. Não conseguira se despedir de seu amante. Também pudera, na noite anterior, os dois se amaram como jamais o fizeram na vida. Essas loucuras de amor deixaram Sagara exausto e sem a menor possibilidade de despertar para despedidas.
No entanto, Sanosuke não se importou. Sabia que mais tarde encontraria Hajime novamente. Espreguiçou-se e levantou-se. Vestiu-se e retirou-se de sua humilde casa. Estava animado, pois sentia uma grande sorte pairando no ar; era dia de jogo.
Atravessou a rua do mercado e dirigiu-se para o chamado mundo obscuro de Kyoto. Eram ruas estreitas e casas amontoadas, onde eram realizados os grandes jogos proibidos. Era o único meio de vida que Sano conhecia, embora muitas vezes ele ficasse na mão; a sorte raramente batia na sua porta. Por isso, viva devendo dinheiro para Kaoru e Megumi.
Entrou em um barraco cumprido, onde já estava rolando uma partida. Sanosuke se enfiou no meio e tentou a sorte. Queria ganhar, não só para pagar suas infindáveis dívidas, mas também para fazer Saitou se orgulhar.
*
No final da tarde, Sano largou o jogo. Não tinha ganhado quase nada. O máximo que dava para fazer com o dinheiro era pagar um de seus almoços fiados no restaurante Akabeko. Ficara infinitamente desapontado consigo mesmo. Andava pelas ruas de cabeça baixa, resmungando xingamentos para si.
Sua distração fora tamanha que ele trombou com alguém.
-Puta merda! Tu não olha para onde anda, não meu chapa?
-Sinto muito, senhor Sanosuke Sagara.
Sano olhou para o dono daquela voz conhecida.
-Soujirou Seta?
O garoto sorriu, como sempre.
-Há quanto tempo, senhor Sagara.
O lutador de rua não sabia bem o que responder. Não via o ex-membro da gangue de Shishiu Makoto desde a grande batalha com o líder e Kenshin.
Seta reparou que Sanosuke carregava um saco humilde de dinheiro.
-Vejo que o jogo é seu sustento.
-Não é nada disso! –Respondeu Sagara, embaraçado.
Soujirou riu. Naquele momento, Sano lembrou-se de Kenshin. E isso lhe fez se arrepender de seus pensamentos e das lembranças.
*
-O que faz em Kyoto? –Perguntou Sano. Os dois estavam no restaurante Akabeko tomando saquê (obviamente o jovem samurai quem ofereceu). Sentaram em uma mesa longe da porta de entrada, quase perto da cozinha.
Soujirou ergueu a cabeça para beber o saquê. Olhou para Sanosuke.
-Não tinha outro lugar para ir. Já rodei o Japão inteiro.
-Você deve saber que ainda é procurado pela polícia, não?
-Sim, eu sei. Mas eu não temo a polícia. Eles não têm como provar que eu sou eu. Mesmo porque eu mudei um bocado, não só por dentro como por fora.
Então Sagara reparou: sim, Seta estava com cabelo comprido, preso em rabo-de-cavalo no alto da cabeça. Tinha mudado de uniforme também. Não era mais aquele quimono azul desbotado, e sim um preto e cinza, com um enorme dragão nas costas. Carregava uma bagagem pequena e um pau de madeira que usava como uma espécie de bengala.
-Então, abandonou sua vida de samurai... –Murmurou o lutador de rua.
-Claro que não.
-Mas, cadê sua espada?
Apontou para a grande bengala.
-Isso aí é uma bengala frouxa.
-É oco. Minha espada está aí dentro. –Seta sorriu. –Temos que ser cautelosos, senhor Sagara.
-Muito bem pensado.
Soujirou dera outro gole na bebida.
-E o senhor, senhor Sagara?
-Eu?
-O que fez esse tempo todo?
-Nada de mais...
-E o senhor Kenshin Himura Battousai?
Sanosuke sentiu uma pontada no coração quando ouviu aquele nome.
-Como o senhor Himura está?
-Bem...Ele está bem...Eu acho.
-Vejo que perdeu contato com ele também.
-Não é que eu perdi...
Soujirou aguardou uma continuação, mas Sagara não prosseguiu. O jovem samurai decidiu não tocar mais no assunto. Observou nos olhos de Sano que aquele assunto lhe feria o coração.
Ficaram alguns instantes em silêncio, tomando o resto da garrafa de saquê. Terminada a bebida, Seta levantou-se.
-Bom, senhor Sagara... Eu preciso ir.
Sorriu gentilmente e depositou algumas moedas na mesa. Sano levantou-se também.
-Obrigado pelo saquê. –Disse o lutador.
Os dois se retiraram do restaurante e rumaram caminhos diferentes.
*
Quando Saitou chegou em casa, Sanosuke estava olhando fixamente para a paisagem escura da cidade pela janela. Ficou feliz em vê-lo. Entretanto, percebeu que os olhos de seu amado estavam diferentes. Estavam tristes, murchos, com um pingo de preocupação e saudade. A princípio, não tinha idéia do que o incomodava, mas quando se aproximou, teve uma hipótese única, que mais tarde virara teoria.
Mal se aproximou, afastou-se novamente. Sano finalmente notou sua presença e abriu um sorriso sincero, mas ainda tristonhos. Assim que Hajime se distanciou, Sagara fechou-se em incompreensão.
-O que foi? –Ele perguntou.
O lobo de Mibu não respondeu, nem sequer ousou olhá-lo. Acendeu um cigarro.
-Não está feliz em me ver?
Saitou tragou o cigarro.
-Ainda pensa no Battousai, não é?
-O quê?
-Você estava pensando nele, não estava?
Sano calou-se.
-Eu sabia...
-Eu me recordei dele hoje, Saitou!
-Tanto faz...
Hajime andou até a porta, sem demonstrar o mínimo incômodo ou irritação.
-Você ainda acha que eu o amo, não
é?
-...
Sano saltou para frente do membro da polícia.
-Fique! Eu explico para você, é que hoje eu...
Saitou agarrou o rosto de seu amante e olhou profundamente em seus olhos.
-Voltarei quando você se desprender do Battousai...
Empurrou Sagara e saiu da casa. Sano tentou impedi-lo.
-Saitou! Espere! Eu tenho uma explicação! Espe...
Avistou seu amado sumindo na escuridão da noite e entrou em casa.
-...re.
Sano ficou ainda mais infeliz que já estava.
*
Sanosuke passou boa parte da noite pensando. Não estava confuso quanto aos seus sentimentos, de jeito nenhum. Tinha total certeza de que Kenshin era somente seu passado; amava Saitou mais do que tudo. Não tinha outro amor além desse. Não tinha dúvida que era com o Lobo Mibu que gostaria de ficar para sempre. Mas o encontro com Soujirou o embaraçou, somente por ter botado á tona suas lembranças. Eram somente lembranças.
-Mas por causa delas Saitou acha que eu e Kenshin...
Sussurrou o lutador.
Queria conversar com Hajime, queria explicar o que realmente tinha acontecido. Não podia perdê-lo. Não queria.
Mas o que fazer?
Tudo que tinha para fazer era esperar.
E foi o que Sano fez. Esperou. Tinha certeza que Saitou voltaria e eles conversariam longamente, e no final, ficariam bem de novo e se amariam ternamente.
Mas Saitou não chegava. Sanosuke esperava ansiosamente.
A madrugada chegou.
Sano ainda esperava com uma grande paciência que não sabia que tinha.
Porém seu organismo fora mais forte, e Sagara adormeceu.
Saitou não voltou.
*
Fora uma tremenda decepção quando Sanosuke despertou, perto do meio-dia, e não tinha nem vestígios da volta de Saitou. Seu coração doeu. Sentiu uma grande sensação de perda.
Por algumas horas, permaneceu em casa, quase que vegetando, sem ter o mínimo estímulo para fazer nada. Todavia, encheu-se de coragem para procurar alguém que lhe desse alguma opinião.
Obviamente, pensou em Kenshin, mas logo o tirou de mente. Resolveu sair de casa. Atravessou o mercado e inconscientemente chegou na porta da academia Kamiya. Deu-se conta e voltou-se para ir embora, mas Yahiko apareceu.
-Ora, ora!Quem é vivo sempre aparece, né senhor Sanosuke Sagara?
Sano forçou um sorriso.
-Moleque Yahiko, há quanto tempo!
-Moleque é tua mãe, desgraçado!
Sagara riu.
-Eu só estava passando perto, eu tenho que ir e...
-Não! Nada disso! Você quer esquecer da gente, né maldito senhor Sanosuke Sagara? Só vem aqui pra pedir dinheiro, né maldito? –O menino agarrou o braço do lutador e arrastou-o para dentro da academia. –Nem vem que não tem! Você vai entrar e nós iremos conversar! Estávamos todos preocupados com você, Sano! Pô, você sumiu! Achamos que você estava nadando em dinheiro ou estava pobre de tanto perder nos jogos!
Sano avistou Kaoru junto de Kenshin, lavando o chão do Dojo. Os dois sorriram quando o viu. Principalmente Kenshin. O Battousai sorriu sem mostrar os dentes e acenou para o amigo.
Mais tarde, os dois estavam na varanda, tomando chá. Ficaram um bom tempo silenciosos, escutando somente o vento e os pássaros. Himura observou Sagara pelo canto dos olhos; notou que seu companheiro estava cercado por uma nuvem de tristeza.
-Ainda está com Aoshi? –Perguntou Sanosuke, quase sussurrando.
O andarilho sacudiu a cabeça positivamente.
-E a donzela Kaoru ainda não sabe, não é?
-Como eu supostamente deveria revelar isso para ela?
-É uma boa questão.
Silêncio novamente.
-Pretende fazê-lo, não?
-Sim. Ela precisa saber. Não acho justo dar falsas expectativas para ela.
-Concordo. Mas se o fizer, creio que você não vai mais poder morar aqui.
Kenshin espantou-se com aquele comentário, porém admitiu a razão de seu amigo.
-Você tem razão, Sano. Vou ter que me mudar.
-Para fora de Kyoto?
-Improvável. Mas eu e Aoshi veremos algum lugar tranqüilo para morarmos em paz.
-Você vai ter ser discreto com Yahiko. Ele é só um menino. Não iria entender.
-Sim.
Novamente, o silêncio caiu na conversa.
-E você?
-Eu o quê, Kenshin?
-Você está feliz com Saitou?
Sanosuke fez uma pausa. Himura compreendeu.
-Se desentenderam?
-Sim. O pior é que ele não me deixou explicar.
-Procure-o, se o ama. Insista em sua verdade.
O lutador ensaiou um sorriso. –Obrigado, Kenshin. Eu vou fazer isso.
Sano deu o último gole no chá e retirou-se da academia.
-Venha nos visitar mais vezes, Sano!
Sagara colocou um pé para fora do Dojo e acenou para o amigo. –Pode deixar! –Estava feliz que ele e Himura ainda eram amigos, que podia contar com o Battousai para as piores horas.
Fechou a porta da Academia. Percebeu então como estava tarde. O sol estava morrendo no horizonte, sob luzes que coloriam o céu.
No entanto, quando se virou para rua, avistou Saitou. Seu coração se desesperou. Hajime deu meia volta e dobrou a esquina rapidamente. Sano tentou segui-lo, mas o perdeu de vista.
Novamente, a sensação de perda invadiu seu coração, mas desta vez com mais intensidade.
*
Durante toda aquela semana, Saitou despistou Sanosuke. O lutador de rua ficou deprimido, quase não saia de casa. Já tinha suspeitas que seu amado havia arranjado outro amante.
Numa tarde de chuva, Sano saiu de casa para comprar saquê. Não se importava mais com nada. Decidiu se acabar na bebida, agora que tinha perdido a sua maior preciosidade. Nunca mais procurou Kenshin. Não queria opiniões, consolos, pêsames. Nada. Queria afogar seu coração numa boa garrafa de saquê.
Comprou a bebida num mercado malcuidado, e retornou para sua casa. No caminho, trombou com Soujirou novamente. Pela primeira vez, o jovem samurai ficou surpreso com sua presença, depois abriu o sorriso que lhe era tão característico.
-Como vai, Soujirou?
A voz de Sano soava interesseira, como jamais havia sido antes.
*
Não era de seu feitio, mas Sanosuke convidou Seta para beber com ele em sua casa. Mesmo sem graça, o samurai aceitou. Beberam alguns goles, no grande silêncio que pairava entre eles. Ás vezes trocavam sorriso, Soujirou timidamente, Sano traiçoeiramente. O lutador de rua tinha algo em mente.
Quando a garrafa terminou, o rapazola da gangue de Shishiu se levantou.
-Acho melhor eu ir. A chuva já passou.
-Não! –Sano pegou-lhe o punho. –Fique mais um pouco. Tenho mais saquê.
-Não acho uma boa idéia.
Sagara puxou-o para perto.
-Pois eu acho...
Soltou os cabelos longos de Soujirou e beijou-lhe todo o rosto. Seta lutou contra um desejo que crescia dentro de si, mas quando sentiu o beijo do lutador de rua na sua boca, fora entregue a tentação.
Sano deitou Soujirou, beijando-o carinhosamente e tirou-lhe a parte superior do quimono. Lambeu-lhe o peito de menino e a barriga, arrancando-lhe gemidos de prazer. Voltou a beijar seus lábios com delicadeza, enquanto sentia as mãos do pequeno samurai acarinhando seus cabelos.
Durante o beijo, Sagara tirou a sua calça e a do parceiro. Iniciou uma penetração lenta e prazerosa. As carícias aumentaram e ficaram mais ousadas.
Mas Sano lembrou-se de Saitou. Lembrou-se que estava fazendo aquilo por raiva. Sim, Saitou o trocou por outro, por que então não trocá-lo também, agora de verdade?
Numa certa hora, quando o orgasmo se aproximava rapidamente, Soujirou soltou um murmúrio.
-...Senhor...Saitou...
Sagara parou e ficou petrificado. Soujirou empurrou-o para longe, apanhou suas vestimentas e saiu da casa, lamentando pelo que havia falado.
O lutador de rua permaneceu na mesma posição. Estava horrorizado.
Lá fora, a chuva que tinha cessado, voltara
a cair.
Continua...
Dedicado á mestra suprema do ML, Sandy-sama!
^__^
Valeu por ter tomado conta do meu Saninho...