Valsa a Três

 


por Rinko Himura



DOIS

Kenshin não saiu do dojo por mais de uma semana. Permaneceu na academia Kamiya, trabalhando para Kaoru sem reclamar. Fazia tudo com um grande sorriso, como se nada de intrigante tivesse ocorrido uma semana atrás. Sano o observava escondido do alto da árvore todo o dia. Tinha conhecimento que seu amado sabia de sua presença ali, dia após dia, e ficava triste com o fingimento.

Naquela tarde, Sano resolveu deixar Kenshin em paz. Pulou da árvore, decidido que não fitaria o samurai nunca mais. Deixaria-o sozinho, com seus sentimentos confusos e seus pensamentos incógnitos. Kenshin teria que tomar uma grande decisão por si só.

Sano desceu a rua, com as mãos escondidas nos bolsos e a cabeça baixa. Mesmo que havia prometido a si mesmo que não incomodaria o ex-hitokiri, o lutador não conseguia tirá-lo da cabeça. Tentava manter seus pensamentos voltados para outras coisas, mas não conseguia. Não era capaz de ficar um segundo sem pensar em seu grande amado.

Atravessou um grande mercado lotado de pessoas e contornou o quarteirão. Passou duas casas e entrou na sua. Alguém estava sentado no canto.

-Você de novo, Aoshi?

Aoshi não o olhou. Manteve calado, sentado com as pernas flexionadas, as mãos segurando firmemente o punho das espadas.

-Acho que temos que conversar, não? –Disse Sagara, fechando a porta. O ex-líder da gangue Oni nada respondeu.

Sano o olhou. Não sentia absolutamente nada por Aoshi. Deveria ao menos odiá-lo. Afinal, disputavam o coração de Kenshin, o amor de uma mesma pessoa. Querendo ou não, ele virou seu grande adversário, seu oponente, seu inimigo pessoal. Deveria sentir ódio, raiva, inveja, ciúme, qualquer coisa. Estavam profundamente ligados. Estavam ligados por amor ao lendário battousai. Mas não o odiava. Mas também não o admirava. Simplesmente não tinha nenhum sentimento por Aoshi, seja ele bom ou ruim.

Ficaram em silêncio por algum tempo.Ouvia-se somente vozes de fora, barulho de carroças passando, vendedores histéricos, crianças se divertindo, as folhas das árvores dançando ao compasso do vento. Aoshi não olhava para Sano. Fixou seu olhar no chão, e parecia que não iria desviá-lo tão cedo. Sagara decidiu quebrar o gelo.

-Há quanto tempo o ama?

Aquela pergunta fora suficiente para fazer o espadachim mover seu olhar. Fitou Sanosuke, com surpresa. Porém, permaneceu silencioso como uma pedra.

Sano entendeu o lado de Aoshi. Não iria mais perguntar nada. Deu os ombros e caminhou até a porta.

-Quando sair, tranque tudo... –Disse, abrindo a porta.

-Espere.

Sagara voltou-se. Aoshi não o olhava.

-Eu não vou desistir de Kenshin...

Sano soltou um riso cínico. –Digo o mesmo para você.

Saiu de sua própria casa, batendo a porta.

*

Mesmo se havia prometido, Sano voltou à velha árvore para observar Kenshin de longe. Mas, como já havia anoitecido, era provável que seu amado estivesse dentro do dojo, jantando na companhia de Kaoru e Yahiko. Sua quebra de promessa fora inútil. Serviu somente para evidenciar o enorme sentimento que tinha por Himura e que de fato não conseguia controlá-lo.

No fundo, sabia que Kenshin não daria as caras, mas mesmo assim permaneceu ali, esperançoso, sentando no mais alto tronco da árvore, com os olhos atentos a cada movimento da academia. Estava decidido conversar seriamente com o ex-hitokiri, querendo ele ou não. Tinha que desabafar tudo que havia em seu coração. Não tinha certeza se Kenshin entenderia ou corresponderia ao seu amor, e isso era o que mais lhe amedrontava; mas era a única maneira de resolveu esse problema.

De repente, sentiu uma presença, perto do salão de treinamento. Alegrou-se. Tinha certeza que era Himura. Pulou da árvore e correu sorrateiramente até o local. Abriu a porta. Estava escuro. Nem a luz brilhante e poderosa da lua conseguia iluminar o salão por inteiro.

Sano procurou-o com os olhos.

-Kenshin?

Então, alguma coisa se aproximou de Sagara. Era alguém. Rodeou-o, velozmente. Depois Sano conseguiu enxergar o brilho de uma lâmina, saindo de uma bainha perto de si. Pulou para trás.

-Aoshi?

O ex-líder da gangue Oni atirou-se contra Sano, que com dificuldade desviou de seus golpes. Aoshi girava suas kodachis com uma grande rapidez, e tentava lancear brutalmente o lutador de rua. Por sua vez, Sanosuke pulava de um lado para o outro, esquivando-se das lâminas afiadas que tentavam lhe atravessar vorazmente.

-Isso é guerra, é?

Gritou Sano, que após um esquivo, lançou seu punho contra Aoshi. Agora, era hora do espadachim se desviar dos poderosos socos de Sagara. A escuridão total não impedia nem um nem outro de lutar. Era uma disputa pelo amor de Kenshin Himura, o lendário battousai.

Sano avançava, seu suor escorrendo pelo seu corpo.

-Eu o amo! E não vou desistir dele por nada!

Aoshi repelia, com os cabelos molhados da transpiração.

-Eu digo o mesmo!

A luta resistiu por muito tempo. Entretanto, chegou uma hora em que os dois pararam instantaneamente. Estavam exaustos.

Sano ajoelhou-se no chão, sem tirar os olhos de Aoshi.

-Não... Não acabei ainda com você... Eu... Eu só estou... Só estou descansando...Um pouco...

Aoshi estava igualmente ofegante, apoiado nas espadas, com os olhos fixos em seu oponente.

-Eu... Eu digo... Digo o mesmo... Eu vou... Eu vou acabar... Com você, Sanosuke...

Estranhamente, nasceu em Sagara um sentimento de curiosidade para com seu adversário. Se Kenshin o evitava, era porque Aoshi lhe agradava também, de alguma forma inexplicável. Tinha uma grande curiosidade para ver o que Aoshi tinha de tão especial, que fez Himura ficar tão confuso.

Sanosuke se levantou, ainda sem ar. Aproximou-se do espadachim, sem ostentação. Aoshi ficou com as mãos firmes no punho das kodachis. Sano ajoelhou-se perto dele. O ex-líder da gangue Oni tentou golpeá-lo, mas foi surpreendido por um beijo do oponente.

Aoshi ficou pasmo, mas a delicadeza do beijo lembrou-o de Kenshin. Inconscientemente, Aoshi se deixou levar pela ternura.

Sano o deitou no chão, ainda o beijando, e passou sua mão por todo o tronco do companheiro. Aoshi agarrou-se aos seus cabelos. Sagara começou a abrir a camisa do espadachim, passando sua língua pelo seu peito suado. Aoshi arrancou a blusa do lutador de rua.

Sanosuke passou a abrir a calça de Aoshi, que acariciava suas nádegas e tentava fazer o mesmo com seu sexo. Aoshi puxou a calça de sagara, afim de tirá-la.

Os dois corpos estavam nus, Sano em cima de Aoshi, ainda se beijando e sem haver qualquer penetração. Os dois estavam excitados, envolvidos com a ocasião inesperada.

Então Sano tentou penetrar no ânus de Aoshi, mas o espadachim o jogou de lado e colocou-se em cima.

-Não é minha posição ficar em baixo...

Aoshi o beijou. Tentou erguer as nádegas de Sano, porém fora o lutador de rua quem o impediu.

-E quem disse que é a minha?

Sano voltou a beijá-lo, e a voltou a sua posição inicial. Desceu ao sexo do parceiro e o estimulou usando a língua. Fez isso superficialmente, até ver que Aoshi estava envolvido com a excitação e tentou novamente penetrá-lo.

Novamente, Aoshi se colocou contra, e empurrou Sanosuke para o lado.

-Eu já disse que não sou eu quem fica por baixo!

-Você quer que eu dê para você, então?

-Que diferença isso faz? Você não deu para o Kenshin?

-O Kenshin é quem ficava por baixo, não eu!

-Problema é teu! Eu não sou o Kenshin! E sempre fico por cima!

Mesmo com a discussão, a excitação não morreu. Aoshi beijava Sano, que acariciava seu sexo e sua nádegas. A briga só aumentava o desejo que um tinha pelo outro (pelo menos, naquele momento).

Esfregavam seus corpos, estimulando seus órgãos até quase o puro êxtase. Claro, havia também os beijos longos e delicados, as mãos perdidas nos sexos e nas nádegas, as carícias com a língua, o suor de lubrificava a relação. Ambos, ás vezes, soltavam gemidos de vozes grossas, e xingamentos que vinham com a discussão.

Mas era pouco para Sano. Tentou novamente penetrar em Aoshi, que impediu da mesma maneira que a anterior.

-Eu já disse que você não vai conseguir nada comigo! Eu não vou dar pra você!

Sano, aproximou-se de seu ouvido. –Só um pouquinho... Tá tão gostoso isso... Deixa-me fazer ficar melhor...

Aoshi estava extasiado com as carícias intermináveis, mas mesmo assim manteve-se firme com seu princípio.

-Nem vem querer me tratar como um marica! Eu não vou dar pra você! Essa nunca foi minha posição!

-Sanosuke Sagara vai te fazer ver o céu...

-Não!

-Vamos, é indolor...

-... Tira esse negócio daí...

Sano esfregava-se com mais excitação em Aoshi, para amolecer o rígido princípio do parceiro. Mas de nada adiantou. Aoshi estava excitado sim, mas tinha ciência do que estava fazendo. Estava dominado pelo prazer, entretanto nada o faria deixar que Sagara o penetrasse.

No meio daquele envolvimento ardente, a porta do salão fora aberta. Sano pulou para longe de Aoshi, que escondeu seu sexo com as roupas espalhadas no chão.

-Ora, ora... Mas olha só quem eu achei no maior amasso.

Aquela voz não era de Kenshin, nem de Yahiko, muito menos de Kaoru. Mas não era estranha, nem para Aoshi tampouco para Sano.

Sano forçou seus olhos para ver se conseguia enxergar o invasor. Porém, a lembrança da voz viera primeiro.

-Saitou...

Saitou olhou-os e começou a rir. Quando piscaram, ele desapareceu.

-E agora?

Sussurrou Aoshi, colocando a roupa. Sano não respondeu. Estava tentando compreender o que o levou a fazer tal coisa.

-É tudo sua culpa!

Gritou Aoshi, irritadíssimo.

-Minha?

-Claro! Você quem me agarrou, seu maníaco! Pervertido idiota!

-Mas eu tinha um objetivo!

-Claro que tinha! Você queria me arrombar!

-Não! Não é isso!

Aoshi apanhou suas kodachis. Embainhou-as com raiva. Não sabia o que pensar. Caminhou até a porta.

-Ainda não acabamos com a nossa luta! A próxima vez que você tentar me seduzir eu arranco sua cabeça fora!

O espadachim desapareceu na escuridão da noite. Sano vestiu-se, pensando naquele acontecimento. Saitou havia o visto com Aoshi.

-Acho que ele não vai falar nada...

Murmurou fechando a porta do salão. Seus olhos se esbugalharam.

-...Ou vai?

Um vento frio começou. A lua fora encoberta por nuvens.



Continua...
Outro dia eu escrevo o desfecho desse triângulo amoroso... Ou seria agora, quadrado???