Por Fernanda del Rey
Era mais um dia calmo no distrito.... as
pessoas entravam e saíam com suas reclamações normais
sobre a segurança do
bairro. No escritório do chefe,
Culgan, Leona estava contando o que tinha acontecido naquele dia.
".... e a padaria da esquina pediu um patrulha por lá a noite, porque os moleques ficam passando drogas.... e..."
Eles foram interrompidos por um rebuliço do lado de fora da sala de Culgan. Culgan bateu a mão na testa.
"É ele, não?"
"Deve ser... quer que eu vá ver?"
Ela sai e encontra uma cena que seria unusual
em outro distrito.... Um elemento sendo arrastado pela nuca por um
rapaz muito menor. O rapaz bufou revoltado
e sua franja loira caiu sobre os olhos azuis.
"SE VOCÊ TENTAR ISSO DE NOVO, VOU TE LEVAR CHUTANDO ATÉ AS CELAS!!!!"
"Duvido!" duvidou o elemento.
O rapaz esguio, mas bem construído, deu um guincho de ódio e saiu dando bicas no homem, que reclamou:
"Pare! Eu entendi! Eu estou indo!!!!"
"Bom dia, Flik. Como foi sua manhã?" saudou Leona, acostumada que estava.
Flik ia levando o cara para cela, dando bicas e chutes nele.
"Bem, Leona, como sempre... tem café?"
"Você não precisa de café,
Flik...." disse Culgan, que saíra de seu escritório para
ver mais uma crise de fúria de Flik.
Ele deveria anotar isso na ficha de Flik,
mas quem disse que ele tinha coragem? O outro iria olhá-lo com aquela
cara
de moleque sapeca e sorrir, e ele iria
derreter.... como sempre.
"Oh, oi chefe..... e aí?" Flik acabou
de .... 'conduzir' seu prisioneiro para as celas e voltou para conversar.
"Não
preciso, mas quero...." Pegou uma xícara
de café e ficou sorvendo, calmamente, meio descabelado depois da
crise que
tivera.
"hm.... você anda muito estressado, sabia?" sorriu Culgan.
"Eu não ando estressado... eu sou estressado.... " Flik arrumou a franja. "Então, quais são as novidades de hoje?"
"Bom.... você tem que fazer uma ronda e...."
O dia transcorreu normalmente, e à
tarde, antes de sair, Flik foi chamado para a sala de Culgan. Numa das
cadeiras,
sentado pachorramente, estava um homem
grande como... um urso, vestido com um jeans puído e uma camisa
entreaberta.
"YO!" fez o indivíduo.
Flik olhou de rabo de olho para ele e perguntou para Culgan:
"Quem é ele?"
"Seu novo parceiro...."
Chilique.
"O QUE!?!?!?!?!"
"Não venha com essas crises apopléticas.... eu já decidi... ele é seu novo parceiro..."
"Oi, eu sou o Viktor!" levanta-se e estica a mão para Flik, que olha desconfiado para ela.
"Mas... eu não quero... nem preciso... de ninguém me enchendo e.. e... oh, céus...."
"Calma, princesa, não se estresse...." brincou Viktor.
"COMO ASSIM PRINCESA? CHEFE, EU VOU MATAR ESSE CARA ANTES DO FINAL DE SEMANA!!!!!!"
"Ho, ho, ho" foi a resposta de Viktor. " Vamos, donzela?"
"#@%!#!%!#!%!#"
Os dois saem, Flik chutando as cestas de
papéis pelo caminho, e páram na porta do distrito. Viktor
vira-se para Flik e
diz:
"Quer ir comer umas rosquinhas e tomar um café?"
"Não quero rosquinha nenhuma!" emburrado.
"Sei.... não é das que você gosta, né? HARHAR!"
Flik dá um murro em Viktor, que quase rola escada abaixo.
"Quer parar com essas piadas imbecis!? Por que você fica falando essas coisas, saco?"
Viktor cutuca o umbigo de Flik que aparece
por baixo da baby look azul que ele veste. " Nada.... mas achei que iria
te
irritar... e estava apenas brincando....
eu paro, garoto."
Desce as escadas, calmo, seguido por Flik apoplético.
"VOCÊ ME CUTUCOU! VOCÊ ME CUTUCOU!"
Viktor apenas ri, e é seguido por Flik apoplético até a cafeteria. Quando entram, Flik percebe onde está.
"Quando é que eu vim pra cá?"
"Você me seguiu reclamando, lembra?"
pede dois cafés e rosquinhas. "Sente-se e vamos conversar um pouco.
Bom....
você é o Flik, né?
De onde....."
"... ... ... certo, vou te dar uma trégua..... mas eu ainda NÃO GOSTO de você....."
Viktor dá de ombros e começa
a conversar com Flik, depois de uma meia hora ele paga a conta e levanta-se
para sair.
Flik o segue, mexendo no bolso.
"Quanto eu te devo?"
"Esquece... fica por minha conta, ok?"
"Mas...."
"Como boas vindas, sei lá...." dá um piparote na franja de Flik e diz. "Bom.... até amanhã então."
Flik fica parado na frente do bar, pensativo. "Ele.... oras!" vai para casa também.
No dia seguinte, Culgan está em seu
escritório lendo uns papéis quando ele ouve o guincho de
um caro brecando
bruscamente, e antes que ele possa reclamar,
Seed entra e diz:
"OI! Sabe aquele carro que tinha sido roubado?"
"?"
"EU ACHEI! .... só que está meio riscado, sabe?"
Culgan bate na testa.
"... e o pior é que ainda falta muito pra eu me aposentar.... "
Flik está sentado a escrivaninha dele, rabiscando uns papéis, pensativo, quando é distraído por um tapão no ombro.
"YO! Como vai, baby blue?"
Chilique.
"BABY BLUE!? DE ONDE VC TIROU ISSO? MAIS,
QUEM TE DEU O DIREITO DE ME CHAMAR
ASSIM?!?"
"Você só veste baby look... e azul.... logo vc é baby blue... harharhar!"
"..."
"Não gostou da piada?"
"... não gosto é de você!"
"..." Viktor volta para o lugar dele, e começa a escrever um relatório. Seed passa com um guidão na mão.
"Bom dia!"
"O que é isso, Seed?!" pergunta Culgan que ia entrando no distrito.
".... lembra a moto que eu peguei emprestada?"
Culgan bate na testa.
"Você quer acabar comigo, não é, Seed?"
Seed manda um beijinho para Culgan e vai
levar o guidão para o depósito. Flik continua escrevendo
seu relatório, mas
às vezes lança uns olhares
para Viktor. "Será que ele ficou magoado? ... E por que ficaria?
Eu não disse nada
de mais... só fui grosso feito um
jegue.... será que seria bom ir pedir desculpas? Mas aí não
ia parecer
que eu estou interessado?.... E QUEM DISSE
QUE EU ESTOU INTERESSADO? ... ninguém, eu é que
estou inventando.... vou lá ou não?"
Enquanto esses pensamentos cruzavam a mente
de Flik, Viktor veio e trouxe uma caneca de capuccino para ele.
"Toma.... fiz agora."
Flik fica olhando do caneco para Viktor, de Viktor para o caneco. "... me desculpe se eu fui rude, é que..."
Viktor sorri e diz: "Não esquenta...
eu sei que eu sou irritante às vezes..." dá um piparote na
franja loira. "...mas é bom
você se acostumar! HARHARHAR!" sai
e vai cuidar da vida. Flik fica pensativo olhando para a franja. "..."
A noite, Culgan manda os dois ficarem tomando
conta da padaria da esquina, onde dizia-se que havia pessoas passando
drogas. Os dois dirigem-se para o estacionamento.
"No meu carro ou no seu?" pergunta Flik.
"Que é isso, um convite?"
"@#$@$@$@"
"harhar.... vamos no meu, que é mais velho e não vai chamar a atenção...."
Alguns minutos depois, os dois estão
parados na esquina, dentro do carro. Viktor oferece salgadinhos, que Flik
recusa.
Enquanto esperam algo acontecer, tentam
travar diálogo.
"Você não come não, Flik?"
"Eu só não estou com fome..."
"É pra manter o corpitcho, é?"
"@#$$%... vc tem reparado demais no meu corpo...."
"Não tem como não reparar em alguém como vc..."
"..."
Antes que Flik possa responder qualquer coisa, eles vêem um movimento suspeito na esquina.
"Viktor, olha!"
"Eu vi.... vamos dar uma espiada mais de perto?"
"É uma boa idéia..."
****
Os dois saem do carro e vão ver mais
de perto o que está acontecendo. Por mais imaturo que seja na situação,
Flik não
pode deixar de notar como os braços
de viktor são musculosos.
<ISSO NÂO É COISA PARA SE PENSAR AGORA!!! .... eu estou trabalhando...>
Eles entram furtivamente no beco que há
do lado da padaria, e vêem duas sombras conversando. Flik aproxima-se
mais. Um aparenta ser um garoto de uns
14 anos e o outro parece ser bem mais velho. O mais velho oferecia um
pacotinho para o menor, que ponderava se
comprava ou não. Viktor adiantou-se e gritou:
"Parados!"
O menorzinho entrou em pânico e não sabia o que fazer, mas o mais velho puxou um canivete. Viktor sorriu e disse:
"Você não vai tentar me atacar com essa faquinha, vai, filho?"
O mais velho reparou repentinamente no tamanho de Viktor, e recuou um pouco.
"..."
"Baixe o canivete e venha conosco, calmamente, ou vc terá que vir a força!!!!" diz Flik.
O rapaz, contrariando as ordens de Flik, sai correndo, sendo seguido por Flik. Viktor grita:
"Não faça isso!!! Vc não
sabe se.... oh, droga!" ele vai atrás de Flik, e os dois entram
num beco seguindo o garoto. É
muito escuro lá e...
O estampido de um revólver pode ser ouvido.
"VIKTOR!!!"
****
"Flik, você sabe que foi irresponsabilidade
sua, não sabe?" Culgan, irritado como em poucas vezes, reclama com
Flik,
que está sentado com a cabeça
baixa e os olhos cobertos pela franja loura.
"..."
"Se fossem os mesmos erros de sempre, eu
ignoraria.. como sempre! Mas, dessa vez, você pôs a vida de
outra pessoa
em risco... por mais que você não
goste dele, eu acho que você deveria ser mais responsável
com a vida dos outros!"
"Foi... um acidente...."
"Talvez, mas Viktor foi baleado... ainda não recebemos a ligação do hospital dizendo se era grave ou não, mas...."
Nesse momento o telefone toca, e Leona atende, apressada:
"Alô? Sim, é do distrito 24....
o que? ah... claro... eu aviso o Senhor Culgan... mais alguma coisa? Claro...
claro...
obrigada." ela desliga e vira-se para Culgan.
"Disseram que ele está bem, só está sedado... e perguntaram
se alguém
quer visitá-lo, porque o horário
de visitas..."
Antes que ela pudesse acabar, tão
impulsivamente como sempre, Flik levantou da cadeira e saiu correndo para
seu
carro. Ia visitar Viktor, o quanto antes
melhor.
No carro, em direção ao hospital,
todo tipo de pensamento passava por sua cabeça: "De todas burradas
que eu fiz,
essa foi a maior... espero que ele fique
bem, epsero.... que.... " Suspiro. "O que eu espero afinal? Que ele
não me odeie? ... eu não
acredito em mim mesmo, às vezes...."
No hospital, a enfermeira tentou inutilmente
deter Flik, mas não pode fazer nada contra o ímpeto quase
enlouquecido
dele, e teve que deixá-lo entrar
no quarto de Viktor... mas foi chamar a segurança, de qualquer modo.
Flik sentou-se em uma cadeira do lado da
cama de Viktor, e ficou olhando para o outro no sono. Ele não parecia
muito debilitado. Deveria haver algo que
ele pudesse fazer para compensá-lo. Mas o que?
AGUARDE A SEGUNDA PARTE DE DISTRITO 24!