Flik entrou no apartamento de Viktor e olhou ao redor. Inesperadamente humilde, já que o salário deles permitia algo melhor. Ele devia guardar o dinheiro para outra coisa, supôs. Bom, não lhe interessava... na verdade, interessava sim, mas ele ia tentar intrometer-se ao mínimo na vida do outro... se bem que estar lá no apartamento de Viktor já era uma intrusão.
Foi até a cozinha procurar os utensílios de limpeza que usaria para fazer uma faxina no apartamento do outro. Achava que devia no mínimo isso a Viktor, que agora estava no hospital por sua causa. Flik tinha uma tendência a ser meio trágico demais. Sabia que o ferimento do outro não era tão grave assim, mas não podia deixar de imaginar que poderia piorar de repente ou qualquer coisa assim.
Foi ao quarto. Bagunçado, como o resto do apartamento, aliás. Não sabia por onde começar a arrumar, dada a confusão naquele apartamento.
Lembrou-se da desculpa que usou para o síndico deixá-lo entrar e dar-lhe a chave. Contara com a ajuda de Seed, lógico.... dissera que viera para arrumar a pedido de Viktor, que estava doente e não poderia vir por uns dias. O síndico ligou para a delegacia para confirmar certos dados que Flik dissera, e lógico, Seed confirmara tudo, e ainda pusera a ênfase de que fora o distrito que pedira esse favor. Dado isso, o síndico permitiu que ele entrasse.
Começou pelo quarto mesmo. Recolheu as roupas jogadas pelo quarto e começou a tirar os lençóis que pareciam não ser trocados a semanas. 'yuck.... ele não é muito asseado..'
Achou um porta retratos com a foto de um homem muito parecido com Viktor, mas grisalho, e uma fazenda ao fundo. 'Deve ser o pai dele... e uma fazenda? Não sabia que o Viktor era do interior... '
Acabou de arrumar o apartamento e saiu. 'Espero que ele não fique irritado.... porque eu vim aqui e arrumei.... '
***
'E aí, Flik? Funcionou aquilo?' pergunta Seed.
'Funciounou.... o cara me deixou entrar... 'brigado, Seed...'
'Por nada! É só pedir... ah, ligaram do hospital... disseram que Viktor sai hoje de lá.... quer ir buscá-lo?' sorriso maroto.
'Pode ser... que horas ele sai?'
'hum.... daqui meia hora...'
'Nossa! Vou indo, então.... fala pro Culgan...'
'Que você já volta... sei, sei.... pode ir...' diz Culgan, que ia passando.
Flik sorri e sai correndo. Vai para o hospital e fica na sala de espera, andando de lá para cá. Poucos minutos depois, Viktor desce, parecendo bem animado.
'Oi, Viktor! ... Melhor?'
'Tô sim, 'brigado.... veio me dar carona? Estou tocado...'
Flik faz cara feia e diz. 'Vamos logo.... pra onde você quer ir?'
'Pro meu apê, pode ser?'
'... Pode, pode...'
Vão pro carro. Viktor começa a ensinar as ruas, mas Flik o interrompe. 'Eu sei onde é...'
'Sabe? Já foi lá?'
'Dei.... uma passada...'
Viktor ergue a sobrancelha desconfiado, mas não diz nada.
Chegam no apartamento e o síndico cumprimenta Viktor... e Flik. Sobem. Viktor abre a porta e...
'O que aconteceu aqui??'
'Bom... enquanto você estava acamado eu...'
'Veio meter o bedelho na minha casa?'
'Eu não meti o bedelho em lugar nenhum!! Eu só arrumei esse... esse chiqueiro!'
'Bom, eu não pedi, pedi?'
'É assim que você me agradece???'
'Mas... eu não gosto que fiquem mexendo nas minhas coisas... e o que é isso?'
'É uma toalha de mesa, nunca viu, não?'
'Eu sei o que é! mas quem ... ah, você, lógico... Obrigado, mas eu não preciso de mão 'feminina' no meu apartamento.'
'...' chocado. 'mão... 'feminina'?' vira-se e sai, a última coisa que Viktor ouve é 'bom, ótimo, tchau!!!'
Suspira. 'Ô, menino do humor ruim....'
***
No dia seguinte, na delegacia, como sempre, Culgan estava atarefado, resolvendo o problemas que apareciam sem parar.
'Cadê o Flik?' pergunta para Seed, que está do seu lado, carimbando uns papéis.
'Chegô ainda não, Kuru-chan'
'...' suspira 'E por que?'
'Sei lá, ele não ligou pra avisar... deve ter pêgo trânsito, sei lá...' dá de ombros.
'... ah, deus... bom, chame o Viktor, então.... ele veio trabalhar?'
'Veio...'
Seed sai correndo, guinando nas curvas do corredor e vai até a mesa de Viktor.
'OI!'
'.. oi.'
'Vixe, que oi murcho! Bom, o Culgam tá chamando você...' sai correndo de novo.
Viktor resmunga e vai. Culgan pede para que ele se sente e começa.
'Quando o Flik chegar, eu queria que vocês fossem até esse endereço para intimar esse senhor a vir aqui... e como esse senhor é meio relutante....'
'Tá...'
'Você sabe por que o Flik não chegou ainda?'
'Não...' e sai.
Culgan suspira de novo e volta ao trabalho. Flik chega e vai sentar-se, ao que Viktor vem falar com ele.
'A gente tem que ir aqui, ó... '
Flik levanta sem uma palavra e vai para o carro. Senta-se e fica esperando Viktor.
'Você não vai ficar com doce, né?'
'Nós não temos que conversar pra trabalhar, temos? Então poupe-se do trabalho.' e fica emburrado.
Viktor suspira e entra no carro. Aquela seria uma longa semana.
***
Já fazia duas semanas do 'incidente' entre Viktor e Flik, e Flik ainda estava falando o mínimo possível com Viktor, somente o necessário. Viktor se encheu disso e resolveu esperar Flik sair do serviço para conversarem. Sentou-se na escada na frente da delegacia e ficou esperando.
Flik saiu e desviou de Viktor como se não o conhecesse. Viktor levantou, pegou Flik pelo braço e arrastou-o para o carro.
'Ei! Me solta!' sacudia-se ao reclamar.
'Eu quero conversar com você e sei que você não vai ouvir a não ser obrigado.' entra no carro com Flik e sai dirigindo.
'Você não pode fazer isso! Sabia que é ilegal coagir meus movimentos?'
'Tá, tá, foda-se...'
Flik ficou olhando pela janela, de costas para Viktor.
'Por que você é tão infantil?'
'...' Flik não responde.
'Pelamordedeus, se a gente trabalha junto você podia ser menos intransigente, não?'
'...'
Viktor pára o carro e pega Flik pelos ombros, virando para poder olhar em seu rosto.
'Desculpe pelo que eu disse.. foi mal, sei lá.... mas não precisa ficar TÃO ofendido!'
'Mas eu fiquei! Eu... quis... sei lá, pagar pelo acidente e... e... não pensei em nada melhor, desculpe!' Olha pra baixo e a franja loira cai na frente dos olhos azuis. '...'
'... Puxa... desculpa mesmo... Flik?' pega o queixo do outro e o levanta para poder olhar nos olhos dele. 'Desculpa?'
Flik sorri, meio segurando as lágrimas. '... Eu... tudo bem...'
Viktor sorri também e volta a dirigir, deixando Flik no apartamento dele.
'Até... sei lá... segunda?'
'É, até...' Flik entra no apartamento e fica olhando para o pé, pensando na vida.
Viktor, por sua vez, liga o carro e volta para casa. 'O que eu fiz? Eu quase... beijei o Flik! eu.... preciso me conter... acho.... ugh'
***
AGUARDE A TERCEIRA PARTE DE DISTRITO 24!
Data: 06/01/2002
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