Viktor olhava para o lugar vazio à sua frente. Fazia duas semanas que seu Blue Thunder tinha sido capturado por Luca. Ele ficava em cada momento livre pensando no que poderia ter acontecido, e seus pensamentos iam das idéias mais otimistas até as hipóteses mais escabrosas em segundos.

Anabelle sentou-se no lugar vazio à sua frente e Viktor olhou hostilmente para ela. Sua presença, ali, no lugar vazio, era como uma intrusão em seus pensamentos, em sua melancolia, em sua vida. Mas foi fugaz esse momento e ele cumprimentou-a.

"Yo! O que a traz aqui a taverna, Anabelle?"

"Vim ver você... eu fico preocupada com essa sua depressão... Você esta bem?"

"Lógico que estou!" sorri e bate no braço musculoso. " Forte como um touro!"

Anabelle suspira e fica analisando o rosto de Viktor, as olheiras que lhe marcam os olhos acinzentados. Resolve não dizer nada para não aborrecê-lo, mas vê-lo tão sofrido pelo rapaz deixava-lhe com uma sensação de desconforto de que ele não ficaria assim por ela...

*****

As tropas de Luca moviam-se em direção a Muse. Mais um dia de viagem.... mais um dia de viagem e ele conheceria o homem que tinha o coração do rapaz de franja loira, que naquele momento era escoltado por Seed e tantava, obstinadamente, derrubá-lo do cavalo, chutando-o.

"Pare!" reclamava Seed.

"Cai! Cai! Morre!!" empurrava Flik, mais por birra que por raiva.

Luca olhava Flik, e um sorriso flutuava em seus lábios. Como aquele guerreiro era... imaturamente atraente. Quantos anos teria? Vinte? Vinte e um? Perguntaria depois.... Deteve-se por um segundo, pensando preocupado na atração crescente que sentia pelo garoto. O que haveria de tão interessante nele?

Foi interrompido pelo som de alguém caindo de um cavalo. Suspirou e olhou para trás. Seed havia caído e, no momento de hesitação de Flik, entre fugir e socorrer Seed, Luca pôde se aproximar.

"Matando meus generais, Flik?"

"Eu não matei! Só derrubei!"

Seed, no chão.

"Ai... minhas costas dóem..."

Luca sorri e resolve armar acampamento ali mesmo. Armadas as barracas , ele arrasta Flik pelo braço em direção a sua barraca, já que o rapaz resolvera ser anti-cooperativo e tentar fugir. Dentro da barraca, Flik ficou longe, meio hostil meio esperando. Luca sentou-se e ofereceu-lhe uma cadeira.

"Sente-se.... vamos conversar um pouco antes de dormirmos...."

"Como assim.... 'dormirmos'?" pergunta Flik, desconfiadíssimo.

Luca suspira e responde.

"Se quiser passar a noite em claro, passe... eu vou dormir..." levanta-se e caminha em diração a Flik. "Você não percebeu que se eu quisesse eu teria feito?"

Flik hesita e resolve relaxar e sentar-se na cadeira que Luca lhe oferecera. Luca deu um sorriso radiante... era tão raro o rapaz relaxar assim, em sua presença, simplesmente observando-o com aqueles olhos azuis. Ofereceu um suco para Flik, que aceitou, mas não bebeu.

"Você não acha que eu te prendi por tanto tempo só para envenená-lo agora, não é?"

"Não é isso... é que.... eu não gosto de suco de maçã..."

Em vista de tão inesperada resposta, Luca gargalhou como não fazia há anos.

"Hahahahahahahahahaha!"

"Qual o problema? Eu sou obrigado a gostar disso, é?" fica emburrado.

"Não, mas essa era a última resposta que eu esperava de você..." sorri. "Quantos anos você tem?"

"Por que?"

"Eu só estou perg..."

"Quanto você acha que eu tenho?"

"... vinte, vinte e um, por aí..."

Revolta.

"Eu tenho vinte e sete!!!!"

"Sério? Bom, não foi por zombaria que eu disse menos... você parece mais novo...."

"É, todo mundo me diz isso..."

"É seu cabelo, acho."

"Que tem ele?" segura a ponta da franja loira entre os dedos e envesga um pouco para olhá-la. Luca admira a cena e responde.

"É comprido e espetado... mas só na franja... te dá um ar descabelado..."

"Você também é descabelado."

"Verdade..."

"Também quero saber a sua idade."

"Quanto você..."

"Vinte e cinco? Vinte e seis? Vinte e sete? Trinta? Trinta e cinco? Quaren..."

"Assim não vale!"

Flik apenas sorri em resposta.

Luca não resiste e aproxima-se, roubando um beijo de Flik, que enrubesce e olha para a mesa. Luca levanta-se e, aproximando-se por trás de Flik, abraça-o e sussurra em seu ouvido.

"Você não me odeia tanto assim, odeia?"

"... ... Não me irrite ... ... "

"Desculpe..." beija levemente a orelha de Flik, que não reage, apenas treme. Vendo um bom sinal nisso, Luca continua com esses beijos leves, descendo pelo pescoço de Flik.

Flik suspira e fecha os olhos, esperando que Luca continue com aquele carinho tão bom, mas sem falar nenhuma besteira, para estragar tudo e irritá-lo. Luca desceu as mãos pelos peito de Flik e o 'clique' do peitoral que segurava sua capa pode ser ouvido. Logo esta jazia sobre uma cadeira próxima.

"... Luca..."

"... quando quiser que eu pare, peça..." diz Luca, surpreendendo-se com sua próprias palavras.

"..." Flik suspirou, apenas deixando, sem querer pensar muito, já que o abraço era tão delicado... mas subitamente lembrou de seu companheiro de armas e ele não pôde deixar que aquilo continuassse. Empurrou Luca gentilmente e disse.

"Não... eu não quero... eu..." levantou-se e afastou-se de Luca, que lhe deu um sorriso tristonho.

"Por que?"

"Não é você... mas.... eu não posso trair Vikt..."

Antes que Flik pudesse completar sua frase, Luca, irritadíssimo pela simples menção do nome de Viktor, teve ímpetos de esganar Flik, mas conteve-se. Saiu da barraca, e esmurrou um guarda do caminho.... chamou por Seed.

"SEED!"

Este apareceu, meio ressabiado.

"Sim, Príncipe Luca?"

"Fique em minha barrraca hoje.... vou para a sua... " e passou por Seed sem dizer mais nada. Seed foi para a barraca e entrou, meio desconfiado.

"Oi?"

Flik apenas suspirou e não disse nada. Seed achou estranho e aproximou-se.

"Que que cê tem? Tá estranho... Olha sou eu, Seed!!" disse, tentando animar Flik. " Não quer me porrar? não? ... er.... " senta-se num canto e fica quieto. Esse tal era pior depressivo que irritado. Olha pro teto e suspira.

"Oh, vida...."
 
 

Finalmente, o capítulo três! Desculpem pela demora, mas eu só entrei de férias agora.... mas há muitos mais porvir.... ^.~

17/12/2001
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