Lamartine
Só um olhar por compaixão te peço,
Um olhar, mas bem lânguido, bem terno.
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Quero um olhar, que me arrebate o siso,
Me queime o sangue, m'escureça os olhos,
Me torne delirante!
Almeida Freitas
Nunca estivera tão tenso, ansioso. Após seis anos, finalmente iria encontra-lo. Não na melhor das circunstâncias, mas o motivo não lhe importava, diante da possibilidade de vê-lo.
Seguia as instruções de um morador, do único vilarejo da região. Estava andando por duas horas, e só o que via era neve, a paisagem desértica mais branca que já presenciara. E como era frio! Para quem havia vivido nas ilhas e nos litorais mediterrâneos, aquilo era estar dentro de um freezer. Não conseguia sentir os pés, congelados apesar das inúmeras meias dentro da bota.
Em pouco tempo, avistou uma pequena casa, aliviado. Desceu uma montanha de neve, tomando cuidado p/ não cair e sair rolando ladeira abaixo. Aproximou-se da moradia e bateu na porta, mas ninguém atendia. Olhou para dentro das janelas, parecia estar vazia. "Ótimo!", cansado e tremendo, ouvia até o bater dos dentes uns contra os outros, sentou-se na escada da entrada, decidido a esperar por uma alma viva.
Depois de um bom período, ouviu latidos e uma voz que gritava. Abriu os olhos com dificuldade, nem percebera que havia adormecido. Viu um homem alto acariciar a cabeça de quatro cães, e dar-lhes comida. A roupa pesada e o capuz que usava impossibilitava uma identificação. Finalmente o homem virou-se para ele e começou a rir, tirando as luvas e o capuz, revelando-se.
- Milo? Eu não acredito!
A expressão de estranhamento passou para uma de alegria ao reconhece-lo, levantou-se e correu ao seu encontro, abraçando-o sem cerimônias.
- Camus!
- Céus! Está tremendo como uma vareta! Há quanto tempo está me esperando?
- Não sei...acabei dormindo.
- Porque não entrou na casa, estava aberta.
- Eu não verifiquei...-se soubesse não teria virado uma pedra de gelo ambulante- De onde está vindo?
- Do vilarejo, fui comprar comida.
- Sério? Saí de lá a umas duas horas atrás, vim andando até encontrar sua casa.
- Duas horas a pé? Ficou maluco?Não deve estar sentindo o corpo inteiro! Entra logo, precisamos esquenta-lo rápido!
- Me esquentar? Hum...que proposta tentadora.-disse para si mesmo.
O comentário feito em voz baixa chegou aos ouvidos de Camus, que ruborizou de imediato, deu graças por estar de costas para ele. Acendeu a lareira, colocando mais toras de madeira, alimentando o fogo.
Tirou as pesadas roupas, ficando apenas com uma camisa de gola alta e uma calça de algodão pretas. O interior era quente e aconchegante, contrastando com o frio de fora.
- Isso aqui é tão desconfortável.-disse Milo, sufocado com os inúmeros agasalhos que tivera de vestir.
- Toma, veste isso e senta naquela poltrona, bem perto do fogo.- jogou-lhe uma muda de roupa.
Camus ficou observando-o trocar de roupa, quanto tempo se passara, uma eternidade. Sua aparência mudara, mesmo que ainda lembrasse o garoto com quem vivia grudado no santuário. Havia deixado o cabelo crescer, como o aconselhara, bem cuidado, descia pelas costas talhadas em cachos. Estava bem mais robusto, os músculos trabalhados não lembravam nem um pouco aquele corpo de adolescente desajeitado e magro, era um homem definido, completo. O olhar malicioso e indolente nos olhos azuis, os lábios que crispavam sarcásticos, o nariz, continuavam como sempre lembrara. Notando que era analisado intensamente, Milo sorriu.
- O que está olhando?
- Estava vendo como mudou nesses seis anos.- pegou uma garrafa de bebida e encheu dois copos.
- Muito? No que eu mudei?
- Na cor da pele, ta bem bronzeado, quase preto.
- Ora! O que queria? Vivo próximo do Trópico do Equador! E você está mais branco, tanto que até dá para te confundir com a neve lá fora.
- Bah! - deu-lhe o copo.
- Argh! O que é isso?- perguntou depois de tomar todo o líquido num gole só.
- Há há, é vodka. Desce queimando, não desce?
- Ô se desce! Dá mais aí!
- É para esquentar, não para se embebedar.
- Deixa de ser careta, to morrendo de frio. Que lugarzinho tu foi se meter, ein?
Enchia o copo várias vezes, sob o olhar aflito de Camus. Desistiu, sabia que não adiantava implicar, era teimoso.
- Vou preparar o jantar.- deixou-o sozinho na sala.
Milo permaneceu fitando o fogo que crepitava na sua frente. Ele era o mesmo, igualzinho ao que guardara na memória e no coração. Pensara tanto na viagem para a Sibéria, no que o esperava, imaginara se ainda seria afetado por sua beleza, inebriando-o como antes. Acabara de receber a resposta das suas duvidas no momento em que pôs os olhos nele novamente. O ar de seriedade e elegância não o havia abandonado, parecia até mais culto e maduro. O corpo esbelto e delicado, de um anjo que sempre habitou seus sonhos mais doces.
Sem perceber, acabara tomando a garrafa inteira. Sentia o rosto afogueado e meio tonto, não deveria ter bebido. Dirigiu-se cambaleante para o aposento que julgou ser a cozinha. Encontrou o francês de costas para a porta, cortando alguns legumes. Não resistindo, Milo achegou-se sorrateiro, abraçando-o por trás, dando um enorme susto no outro.
- Quer me matar?- gritou apontando-lhe uma faca.
- Desculpa! É assim que se trata um amigo que não vê a seis anos?
- Uma garrafa e já ficou embriagado, não acredito.- resmungou.
Abraçou-o mais forte, encostando o queixo no seu ombro, observando-o preparar a comida. Sentindo seu tórax sobre o tecido o tecido áspero, quis senti-lo diretamente. Enfiou as mãos sob a camisa, encostando o nariz na sua nuca, aspirando o perfume que tanto sentira falta. Ao sentir as mãos de Milo passearem por seu tronco, Camus respirou fundo, tentando manter o controle sobre si.
- Milo...- engoliu em seco- Pelo amor de Deus, suas mãos estão geladas!
- Por isso mesmo, só estou esquentando elas.
- Não te dei essa liberdade!
- Porque está agindo assim comigo? Prometeu que nunca ia mudar, e parece um estranho para mim!
- Nós sempre mudamos sem perceber, Milo.
Aborrecido, o cavaleiro sentou-se na mesa da cozinha, apoiando a cabeça pelos cotovelos. Aquário colocou a forma com a carne no forno, e sentou-se na sua frente, do lado oposto da mesa, os joelhos encostando nos seus debaixo da pequena tábua.
- Tantos dias de viagem, para chegar aqui e levar bronca!
- Desculpa, acho que fiquei velho e rabugento. É o que dá ter de cuidar de uma criança.-pegou sua mão e entrelaçou seus dedos , surpreendendo-o - Diga o que veio fazer aqui, que para me visitar não foi. Não do modo que as coisas andam no Santuário.
- Está sabendo da situação?
- Hyoga acabou de voltar do Japão, e me deu uma idéia do que se passa por lá.
- Sabia também que seu aluno é um dos traidores?
- Essa história anda um tanto confusa. A algum tempo, Hiyoga recebeu uma carta do Santuário ordenando que ele eliminasse os participantes do Torneio Galático. Ele volta e diz que o Mestre é o traidor e que a verdadeira Athena seria a moça, Saori Kido. Não entendo mais nada.
- Aioria veio com o mesmo argumento, depois de ser mandado para matar Pégasus. Creio que fizeram sua cabeça, e depois, ele nunca foi confiável, já que era irmão do traidor.
- Acredita que essa menina é uma impostora?Meu aluno nunca foi de confiar nas pessoas, e nunca tive muita confiança no Mestre, ele age de forma tão estranha.
- Vim convoca-lo para a batalha que poderá ocorrer, o Mestre recebeu uma carta de desafio dessa moça. A ordem é de todos irmos defender as Casas Zodiacais e impedirmos que cheguem à deusa.
- Estão loucos? São crianças!
- Eu sei. Não está pensando em tomar partido de Cisne, está? Não quero ser obrigado a desafia-lo para uma luta, pois não seria capaz de ataca-lo.
- Eu não seria doido de enfrentar outro cavaleiro de ouro, mas também não tomarei partido de ninguém. Irei por obrigação e por Hyoga, se ele irá mesmo lutar, terá de passar por uma última lição. Falhando, não será digno da armadura que conquistou, nem será capaz de enfrentar cavaleiros tão poderosos.
- Muito bem, há um jato nos esperando no aeroporto de Moscou. Snif, snif. Tem alguma coisa queimando?
- Meu Deus, a carne!- correu para o forno- Ah, eu não sirvo para cozinhar, sou um fiasco.
- Que nada, é só raspar a parte queimada. Além do mais, eu gosto de bem passada, viu?- colocou um bom pedaço na boca- Aiaiaiai, queimei a língua1
- ...é, estamos de volta.
A situação era grave, uma batalha finalmente havia começado. O Grande Mestre parecia estar mesmo perturbado com a garota, devia haver um motivo muito forte para teme-la tanto, porque aquilo não passava de medo. Esperava que Hyoga superasse a última tarefa que lhe daria, não queria que fosse desse jeito brusco, mas não tinha alternativa. Era ainda muito jovem, seria terrível o que faria.
Viajaram em silêncio no jato, Escorpião não se atrevia a quebrá-lo. Como sempre, Camus era quieto e reservado, levando em conta que o veículo aéreo transportava mais pessoas além deles. Estava meio distante, introvertido. Compensava a falta de conversa com alguns olhares e sorrisos furtivos. Em certo momento, Milo viu pelo canto dos olhos, que o outro cavaleiro olhava para fora da janela, de olhos fixos e vazios, melancólico e preocupado, imaginou que deveria ser pelo aluno. Teria de lutar contra ele, ver um discípulo ser ferido mortalmente pelas próprias mãos deveria ser horrível. Lembrou-se das cartas que freqüentemente trocavam, ele dizia nelas que tinha orgulho do garoto que havia criado para ser um guerreiro.
Segurou sua mão, a fim de consola-lo, despertando Camus de seu devaneio. Dirigindo o olhar para a mão que segurava a sua, sua expressão tornou-se mais pesada e os olhos mais duros, como se tivesse surgido algum mal pressentimento. Apertou os dedos de Milo, como se quisesse quebrá-los, estranhou essa reação.
- Estamos chegando, iremos pernoitar num quarto de hotel, tudo bem?
- Hã? Está bem.
Chegando ao local, Milo alugou um quarto apenas, com duas camas. Seria sua última noite com ele, antes da chegada de Saori Kido, não queria se separar dele por enquanto. O companheiro não contestou, apenas o seguiu como um boneco até o aposento. Sentou-se na cama como um peso morto, ainda quieto. Começando a perder a paciência, Milo pegou uma cerveja no frigobar irritado.
- daria para abrir essa maldita boca, e falar alguma coisa com mais de três palavras?
- Larga isso aí, te proíbo de beber de novo!- foi a resposta que recebeu.
- Pelo menos falou...- devolveu a bebida.
- Esse lugar é muito quente!- abriu as janelas e tirou o casaco.
- Está escurecendo, vai esfriar daqui a pouco.
- Vamos dormir cedo, amanhã será um dia difícil.
- Difícil, não me faça rir. Não precisaremos fazer esforço para acabar com eles!
- Não os subestime, já lhe disse isso uma vez. Um deles é meu discípulo, sei do que ele é capaz.
- Oh, não queria ofender o seu menino.- falou num tom jocoso.
- Hn. Vou tomar um banho gelado antes de me deitar.
- Que humor...- esguichou os olhos para dentro do banheiro- e que corpo.
O francês novamente ficou vermelho de vergonha, nunca ultrapassara os limites daquela maneira.
Como prometido, Camus deitou-se logo que saiu do banheiro. O outro permanecia acordado na cama ao lado, incapaz de fechar os olhos. Sentado com as pernas cruzadas, observava o cavaleiro adormecido, num sono angelical. Dormia apenas com um calção, descoberto via-se o tronco molhado de suor, a boca entreaberta.
- Num lugar paradisíaco como esse e numa noite quente como essa, você só pensa em dormir...que desperdício. - dizia para si mesmo em voz alta.
- Será que sou mesmo um masoquista, como um dos cavaleiros de prata disseram uma vez? Gosto de ser tratado como um cachorro, que você acaricia e depois chuta e ignora? Eu devia aproveitar e te sufocar com o travesseiro, mas me conhecendo, eu sei que vou acabar é te beijando.- aproximou-se da outra cama, ajoelhando-se da cabeça repousada.- passei todos esses anos na expectativa de te rever, de te tocar. Quantas noites sonhei com você, com seu corpo, e quando acordava o único vestígio que restava dele era no meu próprio corpo, entre minhas pernas. Nesse ponto até que o idiota do Afrodite foi muito útil, aliviando um minha dor temporariamente. Cultivei tanto uma esperança, em vão. Recebeu-me novamente a patadas. Deveria ter aprendido a muito tempo, ao invés de continuar insistindo numa coisa inútil.- deixou as lágrimas amargas rolarem em abundância.- Eu queria poder lhe falar, apenas conversar, era o mínimo.
- Eu te recebi a patadas?- a voz abafada de Camus assustou-o.
Levantou-se embaraçado e voltou para a sua cama, enxugando o rosto com as costas das mãos. O francês abriu os olhos lentamente, mirando-o.
- E-eu não queria te acordar, juro. Sei que precisamos dormir, boa noite!- atropelava as palavras, e se cobriu, escondendo o rosto.
- Não senhor! Nós vamos é conversar agora, não é o que queria?- arrancou o lençol do seu corpo.
Milo sentou-se na cama, puxando os joelhos para junto do peito e escondeu a cabeça entre eles. Suspirando, Camus sentou-se ao seu lado, passando a mão no alto de sua cabeça.
- O quanto você ouviu?- perguntou hesitante.
- Acho que tudo...
- O que?
- Você acha que eu consigo dormir com um calor desses, me acostumei com o frio! Estava tentando, mas não consegui porque alguém estava chorando como uma menininha.
- Vai para o inferno!- jogou o travesseiro na cara do outro.
- Não, obrigado. Já estive lá, num gostei muito.
- Pára de brincar comigo!
O cavaleiro de gelo parou de rir, ficando um bom tempo em silêncio.
- Eu te maltratei?
Milo encolheu os ombros, olhando para os pés.
- Não foi o que eu quis dizer. Sempre foi muito bom para mim, fez muito sendo meu amigo e me aturando. O problema é que eu acabei querendo mais do que você podia me dar. Tinha medo de ser rejeitado...
- Medo?-pôs a mão na nuca, massageando- eu também tive medo.
- Hã?
- É...medo de me envolver, no que quer que fosse. Adorava os tempos que ficávamos juntos, tranqüilos. Mas o modo como praticamente tomou posse de mim me assustou, me sufocou. Não queria me ligar a ninguém, pois só traria sofrimento. Criar laços afetivos nos faz ficarmos presos, no mesmo lugar, não vamos para frente, porque temos medo de perder a pessoa que gostamos. Entende?
- Mais uma de suas brilhantes teorias? Estou farto delas! Porque não as esquece e simplesmente vive? Seja irracional pelo menos uma vez, esqueça tudo pelo menos por um instante. O mundo não é feito só de ciência, de pensamentos racionais e morais, as pessoas têm sentimentos que as guiam e estimulam. Porque tem de ser tão frio e insensível a eles? Porque tem de sempre estar me julgando?
Terminou de jogar de enxurrada tudo o que havia segurado até então. O outro estava com os olhos arregalados, Milo se recompôs, ajeitando a franja. Aquário crispou os lábios e estreitou os olhos, finalmente respondendo.
- Eu não sou desprovido de sentimentos, não sou tudo isso que diz.
- Ah, não? Então prove!
- C-como?
Num rompante, segurou a cabeça do cavaleiro, cobrindo a boca com a sua. Assustado, Camus segurou seus ombros afastando-o abruptamente.
- O que está fazendo?
- Não tente raciocinar, apenas sinta!
Admitindo sua derrota, soltou seus ombros, relaxando e fechando os olhos, deixando-se à mercê. Sorriu vitoriosos, aproximando os lábios de uma das faces, podia sentir-lhe a respiração contra a pele. Beijou-o mais calmo e tímido, movendo a boca sobre a outra que permanecia fechada. Forçou a passagem com a língua, invadindo-lhe o interior. Camus correspondeu um pouco relutante a princípio, mas foi-se deixando levar pela insanidade que tomou conta de si. Abraçou pelo pescoço, a fim de aprofundar mais o beijo, numa fome insaciável.
Separaram-se em busca de ar, mirando um ao outro. O olhar lânguido do francês encontraram seu olhar ardente e faminto. Milo o fez se deitar, passando seu corpo por cima do dele, prendendo suas mãos acima da cabeça.
- Foi aqui que começamos, e aqui vamos terminar.- falou de encontro à boca, antes de encobri-la novamente.
Dessa vez não houve desconforto nem interrupção, Camus decidiu deixar-se ir como um barco sem rumo no mar, ir para onde ele quisesse. Estava cansado demais, precisava acalmar sua alma. Segurou-o forte junto a si, sentindo as batidas do seu coração em compasso com as suas. As línguas se entrelaçavam, numa dança que premeditava um desejo de se possuírem mais e mais, até que nada restasse de suas forças.
As mãos de Milo partiram numa jornada pelo corpo do cavaleiro, sem abandonar-lhe os lábios, que continuava a beija-lo ávido. Quando alcançou os quadris, puxou para mais perto, fazendo sentir o amor que tanto guardara dia após dia.
Impaciente, tirou as roupas de ambos, os sexos roçando-se sem barreiras. Interrompendo o beijo e as carícias, Milo afastou-se, admirando a beleza que lhe era desvendada. O corpo esguio de Camus esparramado na cama, ofegante, exibindo uma opulência que o hipnotizava.
- Que...está...olhando?
- Como é lindo...
- Pára com isso, sabe o quanto eu fico envergonhado com essas coisas.- desviou o olhar.
Rindo do gesto infantil, voltando a toca-lo. Seguiu beijando a parte interna das coxas, chegando no objeto de luxúria. O francês tremeu ao vê-lo deslizar a língua por toda sua extensão, chegando ao topo, para depois descer preenchendo-o com a boca úmida e quente. Arqueou o corpo para trás, os gemidos saíam mudos da garganta. Os cabelos longos de Milo espalhavam-se pelas suas pernas e barriga, só podia ver o alto da cabeça subir e descer numa tortura terrível. Para piora-la, parou o que fazia, aumentando-lhe ainda mais a dor.
- Acaba logo com isso, por favor!- suplicou-lhe um alívio.
- Você vai acabar.
Viu deitar-se de costas, com as pernas arqueadas. Entendera o convite, mas ficou hesitante.
- Eu não quero te machucar, Milo.
- Me feriu várias vezes, sei que não fará isso de novo, irá me satisfazer.
Puxou seus quadris com as pernas, encorajando. Desejava ser dele, ser possuído completamente, e assim poder sentir que também era seu, como sempre o quis. Guio-o para o interior apertado, Camus tentava entrar devagar, e observava qualquer reação de dor do amigo. Este só lhe sorria terno, incitando a invadi-lo com cuidado e carinho. Quando preencheu por inteiro, viu-o respirar fundo. Movimentou-se pouco e lentamente, para não fazer-lhe mal, mas o modo como Milo rebolava , era impossível manter o controle por mais tempo. Segurou-lhe pelas nádegas, levantando-o um pouco acima da cama, facilitando as investidas, as quais correspondia com fúria e abandono. Os gemidos ecoaram pelo quarto, chegavam ao limite, atingindo o clímax do êxtase. Camus deixou o corpo cansado e molhado desabar no colchão, Milo o abraçou, repousando a cabeça na curvatura de seu ombro.
- Consegui provar o que queria?
- Precisou de uma ajuda...Pensei que os cavaleiros de gelo fossem frios, foi muito caloroso comigo.
- Acho que você aqueceu meu coração, Milo.
- Camus...promete que nunca vai me deixar novamente?- viu a expressão do outro se transformar- O que foi?
- Porque simplesmente não deixamos como está, sem promessas.
Acariciou suas costas, para conforta-lo. Cantarolando uma canção francesa, Milo adormeceu em seu peito, feito um menino carente. Ajeitou-lhe o cabelo que grudara na testa e nas faces, e pôs-se a admira-lo, com os olhos carregados de tristeza.
- Essa promessa eu não poderei cumprir, mon ange.
Abriu os olhos com dificuldade, o corpo ainda cansado, mas satisfeito, da noite anterior. Aquário havia se banhado e arrumado, ritual que presenciou sonolento, ele tinha pique para tudo aquilo.
- Bom dia.
- Bom dia...Ta com um ótimo aspecto.
- E você parece que foi atropelado.
- Deve ser porque alguém fez isso comigo durante a madrugada.
- Ah, eu te adoro também.
Entreolharam-se e caíram na risada. Milo engoliu o café da manhã e se enfiou debaixo do chuveiro, num banho rápido, não tinham mais tempo. Antes de saírem do quarto, deu inúmeros beijinhos nos lábios de Camus, pendurando-se no pescoço. Ajeitaram-se e saíram para o corredor, as pessoas que ali se encontravam os olhavam e cochichavam umas com as outras.
- Porque nos olham desse jeito?-sussurrou.
- Por causa do escândalo que fez ontem a noite, não podia ter se contido?- saiu rapidamente, escondendo o rosto envergonhado.
- Eu?- o seguiu apressado.
- Não, minha mãe! Vamos embora.
Chegaram no Coliseu e partiram em direção das Casas Zodiacais. Subiram as escadas juntos, Camus parou na Casa de Libra, que estava vazia.
- Eu fico por aqui, não vai me dar um beijo de despedida?
- Despedida? Mas...
Foi interrompido pela sua boca, num beijo doce. Abraçou-o forte, como se tivesse medo de o perder. Milo estava confuso, sem entender aquela atitude, olhou-o indagador, mas o outro apenas sorriu acariciando sua face com a ponta dos dedos.
- Um som de avião, eles chegaram. Preciso ir para a Casa de Escorpião.- soltou-se delicadamente do abraço.- Tchau!
- Adeus.
Seguiu para sua Casa perturbado, devia estar confundindo. Parecia-lhe que Camus premeditava que alguma coisa iria acontecer, era loucura estar pensando nisso.
A batalha acontecia no Santuário, o fogo de Escorpião acabara de se apagar. Havia realmente se enganado, não devia ter subestimado os cavaleiros de bronze. Percebeu se erro a tempo de salvar Hiyoga da morte. Camus tinha razão em possuir orgulho do rapaz, era persistente. Poupou-lhe a vida, mas sabia que apenas dera-lhe uma prova difícil. Dera-lhe mais uma chance de provar ao mestre que era digno de ser seu discípulo e de sua armadura.
Um rastro de sangue percorria a Casa em direção as escadas, o garoto as subia lentamente. Ficou algum tempo por ali, sentindo o cosmos de Athena enfraquecer. O fogo de Aquário estava prestes a se extinguir, e com ele, mais dois grandes cosmos.
Reconhecendo um deles, Milo caiu de joelhos com a mão na boca, contendo um gemido de dor. Ele sabia que iria morrer, e acabou não percebendo quando lhe dissera adeus. Lamentou não ter tido a chance de se despedir, nem de revelar-lhe seu amor.
Encostando a cabeça no chão, com as mãos em volta do estômago, que parecia dilacerar dentro das entranhas. Desabou em lágrimas, seriam as últimas que verteria por alguém. Iria expulsa-las até seca-las completamente.
Saori Kido surgiu erguendo um báculo, acompanhada de Mu, Aldebaran, Aioria e Shaka. Juntando-se a eles, passaram pelas casas restantes, ressucitando os guerreiros que bravamente os havia desafiado. Na Casa de Aquário, Milo contemplou o corpo congelado, enquanto Cisne era revivido. Franziu a testa, haviam três gotas de gelo próximas do canto do olho cerrado. Agachou-se para ver melhor, tocando uma, que derreteu a seu toque, confirmando o que eram aquelas gotas de orvalho.
Ele realmente havia chorado no fim, deveriam ser as primeiras e únicas lágrimas em toda sua vida."Acho que você aqueceu meu coração, Milo".
Despediu-se silencioso. Pegou Hyoga no colo, a
herança que deixara ao mundo, levou-o para junto dos amigos.
FIM