Não Sem Mim

Por Lucretia


Louis saíra para dar uma volta. Colocara suas mãos no bolso da calça de seu paletó e dera um profundo suspiro ainda na porta de casa. Era uma daquelas profundas noites de solidão e após tantos séculos não esquecera sua bela Claudia. Aquela criança de dourados cachos não saia de sua mente exatamente na mesma noite de todos os anos. E essa tristeza apertava-lhe o peito.

Estava outra vez em companhia de Lestat, mas este não entenderia o que ele estava sentindo naquele momento. Então resolveu sair, da uma volta pensando um pouco no passado e talvez se alimentar da primeira criatura que cruzasse sua frente naquela triste e fria noite.

Andou durante horas, pensando em sua Claudia. Voltou para seu esconderijo faltando apenas algumas horas para o amanhecer. Ao chegar enfiou-se no quarto, sem ao menos procurar por seu companheiro, Lestat. Estava sem paciência para suas provocações e implicâncias. Deitou-se na cama, colocando seus braços cruzados sob a cabeça e ficou fitando o teto com um ar de melancolia em seus olhos. Era mais um ano sem aquela criança que tanto amara e esse sentimento fazia com que sua aparência, que já era melancólica, tornar-se ainda mais bela.

— Pobre Louis, ainda sofre pela bela Claudia? — Lestat surgia entre as sombras do quarto de Louis, que sobressaltou-se, saindo do transe, encarando Lestat, que sentava-se na cama do lado oposto ao Louis.

— Lestat, deixe-me sozinho, não estou para suas provocações. — Louis respondeu-lhe virando-se de lado, dando as costas para Lestat.

— Nem eu, meu querido. — Lestat havia se deitado ao lado de Louis e o abraçara, mas Louis afastara o braço de Lestat. Estava triste demais para qualquer brincadeira dele e já começara a ser irritar com a persistência de Lestat.

Lestat percebera a tristeza de Louis, sabia da saudade que ele sentia pela pequena Claudia e todos os anos mantinha distante de Louis, mesmo porque ainda carregava uma pequena magoa por ela entregar-lhe aos braços da morte. Mas naquele ano iria agir diferente, iria esquecer do passado por algumas horas e consolaria seu companheiro, queria diminuir sua dor de qualquer maneira. Então abraçou Louis mais uma vez com mais força para que ele não fugisse de suas mãos. Estava tentando ser gentil e compressivo pelo menos uma vez na vida, mas Louis parecia não querer entender isso e mais uma vez tentou, em vão, afastar os braços de Lestat.

— Lestat... — Louis, virando-se na direção de Lestat, tentou protestar contra a persistência do outro, mas foi simplesmente calado com um beijo de Lestat. Um beijo tão profundo, como se através daquele beijo Lestat mostrasse o quanto estava sendo solidário com o sofrimento dele.

O beijo foi diminuindo de intensidade aos poucos, enquanto Lestat parecia brincar com os cabelos soltos de Louis entre seus dedos. Quando o beijo cessou, Louis tentou protestar, tinha a fronte franzida e os lábios entreabertos, mas Lestat calou-o, colocando dois dedos em sua boca e falando:

— Shiiii... Não fala nada. Eu sei o que está sentindo, sei o quanto sofre. Posso ler seus pensamentos, esqueceu? Só quero te ajudar, te dar um pouco de paz. Quero ser solidário. Por favor deixa eu te ajudar.

O pedido de Lestat pareceu convencer Louis, pois este permaneceu calado, fitando bem fundo seu companheiro. Permaneceram mudos, se fitando, por alguns segundos. Louis não acreditava que pela primeira vez Lestat não iria ser ele mesmo, mas não iria baixar a guarda assim tão depressas, se bem que alguns minutos de paz seriam ótimos para tanto sofrimento que sentia naquele momento. Queria esquecer um pouco as saudades da sua querida Claudia.

Então resolveu permanecer imóvel debaixo do corpo de Lestat esperando qualquer reação dele. Lestat, porém, voltou com um beijo, visto que seu companheiro não levantou nenhuma palavra de protesto ou qualquer outro movimento. Beijava-o com carinho, enquanto folgava a gravata apertada de Louis. Logo em seguida, Louis empurrava Lestat para trás, fazendo o beijo parar. Sentados na cama, Lestat olhava para Louis, como se perguntando se ele havia entendido o que tentava fazer. Louis, porém, sem dizer uma única palavra, logo começou a se desfazer do paletó, que ainda vestia, da gravata e da camisa, revelando seu belo tronco.

— Você não me queria? — Louis, abrindo os braços, como que implorando um abraço, finalmente falou, enquanto Lestat olhava-o, como se não acreditando no que seus olhos viam.

Louis deitou-se, encostando sua cabeça no macio travesseiro branco, ao mesmo tempo que encarava Lestat. Este, sem pensar, tirou a bela camisa de seda preta e deitou-se sobre o corpo de Louis. Então beijou-lhe docemente a boca, como se sentisse toda tristeza que Louis sentia.

Louis, a essa altura, já não se importava com que Lestat podia fazer, se ia ser provocador, como costumava ser, ou se ia ser solidário com o que sentia. Precisava esquecer aquela tristeza, que consumia seu corpo todo, queria e desejava descansar sua mente naquela momento. Sentia necessidade de alguns minutos de paz.

Com o passar dos segundos os beijos trocados entre os dois tornou-se mais intenso, mais forte e provocante. Louis, esquecia sua dor e Lestat, não lembrara-se em ser cruel, como costumava ser. Da boca, logo os beijos de Lestat passaram ao pescoço de Louis, que já se entregava aquelas carícias, tão raras em Lestat. Louis envolvia seus braços nas costas de Lestat, puxando-o mais para si.

Logo os seus corpos exigiam mais daquelas carícias, precisavam de alívio. E Lestat investia mais em seus beijos e carícias. Enquanto beijava o pescoço de Louis, descia suas mãos até as calças de seu companheiro, abrindo-a cuidadosamente. Não se surpreendeu quando segurou o sexo de seu companheiro, sentindo a exigência que pulsava em sua mão. Louis queria ser consolado naquele momento, e só assim Lestat, sentiu-se vitorioso, certo que seu plano havia funcionado. Ajudaria, pelo menos esta noite.

Lestat continuou a segurar o sexo de Louis, mas não se contentara em ficar passivo e começara com movimentos, estimulando seu parceiro ao gozo. Louis entregava-se aos toques de Lestat, e mesmo sem um único gemido, apreciava aquele momento de paz com o maior dos prazeres.

Quando percebeu que Louis iria gozar em suas mãos, Lestat parou suas carícias e parou também com os beijos, sentando-se ao lado de Louis. Só assim ouviu-se um pequeno gemido de protesto de Louis, ele queria mais, queria não, exigia mais.

Lestat, porém, ignorou o apelo do amigo e levantou-se ficando do lado da cama, prendendo Louis com seu olhar. Soltou o cabelo, que estava preso com uma fita de cetim preta, e livrou-se da calça que vestia, revelando seu corpo pálido todo nu e um sexo que pulsava, implorando por um doce alívio. Depois voltou para cama ao lado de Louis, que tentou levantar para livrar-se da calça também, mas foi impedido por Lestat, que retirou, delicadamente sua calça.

Ficando inteiramente nus os dois, Lestat voltou a beijar Louis na boca, descendo provocantemente ao pescoço, permanecendo por alguns minutos. O que provocou um ataque de Louis aos cabelos de Lestat, que lhe caíam pelo rosto, puxando-os com forças e fúria. Fúria por não ter seus desejos satisfeitos de imediato, prolongados pelos toques de Lestat, enlouquecendo-o, mas Lestat continuaria sua tortura, afinal era sua especialidade. Então desceu até os mamilos de seu companheiro e sem piedade cravou seus caninos num deles, ferindo, e provocando um ligeiro gemido de Louis, um gemido que mesclava-se entre o prazer e a dor. Um filete de sangue escorreu daquele mamilo ferido, mas o sangue foi logo recolhido pela língua de Lestat, que saboreou o doce sabor do sangue de seu amigo. Depois continuou sua descida pelo corpo de Louis passando pelo umbigo e só parando na sexo deste, abocanhando-o com fome, arrancando mais um gemido de Louis.

E mais um vez antes de Louis gozasse, Lestat parou, irritando seu parceiro.

"Isso é bem típico de Lestat", pensou Louis, enquanto via ele se aproximando de seu rosto mais uma vez e então Lestat falou.

— Não sem mim, Louis.

Louis não entendeu a princípio, mas logo sentiu que suas pernas estavam sendo abertas e Lestat ajustava seu corpo no dele, enquanto o encarava com um certo brilho nos olhos, como se estivesse fronte uma vítima e que Louis conhecia muito bem.

Lestat então, com o seu sexo procurou a entrada de Louis, e este parecia estar preso em uma armadilha, a qual não podia escapar, não podia lutar contra, só aceitar o que estava acontecendo. Ao encontrar o que procurava, Lestat não esperou por nada, apenas invadiu Louis sem cerimônia. O outro deu um breve gemido que mais parecia de dor do que de prazer e tentou se livrar dos braços de Lestat, mas foi impedido por este que continuou a entrar ainda mais fundo. Os gemidos de Louis, que a princípio não eram quase ouvidos, agora eram altos e longos e pareciam com gemidos de dor, mas Lestat os ignorava. Sim, ele simplesmente amava aqueles sons e o rosto de Louis contorcido de dor deixava-o ainda mais excitado, e esse era o velho Lestat de sempre.

Breve a dor, que Louis sentia, deu lugar ao prazer, ou melhor, eram dores prazerosas e a cada estocada de Lestat elas se tornavam melhores, mais deliciosas. O corpo de Louis acompanhava os movimentos de Lestat, e este percebera que não tentaria mais fugir dele, então agarrou o sexo duro de sue amigo e começou a acariciá-lo, com movimento que desciam e subiam, sem parar com as estocadas no interior de Louis.

Eles chegaram a comunhão perfeita. Eram dois em um só, o que um sentia o outro podia sentir também. Dor, prazer, tristeza, todos os sentimentos eram compartilhados num só instante, nada os separava agora.

Não durou muito para que chegassem juntos ao clímax daquela transa e então com jatos de prazer intenso os dois gozaram. Lestat preenchendo todo interior de Louis, e este lambuzando os abdomens de ambos.

Após esta onda de prazer, Lestat caiu na cama, ao lado de Louis, imóvel, sentia-se cansado e queria dormir. Louis ficou imóvel, também, fitando o teto como se não acreditando em tudo aquilo que acontecera. Os dois permaneceram calados, enquanto um doce silêncio envolvia-os. Seus corpos estavam exaustos e agora pediam por um pouco de descanso para que estivessem prontos para outra, se fosse o caso.

A velha melancolia voltava para Louis após longos minutos de doce silêncio, voltara a pensar na pequena Claudia um outra vez.

Seu peito voltara a pesar como antes e parecia que não o deixaria mais. Olhara para seu lado e lá estava Lestat, que parecia estar adormecido, e seu peito apertou mais ainda, mas estava feliz pelo fato dele compreender o que estava sentindo, e deu um pequeno suspiro. Levantou-se e dirigiu-se ao quarto de Lestat procurando o caixão dele, pois o dia já estava surgindo e ele precisava dormir antes que Lestat acordasse e voltasse a ser o mesmo de antes com as suas implicâncias e provocações.
 
 

FIM



Por Lucretia lucretia_bete@hotmail.com