Pesadelos de Uma Noite de Inverno

 
by Astásia



Claro que era noite, caso contrário esta história não poderia ser contada, uma vez que durante o dia, todos os personagens estão dormindo. Mas desta vez, a noite não estava nada estrelada, e muito menos agradável ou com luar, aquelas coisas que fazem clima... Estava sim, desabando uma chuva de fazer medo. Era uma tempestade com raios e trovões, ventos e tudo o mais que pode estragar o passeio de um vampiro.
E tudo isso fazia com que Lestat ficasse realmente entediado. Cansara-se de jogar bolinhas de papel encima de Louis, e ficar escutando-o falar sobre quem já morrera era pior ainda. Olhou para a janela fechada da varanda e a chuva ainda estava na mesma. Por nada nesse mundo e nem em um outro se houvesse, ele sairia hoje. Estragar seus cabelos lindos e louros? Molhar aqueles sapatos italianos? Sem falar naquele paletó vermelho-vinho, feito sob encomenda...
“Louis... Vamos dar umazinha?” – Ele se esticou para a frente, no sofá, piscando um olho de um jeito um tanto safado, na direção de Louis, que deixou o livro cair e ficou literal e figurativamente, de queixo caído.
Que vampiro safado!
“Isso é jeito de falar comigo? Veja só o animal vulgar e sujo que você se tornou vivendo com os humanos!” – Ele se encolheu, já fungando e indo se trancar no quarto.
“E você, que se amigou com aquela bicha recalcada do Armand? Ah, dele eu não posso falar. Aposto que ele não soube apagar o seu fogo, beleza!” – Lestat riu, sádico, malvado, vendo que pelo menos se não desse aquelazinha, ia se divertir bastante causando um ataque de nervos em seu companheiro imortal.
De dentro do quarto, no fim do corredor, escutou um berro de resposta nada suave e delicado, apesar de quem o deu:
“Me deixe em paz, seu animal!” – E completou mais baixo: - “Seu filho da puta!...”
Devia ser mesmo o fim do mundo, em mais de duzentos anos vivendo juntos, brigando e se reconciliando, nunca escutou Louis falar nem um mísero mèrde!
“Ei, não fale assim da Gabrielle!!”- Agora Lestat perdeu o resto da compostura e da paciência. – “Como vai ser? Você vai abrir estas pernas por bem ou eu vou ter de ir buscar esse doce à força?”
Num piscar de olho ele chegou à porta do quarto trancado e esmurrou a madeira com vontade, fazendo muito barulho, o que fez o vizinho do apartamento de cima gritar para pararem com aquele carnaval. Sem outro termo para definir o estado em que se encontrava agora, Lestat, fulo da vida – Louis fazendo greve e aquela chuva que não parava... – respondeu:
“Em briga de casal ninguém mete o pau, seu humano mal-vestido!!!”
Neste instante, a porta do quarto se abriu, e Louis estava parado ali, vestido apenas com aquele roupão de seda preta, quase tão negra  quanto seus próprios cabelos cacheados, uma coxa pálida e divina escapando para fora da fenda dele. Uh-huuu, essa noite vai ser daquelas, pensou Lestat, já afrouxando a gravata e desfazendo a fivela do cinto, sem conter um riso de alegria, e fazendo a si mesmo várias promessas, entre as quais não largar Louis até que ele estivesse desmaiado...
“Poupe as suas perversões, seu bruto... Eu vou embora.” – Louis deu meia volta e pegou a muda de roupas que estava sobre a cama, e começou a se vestir.
“Como é? Achei que você ia parar de fazer doce e dar pra mim por vontade própria, da última vez você acordou todo o quarteirão gritando por socorro...!” – Ele não acreditava no que estava acontecendo, e ficou assim, paralisado, vendo que Louis,  já vestido e bem arrumado, agora, metia algumas roupas e alguns livros dentro de uma maleta.
“Estou farto das suas vulgaridades!” – Ele estava resoluto. Voltou seus olhos verdes e grandes, rasos de lágrimas para Lestat e soltou a bomba:- “Eu vou para a casa do Armand!”
“Cuméquié???????”
“Isso mesmo! Ele me vê como pessoa, ao contrário de você que só olha para o meu corpo!” – E olhou-se, apontando-se inteiramente, mordendo os lábios rosados para conter as lágrimas.
E que corpo, pensou Lestat, enquanto tentava argumentar alguma coisa para não deixar Louis ter outro ataque daqueles. Estavam virando motivo de piada entre os vampiros... Será que o Enkil tinha problemas assim com a Akasha? Será que o Marius não poderia dar alguns conselhos? Bom, mas lembrou-se dos conselhos que ele lhe dera certa vez e já começou a enrolar o cinto que tinha, na mão, pronto para descer o sarrafo em Louis!...
“Atravessa essa porta que eu te como de porrada, seu vampiro fácil!!”
Então, houve mais um sinal do final dos tempos. Louis foi e atravessou a porta e foi embora assim mesmo, e Lestat ficou com aquele cinto na mão, feito o idiota que estava se sentindo, vendo-o ir embora, escutando seu chute para abrir o portão que dava para o jardim do prédio. Pensou em seus sapatos italianos, em seus cabelos tão bem escovados, que a umidade daquela chuva ia acabar com aquelas ondas dignas dos melhores comerciais de xampu que os humanos faziam... Pensou naquelas noites cheias de gritos e gemidos de Louis, e, irado com a situação, que começara só porque ele queria dar umazinha, disse para si mesmo:
“Se ele não chupasse tão bem!...”
E desatou a correr atrás, implorando para que Louis voltasse, o encontrou na metade do quarteirão, indiferente à chuva e mais ainda à Lestat, que apareceu na sua frente como um pinto molhado, o cabelo todo colado no rosto e as roupas encharcadas na chuva forte.
“Não adianta, eu não vou voltar. Já disse que vou para a casa do Armand!”
“Porra, Louis, eu te amo! Aquele pivete não sabe fazer o que eu faço! Ele nunca vai ser o suficiente pra apagar teu fogo, beleza!! Vamos lá...!” – Tentou abraçar e dar um selinho nos lábios frios de Louis, mas ele virou o rosto, ocultando assim uma lágrimazinha sentida. Ah, o que Lestat não daria para estar naquela boca fria e apertadinha que Louis tinha??! – “Eu vou te esquentar essa noite...” – E tentou seu melhor sorriso.
“Por mim você pode se esquentar sozinho, até queimar como aquele histérico do Nicholas, entendeu? Estou cansado de viver com alguém que só pensa em sexo, sexo e sexo!” – E então ele começou a soluçar, mas sem parar de andar, rumo à estação de metrô, e Lestat tentando acompanhar seu passo, se sentindo horroroso quando passaram frente à uma vitrine e ele viu no seu reflexo que estava muito pior do que esperava. – “Você não se importa com os meus sentimentos!!”
“Sentimentos? Louis, eu só te convidei pra gente enfiar um pouquinh...!...”
Um tremendo tapão quase quebrou os ossos de seu rosto e calou o resto do “pouquinho”. Puxa, desta vez ele estava mesmo falando sério. Uma trepadinha estava saindo caro!...
Nesse meio tempo, Louis desceu correndo as escadas da estação e tomou o metrô que estava lá coincidentemente, e já estava acelerando, não adiantou Lestat, tonto da porrada, cobrindo o lado do rosto machucado, correr atrás. Mas não se deu por vencido, ainda conseguiu se segurar nos ferros do último vagão e seguir por entre eles até chegar no de Louis, que enxugava suas lágrimas com um lencinho já todo manchado.
“Seu bruto... Snif...” – Ele lamentava, sozinho naquele vagão pichado e sujo.
“Aí, beleza...” – Lestat começou, mais calmo, afinal Louis batia forte...! – “... deixa de frescura, tá? Vamos voltar para casa. Não jogo mais bolinha de papel em você...”
“Me esquece, Lestat!”
“... Não te pego mais à força...” – Ele continuou, começando a ficar preocupado. Não ia perder praquele pivete de cabelo xexéu do Armand...
Louis pareceu tentado a voltar, piscou os olhinhos verdes na sua direção, achando muito sinceras aquelas palavras, apesar de achar que a expressão de Lestat era muito cínica, e que aqueles olhos cinza azulados brilhavam de pura tara.
“Chega, Lestat! Está tudo acabado entre nós!”
Lestat se sentou ao lado de Louis, os dois molhados e descabelados. Tinha de fazer as pazes com ele e voltar para casa antes que outro vampiro visse aquela cena deprimente, isso não pegava bem... Conseguiu abraça-lo, apesar dos protestos, e prometeu que ia mudar, era mentira, mas não custava nada, pra enfeitar mais aquela cena, e Louis adorava cenas, tanto que seu livro favorito era “ ...E o Vento Levou”, porque fazia lembrar de quando vivia nos confins de Nova Orleans, naquelas lavouras de algodão, ele tinha até os mesmos chiliques da Scarlett O’Hara quando Lestat o conheceu, e aquele vampiro com a bochecha vermelha continuou, dando um beijinho no canto do lábio do seu quase-ex-amante que começava a sorrir.
“... Não puxo mais teu cabelo, nem vou mais dizer  ‘upa, upa’, quando eu enfiar no teu...”
Outro tapão, mais seguro que o primeiro, foi em cheio no outro lado do seu rosto, derrubando-o do outro lado do corredor do vagão, e quando tentou se levantar, o metrô parou e ele viu apenas as pernas de Louis indo embora. Mas que merda, pensou, indo atrás, tentando convence-lo de não ir, mas Louis estava furioso, fazia um trejeito engraçado com a boca, um beicinho lindo, que seria mais lindo ainda se Lestat não estivesse sentindo os dentes amolecidos com a porrada que levara na cara.
Parecia que estava vendo a própria Scarlett, de cachinhos negros e olhos verdes, na sua frente, com aquela maleta na mão, pela rua, até parar e apertar a campainha de um casarão antigo em estilo inglês.
Na verdade, ele mal encostou na campainha e a porta já se abriu com Armand e um sorriso cheio de más intenções para recebe-lo. Ele agarrou a gravata de Louis e o puxou para dentro!
“Seu pivete tarado!!! Tire as mãos do meu Louis!!” – Lestat gritou, quando conseguiu chegar na porta da casa, e começou a fazer um autêntico escândalo, dando uma aula de todos os palavrões da língua francesa, alguns até de sua própria autoria!
“Eu não sou seu Louis, seu maníaco!” – Ele respondeu lá de dentro.
“Armand!!! Devolve o Louis ou eu te mato, seu pivete!!” – Ele recomeçou a berrar, alheio aos vizinhos que começavam a aparecer nas janelas, mulheres de bobes na cabeça, homens de pijamas, ameaças de polícia, etc...
Dentro da casa, com um misto de pânico e ciúme incontrolável, Lestat ouviu as palavras mais aterradoras de toda sua vida:
“Eu sabia que você ia voltar pra mim...! Louis, meu querido, você não quer tirar essas roupas molhadas?”
“NNNNNNNNNNÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!”
Foi um puta berro. Ecoou por metade da cidade e deve ter sido registrado até pelos satélites e sismógrafos.
Foi exatamente dizendo isso que Lestat deu um chute colossal no meio da grande porta de carvalho. Estava cansado de tentar ser discreto e pouco passional, se é que ele sabia o que essas palavras significavam... Bom, de qualquer forma, ele levou a porta ao chão, num baque que estremeceu toda a casa, e parou bufando, de pé encima dela, horroroso, enciumadíssimo, encarando com total ódio aquele vampiro fraldinha que desabotoava a camisa do seu Louis.
“Ninguém... eu disse ninguém, seu pivete... Ninguém tira a roupa do meu docinho, entendeu???!!!”
“Lestat!” – Louis veio lá do fundo da sala, disposto a enfrenta-lo, e, abraçando a cintura de um sorridente Armand, disse: - “Eu já disse que está tudo acabado entre nós. Estou cheio de ser só um pedaço de carne pra você. Agora eu vou ficar com o Armand, e quem sabe...” – Armand então assentiu firmemente, sacudindo seus cachos  castanho-avermelhados e cerrando por um momento seus grandes olhos de moleque atrevido. – “... quem sabe até não voltamos, não é, Armand?”
Ele fez que sim de novo, espalhando o cabelo encima dos ombros e do paletó preto e mostrou a língua para Lestat. Que desaforado!
“Ora seu...” – Lestat deu um passo a frente. – “Eu deveria te arrastar pelo cabelo daqui até em casa... E eu deveria dar umas palmadas nesse pivete, para que ele aprenda a não ficar feito um urubuzinho encima de você!!”
“Tá vendo, tá vendo? Olha só como você me trata!”
“O que?”
Mas Louis deu meia volta e voltou para Armand, que continuava com aquele ar de triunfo, e fêz mais uma careta para Lestat, enquanto abraçava Louis, mas indo com as mãos certeiras sobre o seu redondo e apetitoso bumbum! Foi demais ver aquilo! Aquele bumbum era propriedade exclusivamente sua, ele descobrira aquele continente, explorara, arrendara, e nem de longe pretendia dividi-lo com aquele sem-terra de cabelo xexéu!
“Larga o Louis, seu pivete!”
“Largo não, está louco? Tadinho, olha só o que você fez com ele... Chora não, Louis. Esse monstro vai embora agora mesmo!” – Mas apesar das doces palavras, ele ainda estava com aquele risinho safado. Não importava a cara de anjo, os recalcados são os piores, pensou Lestat, rangendo os dentes!
“Louis, eu te amo, porra!!”
“Ah, Lestat, eu também te amo, mas é o seu jeito, você é tão...”
“Esquece esse louro azedo, querido. Vem, vamos pro quarto, estou com saudades daquele seu sinalzinho e...”
“O SINALZINHO É MEU!!!!!!! Venha cá e lute feito um homem, seu pivete com cara de bolacha!!”
E assim, um de cada lado da sala, ele e Armand trocaram mais alguns palavrões, talvez para dar intensidade a cena, enquanto cada um tirava seu paletó, afrouxavam gravatas, tiravam relógios, essas coisas que os homens fazem antes de partir pra uma briga, mesmo que ela acabe nos arranhões e puxões de cabelo, o que aconteceu aqui também, afinal, Lestat nunca teve medo de escândalo, e Armand, digamos que... Ter sido educado no meio de artistas e pintores não foi uma boa influência para o rapaz. A briga dos dois parecia uma briga de galinhas, só faltaram as penas voando pela sala, enquanto os vizinhos de roupas de dormir se esticavam pela porta escancarada para olhar o que estava acontecendo, e alguns já começavam a fazer suas apostas. Foi realmente uma briga de arranhões,  puxões de cabelo e ofensas do tipo:
“Seu fácil, seu fdp, seu vesgo, seu descabelado, eu não sei o que ele viu em você, etc...”
E Armand deu mais um tapão em Lestat, assim, de surpresa, desta vez no pé do ouvido, e este, não diferentemente dos outros, foi um tremendo tapa. Lestat caiu, meio desacordado, no chão, mas ainda chamando por seu docinho, fazendo todas as juras de amor que um dia fez, no começo do namoro deles, e mais uma vez, mentindo em cada uma delas...
Armand, vitorioso, ainda deu um tapinha na sua cabeça, e levantou, espanando as roupas, o cabelo era agora um autêntico ninho de pomba louca, e ainda disse, misterioso, para Lestat:
“Agora tão cedo você não vai se esquecer de mim, seu vampiro safado...!” – Ele foi todo cheio de amor pra dar, no rumo de Louis, que nem sequer olhou pra isso, e sim foi correndo, passando por ele, quase pisando encima dele, acudir Lestat, que estava no chão, e seu sotaque fazia tudo o que dizia ficar mais enrolado ainda, além da confusão daquele autêntico telefone que Armand deu no seu ouvido. Sua linha ia ficar ocupada por muito tempo...
“Lestat? Lestat, meu amor, me perdoa... Olha, eu... eu volto com você, ta? Ah, meu amor, diz alguma coisa, me perdoa, lourinho!!”
Lestat olhou bem na sua cara, pensando em como Louis era fácil, e se não era mais simples deixa-lo com Armand de uma vez. Se tivesse de levar essas surras pra ser perdoado, a cada vez que brigassem, estava frito...!
Aquelas mãos brancas fizeram carinho na sua testa arranhada, até que ele a afastou com um tapa.
“Ah, sabe de uma coisa, Louis? Fica com esse pivete!... Saco, eu vim me arrastando até aqui, levei porrada de você e do Armand... Ah, agora quem não quer sou eu!” – E levantou, tentou alisar a roupa arruinada, e foi saindo, cansado de rastejar atrás daquele vampiro mal-resolvido, e desta vez já conformado de ter perdido para o pivete tarado...
Louis ficou ajoelhado no chão, fazendo aquele mesmo beicinho lindo e sentido, antes de desatar a correr a trás de seu atualmente ex-amante. Claro que Armand ficou no mais completo e profundo sentido da palavra, roxo de ciúmes e puto da vida. Ficou mais ainda quando escutou umas palavrinhas aguadas de amor entre eles, que antes de chegarem na rua, já estavam de bem novamente. Bem que Marius lhe dissera: Louis era do tipo que gosta de umas baixarias, umas cenas, e muito açucar, e se não se comportasse, não tinha jeito, a não ser com uma sova de cinto...! Shit, pensou só consigo, quase roendo as unhas de raiva e nervoso, esse louro azedo tem muita sorte mesmo!
Os vizinhos já estavam se dispersando, vendo que era só uma briga de casal, mas Armand ainda saiu pra fora e gritou, para os dois que já iam pelo esquina,  abraçadinhos, Louis todo alegrinho com aquelas palavrinhas saturadas de glicose, pontuadas de mais algumas safadezas típicas de Lestat. Ah, o que ele não fazia por aquele diabinho de olhos cinza? Mesmo sentir já aquela mão dele no seu bumbum não era de todo mau... Realmente Armand jamais faria, e nem diria as coisas quentes e excitantes que ele lhe dizia, quando não estava lhe jogando bolinhas de papel...!
“Lestat! Não esqueça de pentear os cabelos quando chegar em casa!” – E deu uma risada daquelas.
Ninguém entendeu nada, na verdade, Lestat só conseguia desejar algo mais além de um saco de gelo para colocar nas suas bochechas vermelhas e uma escova para colocar seus lindos cabelos em ordem novamente... Mas claro que são coisas que devem ficar entre as quatro paredes do quarto destes dois.
E quando eles já haviam voltado para casa, e já estavam até no dito quarto, para aproveitar o resto de noite que restava, e inclusive a estas alturas a chuva já havia passado há muito tempo... Lá, entre beijinhos e algumas safadezas que Lestat nunca resistia em dizer, ele chamou Louis de docinho e pediu para que ele vestisse aquele roupão de seda preta, e mais nada, e esperasse por ele na cama. Todo animadinho, Louis topou na hora, e foi para o quarto de vestir se aprontar. Ah, chegava a sentir um arrepio delicioso quando Lestat o chamava de docinho e dava aquele tapinha na sua anca... Como pôde pensar em abandonar aquele que era o único que entendia seus desejos? Realmente ele precisava de um homem de verdade e não de um pivete como Armand!
Enquanto ele vestia o roupão que era o maior fetiche de seu amante e passava um pouco daquela colônia de sândalo que era a preferida de Lestat, ele, por sua vez, no quarto, já tinha jogado longe o paletó encharcado e o resto também, e vestiu o seu roupão, o de cetim vermelho brocado, rindo sozinho, vendo que finalmente ia dar aquelazinha que por pouco não lhe custou muito caro. Agora, só tinha de dar um jeito aquele cabelo e partir para seu dever para com a pátria querida. Vive lá France, pensou, cantando só consigo um arremedo de La Marselhe... Nunca soube explicar, mas desde os tempos da Revolução o Hino da França o enchia de tesão...!
Louis adentrou (palavra linda, não?) o quarto, e foi direto para cama, com aquele olhar. Eu disse aquele, ou melhor: AQUELE! Sem pensar duas vezes, sem titubear, ou tentar lembrar se havia desligado a televisão da sala, Lestat foi também. NO caminho, ia dar somente aquela passada de pente em seus cabelos cheios e louros, quando eis que de repente, as palavras de Armand ecoaram na sua cabeça, misteriosas, ele lhe mandando pentear bem os cabelos, quando tudo se fez claro.
Mèrde!” – Lestat disse, baixinho, contendo as lágrimas de raiva.
Armand, quando deu aquele tapinha na sua cabeça, colou um chiclete no seu cabelo, e daqueles bem mastigados! Certamente Armand já estava de caso pensado!!
Na cama, Louis desatou a rir, e Lestat ficou tentando calcular em quantos anos ia se livrar daquela porcaria cor-de-rosa e pegajosa que estava se esticando feito uma teia entre a escova e seu cabelo.
Pivete atrevido, ele ia ver só...!
 
 

CES’T FINIE


Por Astasia  astasia@ig.com.br
Dezembro de 2001