Arrependimento


                                                              Por Akemi-chan



               Daqui posso vê-lo, sentado debaixo daquela árvore. Ele chora... chora em silêncio e
    nada faz para impedir as lágrimas intermináveis que brotam de seus profundos olhos verdes. Ele
    não percebe minha presença, pois estou escondido entre os galhos desta árvore. Ah, como ele
    está vulnerável, tão frágil, que qualquer um poderia facilmente derrotá-lo.

          Muito bem, você conseguiu! Agora ele está chorando, sofrendo, por SUA culpa. Vamos,
    lamente-se e sinta-se profundamente responsável por isso. Você merece um prêmio: “O idiota
    do ano”.

          Ah! Se arrependimento matasse, eu já estaria enterrado agora. Por que eu tinha de
    escrever aquela carta estúpida!  Dizendo absurdos, como: “ Kurama, estou indo embora da sua
    vida para sempre. Prometo nunca mais voltar. Eu te enganei este tempo todo. Enganei a todos,
    nunca me importei com ninguém.  Nunca mudei, sempre serei este demônio frio e egoísta que
    você conheceu... etc...” No começo achei tão absurdo, que pensei na possibilidade dele não
    acreditar, afinal, eu mudara tanto... Mas também, de que adianta se arrepender agora? Já está
    feito. Aquele garoto já deve ter entregado o envelope, Kurama já deve ter lido, e por isso está
    em prantos agora...

          A cada lágrima que escorre por suas faces pálidas, sinto uma punhalada de culpa,
    remorso, arrependimento sendo desferida em meu peito. Ah! Maldita carta!

          Penso e repenso milhares de vezes na possibilidade de ir até ele. Talvez, ele me odeie
    tanto agora, que tente me atacar cruelmente, se ele o fizer, não irei nem me defender, nem
    revidar. Ou talvez, ele não diga nem faça nada, apenas ignore a minha presença. Certamente
    isto seria pior, bem pior. Decidido. Vou até lá imediatamente.

                -Kurama... – Assim que me aproximo, ele limpa as lágrimas com as costas das mãos.

          - Hiei?! Você por aqui? – ele diz.

               - Si... sim.- Gaguejo, muito surpreso com sua reação ao me ver. Tomo fôlego para
    prosseguir.- Quero te dizer, que sinto muito se ...

          - Até você já sabe?

          - Como?!? O quê exatamente eu já sei?

                - Acabo de perder uma pessoa muito importante para mim...

                - Q... Quem? – começo a arregalar absurdamente os olhos.

          - O meu amigo, meu grande amigo...

          “Meu deus! Isto é um triângulo amoroso? Desde quando?” penso.

          - Ele era só... você sabe... seu AMIGO?

               - Obviamente, eu não estaria chorando por um qualquer, ele era meu companheiro...

          - Companheiro???

                - Sim, nas aulas de química...

                - Aulas de química?

                - Sim, é uma matéria escolar. – diz ele com a maior sinceridade

               - Ah! Uma daquelas coisas estúpidas e inúteis que vocês humanos aprendem! Até aí eu
    entendi, mas o que tem ele? – eu disse,  já me preparando para o pior.

               - Ele morreu num acidente de carro, fiquei sabendo hoje de manhã... e agora, não vai
    ter ninguém ao meu lado para conversar durante aquela aula! – ele baixa o olhar lentamente, as
    pequenas gotas brilhantes começam a escorrer de seus olhos.

               - Então é por isso que você estava chorando! Isto quer dizer que você não recebeu a
    carta? – enquanto dizia isso, quase cruzei os dedos, (mais um costume ridículo dos humanos)
    ansioso pela resposta da raposa.

                - Carta? Que carta??? – ele disse, fazendo aquela cara de desentendido.

               -Ah!!! Entendi! Seu amigo morreu!!!  Você não recebeu a carta! - Acho que deixei um
    sorriso se formar em meu rosto, o que deixou Kurama indignado e furioso.

               -Por acaso você ficou contente com isso??? Acabo de perder um amigo e você fica feliz?
    E que carta é essa? – a cada sílaba que ele pronunciava, seu mau humor ia aumentando

               - Nem queira saber raposa! Nem tente descobrir!

               Após dizer isso, trato de desaparecer dali. Deixo Kurama lá com suas milhares de
    perguntas, pois nem deixo ele completar sequer uma frase. Ele fica lá, parado e confuso, sem
    entender o porquê de minha fuga.

               Não muito longe dali, um garotinho ri, enquanto parte um envelope branco em pedaços.
    “ Eu disse que você iria se arrepender.”

 

 FIM



Por Akemi-chan paula_akemi@uol.com.br
Novembro de 2001