CAPÍTULO 2
Yuri estava perto da pensão, onde morava desde que chegara na cidade. Parou de andar ao sentir um vulto passar pelas suas costas. Rapidamente, assumiu posição de ataque e partiu para cima do inimigo.
- Ei, ei, eeei! Sou eu, caramba!- reclamou um youkai de chapéu e sobretudo, deparando-se com um punho fechado a três centímetros do nariz.
- Ah, é você.- relaxou- É melhor não chegar sorrateiro desse jeito de novo, se não quiser morrer.
- Desculpa...mas o que você queria que eu fizesse? Mesmo com esse chapéu e esse casaco que você me deu, não dá para disfarçar isso.- enquanto falava, tirava o chapéu e o sobretudo, para mostrar um par de orelhas de raposa e um rabo.
- Ta, eu desculpo. Agora veste isso aí antes que alguém veja. Vamos para aquele parque, está escuro o bastante para nos escondermos.
- Ah, não! Ta frio, porque não conversamos lá dentro?- apontou para a pensão feminina.
- Eu já não disse que é proibido entrar homens lá?- suspirou de impaciência.
- Tudo bem, então! Eu não sou um homem mesmo.- mexia as orelhas num gracejo.
- Engraçadinho, você me entendeu muito bem.
Yuri se dirigiu para o parque seguida do youko. Sentou-se num dos balanços, gesto imitado pelo amigo.
- E aí?
- E aí, o quê?
- Encontrou ele?
- Parece que sim.
- Como assim, parece?
- Não creio que seja ele, acho que estou na pista errada.
- Porque acha isso?
- Ele é totalmente diferente do youko que você me descreveu; é ruivo, de olhos verdes, para falar a verdade parece uma garota, deve ser confundido a toda hora com uma, assim como eu com um garoto...Sorri sempre, deve ser simpático, incapaz de magoar ou prejudicar quem quer que seja.
- Não se engane, Yuri. Aquele demônio é traiçoeiro, sabe enganar direitinho qualquer um. Quando menos se espera...záz! Ele dá o bote.É muito esperto e frio.
- Não sei...
- Eu lhe contei a história da cegueira do rei de Gandara, ela foi causada pela traição da raposa prateada. Ele mandou matar o próprio companheiro!
Levantou-se e segurava os ombros de Yuri.
- Ouça o que eu digo, Yuri. Ele é uma ameaça, minha raça o amaldiçoou.
- Calma- deu um sorriso descontraído- Não precisa ficar preocupado, só quero resolver isso de uma vez.
- Seria melhor mata-lo de uma vez!
- Não há necessidade...
- Há sim!-suas mãos aumentaram a pressão nos ombros de Yuri.
- Pára com isso!
- Só quero que não se engane, e acabe se machucando. Não confie nele, se ele descobrir suas intenções, pode virar uma de suas vítimas.
Yuri abaixara a cabeça e se afastara um pouco, desvencilhando-se das mãos que a machucavam. Deu-lhe as costas.
- Eu resolvo o que fazer depois. Boa noite.
- Yuri, espera...
- Está tarde, tenho de acordar cedo amanhã.- foi-se, sem dar uma chance para que youko falasse.
- Resolvo depois, hunf! Já que você
não consegue, deixa que eu resolvo para você!- sussurrou enquanto
via a porta se fechar, de longe.
"Preciso de um banho urgente!"
Kurama entrava no apartamento escuro e trancava a porta. Estava exausto, fora um dia e tanto, não só pela hora extra que teve de fazer.Aquele novo empregado não lhe saía da cabeça.Novo? Esquecia-se de que era uma mulher.
Chegando no quarto, foi tirando a roupa. Ia se sentar na cama para tirar a calça, quando ouviu um resmungo. Quase sentara em cima do pequeno koorime.
- Hiei? O que você está fazendo aqui?
Kurama acendeu a luz do quarto e ficara admirando o youkai colocar as mãos nos olhos, para protege-los da súbita claridade.
- Dormindo ué!
- Isso eu estou vendo. Você não tinha de proteger a fronteira, hoje? Ou a Mukuro o dispensou?
- É, foi isso- espreguiçou-se de maneira encantadora e infantil- Esperei por você no trabalho, mas demorou, vim para cá.
- Hora extra.
- Foi o que eu imaginei...Vou dormir aqui, tudo bem?
- Tudo, mas vou logo avisando. Estou cansado demais, portanto não...Hiei? Dormiu. Melhor assim.
Com um bocejo, terminou de se despir entrou no Box. A água quente que deslizava por seu corpo era tão relaxante, que deu vontade de dormir ali mesmo. Encostou a cabeça na parede, deixando a água escorrer pelas costas.
- Yuri...-"Que estranho, bateu um sentimento de
nostalgia."
Não conseguia ver absolutamente nada, estava tudo imerso na total escuridão. Andava ás cegas, tentando tatear algo.
Aos poucos, uma densa floresta foi surgindo, úmida e fechada. Aquilo lhe dava medo.
Desesperadamente, cortava as plantas, a fim de abrir caminho. Procurava uma saída, sentia-se acuada.
Mas parecia que não havia forma de escapar desse lugar. Quanto mais avançava, mais se embrenhava no mato. Caíra de joelhos e olhava para o chão, com lágrimas nos olhos.
"CORRE!"
"Hã?"Levantou o rosto ensopado, conhecia aquela voz!
"CORRE!CORRE!"
Não pensou mais após o segundo grito, desatara a correr, não importando para onde nem o porquê.
De repente, seu corpo foi atravessado por inúmeras lanças.Não! Eram bambus!Seu corpo caiu inerte no chão. Formou-se um rio de sangue.
Percebendo alguém se aproximar, esforçou-se para levantar o rosto para observa-lo. Era um homem, de cabelos e rabo prateados, de roupa alva, altivo.
Estendeu seu braço a ele, num pedido de socorro, mas este se limitou a olha-la sem nenhuma emoção. Virou-se e desapareceu na escuridão, ignorando-ª
"Volta! Kurama, não me deixa aqui!"
- Não!- Yuri abrira os olhos, assustada.
Apalpava o corpo em busca de perfurações e sangue. Suspirou aliviada ao constatar que apenas estava banhada de suor.
"Foi só um pesadelo", sua expressão
se tornou amarga, "o mesmo que me atormenta à dois anos. Preciso
resolver isso logo, senão vou enlouquecer!"
Com um imenso sorriso, Kurama cantarolava. Tivera uma noite de sono maravilhosa.
Sonhara com um certo youkai alado e de longos cabelos negros. Olhava-o com embevecido.
Estendera-lhe a mão num convite tentador, que aceitou estendendo a própria até encontrar a dele. Fora guiando-o para uma relva banhada de sol. Deitara-se nela fazendo com que fizesse o mesmo ao seu lado.
Beijou-o desesperado, com uma terrível saudades daqueles lábios. O youkai ria deliciosamente da avidez do amante.
"Calma. Eu sou todo seu."
Segurou seu rosto e passara a depositar pequenos beijos por todo ele, era uma sensação deliciosa.
- Ei Kurama! Tem alguma coisa queimando.
- Quê?- acordando de seu torpor, só teve tempo de ver o seu café da manhã ir para o espaço.- Ai, não!
- To vendo que eu vou ter de procurar comida no Makai, mesmo.
Kurama se virava para Hiei, mas logo seu rosto ficou vermelho ao mira-lo, e teve de se virar para o fogão. "Que vergonha! E eu pensando em outro!"
- Desculpa, koibito. Prometo que não vai acontecer de novo.
- Hn. Você ta muito estranho. Tá distraído, cuidado no trabalho.
- Vou prestar mais atenção, obrigado.
- To indo!- saiu com um biscoito na boca
- Droga!
"Quando foi que eu parei de sonhar com Kuronue? Acho que desde os tempos do Makai. Estranho voltar a pensar nele assim..."
Mesmo tendo prometido a Hiei que iria ficar atento, continuava distraído no trabalho. Tanto que acabou deletando um arquivo no computador.
- Ah, não! De novo, não! Hoje não é meu dia!
- O que foi?- Yuri havia se aproximado sem que percebesse.
- Acabei de apagar um arquivo que não devia, e...er, ahn, oi!- ficara embaraçado ao perceber quem falava com ele.
- Oi. Acho que não fomos apresentados, ainda. Meu nome é Yuri, comecei a trabalhar hoje.- estendeu-lhe a mão.
- O meu é Suichi, sou enteado do chefe.- hesitara um pouco antes de apertar a mão oferecida.
- Muito prazer.
- O prazer é meu. Sabe, não é muito difícil fazer amizade por aqui.
- Eu percebi.
- São todos muito simpáticos, logo vai se sentir à vontade.
- Que bom.
- Você não é daqui, é.
- Não, não sou. Percebeu?
- Tem um sotaque diferente.
Envergonhado, Kurama percebeu que ainda apertava a mão de Yuri, e que não parava de falar, estava ridículo.
- Desculpa, é que eu estou atrapalhado hoje.
- Não esquenta. Tem algum problema com o computador?-se sentou na cadeira.
- É.
- Talvez tenha salvação, vamos ver...
Enquanto ela mexia no computador, Kurama aproveitou para observá-la mais uma vez. Era bonita, ainda que se confundisse com um rapaz, uma beleza andrógina.
- Prontinho. Sem pânico, aqui está o seu arquivo.
- Puxa, você é boa nisso. Estou te devendo essa.
- Vou cobrar, hein!- piscou-lhe num gesto brincalhão e despretensioso.
- Haha. Certo.
- Eu vou trabalhar nessa parte do escritório.
- Se precisar de ajuda, me chama.
- Obrigado, mas acho que não precisar, as meninas já estão fazendo muito por mim.
- Ah!- "claro, elas não perdem tempo."
- Melhor voltarmos a trabalhar.- voltou para o seu lugar, que não ficava longe da sua escrivaninha.
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CONTINUA