Encontro ou Reencontro?


Por Senhorita Mizuki

CAPITULO 6
 

- Escuta, Hiei.- se aproximou do pequeno- porque ele está to agitado assim?-apontou para Kurama, que estava mais à frente cortando as plantas do caminho, como se estivesse desmembrando alguém.

- É uma história complicada...- disse meio sem jeito.

- Tem a ver com Mukuro, a moça que estava com você, não é?

- ...- apenas revirou os olhos para cima, disfarçando.

- Hum...- lançou-lhe um sorriso zombeteiro- acho que já entendi...que rivalidade!

Hiei pôs o dedo nos lábios, pedindo-lhe silêncio sobre aquele assunto. Se Kurama os ouvisse falando de Mukuro...nem queria imaginar.

De repente, os três puxaram suas armas e assumiram posição de ataque. Poucos segundos depois, vários youkais de escamas verdes pularam das folhagens, cercando-os. Espantaram-se, eram fracos demais, foram dizimados em alguns minutos.

- Não acredito que mandaram essas coisas!!- Yuri chutou um corpo.

- Isso mostra o quanto estamos longe do nosso destino, tomara que Yusuke esteja tendo mais sorte.

Yuri notou que Kurama segurava um chicote de espinhos, de onde aquela arma tinha saído? Viu Kurama transformar o chicote em rosa e a guardar no cabelo. Aquela arma era feita de uma planta, bingo! Yuri olhou para onde seu amigo estava escondido. Parecia que nenhum dos dois haviam percebido a presença dele, devia ser pela quantidade de kis que existiam naquele local.

- O que foi?- Hiei virou o olhar para onde ela olhava, franzindo a testa.

- Hã? N-nada, esquece. Foi só uma impressão...Vamos?

- Vamos...

Foram aparecendo youkais mais poderosos, à medida que iam avançando, ao que parecia, na direção certa.

Andaram por uma hora, mas tinham a impressão de estarem andando em círculos. Yuri sentou-se num tronco de árvore, suspirando de cansaço.

- Eu to cansada, não é possível que ainda estamos nessa mata fechada!

Kurama sorriu-lhe, como se isso pudesse transmitir-lhe ânimo, mas ele próprio se sentia desanimado.

- Ora, ora, o que temos aqui...três crianças perdidas?

Um youkai de pele arroxeada, de grandes chifres e aparência abrutalhada os interrompeu.

- Afaste-se, Yuri. O nível dele é S, não vai ser brincadeira.

- Porquê eu tenho de me afastar? E vocês? Se eu não consigo lutar com ele vocês também...Vão precisar da minha ajuda.

- Faça o que eu disse!

- Suichi, isso não tem sentido...

O youkai jogou um imenso bumerangue na direção deles, estraçalhando as árvores ao redor, voltando novamente para a mão do dono.

- Será que eu poderia ter um pouco de atenção?

Olharam atônitos o estrago feito pela arma num golpe só, Yuri nunca poderia imaginar uma força daquelas. De repente, lembrou que Charlie estava escondido por ali. Mas logo suspirou de alívio, ele havia escapado.

- Vim guiar os meninos...para o caminho da morte!- mirou o bumerangue em Yuri.

- Esquece ela, nós dois lutamos.- kurama pôs-se na frente da garota.

- Como quiserem, vão todos morrerem de um jeito ou de outro. São fracos demais!- riu sarcasticamente.

Para a sua surpresa, os kis de Kurama e Hiei se elevaram. O koorime tirou as faixas da testa e do braço, o jagan,que se encontrava escondido, se abriu. Kurama estava rodeado de uma névoa. Yuri estava perplexa com o que via, não conseguia se mexer de espanto.

- Dá o fora se não quiser se machucar, Yuri!

A nuvem se afastou e revelou um Kurama transformado, com orelhas e rabo de raposa, os longos e lisos cabelos prateados descendo-lhe pelas costas. Virou-se para a figura paralisada. Yuri assustou-se ao reconhecer a fisionomia do youko. Seu medo aumentou ainda mais. A raposa estranhou sua expressão.

- O que foi? Não me ouviu? Corre!

A palavra de ordem a tirou da aparente imobilidade, obedecendo-a instantaneamente. Correu mata adentro, sem direção, alguém agarrou-lhe o braço, quase matando-a de susto.

- Sshh, sou eu.

- Charlie?

- Isso, fique calma. É ele, não é?

- É...é!

- Saiu assustada!

- Claro! Você viu os três demônios que estão lá?

O youko apontou com a cabeça para o local de onde Yuri acabara de abandonar.

- Vi, que luta!

- Céus, quanto sangue! Sem dúvida vão sair muito feridos de lá....ou mortos....

"Isso mesmo", Charlie disse para si mesmo, com um imenso sorriso de satisfação nos lábios.

- Melhor não se meter com eles...

O youko deu de ombros.

- Você é que sabe. Ainda acho que eliminar essa besta amaldiçoada é a coisa certa, aproveitamos e acabamos também com o do olhinho.

- Charlie!

- Ta, ta! Só tava brincando...

Com muito ardor e suor, Kurama e Hiei acabaram com o grandalhão, que jazia no chão em meio a um lago vermelho. Estavam exaustos e muito machucados para conseguirem prosseguir.

- Tudo bem, Yuri! Já acabou!

Afastou-se cuidadosamente da raposa, dirigindo-se até os dois. Olhou para a nova aparência de Hiei e de Kurama. A raposa prateada lhe dava arrepios, o que não passou despercebido pela mesma.

- Parece estranho, mas depois você se acostuma com a minha aparência. É minha verdadeira essência.

- Parece que vamos ter de descansar um pouco, pelo estado de vocês.- evitava olhar para Kurama.

- Por isso e por outra coisa.- Hiei concordou.

- Que outra coisa?

- Notei que um youkai, mais precisamente um youko, tem nos vigiado desde o início da viagem. Yuri também percebeu, mas achei estranho que não tenha comentado isso conosco.

- Hã? E-eu não percebi nada...- riu nervosa.

Hiei desapareceu da sua frente, e apareceu onde Yuri havia ficado escondida. O fio da katana cortou com facilidade a imensa árvore, o youko que estava lá pulou e caiu de pé, mostrando-se.

- Esse aqui.

Com mestria, desviou-se do ataque do koorime e em seguida partiu para cima de Kurama, atacando-o. "Charlie?", desde quando essa raposa atrapalhada possuía aquelas habilidades?

Transformou uma planta espinhosa numa espada, e agora investia contra a kitsune prateada. Estando seriamente ferido, Kurama tinha dificuldades de se desviar dos golpes, e muitos abriam cortes profundos na pele branca.

- Chega!- Yuri segurou a mão de Charlie, impedindo mais um ataque- O que pensa que está fazendo?

- Me larga! Você achou que eu estava brincando?

- Mas...isso é covardia, olha o estado dele!

- Essa é a chance de ataca-lo! Quer ou não acabar com o seu pesadelo?

- Você entende isso como matar? Para!

O youko ignorou-a, empurrando-a para longe de si. Estava prestes a desferir o golpe mortal, quando a katana de Hiei interferiu. Passaram a digladiar.

- Não deixa ele escapar, Yuri!

Contrariada, aproximou-se da raposa caída. Aquela cena se repetia, só que estava invertida. Segurou o pêndulo com força, o outro percebeu o que pretendia.

- Yuri- suplicou- o que vai fazer?

- Fuja se não quiser morrer, kitsune.

Sua voz não conseguia parecer firme, tremia levemente. Os ouvidos aguçados de Kurama não perderam esse detalhe.

- Quer brincar de cão e gato?- sorriu maldosamente- Vai ser divertido.- passou a língua pelo canto da boca lambendo um resto de sangue, num gesto sensual.

Não teve de responder, Kurama levantou-se e começara a correr. Teve de segui-lo, deixando o koorime e Charlie lutando sozinhos.

Era difícil acompanha-lo, mesmo no estado em que ele se encontrava. Deslocava-se de um lado para o outro, cansando-a. Viu-o entrar numa caverna, entrou logo atrás.

Era muito escuro e úmido, certamente tentava confundi-la. Tomando fôlego, avançou naquele buraco, mas seus olhos não se ajustavam àquela escuridão, tropeçando a cada passo.

- Aqui!- a voz da raposa ecoou por todo o canto da caverna, era impossível localiza-lo.

Sentiu ser a caça, ao invés de caçador, aquele território a desfavorecia.

- Aqui.- Kurama murmurou no seu ouvido, antes de agarra-la por trás.

Segurou a mão de Yuri que segurava o pêndulo.

- Não vai fazer isso, menininha má!

Virando-a, prensou seu corpo contra a parede, imobilizando-a. Acariciava seu rosto com uma mão, contradizendo a outra que machucava seu braço.

- Percebeu que minha personalidade é totalmente diferente da de Suichi? Creio que minha verdadeira natureza é muito selvagem e desagradável a você, não é mesmo?

Lágrimas de dor corria pela sua face, molhando os dedos que seguravam seu rosto.

- Suichi simpatizou com você, até demais! Era esse seu plano? Deu certo?

- ...

- Não vale a pena mata-la.- apertou seu pescoço- Só preciso que me esclareça uma questão. Com quem aprendeu a manejar esse pêndulo?

- Ugh! S-sozinha...- disse com dificuldade.

- Mentira! Um youkai te ensinou! Quem?

- Eu juro, nunca tive um mestre...

- Eu não acredito...Onde está Kuronue?

- Ku-Kuronue?- o nome lhe soou familiar- eu já ouvi esse nome...- disse num fio de voz, mais para si mesma do que para kurama.

Relaxou as mãos que a apertavam. Foi a deixa para que Yuri se soltasse e o golpeasse, jogando-o para longe de si. Caiu de joelhos, tossindo. Vendo que a raposa tinha dificuldades de se levantar, arriscou-se a se aproximar.

- Tsc, tsc...que descuido...- recebeu um olhar furioso como resposta- Olha, antes de mais nada, eu não iria machucá-lo. Queria que você fugisse da fúria de Charlie. Sinceramente, ele nunca foi assim...

- Espera que eu acredite?- franziu a testa- Chama um youko de Charlie?

- Passamos por um rio- ignorou a pergunta- promete conversar civilizadamente, enquanto limpo seus ferimentos?

Fez uma cara de desgosto.

- Suponho que não tenha alternativa...

- Não mesmo...

Yuri passou o seu braço pelos seus ombros e o ajudou a se levantar e caminhar até o rio indicado.

- E Hiei?

- Não se preocupe. Me parece que é a você que ele quer, não vai mata-lo.

Tirou um lenço do bolso e molhou-o, limpando o sangue já seco dos ferimentos. Kurama enfiou a mão no cabelo, tirando de lá uma pequena semente, fazendo-a germinar.

- Faça um ungüento com isso- deu-lhe a planta.

Observou-a amassar as folhas nas pedras.

- Qual é a do youko de nome ridículo?

- É o único amigo que eu tenho, por muitos anos. O conheci há dois anos e meio, quando caçava um bando de youkais que estavam bagunçando um templo. Era o mais atrapalhado e fraco do grupo, ou pelo menos era, a despeito do que acabei de ver...

- E pode me explicar porque ele me atacou?

- Por que...- não podia revelar tudo agora- para me proteger, acho.

- Proteger? Há, há...que ingenuidade...um youko?

Não lhe respondeu, limitando-se a passar o ungüento nas feridas abertas. Parou de repente, incomodada.

- Porque eu to fazendo isso, se você mesmo pode faze-lo?

- Você disse que ia cuidadr dos meus ferimentos, não se lembra? Olha aí, ainda falta!

- Hunf!- voltou ao que fazia, concentrada.

O olhar de Kurama passeou pelo rosto de Yuri, as franjas douradas caindo-lhe pela fronte. Desceu para o pescoço e mais abaixo, onde a camisa tinha três botões abertos. Sem resistir, seus dedos foram desabotoando o resto. Yuri afastou suas mãos assustada.

- O que está fazendo??

- Vendo se é mesmo uma garota...

- Grande! Mais uma raposa engraçadinha para aturar!- Abotoou a camisa até o final.

- Eu te incomodo?

- Incomoda, sim! Será que não dá para voltar à sua forma ningen? Prefiro conversar com Suichi.

- Vai me falar de Kuronue?

- Primeiro você!

Suspirando de impaciência, a raposa prateada deu lugar ao ningen ruivo.

- Eu já ouvi esse nome, mas não o ligo à pessoa. Cacei muitos youkais, não consigo lembrar de todos, talvez ele seja um deles. Como ele é?

- Tinha asas negras, cabelo bem comprido e também negro.

- Tinha chifres?

- Não, orelhas pontudas...E manipulava pêndulos, como você.

- Puxa, eu não me lembro de ninguém assim....Eu juro! Eu comecei a manipular os objetos sozinha! Eu uso pequenas pedras penduradas em barbante e através delas controlo os objetos, simulo armas...mas foi uma solução que eu encontrei sozinha...

- Tem certeza que nunca viu alguém fazendo esse tipo de coisa?

- Não...Talvez eu tenha visto e gravado na cabeça, mas não me lembro de nada disso...

Tinha de aceitar o fato de que Kuronue tinha morrido, mas agora, com aquela garota, as esperanças se afloraram nas suas lembranças. Essa semelhança entre os dois, tinha de ser coisa que sua cabeça havia inventado, era ridículo pensar nisso..."Você viu ele morrer, admita isso!".

- Tudo bem...esquece esse assunto, foi uma besteira minha...

Cansados, Hiei e Charlie olhavam-se ofegantes. O youko sorriu.

- A luta está empolgante, mas meu assunto não é com você, adeus.

- Espera!

- Não tenho tempo para ficar perdendo com você, tenho coisas a resolver!

Virou-se e sumiu entre as árvores. Hiei estava sem forças para segui-lo. Precisava encontrar os dois, que ligação Yuri tinha com esse youko?

Ela saíra correndo atrás de Kurama, estariam lutando como ele estivera fazendo? Rezava para que não, o youko estava seriamente ferido para conseguir se defender. Usou o jagan para localiza-los , estavam próximos. Pôs as faixas no lugar e partiu para o local localizado.

A cena que encontrou o surpreendeu. Kurama, na sua forma ningen, conversava normalmente com Yuri. Não sentia tensão alguma entre os dois.

- Perdi alguma coisa?

- Hiei! Estávamos preocupados, já íamos procura-lo.

- O que aconteceu?

- Yuri cuidou dos meus ferimentos, você também precisa.

- E Charlie?- Yuri perguntou cautelosa.

- Quem? Ah, é o nome dele...Fugiu. Falou que o assunto não era comigo e foi embora, covarde.- a olhava desconfiado.

- O grupo de Urameshi deu o sinal faz meia hora. Estão naquela direção.

Demoraram cerca de uma hora para chegar onde eles se encontravam. A essa altura, já haviam controlado a situação e prendido o traficante.

- Onde vocês estavam? Foi difícil pegar esse carinha aqui!

- Tivemos problemas...- Hiei olhou para Yuri, que encolheu os ombros, resignada.

- Andávamos em círculo, e acabamos nos perdendo.- Kurama tentou justificar de outra forma.

- Bem, não importa mais. Com o sócio nas nossas mãos, vai ser mais fácil pegar o outro.

- Vamos leva-lo para a prisão de Mukuro.

- Não precisa, eu e Hiei fazemos isso. - o comentário de Mukuro teve um efeito certeiro em Kurama.

- Foi um prazer conhece-la, Mukuro.

- Igualmente.- olhou para o chão, ruborizada.

- Vamos para casa, galera!- espreguiçou-se Yusuke.

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CONTINUA



Senhorita Mizuki
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