CAPITULO 7
Como vinha fazendo a quatro dias depois do incidente, Yuri balançava no brinquedo do parque. Tinha esperanças de que Charlie aparecesse e lhe desse as devidas explicações.
"Está muito tarde, ele não vem". Ia se levantar, quando uma figura surgiu das sombras. Um youko se aproximou, e trazia no rosto uma fisionomia estranha à que Yuri estava acostumada. Possuía um ar de superioridade e arrogância.
- Decidiu aparecer?
- Estava me esperando? Mas que honra, estou lisonjeado, já que não costuma se rebaixar assim.
Sentou-se no balanço do lado, com um sorriso. A moça o encarou, incrédula.
- Sabe, Yuri, você me fez um grande favor. Encontrou Kurama para mim, e agora sei onde ele mora, onde trabalha. Tudo ficou mais fácil!
- Você está brincando!
- Brincando? Ah, sim, eu estava brincando, antes, com você. Acabou, Yuri.
Levantou-se, ficando de frente para ela. Segurou seu rosto, forçando-a olhar para cima. A expressão sombria suavizou-se, a voz voltou a ser doce como antes.
- Tão bonito...Pena que pertença a uma garota, mesmo que aja como sendo o contrário.
- Por favor, deixe Suichi em paz!
- Não, isso não!- aumentou a pressão dos dedos.
- Porque está fazendo isso?
- Pensei que tivesse entendido...Kurama é o youko mais poderoso do Makai, ainda que tenha tornado lenda. Derrotando-o, advinha quem acabará ocupando esse posto?
- Então você me usou?
- Mais ou menos. Pelo que eu havia entendido, também queria encontra-lo, ou estou enganado?
- Mas não para matar!
- Hnf!
- Você poderia propor-lhe uma luta justa, sem mortes!
- Não há justiça no Makai, isso é criação dos ningens estúpidos e fracotes!
- Charlie...
- Nunca entenderá, acho que é melhor nos separarmos, a partir do momento que tomou o partido dele, tornou-se minha inimiga também...
Aproximou-se do rosto que ainda segurava, encostando os lábios nos de Yuri, fora um toque breve e suave. Por fim passou a mão na sua cabeça, desarrumando ligeiramente sua franja.
- Adeus.
Permaneceu sentada no balanço, enquanto o via ir embora, desaparecendo na escuridão. Com as costas curvadas, num cansaço emocional, deixou duas pequenas lágrimas rolarem pelo rosto. Por sua culpa uma tragédia estava prestes a acontecer, para um dos lados.
"Estou sozinha...novamente."
Limpou o rosto com as costas da mão, esperou até que os soluços acabassem e seu corpo acalmasse. As meninas iriam estranhar seus olhos inchados, mas o que importava? Entrou na pensão.
- O jantar está pronto, o que aconteceu?
- Nada.
Estava sem fome alguma, comeu pouco e se recolheu rapidamente. Fechou a porta e encostou as costas nela, deslizando até sentar no chão. O quarto estava às escuras, iluminado apenas pela lua, que entrava pela janela.
- Seu namorado te abandonou?
Sobressaltou-se com a voz repentina e familiar. Levantou o braço, procurando o interruptor, acendendo a luz.
- Hiei? O que está fazendo aqui?
- Vim verificar o que você e aquele youko andam conspirando. Ao contrário de Kurama, eu não confio em você!
- Shh! Fala baixo!
- Porquê?
- Porque sim!
- Yuri? Posso falar com você, querida?
A garota tapou a boca do koorime, hesitando um pouco antes de dar-lhe uma resposta.
- Espere um pouco! Estou me trocando!
Sem se preocupar com a presença de Hiei, tirou a roupa e colocou o pijama, em tempo recorde. Finalmente virou-se para o rapaz, que a fitava com os olhos arregalados de espanto.
- Entra debaixo da cama, e fica bem quetinho!- ordenou em tom baixo.
Entendendo absolutamente nada do que estava acontecendo, ele continuou de pé, até que, impaciente, Yuri o empurrou para debaixo da cama. A porta foi aberta, e uma mulher roliça de meia-idade adentrou o quarto, com um prato de bolo nas mãos.
- As meninas disseram que você parecia tristinha, comeu pouco e nem esperou a sobremesa! Você não é disso. Trouxe um pedaço de bolo de chocolate, para te animar...
- Oh, obrigada. A senhora é muito gentil!
- Vai se sentir melhor, come.
A mulher sentou-se na cama, fazendo-a vergar com o peso. Hiei respirou fundo, ao ver o espaço em que estava se estreitar, ficando bem mais apertado. Nos últimos dias, Yuri não tivera tempo de varrer o quarto, e o chão acumulara poeira. Seu nariz começou o coçar, segurou-se para não espirrar e acabar denunciando sua presença.
- Está muito bom! A senhora é uma cozinheira de mão cheia!
- Oh, obrigada!
Jogava-lhe inúmeros elogios, mas queria acabar de comer logo e faze-la ir embora o mais rápido possível. Tinha de Faze-lo sem que ela percebesse sua pressa.
A poeira entrava mais e mais nas narinas, e o koorime não conseguiu mais agüentar. Um sonoro espirro soou, congelando o garfo de Yuri a meio caminho da boca e franzindo a testa da mulher. Sem perder tempo, olhou debaixo da cama, dando de cara com um par de olhos vermelhos.
- Olha só o que temos aqui! Andou esquecendo das regras, senhorita?
- Desculpa.- tapou o rosto com as mãos.
- Não adianta se desculpar, você sabe o que deve fazer, não sabe?
- Sei, sim senhora.
- Gosto de você, é uma menina responsável e boa, mas não posso abrir exceções. A última vez que fiz isso, em uma semana, todas as garotas trouxeram seus namorados escondidos.
- Eu entendo, sinto muito.
- Pode ficar aqui até conseguir outro lugar para morar. Regras são regras, me desculpe.
- Obrigada.
- Faça ele sair por onde entrou, eu não quero escândalo por aqui.
Com um suspiro, a mulher lançou um olhar furioso para Hiei, antes de sair batendo a porta.
- Ótimo! Era só o que faltava para completar o meu dia!
- O que eu fiz?
- Nada! Só invadiu meu quarto como um ladrãozinho e fez eu ser expulsa! É proibido trazer homens para dentro do quarto!
- Eu...
- Sai daqui, antes que eu te esfole!
Yuri jogava objetos no garoto, enquanto despejava inúmeros insultos. Hiei saiu pela janela, debaixo de uma chuva de bolinhas, assustado. Ficou num tronco de uma árvore próxima, deitado, observando o movimento do aposento, até que a luz fosse apagada.
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Kurama aproximou-se da escrivaninha de Yuri, que folheava vários jornais, parecia estar muito preocupada.
- O que está procurando?
- Um quarto de pensão.
- Ué, já não mora em um?
- Cansei de morar naquele lugar, a dona vive pegando no meu pé. Droga! O aluguel desses quartos são tão caros...
- Ah...Ei, você tem visto o Hiei? Ele sumiu por três dias.
- Não fala o nome desse desgraçado na minha frente, por favor!- explodiu, dando-lhe um susto.
- Por quê? O que ele fez?
- Nada!- "Eu e minha boca grande"- Não é da sua conta.
- Eu não entendo...aconteceu alguma coisa para ele sumir, fala para mim!
- Pergunta para ele, ora!
A moça saiu num rompante, empurrando Kurama para abrir caminho.
- Nossa!
Chegando ao apartamento, encontrou uma figura pequena, de cabelos espetados, no meio da sua sala.
- Lembrou de mim e resolveu aparecer?
- Mukuro me deu bastante trabalho dessa vez.
- Mas sempre dá um jeito de me ver, desapareceu por três dias inteiros!
Sem responder, Hiei se aproximou, não parecia interessado em conversar. Seu olhar malicioso que queria outra coisa, bem mais interessante. Desabotoou a camisa do ruivo, introduzindo as mãos por dentro dela, acariciando-lhe o tórax.
- Espera, Hiei. Nós precisamos conversar, sério.
- Depois.
Viu a cabeça negra vir de encontro a um de seus mamilos, mordicando-o, despertando uma reação imediata no baixo ventre da raposa. Com certeza não era o momento para se concentrar numa conversa, não no estado de excitação em que se encontrava.
Com as pontas dos dedos, ergueu a cabeça do koorime, trazendo seus lábios até os seus. O beijo inicialmente tímido, foi aprofundando-se, a língua invadindo a maciez da pequena boca quente. A emergência de seus corpos era tanta, que deitaram-se no carpete da sala, sem se importarem com a rispidez do chão.
Seus membros raspavam-se um no outro, dentro das inconvenientes roupas. Hiei quase arrancou-lhe as calças junto com a peça íntima. Segurando o sexo túrgido de Kurama, passou a estimula-lo, deslizando sua pequena boca por toda a extensão.
Kurama contorcia o corpo, tremia de prazer. Esperava que os vizinhos não ouvissem seus gemidos, não havia com que abafar os gemidos, mordeu a própria mão. Hiei o olhava extasiado para a raposa ofegante com os olhos verdes vidrados, enquanto o líquido quente explodia na sua boca. Sugou-lhe até que não restasse uma gota de sêmen, lambendo os cantos dos lábios, como uma criança lambe o resto de um doce.
Segurou o próprio sexo, masturbando-se. Virou Kurama de bruços, fazendo-o se ajoelhar. Introduziu-se no anel apertado, entrando devagar até entrar todo. Começou a mexer-se para frente e para trás, acompanhado pelo ruivo.
O ritmo aumentou, e o demônio segurou-lhe o membro, excitando-o no mesmo compasso. Puxou o longo cabelo do amante, fazendo sua cabeça vir para trás e seu corpo vergar. Nenhum dos dois conseguiu conter os gritos de êxtase que os atingiu. Os vizinhos que fossem para o inferno!
Deixou o líquido fluir para dentro de Kurama, enquanto sentia sua mão ser banhada pelo do outro. Caiu cansado em cima do companheiro, o corpo suado grudando no seu.
Haviam acalmado o ritmo das batidas de seus corações, abraçados. Levantaram-se e foram se deitar na cama. Acariciando-lhe, Kurama decidiu começar a conversa adiada.
- Hiei?
- Hn?
- O que aconteceu entre você e Yuri?
- O quê?- afastou-se.
- Perguntei de você hoje, e ela simplesmente explodiu, dizendo que não queria ouvir seu nome. O que aconteceu?
- Coisinha à toa, ningens se estressam demais.- bocejou.
- Não vem com essa, que alguma você aprontou!
- Droga!- Bufou de impaciência- Sabe aquele maldito youko de nome ridículo?
- O que tem ele?
- Eu decidi vigiar os dois, não confio muito nela. Vi eles brigarem e ele se despediu dela, como se tivesse terminado alguma coisa. Então fui para o quarto dela, ver o que mais eu descobria. Estava conversando com ela até que uma mulher esquisita entrou e Yuri me escondeu debaixo da cama. Eu acabei espirrando e a mulher me descobriu, parece que expulsou Yuri da pensão. Ela ficou uma fera, e começou a jogar um monte de coisa em cima de mim. Satisfeito?
- Você invadiu o quarto dela?- Kurama gritou, sacudindo-o pelos ombros.- Por isso ela estava procurando nos jornais uma pensão.
- Ai!
- Ela não tem família nem onde ficar, tem idéia do que fez?
- Não me importo nem um pouco.- o modo como Kurama falou despertou uma pontinha de remorso.
- Só tem uma coisa a fazer para repararmos o que fez!- olhou-o sério.
- Não, aqui não!- gritou, entendendo o que ele pretendia.- Não vamos ter liberdade com ela aqui.
- O que podemos fazer? Ela não tem para onde ir, a casa é minha e eu resolvo quem fica ou não!
- Ótimo!
Furioso, Hiei cobriu-se e virou para o outro lado, fumegando. Kurama suspirou, antes de se enfiar debaixo das cobertas.
Havia passado a manhã inteira de sábado visitando quartos para alugar, voltou desanimada. A maioria dos lugares eram mal cuidados, imundos, com goteiras, e os que prestavam custavam mais do que podia pagar. Foi um começo de dia frustrante, esperava que pelo menos tivesse um almoço decente lhe esperando.
Deparou-se com um carro vermelho, que reconheceu de pronto. "Espero que elas estejam bem, não quero ficar jogando água nas faces afogueadas daquelas assanhadas", entrou.
- Yuri, você não sabe quem entrou aqui, um ruivo lindo veio te procurando!
- Eu vi o carro dele lá fora.
- Você conhece esse gato? Peraí, vocês não...?
- Não, por favor! Ele é só um colega de trabalho. Onde ele está?
- Na cozinha, com a dona Rinko.
"Essa é demais, já não bastava o outro?". Abriu a porta da cozinha, Suichi estava cozinhando!A dona, claro, conversava animada com o rapaz.
- Esse é ponto certo...- Kurama parou de falar assim que se deparou com uma Yuri emburrada. - Oi!
- Esperou muito tempo?- perguntou ácida.
- Não, imagina. Fiquei conversando com essa senhora muito simpática.- sorriu para a mulher.
- Por favor, Suichi. Minha manhã foi terrível, desembucha, o que quer?
- Vim te buscar.
- Não se preocupe, já arrumamos suas coisas.
- Calma, calma. Arrumou minhas coisas, veio me buscar? Estou entendendo bulhufas!
- Vim pedir para que fique no meu apartamento, tem bastante espaço para duas pessoas.
- Para três, você quer dizer...- viu a mulher arregalar os olhos com o que disse, quase ia esquecendo dela.- Dona Rinko, eu preciso ter uma conversinha particular com esse rapaz, posso?
- Ah, claro.- abriu a porta, revelando um amontoado de garotas.- O que estão fazendo aí, suas xeretas!
- Hiei me contou o que aconteceu, encontrou algum quarto?
- Não.
- Pensei que pudesse ficar no meu apartamento.
- O que pensa que está fazendo? Eu não preciso da sua caridade.
- Não é isso, poderia ficar como minha inquilina. Vai ficar mais folgado para você, é melhor.
- Isso é ridículo. Certo, até eu achar um lugar decente e barato.
- Fechado?
- Fechado. Agora, o almoço está pronto? Meu estômago está clamando por comida, depois da maratona de hoje!
- Haha. Está quase.- voltou a mexer na panela.
Largaram as malas no chão do corredor, anunciando sua chegada ao novo lar. Hiei estava esparramado no sofá, vendo TV, que ele batizara de caixa com ningens idiotas. Olhou para a porta com descaso, não se deu o trabalho de cumprimenta-la.
- Como você tem coragem de trazer uma traidora para casa, Kurama?
- Como? Eu lhe digo: por causa de um youkai ridículo eu estou aqui, esqueceu?
- Não vamos começar outra discussão, por favor! Hiei tem uma coisa para falar para você, Yuri, Não tem?
- Eu?
- Hiei...
- Hnf! Desculpa.
- O que? Acho que ela não ouviu, falou muito rápido e baixo.
- Ela que fique sem entender!
- Hiei!
- Ta bom! Desculpa por ter invadido seu quarto e ter causado sua expulsão, se bem que mereceu...
- Ele não disse por mal...
A moça olhou de Hiei para Suichi, este a encorajou a fazer as pazes. Yuri andou até o sofá, ficando na frente da TV, o koorime cruzou os braços, sem olha-la. De repente, viu um punho se projetar na sua linha de visão, Yuri puxou um dedinho dele para fora, num gesto conhecido e infantil. Emburrado, o outro fez o mesmo, cruzando seu dedinho com o dela, era criancice, mas tinha prometido a Kurama.
- Ótimo! Viu? Não doeu, doeu?
- Para mim foi a morte!
- Eu vou preparar um lanche, fique à vontade!
Depois que o ruivo entrou na cozinha, Yuri se jogou no sofá, ao lado do koorime.
- Notou a presença de Charlie perto daqui?- sussurrou, sem desviar os olhos da TV.
- Não. Fiquei três dias rondando a região, e nenhum vestígio do desgraçado.
- No escritório também não tem, deve ter voltado para o Makai. Temos de ficar alertas, Suichi está vulnerável.
- ...- Hiei se limitou a assentir com a cabeça.
Passando algum tempo, Kurama adentrou com uma imensa travessa de sanduíches. Os dois continuavam sentados, pareciam pacíficos. Sorriu satisfeito.
- Que bom, não estão brigando. Verão que uma convivência mútua será possível.
- É só ela ficar no seu canto!
- É só ele não me provocar.
Responderam juntos, uma gotinha se formou na cabeça
de Kurama. Talvez fosse cedo demais para se aceitarem, pelo menos tentara.
CONTINUA