Kitsune

 
Por Kim Sanae


Hiei pulou sobre o parapeito da janela, seus olhos rapidamente vasculharam o quarto até achar o que procurava. Sentou-se tranqüilamente e ficou a observar seu amante, que repousava sobre a cama macia.

Kurama estava exausto, após uma batalha, que junto com Hiei, fora chamado por Yusuke, em uma de suas missões "extras", já que Koema havia dispensado-o antes de ir ao Makai. Como sempre, Yusuke insistira em receber missões, só por uma boa briga.

Kitsune...

Aquela palavra surgiu-lhe do íntimo ao fitar o rosto delicado de seu companheiro, os lábios perfeitos e o tórax descoberto.

Sempre quando encontrava Kurama dormindo, ele se enfiava por baixo do lençol, aconchegando o corpo ao de sua raposa, sentindo o calor e o perfume que dele exalava, para adormecer docemente aos braços de seu amante.

Porém, esta noite era diferente, Hiei não aproximara do leito, nem ao menos saíra da janela. Permanecia imóvel, com uma fisionomia séria e preocupada.

Suspirou profundamente levantando, quis ir embora para não acorda-lo, mas estava decidido...

"Kurama..." – pronunciou firme.

O som de sua voz tocou os sentidos do outro, que abriu lentamente os olhos, fitando-o afetuosamente.

"Hiei..." - sorriu cheio de carinho após sentar-se na cama. "Vem cá Koorime. Por que não se aconchegou aqui?" – tocou levemente ao seu lado na cama.

Não houve resposta, apenas o olhar fixo de Hiei ao seu, chegando até a incomodá-lo.

"Eu fiz ou disse algo errado?" – perguntou preocupado.

"Vou voltar para o Makai... De vez..."

Aquela frase abalou-o de tal forma, afetando seus sentidos, quis falar, perguntar, levantar e aproximar-se para segurar-lhe as mãos, pedir ao menos uma explicação, mas seu corpo não obedecia.

"Não quero que você vá atrás de mim, não me procure mais, pois eu não quero mais nada com você".

Kurama estremeceu, seu coração acelerou numas batidas dolorosas como querendo arrebentar-lhe o peito. Sentia seu rosto arder, e as lágrimas rapidamente banharam seus olhos deslizando incessantes.

Juntou forças para levantar, aproximando da janela vacilante, tentou segurar as mãos de seu amante, mas este se afastou o deixando ainda mais desesperado.

"Hiei... Por favor!" – implorou caindo de joelhos. "Se você quiser eu vou pro Makai junto com você... A gente pode viv..."

"Você não entendeu raposa estúpida! Cansei de brincar, acabou!".

Antes que saltasse para a escuridão da noite, sentiu os braços envolverem sua cintura, impedindo-o de se mexer.

Kurama o apertava fortemente, ainda trêmulo, não queria o perder, estava totalmente alterado, jamais o soltaria. Seus lábios procuraram os lábios amantes, para ter certeza de que tudo aquilo era uma brincadeira, ou algo passageiro. Sentiu quando o outro ia desviar a face, então a segurou firme com os dedos, ainda agarrado à cintura com o outro braço.

Hiei tentou livrar-se dele, mas sua boca foi totalmente envolvida à boca desesperada, que loucamente arrancava-lhe um beijo voraz. Sua respiração acelerou tornando ofegante, estava quase a se entregar àquela maldita sensação que surgia em seu peito, principalmente em seu baixo ventre.

Os lábios se separaram sem fôlego, ficaram mudos fitando um ao outro. Finalmente o silêncio foi quebrado pela voz entrecortada de Kurama.

"Ai shiteru Hiei..." – as lágrimas ainda deslizavam pelo seu rosto.

"Mukuro me espera" – ao dizer friamente, saltou para fora do quarto, bruscamente se soltando dos braços carinhosos que o envolvia. "Adeus Kurama".

"Hiei!!!"
 
 
 
 
 
 

Começava a chover, o vento forte balançava a cortina e as gotas começavam a molhar o quarto. Minutos depois, transformado em tempestade, avançava janela à dentro, banhando todo o chão, e o corpo estendido sobre ele.

Kurama não se levantara, ficou caído em desespero, não tinha forças para erguer-se, apenas deixava a chuva molhar o corpo frágil.

As lágrimas não cessaram um minuto, sua boca trêmula sussurrava em vão o nome amado, sua mente confusa procurava por respostas.

Por quê Hiei o abandonara?

Por que dissera aquilo?

Por que tão de repente?

Agarrou a cabeça fechando os olhos num tormento doloroso, as lágrimas voltaram a escorrer em abundância. Tentando manter a razão, sua mente voltou ao acontecimento anterior:
 
 
 
 

"Kurama estava apoiado na janela, esperava ansioso pela chegada de seu amante, que dissera retornar do Makai. As horas passavam e nem um sinal daquele demônio. Já inquieto Kurama afastou da janela já irritado. Tanto tempo sem ver seu Koorime e ele demora desse jeito!

"Ah! Hiei!" – pronunciou em voz alta.

"Esperando por mim?".

Ao olhar, Hiei estava logo a sua frente, na árvore que ficava encostada à sua janela.

Abrindo desesperadamente as cortinas, puxou-o quarto à dentro sem dar chances do outro fazer um movimento sequer.

Afagava-o urgente com as mãos dentro de suas roupas, querendo sentir a pele e o calor de seu amante depois de tanto tempo sem se verem. Suas línguas já se enroscavam num beijo ardente, cheio de ansiedade.

Totalmente sem ar, Hiei tentou separar-se um pouco daquele louco, que estava quase a estuprá-lo.

"Hei Kurama! Vá com calma..." – tentou conter a mão boba que o apalpava fogosamente. "Quer parar... Kuram...".

Cessou o protesto, deixando o outro afagá-lo. Sabia que seu amante tentou várias vezes encontrá-lo, só para passar alguns instantes a seu lado. Já fazia tanto tempo que estavam namorando, e cada dia que passava, o tempo que ficavam juntos era cada vez mais curto, hora uma ordem do novo rei do Makai, hora um resgate besta de algum ningen idiota, hora algum caso complicado do Reikai, mas, no entanto, o amor entre eles crescia mais e mais. Inclusive como agora, depois de tanto tempo sem se verem, o reencontro é mais satisfatório e ansioso.

Hiei também estava louco para revê-lo, queria logo sentir o perfume e o calor de sua raposa, conversar sobre qualquer coisa, só para ouvir a bela voz de Kurama, sentir-se amado, ouvir cada declaração, cada sentimento.

Depois de matar um pouco a saudade, Hiei sentou no parapeito da janela apoiando o braço numa das pernas flexionada junto ao corpo. Kurama o abraçou pelo ombro, dando leves beijos aos cabelos espetados, porém macios e suaves.

"Pensei que não viria, te esperei tanto!".

"Só passaram três meses, e você me via todo fim de semana..." – Hiei sorriu por dentro, sentindo um certo prazer, ao saber que fazia tanta falta à raposa.

"Três meses você diz! Para mim passou três longos anos de espera!" – num movimento, sentou-se também no parapeito, entre as pernas de seu amante.

Hiei deixou que ele se recostasse em si e pousasse a cabeça em seu ombro. Acolhendo-o com um abraço gentil, ouviu um suspiro rouco saído dos lábios de Kurama.

"Te amo..." – pronunciou cheio de carinho, com os olhos verdes lascivos. "Sinto tanto a sua falta... Quando você não está comigo, parece que parte de mim está ausente, triste... Sinto-me tão sozinho...".

Ao ouvir aquelas palavras, Hiei tomou-lhe um beijo longo, queria amá-lo ali mesmo...

"Kurama! Kuramaaa!!".

Pelo susto, Hiei jogou-se para o chão, tentando sair da vista da janela, enquanto Kurama ajeitava a roupa tentando disfarçar o embaraço que lhe surgiu, olhou para ver quem era.

Logo a baixo, Yusuke estava prestes a chamar novamente.

"Yusuke é você" – apoiou para ver melhor. "O que você quer?".

"Desculpa aí te atrapalhar bem numa hora como essa" – Yusuke sorriu num deboche.

Essa reação fez com que Kurama se enrubescer de vergonha, tornando-o ainda mais embaraçado.

"V-você? Atrapalhar? Do que você está falando, Yusuke?".

O outro se tornou desconfiado.

"Eu quis dizer numa hora, tarde da noite, em que você poderia estar dormindo, que nem essa" – num salto, Yusuke se posicionou frente à janela, sobre a árvore. "Porque o embaraço Kurama? E sua cara está..." – numa gargalhada maliciosa tentou ver quarto à dentro. "To sabendo! Fala aí Kurama, com quem ce ta aí heim?".

"Não é ninguém Yusuke!" – Kurama o fitou um tanto nervoso, fazia o possível para tomar toda a janela, impossibilitando uma ampla visão. "Você veio aqui para o quê mesmo?".

"AH! É claro! Já ia me esquecendo, êta cabeça triste a minha..." – num suspiro tentou lembrar-se. "Bem, eu tenho uma missão do Koema e, se sabe, queria que você e o baixinho invocado do Hiei também fossem".

Kurama cruzou os braços entediado, fitava-o seriamente.

"Resumindo Yusuke, você quer ajuda...".

"Por favor, Kurama! Eu sei que você não vai negar. Como nos velhos tempos!".

Com um suspiro longo e pensativo, Kurama assentiu com a cabeça, fazendo o detetive exaltar de alegria.

"Valeu Kurama! Agora a gente pode entrar facilmente no território de Pandora!".

"Quê!? Es-espera! No território de quem?".

Não foi possível obter resposta, pois Yusuke já estava longe, animado como sempre, nem percebeu a expressão do ruivo.

"Porque a surpresa Kurama?" – Hiei o olhava. "Você conhece esse tal de Pandora?".

"Ela mesma não, mas...".

"Mas?".

"Acho que não é nada!" – sorriu abraçando o Koorime. "Passaram-se tanto tempo, tudo já deve estar mudado...".

Hiei continuou a fitá-lo, querendo saber a causa do espanto, mas não se atreveu a perguntar novamente, se Kurama não queria dizer, ele não o forçaria.

Duas horas depois, ambos se encontravam com Yusuke, já dentro do Makai.

"Bom galera, vambora que já é hora!".

"Espera Yusuke!".

Num tropeço, ele virou-se para trás, para fitar melhor o amigo.

"Que foi Kurama?" – este o olhava seriamente. "Quê que ta pegando?".

"Não vai ser fácil entrar nesse território, melhor ter certeza de que estará preparado para tudo o que vier a acontecer, Yusuke".

"Como assim?" – intrigou-se.

"Você pode não voltar mais, se perder, ser capturado ou até morrer. Isso poderá acontecer a todos nós".

Ao dizer, Kurama começou a andar, conduzindo-os pelos caminhos do Makai. Hiei o olhava disfarçadamente, percebendo que seu amante mudara completamente, após pisarem no Makai. Estava sério, preocupado, poucas vezes falara.

Algum tempo caminhando, chegaram a uma estranha e densa floresta. Kurama parou logo à entrada, e como tomado por um transe, começou a retomar sua vida passada, mas foi interrompido por Yusuke.

"Kurama" – ele pousou a mão ao ombro do amigo. "Se você não quiser, tudo bem, eu faço o resto".

"Você não conseguirá sozinho".

"Tudo bem, eu dou um jeito! Obrigado por me mostrar o caminho. Valeu!".

Antes que entrasse floresta à dentro, foi impedido por Hiei.

"Espere! Eu também vou...".

"Tem certeza?".

A resposta foi um olhar cínico do Youkai. Kurama começou a ficar inquieto, segurou a mão do demônio, num apelo para que não fosse.

"Por favor, Hiei, estou com um mau pressentimento..." – sussurrou. "O Yusuke é mais forte do que a gente, e de uma forma ou de outra, ele tem sorte de nada afeta-lo. Talvez o pai dele esteja sempre a seu lado...".

Fitaram-se mudos por alguns instantes, Hiei sentia a mão de Kurama tremer, agarrada à sua.

"Hei vocês dois! O que vocês estão fazendo?".

Ambos se separaram, tentando disfarçar.

"Não é nada Yusuke..." – Kurama avançou na floresta. "Vamos te ajudar, você nos chamou e concordamos".

"Tudo bem mesmo?".

"Claro Yusuke".

Mas Kurama ainda continuava preocupado. Hiei percebia claramente, embora o outro tentasse camuflar. Tornaram-se tão íntimos, que um sabia o que o outro sentia, ou estava passando.

A cautela redobrou, pois agora estavam no território inimigo, as árvores se aglomeravam uma perto da outra e o solo úmido e disforme dificultava o caminho, além da pouca claridade, já que as copas das árvores altas e densas, tampavam a luz do sol. O inimigo poderia atacar de todos os lados, era preciso agir rápido.

"Me diz o que procura Yusuke" – pronunciou baixo, enquanto avançava para perto de um enorme muro feito de pedra.

"Um báculo em forma de caveira, Koema disse ser dos mortos".

Mal terminou de dizer, viu Kurama saltar agilmente pelas árvores, alcançando o topo do muro, desapareceu para o outro lado.

"Droga..." – quando Yusuke se preparava para fazer o mesmo, foi impedido pelo braço de Hiei.

"Kurama sabe o caminho e as armadilhas, você só irá atrapalhar".

"Tem razão Hiei, agora o que temos a fazer é, chamar a atenção do inimigo enquanto Kurama faz o resto lá dentro".

Hiei olhou novamente para o muro, preocupado com a raposa, antes de pôr em prática o plano de Yusuke, se aquilo lá era plano.
 
 

Após desfazer algumas armadilhas e despistar sentinelas, Kurama entrou cautelosamente no interior do castelo. Como tinha previsto, aquele ambiente que um dia marcara sua vida, havia mudado muito, inclusive as pessoas já não eram mais as mesmas.

A cada corredor percorrido, a cada armadilha desfeita, soube-se por algum motivo lá no íntimo, que o poder de Pandora se foi reduzido a nada, pois estava tudo tão fácil, sem as tramas de raciocínio da época passada. Realmente, o único Youkai que aquele demônio mais confiava, era capaz de levar qualquer grupo de ladrões ao poder.

Kuronue...

Sua lembrança surgiu-lhe trazido do mais obscuro passado de sua memória de Youko. Era ele quem traçava os planos de ataque e defesa, de um dos grupos mais terríveis do Makai, liderado por Pandora, que esta de líder não tinha nada, mas fora à única que conseguiu a fidelidade de um dos Youkais mais astuto e poderoso que já existiu.

Saindo de seus pensamentos, Kurama deparou-se com a sala dos artefatos, procurou cuidadosamente o objeto do Reikai, o encontrando sobre uma mesa de pedra.

Enquanto isso, Yusuke e Hiei lutavam contra inúmeros inimigos para dar tempo ao amigo de sair do castelo.

"Yusuke, fique atento".

Ao dizer, Hiei o largou sozinho contra todos os inimigos, e entrou pelo portão rapidamente.

"Hei! Hei, Hiei!".

Kurama já havia recuperado o báculo, estava preste a deixar o interior do local, mas foi surpreendido por uma voz.

"Quem é você, ladrãozinho?".

Ao olhar para uma porta situada do outro lado do salão, reconheceu ser Pandora, que continuava bela e delicada, seu corpo num tom pardo, coberto por um tecido semitransparente vermelho, denunciava os contornos suaves de uma garota, ao mesmo tempo em que seus olhos marrons brilhantes transmitiam a ferocidade de um demônio sanguinário, quem a visse de imediato, jamais imaginaria ser ela, uma ladra centenária com um passado coberto por violência e mortes, a líder daquele grupo. Como não estava na forma de Youko, não fora reconhecido, o que o aliviava.

"Seja você quem for, não poderei deixar que vá...".

Com um gesto, Kurama já estava totalmente cercado.

"De todo o jeito, você saberá quem sou. Mas não me verá novamente..." – retirando uma rosa dos cabelos avermelhados, fitou-a cheio de desprezo. "Chicote de Rosas!".

Com leves movimentos, o chicote partia os inimigos como papéis, e num instante, todos já estavam mortos.

Pandora olhava perplexa, sentiu uma imensa raiva brotar-lhe da alma.

"Kurama Youko!".

Kurama correu para a saída ainda atacando os inimigos que lhe surgia pelo caminho, antes que desaparecesse, Pandora atirou em sua direção, um dardo, tomado por uma fúria violenta.

"Não escapará, Youko Kurama!".

Antes que o dardo lhe atingisse, seu corpo foi lançado para o lado, caindo no chão. Sentiu alguém lhe segurar o braço forçando-o a se levantar, correram para fora, encontrando Yusuke.

"E aí Kurama, você conseguiu o...".

"Corre logo Yusuke!".

Após despistarem os demônios, saíram do território inimigo já exausto, e durante mais algumas horas, finalmente estavam de volta ao Ningenkai.

"Valeu pessoal, ajudaram pra caramba! Agora eu posso levar o negócio pro Koema" – ao pegar o objeto, ele estava totalmente danificado pela queda que Kurama sofreu, quando Hiei atirou-se sobre ele, tentando defende-lo.

Yusuke ficou pálido, Koema havia avisado para tomar muito cuidado com o báculo, mas agora, teria que ouvir aquele sermão.

Kurama largou Yusuke falando sozinho e procurou Hiei que estava mais à diante, encostado numa árvore, parecia muito cansado.

Aproximando-se, deu-lhe um beijo estalado na bochecha, com todo o carinho.

"Você está bem Koorime?" – quis enche-lo de beijos e abraços.

"Hn..." – resmungou.

"Estou tão exausto, tive que usar muito do meu youki para pegar o objeto, preciso descansar para me recuperar..." – passou o braço pela cintura de seu amante, puxando-o mais para perto. "Quer vir comigo?".

"Convite fora do combinado?".

"Preciso agradecer por ter salvado a minha vida..." – sussurrou-lhe ao ouvido.

"Depois eu vou..." – deu-lhe um beijo no pescoço. "Preciso resolver umas coisas ainda, lá no Makai...".

"A janela estará aberta".
 
 
 
 
 
 

A tempestade continuava forte e impiedosa, o quarto escuro era clareado pelos relâmpagos naquela triste madrugada.

Kurama ergueu-se com muito custo, apoiou no parapeito e tentou fechar a janela, mas não conseguiu. Ele já estava todo encharcado pela chuva, e sentia muito frio, tentou relembrar dos detalhes do acontecimento, porém, não encontrara nenhum motivo pelo qual Hiei o abandonara.

"Hiei...".

Passou-se mais alguns minutos, Kurama permaneceu de olhos fechados tentando ainda conter a dor e as lágrimas que não cessavam.

"Aconteceu alguma coisa e eu não sei o que é" – decidido, saltou para fora do quarto. "Hiei, vou atrás de você mesmo que você não queira!".

No Makai, Hiei apoiou numa árvore, sentia muito mal. Encostando-se ao tronco áspero, escorregou vagarosamente até o chão, sentando, abraçou ambos os joelhos, permaneceu de cabeça baixa.

O semblante cheio de tristeza e sofrimento de Kurama ainda permanecia em sua memória, podia ouvir sua súplica, seu choro, e aquilo o corroia por dentro.

Arrependeu-se profundamente, se culpou por fazer a raposa sofrer tanto, seu coração estava totalmente em pedaços. Mas era tarde, suspirou com dificuldade, e um pensamento o confortou mesmo que insignificantemente.

"Se eu não fizesse isso, ele sofreria pior. E se ele um dia vier a saber o motivo, espero que me perdoe, e me ame como sempre amou...".

Várias horas se passaram depois que Kurama retornou ao Makai. Ele havia procurado Hiei por todos os lugares que conhecia, mas não o encontrara, mesmo assim, não desistia, algo em seu íntimo dizia que precisava encontra-lo o quanto antes.

Finalmente, depois de passar por um bosque, ao qual, na época do torneio do Makai, ele e seu amado passaram uma deliciosa tarde namorando, sentiu o youki do Koorime, porém muito fraco.

Aproximou-se cuidadosamente para que Hiei não fosse embora se o percebesse, então avistou a árvore ao qual ele se aninhara. Passo a passo chegou mais perto, e pôde constatar inúmeras pedras preciosas ao redor do demônio de gelo, todas iguais, perfeitas, espalhadas por todos os lados, entre as flores e as roupas do Youkai.

O coração da raposa parou por um instante, cheio de dor e de tristeza ao vê-las tão brilhantes e aos monte, seu querido Koorime havia derramado com tanto sofrimento, mas por qual motivo?

Delicadamente relou nas pontinhas dos cabelos do demônio, mas este continuou imóvel.

"Hiei, fale comigo" – suplicou ajoelhando a seu lado.

Levantando um pouco a cabeça, deparou-se com o rosto entristecido porém lindo da raposa, os olhos verdes inundados pelas lágrimas e as bochechas rosadas. Ainda assim, depois de tudo o que disse para magoá-lo, percebia-se um carinho na expressão do ruivo.

"Kurama... Por quê?".

"Me diga Hiei. Qual o motivo para tudo isso que me disse? Não estou te amando como deveria?".

Com esforço, caiu aos braços da raposa, encostando a cabeça em seu corpo, as preciosas lágrimas que deslizavam de seus olhos logo encheram o colo que o confortava.

Foi com espanto e desespero que Kurama finalmente entendeu o que estava acontecendo.
 
 

Seu Koorime estava morrendo...
 
 

O corpo de Hiei estava gelado e muito pálido, tremia visivelmente.

"Hiei!!" – tentou reanima-lo. "O dardo, você me salvou dele, mas... Por que não me contou!?".

Desesperado, pegou uma pequenina semente dos cabelos. Era uma planta rara do Makai, que corta o efeito nocivo de qualquer vegetal, ou até mesmo de insetos ou animais venenosos. Porém, necessitaria de muito youki para faze-la brotar, jamais conseguiria na forma de Shuuichi Minamino, ainda que tivera gastado muita energia e não tinha se recuperado. Mesmo assim, Kurama esforçou-se para conseguir, mas de nada adiantou.

Foi nesse momento que se odiou do fundo da alma, seu Koorime morrendo em seus braços, bem na sua frente, e ele sem poder fazer nada para ajuda-lo.

"Hiei por favor, não morra!" – agarrou-o ainda mais, tentando elevar seu youki ao máximo. "Se você morrer..." – hesitou por um instante. "O que será de mim!?".

Hiei só conseguia ouvir a voz de Kurama muito distante, não o entendia, mas sabia que seu amante estava sofrendo muito.

Sentindo que já não havia mais salvação, o semblante de Kurama apareceu-lhe como mágica, seu sorriso carinhoso, os olhos verdes brilhantes e os cabelos avermelhados.

"Eu não posso morrer...".

Ouvia as palavras carinhosas, as declarações...
 
 

"Kitsune!!!".
 
 

Kurama abriu os olhos, estava muito exausto, parecia ter ouvido a voz de Hiei. Tentou levantar o corpo, mas não conseguiu. Desde que Hiei havia ido se despedir dele, as lágrimas não pararam mais de marcar o seu rosto.

Passando os dedos pelos fios de seus cabelos, retirou uma outra semente branca, ao qual, com um mero esforço de concentração, fez brotar uma flor vistosa, de cor viva e perfume forte. A flor da morte, com um grau de veneno letal muito alto, uma única pétala, mataria milhares de demônios de classe C.

"Viveremos sempre juntos, até depois da morte...".

Antes que pudesse fazer algo, foi impedido por uma pessoa. Ao ver, Yomi se encontrava a sua frente.

"Não se precipite, Kurama".

"Yomi...".

Com cuidado, o Youkai o carregou nos braços. Era a primeira vez que carregava Kurama em sua forma ningen. Um outro demônio carregou Hiei, também cuidadosamente, andaram durante algum tempo, até que Kurama adormeceu, tomado pelo cansaço.
 
 

O sol começava a iluminar o lugar, Kurama abriu os olhos, acordado pelo cantar dos pássaros. Depois de algum tempo tentando recobrar os sentidos, sentou-se desesperado procurando por Hiei, este, estava deitado a seu lado.

"Koorime..." – tocou levemente ao rosto amado.

"Ele está se recuperando".

Ao olhar, a mestra Genkai estava sentada de costas, bebendo chá.

"Mestra..." – ficou confuso, reparou no local que estavam, e viu surpreso, que sem dúvidas, era o templo de Genkai.

Percebendo que o jovem tentava raciocinar o ocorrido, ela se virou lentamente e o fitou séria como de costume.

"Alguns demônios o trouxeram para cá junto com Hiei. E disseram que logo que os encontraram, acharam melhor deixar aos meus cuidados...".

Kurama ouvia atentamente.

"Agradeço, mestra Genkai..." – sorriu um pouco triste. "Hiei, ele...".

"Ele quase morreu, mas não sei por qual razão, conseguiu sobreviver e está rapidamente se recuperando".

Genkai observou o sorriso nos lábios do jovem ruivo, e a felicidade com que ele olhava para o demônio deitado logo a seu lado. No fundo, ela sabia a razão que fez com que Hiei não morresse, mas guardaria aquilo para que o próprio Youkai confessasse.

"Mais uma coisa Kurama".

"Sim, mestra".

"Aja normalmente quando ele se recuperar. Hiei ficaria irritado se todos começarem a tratá-lo diferente".

Kurama não entendeu muito bem, mas resolveu seguir o conselho da mestra.

Passados algumas semanas, Hiei já estava bem melhor, até seu humor havia voltado ao estado natural de invocação. Dispensava todo e qualquer tipo de cuidados, sendo da mestra, de Yukina e até de sua raposa.

Julgando estar em ótimas condições, resolveu deixar o templo da velha Genkai e voltar aos seus deveres de antes. Despediu-se da mestra, num aviso rude de que partiria, e com um leve olhar para a irmã Yukina, tomou seu caminho em meio à noite escura.

"Kurama..." – lembrou-se de tudo que a raposa passara, e mesmo assim, continuava o mesmo com relação a ele.

Não pensando duas vezes, seguiu direto a seu objetivo. Queria e muito se desculpar com seu amante.
 
 
 
 
 
 

Saltando na janela, o vulto entrou silenciosamente, não o encontrando, Hiei suspirou aborrecido. Aonde foi se enfiar sua raposa? Provavelmente mais um compromisso ningen...

Chateado, deixou o corpo cair à poltrona que ficava num canto, aonde a claridade da lua não chegava. Ia ter de esperar como sempre.

Porém, a espera foi pouca, segundos depois, a porta do quarto se abriu, e seu olhar deparou-se com o ser mais encantador que pudera encontrar na vida.

Kurama entrou distraído, não percebendo que Hiei estava lá, mas este o contemplou perfeitamente. Admirando a pele úmida e macia, com a toalha presa em volta do quadril, sentiu desaparecer totalmente a razão, em meio àquela visão excitante, os cabelos molhados, dando um tom mais escuro aos fios escarlates e os olhos esmeraldas brilhavam feito verdadeiras jóias.

Não agüentando tamanha tentação, saiu do escuro, para a surpresa da raposa.

"Hiei, não o tinha visto".

"Mas eu o vi perfeitamente..." – sua voz era baixa, tentando disfarçar a excitação que já o dominava.

"Desde quando estava aí?" – perguntou-lhe sorrindo docemente, enquanto escovava os cabelos.

Hiei fazia o possível para ignorá-lo, mas seus olhos moviam-se como atraídos por um imã, para contemplá-lo.

"Vista-se logo raposa!" – rangeu já não agüentando tamanha provocação, seu membro já despontava quase ereto.

Kurama sorriu percebendo a excitação, e quis ir mais longe. Tirou a toalha desvendando toda sua intimidade aos olhos rubros que, não resistindo, o admirava. Caminhou lentamente até a cama, largando o corpo ao colchão macio.

"Você quer Koorime?" – perguntou apoiando o corpo aos cotovelos.

"Kurama..." – rosnou entre dentes. "Não estou aqui para isso!".

Kurama o olhava maliciosamente, percebendo claramente a inquietação de seu demônio.

"Isso é um não?" – perguntou-lhe com inocência. "Mesmo se quisesse, eu não poderia...".

Hiei o fitou intrigado.

"Hn?".

"Não estou excitado...".

Mal terminou a frase, sentiu seu membro ser envolvido pela mão ágil, pressionando lentamente, fazendo seu corpo estremecer.

"Ah...Hiei..." – deixou pender a cabeça para traz. "Você disse...".

Hiei curvou-se sobre seu corpo, aproximando o rosto ao seu.

"Não me provoque raposa..." – sussurrou-lhe ao ouvido.

Kurama começou a gemer baixo, enquanto Hiei o massageava cada vez mais rápido, levando-o logo à rigidez.

"Isso te excita?" – apertou-lhe o membro, fazendo-o gritar. "E isso?".

Rapidamente se posicionou entre suas pernas, tomando o pênis com os lábios, começou a sugá-lo com vigor, a língua deslizando todo o membro, umedecendo-o, sentindo a maciez e o sabor de sua raposa.

Kurama fincou os dedos aos cabelos de seu amante, arqueando o corpo e contraindo a face num prazer louco que o consumia, gemia alto.

Hiei afastou-se o fitando num sorriso tímido, Kurama abriu os olhos para admirá-lo, ambos suados. Viu seu Koorime despir-se e se debruçar sobre si num abraço envolvente misturando o calor e o suor de seus corpos. Os lábios fogosos sugando os seus para depois se embeberem num beijo cheio de desejo, cheio de paixão.

Hiei deslizou a boca para o mamilo sensível lambendo-o e sugando-o levemente, enquanto sua mão percorreu o caminho entre suas pernas até sentir a entrada íntima de seu amante.

Kurama contraiu-se todo ao sentir o dedo acariciando-o por dentro, entrando cada vez mais fundo. Fechou os olhos mordendo os lábios, com a respiração ofegante.

Hiei retirou o dedo e logo introduziu o membro, lentamente, com as mãos fincadas à cintura de sua raposa, fazendo movimentos de vai e vem para facilitar a penetração, ambos gemendo, ambos ofegantes, sentindo um ao outro.

Hiei introduziu-se por inteiro, encaixando-se perfeitamente ao corpo amado. Já sem ar, pousou a cabeça ao peito palpitante do outro, tentando conter o gozo que se aproximava.

Ficaram um tempo assim, trocando beijos e carícias.

"Gosta disso raposa?" – a voz rouca.

"Muito..." – murmurou com os lábios colado aos dele.

Hiei começou a movimentar o quadril, pressionando cada vez mais forte, cada vez mais rápido. Sentia o corpo de Kurama tremer a cada estocada num prazer sem limites, o suor escorrendo pelo abdômen que se contraia ritmado aos sons frenéticos de seus lábios. Era uma visão maravilhosa, cheia de voluptuosidade. Agarrou-lhe o membro, masturbando-o com a mesma intensidade que o galopava, tomados pela loucura de amarem um ao outro, sem tempo, sem hora, sem lugar, apenas a emoção que os consumiam.

Já não suportando mais, os gemidos de ambos tornaram berros de ânsia para logo em seguida explodirem num gozo de satisfação.

Caíram exaustos sobre o colchão, com a respiração alterada, tentando voltar ao normal.

Kurama abraçou Hiei carinhosamente o aconchegando sobre seu corpo. Fitou-o para ver se ainda estava acordado, e deparou-se com sua face iluminada por um sorriso satisfeito e as belas esferas rubras brilhando de paixão. Ele o olhava cheio de carinho, como que dizendo tudo o que as palavras não expressam.

"Ai shiteru Hiei..." – soluçou tomado pela emoção.

Hiei tocou-lhe a face com as pontas dos dedos, limpando as gotas cristalinas que deslizavam de seus olhos.

"Estou bem, raposa..." – sugou-lhe carinhosamente o lábio inferior. "Não se preocupe...".

"Você é tudo para mim, Koorime..." – apertou-o ainda mais ao corpo.

Hiei aconchegou-se àquela doce proteção, murmurando timidamente:

"Ai shiteru Kitsune... Sempre...".

O peito de Kurama arfou de felicidade ouvindo aquelas palavras, que jamais imaginaria ouvi-las dos lábios daquele demônio de fogo, mas sabia que ele as dizia toda vez que seus olhares se encontravam, a cada toque, a cada gesto, a cada beijo...

"Hiei...".

"Hn?".

"O que o salvou?".

Hiei apoiou-se nos braços encostando a face bem próxima à dele, até seus lábios se tocarem. Sentia as mãos macias do outro em seus cabelos, acariciando levemente.

"Que pergunta tola Kurama..." – fitou-o intensamente querendo mergulhar nos verdes olhos amante. "Você, Kitsune...".

Prosseguido por um beijo repleto de amor...

"Apenas você... Kitsune...".
 
 

Continua...