Caminho por essa noite solitária e calma, tentando organizar meus pensamentos. Pensamentos esses que estão confusos e desordenados, parecem lutar entre si, como que para chamar a minha atenção.
Afinal os deixei de lado; fechei meus ouvidos à voz da consciência que sempre me guiou desde o momento em que aprendi a andar sozinho e decidi sobreviver.
Deixei de ouvi-la no momento em que baixei minhas barreiras e me apaixonei por alguém como você.
Alguém que nunca reclamou dos meus maus-tratos ou grosserias. Alguém que sempre ouviu as minhas palavras e pensamentos cheios de ódio e rancor contra esse mundo que nunca me quis.
Por mais absurdas e loucas que elas pudessem ser, sempre teve tempo para ouvi-las. Mesmo quando as mesmas iam contra seus sentimentos e convicções mais profundas.
Você sempre teve tempo para mim. Sempre esteve ao meu lado, mesmo quando era agredido e humilhado.
Mesmo quando você sentia em mim um desejo pérvido e necessário de te magoar, de te ferir, para talvez assim você se afastar de mim.
Mas não... você continuava ao meu lado. Resistindo bravamente contra as suas próprias lágrimas.
Foram vezes sem conta, que depois de sair pela janela do seu quarto, me escondia entre as copas das árvores e observava você sucumbir e chorar.
Via a dor que eu lhe causava consumi-lo. Via você se arrastar até a cama e chorar até adormecer; eu perdia a minha própria batalha e voltava ao seu quarto....
...E velava seu sono. Observava a sua face triste e ... linda. E me perguntava como eu podia magoar desse jeito a única pessoa que se importava comigo de verdade, sem nunca pedir nada em troca.
Eu lutava contra você. Como eu podia te explicar isso?! Como explicar que eu tinha a necessidade de fazer você se afastar de mim.
Apesar disso, eu voltava na noite seguinte. Dividido, confuso e com medo. Medo que finalmente, o golpe tivesse sido muito duro para alguém como você e então a janela estaria fechada e seria para sempre...
Mas ela sempre estava aberta, e parecia não importar as lágrimas que você derramava durante a noite. Eu era sempre recebido com um sorriso nos lábios e aquele olhar tão brilhante e vivo. Me fazendo acreditar que eu era a causa de tamanha felicidade.
Confesso que lutei. Lutei muito contra você. Contra sua atenção, sua preocupação, seu carinho por mim.
Ao mesmo tempo que lutava contra você, lutava contra uma parte de mim também. Uma parte que eu julgava morta e esquecida.
Lutava contra meu próprio coração.
Lutava contra um sentimento avassalador que aos poucos foi tomando conta de todo o meu ser.
A necessidade de ver você, de te seguir, conhecer seus passos, sua vida verdadeira, seus pensamentos mais profundos e por incrível que pareça lhe mostrar os meus.
Aos poucos, parece que todo o seu empenho e o seu sofrimento foram recompensados. Apesar de toda a minha luta contra você... eu perdi e talvez pela primeira vez em minha vida inteira, não fiquei tão aborrecido com isso.
Aprendi a aceitar a sua atenção, o seu carinho. Apesar de que no começo, eu achava que tudo isso seria passageiro. Seria apenas uma mera atração física.
Mas confesso que me sentia estranhamente bem e orgulhoso quando sentia os seus braços ao redor do meu corpo exigindo atenção de uma maneira doce e ao mesmo tempo insegura.
Você parecia ter medo que eu pudesse fugir dos seus braços e nunca mais voltar. Era estranho e ainda é sentir essa sua insegurança. Como se eu fosse uma jóia rara e perfeita... Como se você não fosse digno dela.
Engraçado que esse sentimento, essa inseguraça também é minha. Apesar disso, me alimento desse seu amor. Amor que você devota com tamanho fervor e paixão que chega a me assustar.
A vida inteira eu lutei para nunca me prender a ninguém. Nunca ficar atado a nenhum lugar ou a qualquer pessoa. Aprendi desde cedo a ser sozinho e contar única e exclusivamente comigo mesmo. E nunca depender de ninguém. Nunca...
Aí, de repente, estou aqui cativo nos seus braços, aprendendo a ver esse mundo que eu detesto com outros olhos, talvez os seus.
Aprendendo a ver em pequeninas coisas, uma luz diferente que antes eu não podia enxergar.
Apesar disso tudo, de continuar afirmando sempre que nunca vou me apegar demais a você (Como se já não estivesse completamente preso dentro do seu coração). Sinto falta do seu corpo junto ao meu. Dos seus braços em volta do meu corpo, me apertando suavemente enquanto durmo.
Aprendi a dormir em seus braços. Livre de qualquer preocupação ou medo.Como se seus braços fossem meu porto seguro. Só consigo adormecer embalado pelas batidas suaves desse coração que você afirma que é meu e que sempre será.
Apesar disso tudo, continuo meu caminho nessa noite calma e tranquila. Andando como uma pessoa comum, nesse caminho que leva até os seus braços que eu sei que me esperam.
Meus pensamentos agora não tão confusos,
são seus. Apesar disso indicar que estou a cada dia
mais preso à você. Não vou
pensar nisso. Em outros tempos isso com certeza seria a morte para mim.
Mas agora, é apenas um outro aspecto da luz.
Luz essa que vejo nos seus olhos quando eles me veêm. Me sinto inundado de calor. Como se eu pudesse esquecer por algumas horas todo o meu passado na escuridão.
A voz da consciência diz que é um erro, esse amor. Mas prefiro não ouvi-la. Prefiro ouvir a voz do meu coração.
Que sempre disse que é perfeito amar alguém assim...
Alguém como você...
Minha raposa.