Hiei correu até onde encontrava-se o corpo caído. Ajoelhou-se ao seu lado amparando-lhe a cabeça.
“Kitsune! Fale comigo... Responda Kurama!”
Não adiantava. Kurama devia ter batido a cabeça em algum lugar, durante a queda, pois encontrava-se inconsciente.
Não podia se desesperar. Precisava ser prático e rápido. A vida de sua raposa dependia dele.
Estancou a hemorragia do ferimento aberto no peito da raposa, e tomando-o, com todo cuidado nos braços, partiu com toda sua velocidade ao único lugar onde sabia ter alguém capaz de cuidar de Kurama. Para o Templo de Genkai, onde Yukina encontrava-se morando com a velha mestra. Com seus poderes, sua irmã certamente seria capaz de curar sua raposa.
Genkai, Botan e Yukina já encontravam-se à espera de Hiei, à porta do Templo, quando este chegou com Kurama nos braços.
“Traga-o rápido.”, ordenou a mestra. “Já preparamos um quarto para Yukina cuidar dele. Depressa.”
Cansado pela longa distância percorrida com muita rapidez, o Demônio do Fogo apenas assentiu com a cabeça. Seguiu a velha mestra e sua irmã, apenas inquirindo a Botan:
“O que está fazendo aqui?”
A garota deu um pulo ao ouvir a fria voz do youkai, e lançando um olhar choroso de preocupação para Kurama, enfrentou o olhar de Hiei.
“O Sr. Koenma me enviou.. Foi percebido, lá no mundo espiritual, uma onda violenta de energia num dos portais que dividem o mundo das trevas e o mundo dos homens. Uma vez que os portais são campos neutros de energia tal acontecimento deixou todos muito preocupado. Então, o Sr. Koenma conseguiu localizar onde havia acontecido o desequilíbrio, e viu o corpo de Kurama, ferido, em frente ao portal. Logo depois você chegou.”
Botan parou, olhando interrogativamente para Hiei, que limitou-se a continuar andando, sem fazer nenhum comentário. Então, continuou:
“Quando percebeu que você havia tomado a direção do Templo da mestra, ele me ordenou que ficasse por perto, para ajudar no que fosse preciso para a recuperação de Kurama. O Sr. Koenma disse que ajudará no que for necessário.”
Pararam na porta do quarto e Hiei entrou para deitar a raposa no leito arrumado. Logo em seguida, Yukina ajoelhou-se ao lado do ruivo inconsciente, suas mãos emitindo a energia azulada de cura.
Genkai aproximou-se de Demônio do Fogo, falando num tom de voz baixo, porém firme.
“Venha, vamos sair. Yukina chamará se precisar de algo. É melhor deixá-la sozinha com ele.”
O pequeno youkai assentiu, mas ainda resistia em sair e deixar sua raposa. A koorime levantou os olhos meigos para ele.
“Pode ir, Hiei. Descanse um pouco também. Prometo que farei tudo para curá-lo. Fique tranqüilo.”, sorriu, e voltou a concentra-se no Youko.
Depois de olhar mais uma vez para sua raposa, Hiei seguiu a mestra e Botan para outro cômodo. Observou as duas mulheres, que mantinham o semblante grave e preocupado. Novamente, sentiu um arrepio gelado a percorrer-lhe a espinha.
Alguma coisa estava errada. E ambas sabiam o que era. Podia sentir. Botan estava muito quieta, o que era inédito vindo dela. Já a mestra, estava com o olhar mais sério do que o normal. Sim. Elas sabiam de algo que ele desconhecia, mas tinha uma certeza: fosse o que fosse, era a respeito de Kurama. Isso já era o suficiente para deixá-lo muito preocupado.
Decidiu acabar com o suspense de uma vez!
“O que está havendo, Genkai? O que está me escondendo?”
A velha mestra olhou fixamente para Hiei. Mas quando falou, dirigiu-se à garota que estava sentada ao seu lado.
“Botan, vá para o Makai procurar pelo Yusuke. Conte a ele o que aconteceu e diga para voltar para cá o mais rápido possível.”
“Tá, tá bom... Estou indo.”, saiu apressada, passando por Hiei, que continuava encarando a mestra, esperando uma resposta.
“Hn. E então?”
A mestra apontou o lugar à sua frente.
“Sente-se, Hiei. Nossa conversa é séria e o tempo de Kurama é curto.”
Aproximando-se, o youkai sentiu que realmente, algo estava muito errado.
“O que quer dizer? Como pode saber que o tempo de Kurama é curto, se cheguei com ele a poucos minutos? Fale!”
“Uma energia mística, muito forte, envolve todo o corpo de Kurama. O ferimento físico está se agravando por causa dessa energia. Percebi isso no instante que coloquei meus olhos nele! E Botan, por pertencer ao mundo espiritual também percebeu. E nós duas sabemos que, por causa disso, somente o poder de Yukina não será suficiente para curá-lo.”
O Demônio do Fogo teve seus maiores receios confirmados! Isso era algo muito ruim. Se nem sua irmã conseguiria salvar sua raposa, o quê mais poderia fazer?
Mukuro! Não podia permitir que vencesse!
“Hn. Deve haver algo mais que possa ser feito. Botan disse que até Koenma ajudaria no que fosse preciso. E então, Genkai? Além de Yukina, algum outro ser sobrenatural pode ajudá-lo?”
“Creio que sim. Quando Botan chegar, poderá nos dizer se há alguém no mundo espiritual capaz de fazer isso.”
Hiei voltou-se, os olhos chispando de raiva, em direção a mestra.
“Se é Botan quem pode responder essa pergunta, por que enviou-a atrás daquele esboço de demônio mal resolvido?”
A velha mestra não se abalou com a demonstração de fúria do youkai.
“Antes de mais nada, mesmo que Botan estivesse aqui para responder, nada poderia ser feito antes de Yukina ,pelo menos, estabilizar o estado de Kurama. Depois, Yusuke poderá ser útil, caso precisem correr contra o tempo. Se tiverem que enfrentar algum inimigo, ele poderá lutar enquanto você segue em frente com Kurama. Lembre-se que ele está inconsciente e fraco, por isso não conseguirá nem andar. Por fim, será o tempo necessário entre Botan encontrar Yusuke, e Yukina estabilizar Kurama. Pouparemos tempo.”
“Hn.”
Quanto a esse raciocínio, ele não poderia discutir. De fato se precisasse voltar ao Makai prá procurar um remédio para Kurama, seria bom ter alguém junto com ele prá enfrentar os monstros que, com certeza, Mukuro enviaria atrás deles. É claro que ainda não acreditava em nada do que aquela mulher havia dito.
“Me conte o que aconteceu com Kurama e de onde veio essa energia mística.”
Hiei percebeu que não era muito bem um pedido. Era quase uma ordem. E não estava acostumado a receber ordens.
“Hn. Por quê quer saber? De que vai adiantar?”
A mestra levantou-se num salto ágil. Estava na hora de alguém colocar aquele demônio invocado e desconfiado em seu devido lugar.
“Escute bem, Hiei. Você não é o único a preocupar-se com Kurama. Todos aqui gostam muito dele e são seus amigos. Não estou dizendo que todos ficarão sabendo do acontecido. Mas lembre-se: Se não contar o que houve, não conseguiremos pensar em todas as possibilidades para a recuperação dele. Também domino a sabedoria da Magia, mas o conhecimento é muito amplo, se eu não dominar o tipo de magia que cerca Kurama, teremos que descobrir alguém que domine. E como só você sabe qual foi, essa pode ser a diferença entre a vida e a morte de Kurama.”
A razão atingiu-o num raio. A mestra falara a verdade. Existiam muitos tipos de magia. Se nem Yukina, nem Genkai pudessem ajudar Kurama, talvez tivesse que procurar outra pessoa, e o tempo era curto para correram de um lado para o outro atrás de todos que dominavam a magia. Sabendo quem mais dominava a arte de quem atacou Kurama, as chances eram maiores.
Rendendo-se a essa verdade, o youkai encarou a mestra e disse entre dentes:
“Mukuro.”
Quando percebeu, estava narrando a Genkai, toda sua discussão com a mulher, a respeito da Promessa e Caçada que ameaçava-os, embora não acreditasse.
Genkai ouviu tudo com muita atenção, assentindo quando o relato chegou ao fim.
“Bom, pelo que entendi, Hiei, esse ataque a Kurama foi planejado. Ela não quer que ele morra agora, vai esperar o que prometeu ser cumprido, porque, acredite, vai acontecer. Esse tipo de Magia elemental é muito forte. Com certeza previu que íamos fazer de tudo prá recuperação de Kurama, por isso, acho que há alguma coisa por trás desse ataque. Ainda não podemos saber o quê, mas com certeza, há.”
O Demônio olhou firmemente para Genkai.
“Existe mesmo a possibilidade de tudo o que ela disse acontecer? De Kurama perder a memória, esquecer quem sou, o que sente por mim? E depois eu acabar sendo o responsável ou pela sua morte ou prisão? Isso não é lógico! Se ele perder a memória, é só eu sumir da vida dele por esse período e tudo o resto fica inválido!”
A mestra refletiu por alguns minutos antes de responder.
“Seu raciocínio tem lógica, claro. Mas não acredito que a própria Mukuro não tenha levado isso em consideração. Dessa forma, penso que, alguma coisa vai acontecer que te impeça de se afastar totalmente de Kurama. E isso é onde estará baseado o sofrimento que ela quer que você sinta. De qualquer modo, só teremos essas respostas quando soubermos como ajudar a recuperação de Kurama, e como ele ficará depois desta. Algo me diz que aí estará a chave prá tudo isso que Mukuro planejou.”
“Hn. Até lá, o que podemos fazer?”
“Esperar. Vamos esperar Yukina dizer como ele está, e esperar por Botan, para nos dizer que outros curandeiros há no mundo espiritual que possam ajudar.”
“Hn.”
Sem outra opção, Hiei caminhou até a porta do quarto onde estava sua raposa e ficou ali... Esperando.
Uma hora depois, Yukina saiu do quarto. Parecia estar exausta. De cima da árvore, onde estava descansando e pensando em tudo que Genkai dissera, viu quando a irmã entrou na sala onde a mestra estava. Num salto, encontrava-se junto a elas. A koorime, quando o viu, abaixou os olhos, falando em tom baixo e triste.
“Consegui fechar o ferimento, regularizar as funções... Mas não consigo livrá-lo da aura mágica. Está impedindo meu poder de conseguir atingi-lo no estado inconsciente em que se encontra... Não sei mais o que fazer, mestra.”, e olhando triste para o youkai, pediu: “Desculpe, Hiei.”
O Demônio do Fogo olhou-a por um instante. Em seguida, balançou a cabeça.
“Hn. Não se preocupe Yukina. Genkai já explicou que há outros meios de conseguir salvar Kurama. De qualquer forma, sem você, o estado dele poderia ser bem pior a uma hora dessas.”, voltando-se para a mestra, completou, “Ficarei com ele, até Botan chegar e dizer quem podemos procurar.”, sem esperar pela resposta, saiu da sala em direção ao quarto da raposa.
Hiei entrou devagar no quarto. Observar Kurama aí, deitado inconsciente, sem poder ver seus olhos, era por demais doloroso. Não conseguia conformar-se que a poucas horas estavam abraçados, sentindo o calor do corpo um do outro, confessando seus sentimentos, e de repente...isso.
Apertou as mãos com força, contendo sua raiva. Mukuro fora covarde. Atacou Kurama numa área onde ele não poderia sentir seu ki, nem prever o ataque. E atingira-o em cheio, pior, seria pelas costas, se o próprio Hiei não gritasse o nome da raposa.
Não. Não tolerava isso. Hiei tinha um código de luta, e atacar alguém num portal neutro de energia, era intolerável.
Ajoelhou-se ao lado do leito de sua raposa, tomando-lhe a mão. Estava fria. Ele deixou o olhar correr todo o corpo de Kurama detendo-se no rosto pálido. Acariciou-lhe a face suavemente, como jamais pudera ser capaz de acariciar algo ou alguém, enquanto levava a mão que estava segurando aos seus lábios, beijando-a docemente...
“Kitsune... Tantas vezes sonhei em acariciar seu rosto, seu corpo. Tocar e beijá-lo intensamente! Mas jamais poderia imaginar que a primeira vez que te acariciasse seria assim, com você ferido por causa daquela mulher.”
Passou o dedo, levemente, pouco mais que sua suave deslizar, nos lábios tentadores... Nenhuma reação... nem um mover de pálpebras... Segurou ainda mais firmemente a mão delicada e fria, levando-a até seu peito, apertando-a junto ao seu coração de demônio.
“ Eu juro a você, Kurama, minha raposa, vou fazê-la pagar por essa dor que te causou, de modo tão covarde. Não importa se terei que lutar contra essa magia, Promessa, seja lá o que for... Vou fazê-la pagar com sangue essa afronta. Mukuro escolheu o pior jeito de tentar se vingar pela rejeição. Ela vai saber, kitsune... ninguém toca na minha raposa. Ninguém!”
Inclinando-se com cuidado, depositou um beijo, quase num leve soprar, nos lábios da raposa. Sua raposa.
Ainda estava com Kurama, quando ouviu a voz de Botan. Depositou mais um beijo na mão da raposa antes de sair do quarto. Apressou-se em seguir para a sala onde Genkai e Yukina estavam, mas quando entrou, já não havia sinal daquela atrapalhada enviada de Koenma.
“Hn. Ouvi a voz de Botan. Onde ela está agora?”
“Foi até o Reikai, falar com Koenma. Disse que ele saberia a quem poderiam recorrer para anular o efeito dessa energia mística que envolve Kurama.”, Genkai respondeu encarando o youkai, e ele percebeu que ela queria dizer que não contara nada alem daquilo a Botan. Apenas se fosse necessário a garota e Koenma, bem como o inconseqüente do Yusuke, saberiam do ocorrido.
“Hn. Espero que não demorem a descobrir. Ele está fraco. Quase não dá prá sentir sua energia espiritual.”
A mestra olhou para ele de modo grave, e um pensamento atingiu-lhe no mesmo instante.
“Muito em breve, Kurama perderá a memória de Youko, com ela sua energia espiritual ficará adormecida.”
As palavras de Mukuro repetiram em sua mente. Será que...?
“Não vamos concluir nada precipitadamente.”, disse a mestra, como se lesse a mente do Demônio do Fogo, “O you-ki de Kurama pode estar fraco também pelo fato dele mesmo estar usando sua energia para recuperar-se dos ferimentos. Ele é forte, e já fez isso outras vezes.”
Sim. Era verdade. E Hiei esperava que fosse esse o motivo da energia do Youko estar tão baixa.
Mais uma hora passou. E quando o youkai pensou que fosse explodir de raiva pela demora de notícias, Botan entrou correndo pela sala.
“Conseguimos!”
Mal teve tempo de respirar e continuar a falar, pois Hiei já estava ao seu lado apertando-lhe o braço, sacudindo-lhe o corpo enquanto falava em tom raivoso.
“Tem noção do tempo que perdemos por causa da sua demora e daquele anão burocrático metido a sabe tudo? Sabe?”, ele quase gritava de ódio e indignação.
“Ai, ai, ai, ai!!! Eu sei , mas é que não foi fácil descobrir alguém que fosse garantido! Tá me machucando, seu doido!”, a garota gritava tentando escapar da mão que apertava-a como uma garra.
“Hiei! Largue-a, por favor! Ela trouxe a notícia de quem pode salvar Kurama! Tenha calma!”, era a voz preocupada de Yukina, as mãos segurando-lhe o braço, tentando fazer com que soltasse a outra garota.
“Hn. Tá certo. Vamos! Fale de uma vez!”
“Ai, seu grosso!”, retrucou, massageando o braço dolorido, “O Sr. Koenma disse que terá que levar Kurama até um yapsa.”
“Levá-lo até um yapsa?”, a velha mestra indagou surpresa, lembrando da lenda dos curandeiros espirituais do mundo sobrenatural, “Pensei que os yapsas atendiam chamados através da corrente de pensamentos.”
“E atendem, porém como não há tempo a perder, o próprio Sr. Koenma disse que seria melhor procurar o mais poderoso dos yapsas, seu nome é Yansang. Ele não responde aos chamados porque está preso em um portal negro, isolado dos de todos os mundos, cumprindo uma pena severa.”
“Hn. Não importa. Levarei Kurama até esse yapsa. Como chegaremos até ele?”
“Contamos com uma boa coincidência! O portão negro para o lugar onde Yansang vive, só abre na Lua Cheia de um dia 10 de cada mês. Por sorte hoje é dia 10 e a Lua está cheia!”
Genkai olhou firmemente para Hiei quando comentou:
“Nada acontece por acaso. Não existem coincidências quando forças místicas e uma forte Magia está atuando.”
O youkai entendeu a mensagem da velha mestra. Não deveria esquecer, embora ainda não acreditasse totalmente, a Promessa de Mukuro.
“Hn. Koenma permitirá a abertura do portão, aqui no pátio do Templo?”, indagou à Botan, que assentiu, temendo até falar com o Demônio do Fogo, que mantinha um olhar frio e duro.
“Abrirá a qualquer momento, uma vez que já anoiteceu.”, completou a garota, rapidamente.
“Está certo. Vou buscar Kurama. Nos encontramos no pátio.”
Apressou-se em direção ao quarto de Kurama. Tomando-o nos braços com todo cuidado, caminhou até o pátio. Dera apenas alguns passos, quando ouviu uma voz chamando-lhe.
“Hiei! Espere!”, ele virou-se e deu de cara com Yukina, que trazendo um pesado cobertor, tratou de proteger o corpo de Kurama, envolvendo-o totalmente, e olhando para o youkai comentou sorrindo, “É bom mantê-lo aquecido. Geralmente o portão negro é um lugar onde faz muito frio e tem muita neve. Prá você não fará diferença, não sentirá frio, mas Kurama está muito fraco. Pode sofrer com a baixa temperatura.”
Hiei abaixou a cabeça para o corpo encoberto sobre seus braços. Em sua preocupação em não perder tempo, não pensara nessa possibilidade de sua raposa sofrer com a travessia do portão. Olhando com ternura para a menina, disse em voz baixa.
“Obrigado, Yukina. Ficaria muito preocupado se Kurama sofresse além do que está sofrendo, por um descuido meu.”
A garota apoiou as mãos no braço de Hiei e sorriu confiante.
“Tenho certeza que esse yapsa vai curar Kurama. Logo tudo estará bem de novo, você vai ver.”
Embora ficasse agradecido pelas palavras da menina, o youkai voltou a assumir sua pose de indiferença.
“Hn. Preciso ir. O tempo está passando e o portão não deve demorar a abrir.”
Chegou ao pátio no momento que o portão começava a surgir na frente deles.
“Depressa”, gritou Botan, “Não ficará aberto por muito tempo.”
Hiei assentiu, começando a entrar no portão, quando ouviu o grito de Genkai.
“Hiei! Lembre-se de uma coisa, Yansang é um yapsa que vive condenado. Botan disse que ele cobra pela cura, ele vai cobrar algo para curar Kurama.”
“Hn. Pagarei qualquer coisa que ele pedir. Nem que seja minha própria vida.”
E, sem perder mais um segundo, desapareceu dentro do portão negro.
Assim que atravessou o portão, sentiu a neve batendo-lhe no rosto. Olhou para Kurama, protegido do frio graças ao grosso cobertor, e mentalmente, agradeceu a Yukina mais uma vez, por pensar na possibilidade da neve.
Olhando à sua volta, nada viu além de neve e elevações. Arrancou a faixa que cobria o jagan, utilizando-o para encontrar o caminho que o levaria até Yansang. Em pouco tempo, sabia a localização exata. Sem perder mais tempo, seguiu para o norte, na velocidade, que o vento forte e impiedoso permitia.
Pouco mais de duas horas foram necessárias para que chegasse à base de uma montanha coberta pela neve, onde sabia que no topo, encontrava-se a caverna de Yansang. Sem hesitar, iniciou a subida.
A neve começou em maior quantidade, e o vento ficou mais forte e gelado. Em pouco tempo começaria uma tempestade de neve. Teria que ser bem rápido para não ser apanhado pela tempestade antes de chegar até a caverna.
A subida foi difícil, mas nada impediria Hiei de levar sua raposa onde quer que fosse, para ficar curado. E era cada lembrança de certos momentos de Kurama que o fazia seguir cada vez mais rápido, embora nem desse conta do fato. Quando menos esperava, deparou-se com a entrada de uma caverna. Sim, aquela era a caverna de Yansang. Depois de cobrir o jagan novamente, e acomodar melhor a raposa em seus braços, chamou pelo yapsa.
“Yansang!”
Nenhuma resposta. Mas isso não abalou o youkai, ele tinha outros conhecimentos para identificar a presença de alguém. Fechou os olhos e depois de um tempo, falou novamente.
“Yansang! Sei que está aí, portanto responda!”
Uma risada suave veio do fundo da caverna e uma voz comentou.
“Ora, ora, um demônio com vários truques. Entre. Vi quando o portão foi aberto, assim já esperava visitas.”
Hiei entrou na caverna, com passos decididos. No começo caminhou em total escuridão, logo depois, aproximou-se de uma abertura maior, que encontrava-se iluminada pelo fogo que ardia não só em uma fogueira com em várias tochas espalhadas pelas paredes. De fato, era uma caverna maior do que parecia.
“Bem vindo à minha morada... Um Demônio do Fogo e um Youko, ora vejam só.”
Hiei analisou o yapsa da cabeça aos pés. Percebeu o olhar irônico e um tanto cruel. Porém, não encontrava-se com disposição para joguinhos. Encarando-o com um olhar assassino, resolveu ir direto ao assunto.
“Hn. Já percebi que você sabe o que somos e para quê viemos. Então? Pode curá-lo?”
O yapsa olhou para o Youko nos braços do youkai, em seguida levantou uma sobrancelha, devolveu rápido.
“Pode pagar?”, se o Demônio do fogo não gostava de enrolação, então iria direto ao ponto. Recuperar aquele Youko não seria fácil, e o que queria em troca também não era algo fácil, mas com os truques que o youkai possuía, não seria muito difícil .
“Hn. Se puder curá-lo, pagarei o que pedir.”
“Hummm. Muito bom.”, alisou a barba alaranjada, “Sim, posso curá-lo. Não será fácil e desde já aviso, devido à magia utilizada no golpe, poderá ficar com algumas seqüelas temporárias.”
“Hn. Que tipo de seqüelas?”
“Isso, só depois de curá-lo que poderei responder. A própria energia dele dará a resposta. Mas será um trabalho um pouco demorado. Então sugiro que, enquanto eu curo seu Youko, você vai atrás do que eu quero como pagamento.”
“Está certo. Mas se não cumprir sua parte no acordo...”, começou a ameaçar o Demônio do Fogo, puxando a katana.
O yapsa riu do jeito do youkai, em seguida disse levantando as mãos.
“Ei! Posso cobrar pelos meus serviços, mas sou um yapsa acima de tudo. Sabe que os yapsas não podem fazer mal a ninguém!”
“Então aceito o acordo. O que você quer em troca da cura de Kurama?”
Yansang apontou para um leito improvisado sobre uma pedra.
“Coloque o Youko ali e venha comigo.”, seguiu para um pequeno cômodo à direita de onde estavam.
Depois de deitar a raposa com todo cuidado sobre a pedra, e ajeitar o cobertor sobre seu corpo, Hiei seguiu o curandeiro. Entrou numa espécie de sala que continha uma mesa com vários vidros com substâncias coloridas, fora vários mapas de, acreditava ser , constelações. O yapsa encontrava-se atrás da mesa, com vários papéis amarelados nas mãos. Ele olhou para o Demônio do fogo e sorriu.
“De alguns anos para cá, estou dedicando-me à Grande Sabedoria, que também é conhecida por Alquimia, quem detém tal conhecimento torna-se muito poderoso. E eu desejo esse conhecimento”
“Hn. E o que tenho a ver com isso? Nunca ouvi falar nessa tal de Alquimia.”
“Vou explicar o que você tem a ver com isso. Veja esse desenho.”
Hiei aproximou-se da mesa onde estava o desenho que o curandeiro apontava. Mostrava duas figuras. Um bastão com duas serpentes entrelaçadas, e ao lado um ovo que tinha vários símbolos escritos em baixo do desenho.
“Esse objeto chama-se Caduceu. Também chamado de bastão mágico por alguns. O ovo, é o Ovo de Hermes. Responsável por muitos feitos dentro da Alquimia, inclusive a transmutação de objetos.”, explicou o yapsa, “Pois bem, Hiei, esse é o seu nome não? Quero que me traga o Caduceu e o Ovo de Hermes. É o pagamento pela cura do Youko.”
Hiei olhou para o yapsa, com os olhos chispando.
“Está maluco? Nunca vi essas coisas na minha vida. Como vou procurar algo que não tenho a mínima idéia do que é, prá que serve, como é feito? Pode levar anos! Kurama não tem nem um dia de tempo para esperar!”
O yapsa riu do jeito do Demônio do Fogo.
“Não seja dramático, Hiei. Com o jagan você pode localizar qualquer objeto que não esteja envolvido por outra mágica ou feitiço. Você não é o último discípulo de Yutsury?”
“O que tem a ver o fato de saber a doutrina de Yutsury? Você sabe como funciona. Usei a técnica com você quando cheguei aqui. Percebo a mente das pessoas. No que isso me ajuda nessa busca?”
“Esses dois objetos que te mostrei, estão guardados no Nigenkai. Um mundo que você conhece, não? Conhece até alguns nigens. O próprio Youko que trouxe e meio nigen. Então será fácil entrar na mente dessas pessoas e descobrir o Caduceu e o Ovo de Hermes. Assim que tiver os objetos em seu poder, é só voltar para cá. Eu mesmo abrirei o portão para você ir até lá e voltar.”
“São muitos nigens. Pode demorar muito!”
“Procure entre as pessoas certas. Nãos são todos que conhecem o valor do Caduceu e do Ovo, vasculhe as mentes dos mais Iluminados. Procure entre os Mestres de Doutrinas!”
Mestres de Doutrina? Talvez Genkai soubesse de alguma coisa, assim, sua busca seria mais rápida.
“Hn, Se pode abrir o portão, porque até hoje você não atravessou e procurou?”
“Pelo simples fato de que estou preso sobre uma forte magia. É minha sentença permanecer aqui. Digamos que é meu retiro espiritual forçado.”
“Hn. Tudo bem. Quando vai começar a tratar de Kurama?”
“Assim que você sair para ir atrás dos objetos. E quando voltar, seu amigo estará curado.”
“Então abra o portão. Vou agora mesmo. E trate de fazer seu serviço direito, caso contrário, nenhuma magia salvará sua pele da minha vingança!”
Abrindo o portão, o yapsa riu.
“Não se preocupe. Seu Youko ficará bem.”
“Hn”
Lançando um último olhar para sua
raposa, o Demônio do Fogo voltou para o Nigenkai. Direto para o Templo
de Genkai.
Yusuke não conseguia acreditar no que a mestra lhe dizia. Não tanto pela ameaça em si, mas o que estava por trás disso: Se Hiei possuísse Kurama, este morreria pelas mãos de Mukuro?!?! Isso queria dizer que Hiei e Kurama...????
Não. Não podia? Ou podia?
Estava nessas divagações quando levou um soco da mestra bem no meio da cara.
“Não está prestando atenção no que estou dizendo, garoto inconseqüente?”, gritou ela.
“Ai, sua velha maluca! Quer parar? Estava pensando nisso tudo!”
“Uma ova que estava! Estava era divagando sobre Hiei e Kurama! Isso não é da sua conta e não é o que importa realmente! O que importa é que se Mukuro conseguir realizar seu intento, os dois podem vir a morrer! Entende agora, seu idiota?”
Só nesse momento foi que o detetive deu-se conta da gravidade do fato! Kurama era seu amigo. E por mais que brigasse com o esquentadinho do Hiei, ele também era seu amigo, droga!
“Tem razão, Obaasan! Sinto muito. O que podemos fazer então?”
“Por enquanto, nada! Só esperar os dois voltarem do portão negro. Temos que saber como Kurama vai ficar, para daí pensarmos em alguma coisa.”
“É... tá certo velhinha! Enquanto a gente espera, dá prá rolar um rango esperto?”
“YUSUKE!”
Estavam pra começar outra discussão quando o garoto percebeu um ki por perto.
“Mas o quê..”, começou, mas parou, estupefato, quando viu Hiei à porta do Templo.
“Hiei! O que aconteceu? Cadê o Kurama? Você largou ele sozinho lá , seu demônio cretino?”
Hiei partiu prá cima do detetive com tudo.
“Seu imbecil! Idiota! Como ousa dizer isso na minha cara! Vai engolir todos os dentes antes de morrer!”
Começaram a se estapear, quando ouviram o grito.
“Querem parar vocês dois! Hiei! O que aconteceu? Porque voltou?”, era Genkai quem questionava o youkai.
Os dois se separaram, e Hiei lembrando-se que corria contra o tempo, encarou a mestra e disse.
“Vim atrás do pagamento do Yapsa. E já vi que você tem o que ele quer. Se não me der, Genkai, sinto muito mas terei que matá-la para conseguir!”, falou com voz firme e decidida.
“Ah, mas é muito abusado!”, era Yusuke de volta prá cima de Hiei. “Como ousa falar assim com a Mestra? Vai ver seu baixinho infeliz, me irritou. E quando fico irritado, prá mim meia dúzia é seis!!!!”
Hiei olhou para o garoto sem entender nada do que ele dissera, mas pronto prá lutar se fosse preciso.
“Cale a boca, Yusuke!”, Genkai interrompeu, “O que ele quer como pagamento, Hiei?”
“Hn. Ele quer o Caduceu e o Ovo de Hermes.”, disse Hiei olhando firme para Genkai.
“Ele quer o quê???”, Yusuke novamente intrometia-se na conversa, “que cara mais doido! Prá que quer casulé e um ovo de germes? Não pode ser uma caçarola qualquer e um ovo de galinha? Podemos arrumar de pata também!... Aiiii!”
O detetive sobrenatural levou outro tapa da mestra!
“Cale a boca menino burro! Você nem sabe do que está falando!”
Yusuke limitou-se a fazer uma careta e ficar ouvindo a conversa. Eles que se virassem. Não ia mais ajudar a resolver o problema do casulo e do ovo de vermes, ou seja lá o que fosse...
A mestra chamou Hiei para que a acompanha-se até outra parte do Templo. Quando entraram num sala escura, as chamas acenderam nas lamparinas, e uma mesa parecida com a de Yansang, mas limpa e sem nada no vidros, sobressaiu no meio da sala.
Genkai caminhou até uma mesa lateral e pegou dois objetos que estendeu ao youkai. Ele pegou-os e olhou para a mestra um tanto surpreso, por ela dispor de objetos tão preciosos, assim, facilmente, e sem dizer nada.
“Se o yapsa que tanto esses objetos, leve para ele Hiei.”
Percebendo a confusão do demônio, ela riu, e explicou.
“Hiei, esse yapsa deve estar envolvendo-se com os ensinamentos da Grande Arte, agora. Se ele quer tanto esses objetos entregue a ele. O que o tonto não deve sequer imaginar é que esses objetos que ele acha tão preciosos, qualquer pessoa pode comprar. O Ovo de Hermes é um ovo de cristal, em lojas especializadas, vende de monte. O Caduceu, qualquer pessoa também pode fazer. O segredo está em como utilizá-los durante a prática da ciência. E se ele estiver interessado nos grandes segredos, de nada adiantará ter isso se não tiver o maior de todos os mistérios, esse sim nunca conseguido até hoje por muitos praticantes da ciência: a Pedra Filosofal. Mas não conte isso a ele. Senão aí sim você perderá muito tempo.”, a mestra piscou para o demônio, que também sorriu de modo demoníaco. Tudo bem, aquele yapsa arrogante bem que merecia essa lição.
“Hn...er.... Obrigado, Genkai.”, disse um tanto sem graça, já que não estava acostumado a gentilezas.
“Ora pare com isso. Vá logo. Volte lá e traga Kurama.”
Assentindo, Hiei partiu para onde o yapsa abriria o portão novamente.
Voltando para a sala, a mestra flagrou o discípulo devorando todos os bolinhos que Yukina preparara para o chá. Yusuke não tinha jeito mesmo.
“Ei, Obaasan... cadê o espetadinho invocado? Foi atrás do ovo de berne e do caxopéu?
“Come e cala a boca menino ignorante!”, deu um cascudo no discípulo, “Quando Hiei voltar saberemos como está Kurama.”
“Ô velha doida! Não perde essa mania de me bater! Sai dessa bebé!
Hiei não precisou esperar muito até o portão ser aberto novamente. Atravessou rapidamente e logo estava de volta à caverna de Yansang.
Encontrou o yapsa sentado perto do fogo. Olhou ao redor, mas não viu sua raposa.
“Onde está Kurama?”, perguntou em tom raivoso.
“Está no outro aposento, mais quente. Afinal está muito fraco. Trouxe o que pedi?”
“Ele está curado?”, devolveu o youkai.
“Está consciente, mas vou precisar de sua ajuda para terminar o tratamento. Só a energia dele não será suficiente prá retirar toda a energia mística que o envolve.”
“Está certo.”, percebendo que, o yapsa realmente estava tratando de Kurama, apresentou para ele os objetos, “Estão aqui: o Caduceu e o Ovo de Hermes. Agora como cheguei, podemos continunar o tratamento?”
O yapsa sorriu satisfeito para os objetos e em seguida levantou-se para ir até o aposento onde o Youko encontrava-se.
“Claro. Venha comigo.”
Quando Hiei entrou no cômodo, não esperava ver Kurama com olhos abertos, esperando por ele. Ainda estava fraco e mal conseguia se mover ou falar, mas estava consciente. A alegria que sentiu quase sufocou-o naquele momento. Sua raposa estava bem. Iria sobreviver!
Os olhos de Kurama brilharam quando localizaram seu pequeno youkai. Todo seu corpo doía e queimava, quase não suportando a pressão que atingia todos os seus órgãos, mas só de olhar para Hiei, conseguia suportar tudo.
“Itoshii...”, mal conseguiu sussurrar.
“Kitsune!”, sem conseguir resistir mais, o Demônio do Fogo correu até a raposa, tomando-lhe a mão e beijando-a com extremo carinho.
O Yapsa aproximou-se pelo outro lado e disse para o youkai.
“Sei que não vai gostar, mas ele já sabe de tudo.”
Hiei olhou para o curandeiro e depois para sua raposa que assentiu levemente com a cabeça.
“Tudo o quê?”, indagou Hiei, sem entender nada.
“Quando consegui fazer com que recuperasse a consciência, ele quis saber onde estava e por quê. Com uma técnica mágica, fiz com que a própria energia dele, revelasse tudo o que ocorrera. Porque, mesmo quando estamos inconscientes, o ki consegue armazenar todas as informações do que ocorre ao seu redor, e lendo essa energia, conseguimos “ver” tudo o que não conseguimos lembrar de forma consciente.”
“Mas você não podia lembrar de tudo Kurama. Muita coisa aconteceu sem a sua presença.”, Hiei tentava acalmar os pensamentos. “Você sabe sobre o que Mukuro...?”
“A ...... Caçada....”, sussurrou a raposa.
“Como pode saber? Ele não estava presente! Foi você seu yapsa safado?”
“Não youkai! Foi você mesmo quem contou!”
“O quê? Tá doido? Eu não falei nada!”
“Você tocou nele, carregou-o até aqui, fora outras coisas que eu não vi.”, lançou um olhar malicioso que foi respondido com um assassino, “ Bom, seja como for, esse contato transferiu um pouco do seu ki para ele, então...”
Hiei entendeu! Kurama soubera tudo através de sua própria energia! Segurando-lhe a mão com força, falou com firmeza.
“Vamos vencê-la! De alguma forma, sei que vamos vencê-la!”
A raposa assentiu levemente.
“Sinto interromper, mas é preciso continuar com o tratamento.”, os dois demônios assentiram e ele continuou, “Bom, prá acabar com essa magia que te envolve Kurama, vou ter que usar o mesmo tipo de magia. Não há outra coisa capaz de curá-lo. Só que sua energia está fraca, então preciso da energia de Hiei. Obviamente, quando lidamos com magia, nada é impensado ou improvisado. Só a energia de Hiei serve no momento.”
“Por quê?”, quis saber o Demônio do Fogo.
“Porquê vocês estão destinados a isso. Foi por causa disso que essa energia foi lançada. Quem jogou essa energia em Kurama, invocou um ritual em que só a outra parte dele, ou seja, seu amor, seria capaz de resgatá-lo. Mas terá um preço prá vocês dois.”
“Qual preço?”, novamente o frio na espinha, a sensação de perigo.
“Uma vez feito esse ritual, vocês estarão unidos psicologicamente, mentalmente, energéticamente... serão um só! Conseguirão sentir as mesmas sensações só com um toque na pele. Serão capazes de ler a mente um do outro, terão uma ligação telepática incrível, suas energias combinaram cada vez mais, e alcançarão o máximo poder e comunhão depois da união carnal.... exatamente por causa disso, o desejo que sentirão um pelo outro será eterno, perfeito...”
“Então isso quer dizer que....?”, a mente de Hiei assimilou tudo muito rapidamente.
“Isso mesmo... como já estão unidos de todas as formas, o espírito, a mente e o corpo irão exigir a comunhão final... só que isso decretará a Morte da raposa se for apanhado durante a Caçada.”
“Não!”, Hiei gritou. “Têm que haver outro jeito de salvá-lo.”
“Infelizmente, não há... está escrito. É o Destino de vocês.”
“Hiei...”, era a voz fraca de Kurama... “Faça... no fundo, é nosso maior desejo...”
Assentindo, e sentindo que o tempo de sua raposa estava se esgotando, concordou com Kurama... era o seu maior desejo: Ele pertencia a Kurama tanto quanto a raposa pertencia a ele.
Yansang pegou o Athame, o punhal ritualístico, e a taça de ouro. Pegou a mão esquerda de Kurama e entrelaçou-lhe os dedos à mãos esquerda de Hiei. Prendeu ambas as mãos com uma faixa.
O tempo todo, Hiei mantinha os olhos fixos nos da raposa, e a raposa retribuía com a mesma intensidade, apesar do estado debilitado.
Com o punhal, Yansang riscou o símbolo da raposa no pulso de Hiei, recolhendo o sangue que saía do corte, dentro da taça. No pulso de Kurama, riscou o símbolo do dragão, também recolhendo o sangue que escorria pelos cortes, na taça, misturando com o de Hiei.
Uniu ambos os pulsos de forma que os cortes ficassem sobrepostos juntos. Levou a taça aos lábios de Kurama e deu um gole para a raposa beber.
Sem desviar os olhos dos de Hiei, o kitsune murmurou antes de beber.
“Eu confio em você, itoshii. Ai shiteru.”
Aceitou o gole, selando assim seu destino. Para o bem ou para o mal, ele pertencia a Hiei, e não se arrependia disso.
Foi a vez de Hiei beber um gole da taça das mãos de Yansang.
Como sua raposa, o Demônio do Fogo olhou fixamente para Kurama enquanto murmurava.
“Sempre cuidarei de você, kitsune. Você é a minha vida.”
Aceitou o brinde de sangue, selando seu destino. Para o bem ou para o mal, ambos estavam juntos para sempre, e não se arrependia
Kurama fechou os olhos e mergulhou na inconsciência.
Hiei sentiu o negror a envolvê-lo e perguntou assustado:
“O que é isso?”
“Você está sentindo tudo o que acontece com ele. Vai se acostumar com o tempo. Não existirá distância que os separe agora. Fique tranqüilo, o estado inconsciente agora, é necessário para a recuperação dele. Ficará novo em folha, mas já sei qual será a seqüela que ficará por algum tempo.”. disse Yansang alisando a barba.
“Hn. Qual será?”
“Ele perderá uma das memórias dele. Ou a nigen, ou a de Youko. Por causa do excesso de energia desse ritual. Salvará a vida dele, mas alterará um dos dois: ou o humano ou o Youko.”
E como num pesadelo, por já sentir todas as sensações de Kurama, como se fossem suas, o youkai soube da resposta no mesmo instante.
“Ele perderá a memória do Youko.”
“Você sentiu, já?”, Hiei assentiu, “Isso é ruim. Ele perderá todas as habilidades do you-ki então. Não poderá manifestar a energia. Será um ser humano comum até recuperar a memória.”
“E quando será isso?”
“Só a mente dele poderá saber. Pode ser rápido, como demorar anos.”
Yansang foi saindo da sala lentamente.
“Vou abrir o portão prá você levá-lo de volta. Quando ele acordar, pode estranhar se encontrar aqui. Afinal, não vai entender nada, e isso pode ser perigoso prá ele.”
“Sim. Eu sei prá onde levá-lo.”, no fundo, já sabia mesmo antes de precisar descobrir.
Pegou sua raposa nos braços, sentindo no mesmo momento, todas as agitações e confusões da alma de Kurama, que não estava entendendo por que, aos poucos, ia perdendo as lembranças de Youko.
“Calma, kitsune..”, enviou através da mente a mensagem, percebendo que no mesmo instante, Kurama relaxava em seus braços, respondendo ao apelo da mente. “Lembre-se que sempre estarei ao seu lado. Protegerei você. Ela não vai conseguir o que quer.”
Porém, quando atravessou o portão, Hiei aceitou a terrível realidade: de certa forma Mukuro já conseguira uma vitória. Kurama perdera a memória de Youko e também esqueceria dele, por causa da Magia imposta pela vingança. Um terço da Promessa fora cumprida.
Chegou ao Templo de Genkai com Kurama nos braços. Estava exausto física e emocionalmente. Mas ainda teria que conversar com Genkai, Botan e aquele idiota do Yusuke.
Deixou sua raposa aos cuidados de Yukina, apenas depositando um beijo na mão relaxada. Não sabia quanto tempo levaria até poder ver Kurama novamente.
Saiu do quarto e foi ao encontro dos outros. Sem rodeios contou tudo o que acontecera. Por incrível que possa parecer, Yusuke ouviu tudo em silêncio, compreendendo que agora a situação era muito séria. Não tratava-se mais apenas de hipóteses. Kurama perdera a memória, uma Caçada seria decretada e se Hiei e Kurama cedessem ao desejo, o Youko estaria condenado à morte.
“O que pretende fazer, Hiei?”, perguntou a mestra, quando ele terminou o relato.
“Vou me afastar de Kurama. Se ficarmos juntos posso não resistir tocá-lo e tudo estará perdido. Se ele me ver e recuperar a memória sofrerá a mesma coisa. Vai lembrar de nossa união e o mesmo desejo irá atormentá-lo. Posso sentir tudo o que ele sente, assim vou protegê-lo à distância, e conto com a ajuda de vocês para o protegerem de perto.”, ele olhou firme e sério para Yusuke.
“Sem problemas. Kurama é nosso amigo. Vamos fazer tudo prá ajudá-lo. E vou pedir para o carequinha lá do reino do meu pai ficar de olho no que acontecer no Makai. Se a Mukuro decretar a caçada, vamos ficar sabendo rapidinho, falou?”
“Hn. Não esqueça de treiná-lo. Ele vai ter fragmentos de memória. Vai reconhecer o nome de Kurama, vai com alguns dias conseguir manejar a rosa e as sementes, mas não tem a energia para transformá-las, certo? Isso é importante. Não deve esconder o passado todo dele, mas não toque no passado do Youko.”
“Por quê não?”, perguntou o detetive confuso.
“Porque se ele lembrar de repente vai querer me procurar!”
“Ah! Saquei! Pode deixar. Ninguém vai falar desse passado com ele. Também, ninguém conhece a história inteira dele mesmo.”, deu de ombros o detetive.
“Vai voltar para o Makai?”, era a mestra de novo.
“Não. Vou ficar no Nigenkai com Kurama. De longe. Sem que ele possa me encontrar.”
"Mas onde você vai comer, dormir... essas coisas...?”, Yusuke perguntou assustado com a decisão de Hiei. Ele odiava o Nigenkai, mas devia amar muito Kurama prá se sujeitar a isso.
“Hn.”, o youkai deu de ombros.
“Kurama só vai ficar aqui por um ou dois dias depois que acordar, se bem conhecemos ele. Por causa da família, vai querer voltar prá casa.”, era a mestra falando novamente. “Depois que ele for embora, você vem prá cá, Hiei. O Templo é isolado por forças místicas e os demônios não conseguirão localizar o seu ki aqui dentro. Isso protegerá você e Kurama. Afinal, eles poderão tentar localizá-lo através de você, uma vez que o you-ki dele está adormecido.”
“Tudo bem. Vou embora antes que ele acorde.”
E saiu tão rápido que ninguém conseguiu dizer uma palavra.
Durante dois dias, depois que acordou, Kurama ficou no Templo do Genkai, com Yusuke, Botan e Yukina. Sentia-se muito estranho. Conseguia lembrar de sua rotina como Shuuichi, lembrava de algumas lutas como Kurama, mas outras partes de sua mente simplesmente deixaram de existir... e isso começou a deixá-lo muito vulnerável emocionalmente. Claro que não deixava ninguém perceber... Mas sentia falta de algo... algo que parecia ser vital para ele... só que não conseguia se lembrar do que era.
Enfim, resolveu que estava bem fisicamente prá voltar para casa. Afinal, lembrava-se da sua vida humana, só não lembrava de tudo que se referia ao seu passado como demônio. Agradeceu a Genkai pela hospitalidade e a Yukina por cuidar dele, despediu-se de Botan e partiu de volta à cidade com Yusuke.
Quando terminou de descer a escadaria do Templo, olhou para trás sentindo o coração apertado... como se estivesse deixando ali, algo se extremo valor e importância... Suspirando seguiu com Yusuke, mas a tristeza que não sabia de onde nem por que nascera, acompanhou-o, e sentiu que seria sua companhia dali em diante.
Hiei observou a partida de Kurama, de cima de uma árvore, no pátio do Templo de Genkai.
Sentiu todas as dúvidas, aflições e saudade... Kurama podia não saber identificar a saudade... Mas Hiei sabia, e essa saudade encontrava eco em sua alma... Bem como a tristeza de Kurama seria a sua tristeza também, por ansiarem por ficar juntos, e estavam condenados à solidão.
Dois dias... e quase colocara tudo a perder várias vezes. Inúmeras vezes o desespero ao sentir a saudade de Kurama e seu amor chamando por ele, mesmo inconsciente, quase fizera com que jogasse tudo prá cima e aparecesse contando toda a verdade. Mas não podia. Fizera os outros prometerem e todos, inclusive ele, estavam presos a um segredo para proteger a vida de Kurama.
Teria que ser forte para superar a ânsia de estar perto de sua raposa, sentir seu cheiro, tocar seu corpo, acariciar seus cabelos...
Pronto!... Lá estava aquela onde de desejo alucinante, sufocando-o novamente... clamando pelo único ser que poderia completá-lo novamente... Kurama... sua raposa... Mas não podia ceder... tinha que controlar esse desejo, esse amor, de qualquer maneira. A vida de sua raposa dependia dele...
Voltando para o Templo, Hiei tentou aplacar seu desejo voltando a se concentrar no treinamento, e aceitar a solidão que o acompanhava desde o último beijo que depositara na mão de sua raposa, a dois dias....
Novamente as palavras de Mukuro a ecoarem em sua mente atortmentada pela falta de Kurama.
“Seu desejo será o seu castigo. Para ambos.”