O Amor


                                                                                                 Por Midnight


 
 

A vida de samurai errante incomodava muito. Havia sido uma prova a qual se submetera. Afinal tinha de se expiar. Tinha de reconsiderar todo o seu passado, e romper os laços com alguem que ele não queria mais ser.

A solidão ajudava-o a pensar. E precisava estar só. Ou entao ia acabar arrastando todos a sua volta para aqeuele mesmo poço sem fundo de culpa e matança que ele habitava. Suportava o isolamento com facilidade. Um guerreiro era ensinado a superar tudo, até mesmo o próprio desejo de amar, de ter alguém.

Nada de sexo antes da luta. Nada de relacionamentos. Nada de pessoas preciosas e queridas que pudessem ser usadas como reféns e vítimas dos inimigos que não derrotara ainda.

Mas as vezes... Só as vezes, ele sentia falta de uma companhia.

Isso era necessidade de amor? Era apenas solidão? Ou era um mero tesão, um lado animal tão forte que sua disciplina de samurai ainda não conseguira dominar?

Kenshin contemplou a escuridão da noite, e ao mesmo tempo ia deixando aquele vazio crescer dentro dele. Era uma daquelas noites em que seu desejo, sua necessidade de ter alguém com quem dividir seu futon, não podia ser negada.

A Natureza o ensinava. Memso as mais brutas feras tinham instantes em que necessitavam de carinho. Mas não podia-se achar que uma andorinha fosse parceira de uma raposa. Uma serpente não se deitava com um coelho, Um tigre não procurava pela companhia de um gatinho. Por isso, ele escolhera Sano.

Sano, o guerreiro, o rebelde, o que tinha um temperamento como fogo, e que também era poderoso como ele - Iguais, os dois se entendiam.

E será que isso podia ser considerado amor?

A verdade e que ia acostumando-se com a presenca de Sano. Gostava de vê-lo, ouvir sua voz, ou ao menos saber que ele estava perto, a seu alcance. Lutavam juntos, viviam juntos, riam, se alimentavam, se divertiam, sempre juntos... E Kenshin decidira que aquela noite iriam se tornar mais que amigos.

Caminhou pelo escuro, silencioso, o pequeno espaço que o separava do amigo. Seus pés descalços não fizeram nenhum som no piso de madeira. Ele desfez a faixa do seu kimono, sempre olhando para aquele vulto que ressonava baixinho, e se ajoelhou no chão.

Bastou aproximar-se, e estender a mão para tocar o ombro dele, e o outro guerreiro acordou. Era assim que vivia qualquer um que vivesse para a batalha - num alerta permanente, a espera de que um inimigo se aproximasse na calada da noite. Mas dessa vez nao era um inimigo. Era apenas um amigo.

"O que quer, Kenshin?"

Ele hesitou um instante. Num instante breve pensou em dar uma desculpa qualquer, e voltar para seu sono; ou melhor, para sua insônia. Podia esquecer o desejo e se abraçar a sua katana apenas, ao invés de...

Kenshin agarrou o amigo pelos ombros e o beijou.

Kenshin beijou Sano devagar, saboreando a boca dele sem precisar fazer força para mantê-lo imóvel. O amigo não resistiu; mas também não retribuiu.

Olharam-se firmemente na escuridão. Os dois vultos se encaravam, com a respiração suspensa. Nenhum dos dois ousou falar nada.

Kenshin afastou-se um pouco. Afagou o ombro do amigo e baixou o rosto, meo desalentado.

Talvez tenha sido um erro.

"Desculpe... eu..."

Sano o deteve. Os olhos de ambos estavam fixos, um no outro. A escuridao impedia que observassem a reaçao um do outro. Não era algo que fosse visto. Era uma sensaçao, que ia crescendo entre eles. Crescia mais a medida que o silencio entre eles continuava. E não era raiva. Não era medo. Não era nojo. Era perplexidade sim, só que era uma perplexidade satisfeita.

"Você é meu melhor amigo. Eu não quis fazer isso..."

A voz de Kenshin era suave. Ele realmente pedia desculpas, e se afastava, só que Sanosuke continuou segurando seu braço, dessa vez com mais força.

"Se não queria, porque fez?"

Kenshin nunca fôra de falar muito. Permaneceu num silencio amuado, aborrecido com a sua própia fraqueza, que agora punha a amizade deles a perder.

"Kenshin! Fala, por favor!"

Não houve resposta. Kenshin tentou se levantar e se afstar de Sano, mas este o agarrou firme.

"Você acha que está falando com alguma criança? Acha que eu não sei o que está acontecendo?"

O"Retalhador"até sentiu receio. Sanosuke soara tão enérgico, tão zangado... Olhou para o amigo sobre o ombro, e seus lábios se moveram num pedido muito humilde por perdão.

Seu rosto se alterou de repente, seus olhos se arregalaram como choque, quando foi atirado de inesperado no chão, com energia. Era um movimento rápido, brusco, forte, mas ele não sentira raiva, nem agressividade do amigo.

Foi atirado no chão e abraçado firme, com paixão. O amigo o envolveu com os braços, e suas mãos tatearam seu corpo inteiro, desmanchando o seu kimono com puxões vigorosos.

Nunca pensara que fosse tão simples, tão fácil. Um tormento de meses acabara agora... Tantas vezes olhara para seu amigo e o desejara em silencio... Se soubesse que era tão fácil, não teriam perdido tanto tempo manejando apenas espadas e armas - era tão melhor que manejassem um ao outro, até o climaz, até a felicidade suprema...

"Sano..."

A boca do rude rapaz calou a de Kenshin com um beijo devorador.

O ruivo prendeu a respiração e afundou todo na boca de seu amigo, enterrando a lingua na boca dele com força e desejo, num beijo viril, cheio de possessividade e força. Um beijo que marcava, que machucava, e que também os excitava demais.

Suas pernas deslizaram juntas em longas carícias, e o tecido de seus kimonos fez um barulho suave conforme roçavam seus corpos. Agarraram-se, num gemido que era abafado conforme suas bocas devoravam o beijo que os unia. Suas mãos se agarravam firme, puxando o tecido, tateando as costas e braços musculosos um do outro, e eles rolaram pelo chão, aprofundando o beijo mais e mais.

Kenshin quase sufocou. Sano o atacava com força, fazia com que precisasse de ar. Kenshin sentia algo crescer e pesar entre suas pernas. Excitado, precisava respirar, precisava gemer, gritar, grunhir de felicidade, mas Sanosuke continuava devorando sua boca no mais faminto beijo que já provara.

Quanto tempo perdido! Podiam ter estado juntos, como amigos e amantes desde o início!

Mãos fortes agarraram suas coxas, separando-as. Os kimonos se abriram, permitndo o contato da carne contra carne, quando Sanosuke se enfiou com força e pressa entre seus joelhos, esfregando algo duro e grande entre suas coxas, melando-o todo.

Kenshin sabia o que era, e sorriu. Abriu-se todo, pronto para sentir aquela espada de carne ser cravada bem no meio de seu corpo.

Sanosuke interrompeu o beijo. Não olhou para Kenshin, e ele preferiu assim. Tinha medo do que ia ver nos olhos do amigo naquele momento em que se esfregavam e rolavam no chão, com os kimonos desfeitos, e as varas rijas e pulsantes de tesão.

O que poderiam dizer? Como poderiam justificar-se? Era amor? Era só tesão? Era o quê?

Mesmo sem ousar responder, Kenshin deixou Sanosuke acomodá-lo contra seu corpo. Sano ajoelhara-se, e puxara Kenshin, de pernas bem afastadas, de encontro a sua vara. O samurai nem quis ver... Sabia que era enorme, mas era o que queria. Fôra ferido por espadas mais afiadas e frias. Espadas de metal, muito maiores do que a de seu amigo. Por isso apenas apertou os lábos e conteve a respiração, quando aquele volume grosso e palpitante foi empurrado de encontro a seu corpo, começando a abrir caminho...

Uma dor fina, que ia aumentando, insistente, mas Kenshin já a conhecia... Conhecera aquela mesma dor quando fôra discípulo de seu belo Mestre... E agora estava ali, sendo penetrado pelo outro Homem a quem mais admirava depois de seu mestre.

Era uma felicidade que superava qualquer dor.

Segurou firme nos braços de Sanosuke, a forçou o corpo de encontro a ele, querendo cravar-se até o fundo naquela vara que o enchia devagar. Seu pênis pulsava forte, seu corpo tremia, e ele conteve o próprio climax quando o choque gostoso de ter o falo de Sano enfiado até o fim em sua passagem apertada o atingiu.

Gemeram juntos, ainda sem olhar um para o outro. Sano mantinha os olhos fechados, apertados, e o rosto contraído numa máscara que misturava agonia e êxtase. Ele movia os quadris muito rápido, num bate-estaca, numa invasão firme que retrocedia e avançava, crescendo de ritmo e energia.

Kenshin agarrou sua ereção, esfregando-a contra a própria barriga, roçando a cabeça úmida com seus dedos, esfregando-se com toda a força. Seus corpos estavam muito contraídos, e eles se encurvavam um no outro, como animais cruzando, como feras no cio, como selvagens matadores que buscavam o alívio do clímax um de encontro ao outro. Sedentos pelo gozo, atacavam, forçavam, esfregavam-se com todo o vigor, com o mesmo furor com que se dedicavam as batalhas.

Sim.. Era uma batalha particular, uma batalha que os deixaria enxracados de suro e sêmen.. Uma batalha entre amigos que se tornavam amantes... Uma batalha num campo de batalha que era as vezes mais cruel e dificil que guerras reais - O campo do amor, do desejo, da volúpia...

Nenhum inimigo conseguiu lhe causar tanta surpresa com Sano agora, quando o possuía, movido por uma paixão que era tão forte, intensa como uma tempestade. Ele o possuía, literalmente, arrastando-o através de uma névoa rubra de desejo e prazer.

Não sabia se era amor... E mesmo que não fosse, e daí? Só sabia que era bom. Era exatemente o que precisava. Era o alívio, a satisfaçao de um desejo que mantido em segredo, o consumira por dentro...

Toda a tensão ruía agora, num mundo de êxtase pleno.

"Ah... Sano..."

"Kenshin..."

O braço e o punho fechado de Kenshin estremeceram quando seus dedos arrancaram de seu pênis latejante o gozo leitoso e quente que fluiu num jato forte, encharcando a barriga dele e de Sano. O ruivo gemeu fundo, e Sano afundou-se todo no ânus contraído de Kenshin. Foi aí que um tremor muito forte, uma convulsão de gozo, tomou seu pau inteiro, fazendo-o queimar numa chama molhada de êxtase. Gozou. Encheu aqula pasagem apertada com seu leite, ofegando alto, gemendo o nome de Kenshin num espasmo de tesão que o invadiu todo.

Caíram um sobre o outro. Abraçaram-se, num gesto doce e largado.

Ainda não olhavam um para o outro. De rostos virados, apenas deslizavam as cabeças, fazendo seus cabelos roçarem nos ombros um do outro, deslizando de leve, conforme retomavam o fôlego.

Ficaram em silencio muito tempo. Mesmo quando perceberam que já estavam recuperados, continuaram deitados, Sano sobre Kenshin, bem quietos, ainda sem se fitarem nos olhos.

Era como se estivessem com medo...

Sano temia ter desagradado o amigo.

Kenshin acreditava que o amigo nunca entenderia o desejo que o tomara.

Sano foi quem se moveu primeiro. Sentou-se, ajeitando suas vestes. Mas ainda não encarou Kenshin nos olhos.

"Era isso que voce queria?" - Indagou, com um sussurro, mantendo a cabeça baixa. Temia uma resposta que acabasse pondo um fim na amizade deles.

Kenshin se moveu, limpando o semen de sua barriga com a ponta do kimono. Sentou-se de costas para Sano, cabisbaixo. Parecia que haviam acabado de brigar e discutir, e não de fazer amor...

"Sano, nao me entenda mal... Não é amor... Voce sabe, é que..." Kenshin tentou se explicar, timidamente.

"Eu sei sim. Sei muito bem como é. Somos homens. Sentimos certas necessidades. Eu entendo..."

Houve silencio entre eles novamente. Foi quando entreolharam-se, cautelosos e tímidos. Os olhos deles se encontraram brevemente, quando fitaram um ao outro por sobre um ombro.

Sano parecia meio desapontado. Suspirou fundo, antes de se dirigir ao amigo, num sussuro muito suave.

"E se não for amor? Mesmo assim voce vai querer fazer isso de novo?"

Kenshin daria tudo naquele momento para saber o que seu amigo pensava. Mas sua expresão era indecifrável.

"E você vai?" Kenshin rebateu, tão, ou mais cauteloso do que Sanosuke.

O jovem de cabelos negros riu de leve.

"Eu perguntei primeiro."

Kenshin encarou o amigo. Havia expectativa e carinho nos olhos dele.

Baixou os olhos novamente por um momento, refletindo...

Mas que droga,... E daí? Fosse amor ou não, havia sido bom... Era o que importava. Ele precisara daquilo. Ambos precisavam...

Sorriu de novo, fitando o amigo com confiança. Seu sorriso agora era amoroso e animado.

"Oro!" Kenshin retrucou. "Que pergunta tola! É claro que sim! Vem cá, vem..."
 
 
 



Por Midnight - midnight158@lycos.com
janeiro de 2001