Por Fernanda Del Rey
No meio das areias solitárias do deserto, sobre uma duna, via-se um homem, que esperava. Ele era loiro, com cabelos presos numa trança abaixo da cintura, e olhos de um cristalino azul que transparecia toda sua tristeza, e também frieza. O passado não fora gentil com ele, e agora, ele não era gentil com ninguém. "Eu me vingarei, e terei o coração daqueles bastardos na ponta da minha espada." Longe, algumas centenas de metros, ele vê uma nuvem de poeira, que o distrai de seus pensamentos sombrios. "Deve ser a tropa Alpha Angel, voltando com os prisioneiros da Shield."
Shield era a terrível organização que impôs ao que restou da humanidade uma existência de terror e opressão. O anos era 2556, dezoito anos após a 4º Guerra, que, por suas proporções, devastou a humanidade, deixando apenas 50 mil sobreviventes dos 20 bilhões de pessoas que existiam. Para exercer controle sobre a população, todos que nasceram após o Grande Massacre foram submetidos, ao nascer, a uma operação que implantava uma consciência cibernética, que os guiava dentro da lei e da moral.
Alguns pais se rebelavam, não querendo que seu filho se tornasse um ser sem moral própria, e eram severamente castigados, com a morte, ou com o exílio, como acontecera a Dmitri Nikolaievich, o líder do Esquadrão Angel, que agora via suas tropas se aproximando com prisioneiros de guerra. Um dos soldados pulou do jipe e disse:
- Apresentando-se, senhor! Código 07-5k, soldado Smith, senhor! A missão correu com sucesso e capturamos os espiões fugitivos!
- Muito bem, 07-5k, seu relatório foi satisfatório. Pode ir descansar em seus aposentos. Dois de vocês levem os espiões ao meu quarto. Os outros estão dispensados por hora.
Eles dirigiram-se para uma caverna na areia. Um dos espiões pensou consigo mesmo: "Como podem ser tão destrutivos, se não têm nenhuma tecnologia e vivem em um buraco na areia?" Porém, ao entrar, viu que se enganava. A informação de Sophie era correta: sob a areia havia várias naves rebeldes de alta tecnologia, naves tão avançadas, ou até mais, que as da Shield. A organização que se punha contra a Shield era a Steel Draco, comandada por Shimeru Tekuryu, o chefe dos rebeldes. Sophie estava sumida há meses. "Será que está viva? "
Ele e seus dois companheiros, um homem e uma mulher, são levados ao quarto do implacável líder do Esquadrão Angel, Dmitri Nikolaievich. Ele era conhecido entre os agentes da Shield como o mais frio dos líderes, sendo superado apenas por Tekuryu, ou o Dragão de Aço. Como seu próprio nome diz, este é frio e duro como o aço, não perdoando traidores, e conhecido e temido no governo central por lutar sem armas, usando apenas magias poderosíssimas. Não se sabia muito sobre Shimeru, só que ele provavelmente não era humano.
Dmitri virou para os três agentes e perguntou:
- Vocês descobriram alguma coisa sobre nossa organização?
- Você acha que nós trairíamos nosso Comando? Jamais!
Dmitri pega a mulher e coloca uma faca no pescoço dela.
- Se não contar, ela morre.
- Vamos todos morrer, de qualquer jeito.
- Parece que eu não abordei você direito. - Dmitri põe a mão da mulher sobre a mesa, derrubando os objetos que estavam ali. - É simples, para cada resposta que me desagradar eu corto um dedo dela. Vamos, vá falando.
A mulher olha aterrorizada para Dmitri e para o Líder Azul, o líder da pequena tropa da Shield que fôra capturada. Porém, o Líder Azul mostra-se irredutível.
- Não contarei nada.
A mulher dá um grito estridente. O Líder Azul e seu companheiro olham pasmados da mão dela, de onde flui sangue, para o dedo, que agora jaze caído no chão.
- Eu não estou brincando!! - grita Dmitri. - O que você sabe? O que transmitiu para a Shield?
O Líder Azul, porém, mais de medo do que por orgulho, mantém-se calado.
- Eu não vou esperar por sua boa vontade. - Vira-se para um guarda - Leve-os para a cela. E assegure-se que fiquem lá até a acoplagem amanhã. Tekuryu conversará com eles.
- Sim, Grande General.
O soldado conduz o Líder Azul, conhecido entre seus homens por Itsuo e seus ajudantes, Sakezaki e Kaori, para a cela. Após serem colocados na cela, Sakezaki acode apressadamente Kaori e diz para o guarda na porta:
- Por favor, me arranje algum curativo, ela está sangrando muito.
O guarda, porém, nem se mexe. Alguns minutos depois eles ouvem de dentro da cela:
- Código 05-8h, soldado Pierre, guardando os prisioneiros como ordenado, Tenente Ivana.
- Deixe-me entrar.
- Sim, senhora.
Os três pobres agentes esperam por mais uma fria guerreira, mas o espanto toma conta deles e somente Itsuo consegue gaguejar:
- Sophie?!
- Silêncio. Eu só vim levar Kaori para a enfermaria.
- Mas...
- Eu consegui as graças do Grande Chefe Dmitri. Não estrague tudo me delatando. Fique quieto!
A mulher sai levando Kaori e os dois ficam pensativos em sua cela: "Como ela fez isso?"
Mais tarde, Ivana, ou, na realidade, Sophie, está na cama com Dmitri, conversando com ele:
- Por que você fez aquilo com a menina?
- Menina ou não, é membro do exército inimigo, e se é tola bastante para lutar ao lado deles, é melhor que possa arcar com as conseqüências.
- Eu a levei para a enfermaria.
- Eu não vou contestar o que você faz, querida. - dá um beijo nela. - Fora isso, de minha parte, ela pode estar na enfermaria, na cela ou no inferno. Não faz diferença.
Alguns minutos depois ele está dormindo e ela olha para ele, pensando: "Podia matá-lo agora, mas aí não chegarei a conhecer Shimeru Tekuryu. Apesar de que é um desperdício matar um homem bonito como Dmitri." Seu subconsciente de guerra, porém, revolveu violentamente: "Não ouse se apaixonar pelo inimigo!"
No dia seguinte, a nave estava em alvoroço por causa da acoplagem que seria feita com a unidade do Esquadrão Draco. Sophie foi até a enfermaria ver Kaori.
- Melhor?
- Um pouco, mas ainda lateja bastante.
- Isso passa.
Nesse momento, entra na sala Dmitri.
- Vamos para a ponte de comando, Ivana. A acoplagem está para começar.
- Estou indo, Dmitri.
A acoplagem começa, e na prisão Itsuo e Sakezaki sentem o tremor da operação de acoplagem, que une as duas naves em uma só.
- Será que nós vamos ver Tekuryu? - pergunta Sakezaki.
- Espero que não, porque senão, será a última coisa que veremos.
Sophie observa distraída a operação, pensando em como libertar os amigos. Teve, entretanto, a terrível sensação de que eles jamais seriam libertados. Meia hora depois as duas naves estavam acopladas e Dmitri disse:
- Vamos nos preparar para a inspeção de Tekuryu. Tragam os prisioneiros! - grita para alguns soldados, que correm para cumprir a ordem.
- Até a mulher?
- Sem dúvida.
Sophie sente um frio na espinha quando se encontram com Shimeru Tekuryu, o temível líder da Steel Draco. Ele era alto, mais de 1.90m, tem gelados olhos azuis acizentados e longos cabelos negros. No seu braço direito há uma tatuagem de dragão que vai do ombro até os dedos, a marca do líder, muito parecida em estilo com a tatuagem de anjo que Dmitri usava no braço direito...
Ele aproxima-se e cumprimenta Dmitri, porém quando seu olhar se dirige para ela, é frio e assustador, e a analisa profundamente. Então, ele diz:
- O que me trouxe, Dmitri?
- Estes três espiões da Shield, Shimeru.
Ele aproxima-se de Sakezaki, que treme e sua frio.
- Vocês descobriram alguma coisa sobre nós?
Sakezaki não responde. Tekuryu dá uma terrível bofetada no rosto dele e diz, calmamente:
- Eu não vou perguntar de novo, rapaz. O que descobriu sobre nós?
Itsuo fala:
- Nunca diremos nada a vocês, cães rebeldes.
Tekuryu olha alguns segundo para ele e ri, uma risada sombria e ameaçadora. Então diz:
- Eu quero este talzinho aqui - e aponta para Sakezaki - morto antes que eu acabe de conversar com estes espiões.
A ordem é cumprida ali mesmo. Kaori grita, Itsuo apenas treme e Sophie suspira: "Ele é mais implacável do que diziam. Talvez louco."
- Agora, mulher, responda-me logo, porque minha paciência já acabou. O que descobriram?
- Nós copiamos alguns...
Ela não tem tempo de terminar a frase, porque Itsuo toma a arma de um guarda ali próximo e atira no ombro dela.
- Traidora! Cale-se!
Tekuryu olha para a moça ferida e para Itsuo, então diz:
- Levem este fanático para a cela, e tratem de que se arrependa do que fez. Eu quero que ele sinta na carne o que acontece a malucos da Shield. Mas quero-o vivo, entenderam? E levem a moça para a enfermaria.
- Sim, Grande Líder. - e os soldados correm para cumprir as ordens.
Tekuryu aproxima-se então de Sophie e diz:
- Quero esta mulher em meus aposentos em quinze minutos.
Tekuryu dirige-se ao seu aposento, acompanhado de Dmitri e este pergunta:
- O que houve, Shimeru? Por que a quer em seus aposentos?
- Calma, Dmitri, eu não vou tomá-la de você. Só quero conversar com ela.
- Por que?
- Ela pareceu muito abalada quando mataram aquele rapaz.
- E daí? Foi mesmo meio chocante matá-lo ali na ponte de comando.
- Eu sei. Eu queria testá-la.
- E o que descobriu?
- Que ela ficou chocada demais para um soldado.
- Ora, mas ela ainda é uma mulher.
- E aquele rapaz era um inimigo. Um soldado não se choca com a morte do inimigo, seja este soldado homem ou mulher.
- O que você está sugerindo?
- Que ela o conhecia, e mais que isso, era amiga dele.
- O que?! - Dmitri mostra-se chocado. - Você acha que ela é uma espiã da Shield?
- Pode ser ou uma espiã ou uma traidora que passou para nosso lado.
- E o que você vai fazer se descobrir que ela é uma espiã?
Tekuryu faz o gesto de quem quebra um pescoço. Dmitri engole em seco e pergunta:
- E se descobrir que é uma traidora?
- Assim como traiu a Shield, pode trair a nós também. E traidores só merecem uma coisa... - E mostra as afiadas garras negras e brilhantes que saltam de seus dedos. Entra então em seu quarto e diz:
- Não se preocupe, Dmitri. Eu avisarei você antes de fazer algo drástico assim.
Dmitri sai dali apreensivo com o futuro de Sophie, que ele conhece como Ivana e como a única que tem sido sua companhia há muito tempo... desde a morte de Katharina. Katharina tinha sido a esposa dele. Casaram-se jovens e quando tiveram um filho, o esconderam durante dois anos mas foram descobertos e punidos. Katharina fora morta por rebeldia e ele exilado, já que foi considerado no tribunal que defender mulher e filho é politicamente correto. Ficou durante vários anos, cinco ou seis, nem se lembrava mais, sozinho, e há seis meses conhecera Ivana, que tornou-se querida para ele. "Oh, Deus! Não permita que tirem também Ivana de mim..."
Alguns minutos depois, no quarto de Shimeru, Sophie entra e fala:
- Tekuryu-sama? O senhor está aí?
- Sente-se, Ivana. - ela ouve a voz suave, mas com um tom mortal, vinda da sombras e senta-se, ressabiada.
- O que o senhor queria comigo, Grande Líder?
- Chame-me de Shimeru.
- Você não está com segundas intenções, está?
- Não, eu não. E você?
- O que Tekuryu-sama quer dizer com isso?
- Estou apenas perguntando, senhorita Ivana... ou seria Sophie?
Sophie gela quando ele diz isso e faz-se de desentendida:
- Como assim, Tekuryu-sama? - Ela espera por uma crise de raiva, mas tudo que ele faz é sorver um conhaque que havia ali, e dizer calmamente:
- Eu apenas sei. Sua mente é pequena, como a de todos os humanos, e eu a li com facilidade.
- Certo, e o que vai fazer agora? - diz ela, já na defensiva.
- Esperar, esperar para ver. Dependendo das suas ações, eu tomarei minha decisão.
- Por que me chamou de 'humana' com tamanho desdém?
- Talvez você saiba, talvez não. Agora vá para seus aposentos, ou melhor, para os de Dmitri, pensar na acoplagem com o esquadrão Faerye, amanhã.
Ela sai e pensa: "Ele é muito arrogante. Nojento!!!"
No dia seguinte, a nave prepara-se para a acoplagem com o esquadrão Faerye. Sophie pensa que se estão se reunindo, logo será o ataque. "E agora? O ataque é para breve. Tenho que libertar Itsuo e Kaori e fugir." Porém, nesse momento, Shimeru passa ao seu lado e sussurra: - Se tentar, mato a você e a eles. Ela treme, mas controla o medo e diz:
- Por que não me matou ainda, se sabe que sou da Shield?
- Por que seu coração pende para nosso lado, ou melhor, para o de Dmitri. Agora vá, e cumpra suas obrigações para a acoplagem.
"Ele realmente lê minha mente ou está tentando me confundir?"
A nave vibrou com o impacto da outra nave se acoplando ao eixo principal da nave. Sophie olhou de soslaio para Shimeru e viu um ar de ironia em sua face. Muda o rumo de seus pensamentos para Niharu Andinei, o líder do esquadrão Faerye, o esquadrão de espionagem, tecnologia e pesquisa. "Será que é tão maluco como Shimeru?"
A nave treme com o impacto da outra acoplando-se e pouco minutos depois, entra um rapaz pelo acesso principal. Ele é alto e esguio e tem um ar tranqüilo e pacificador. Seus olhos são vermelhos e seus cabelos prateados. "De que planeta será que ele é? Será que é de alguma colônia da terra?" - pensa Sophie.
Ele aproxima-se de Sophie, e então diz:
- Olá, senhorita.
— Olá, Andinei-sama. É um prazer imenso conhecê-lo.
— Sorte sua que tem a opção de fazê-lo ou não, não é? Muita gente não a tem... - ele responde suavemente.
— Er...
— De qualquer modo... - interrompe Tekuryu - nós temos muito a fazer, Andinei. Podemos deixar as conversas filosóficas para mais tarde.
— Claro, eu preciso mesmo falar com você, Tekuryu... - diz Andinei, saindo da ponte de comando silenciosamente e dirigindo-se a seu aposento.
Mais tarde, Sophie esgueira-se pelas sombras, para poder ouvir que tipo de diálogo o chefe de tecnologia e o Grande Líder poderiam ter, e se surpreende em ouvir:
— Mas, Sophya-sama... - era a voz de Tekuryu.
— Eu sei que eu pedi sua ajuda, e sei que você está aborrecido com esse situação também, mas não acha que está sendo um pouco drástico, Kyron? - era a voz suave e calma de Andinei.
"O que está acontecendo aqui? Nem mesmo seus nomes são reais?"
— Você sabe como eu sou... sempre o soube. Eu nasci assim e não vou mudar depois de eras, veja-o bem! E desde quando você pede ajuda a um demônio e espera que ele seja um anjo? Mesmo Nexus está revoltado com tudo isso, e quer se vingar...
— Realmente, Nexus está mais alterado do que é seu normal, porém eu sei que ele se acalmará quando necessário e fará o que for preciso, não o que quer.
— Mas o anjo é ele, não eu, Sophya-sama!
— Uf... Eu sei, eu sei, meu filho... é tolice minha aborrecer-me com você... seus irmãos também não estão sendo menos prepotentes...
— ...
— Agathos incinerou toda uma tropa de Shields, e até alguns cidadãos teoricamente 'inocentes' que estavam com eles... você sabe o que eu acho dessa técnicas...
— Você quer uma guerra sem sangue? Sinto muito, Sophya-sama, mas isso é coisa que nem eu nem ninguém pode lhe dar...
— Eu não estou dizendo para você me dar uma guerra sem sangue, Kyron... só estou avisando para você não se empolgar e matar mais do que é necessário para o continuum...
— Eu sei... eu sei...
— Bem, vou-me agora...
— Até depois, Sophya-sama... ... posso perguntar-lhe uma coisa?
— Sim?
— Porque me deixou ser o líder? E não você?
— Hmmm... Você sabe que eu sou um homem humilde, não ligo em aceitar ordens... Boa noite, Kyron.
— Boa noite, Sophya-sama.
Sophie corre para se esconder, e entra em um pequeno corredor lá perto. Ouve os passos de Andinei, que agora sabe chamar-se Sophya, aproximando-se, e fica bem quieta. Porém, se que esperasse, ouve uma voz macia perto de si:
— Ele só não te percebeu, minha cara, porque eu não permiti. Tenha mais cuidado da próxima vez. Eu posso não estar lá...
— Quem é você, afinal de contas? - ela perguntou.
— Eu? - ele a olhou com seus olhos vermelhos e plácidos. - Eu sou quem você achar que eu sou.
— ?
— Até mais, Ivana.
"Ao contrário de Tekuryu - não, Tekuryu não, Kyron - ele não me intimida ou assusta... e ao contrário de Dmitri, não me acalma ou relaxa... ele é tão... estranho."
Ela caminha de volta para seu quarto, pensando no que ouvira. Parecia que Tekuryu respeitava esse tal Sophya... mas por que? O outro parecia tão frágil perto da força máscula e quase... demoníaca, por que não dizê-lo assim? de Tekuryu... e havia mais, que ele não sabia ainda quem eram, mas que provavelmente eram os outros líderes da Tekuryu... Agathos e Nexus... será que esse Nexus era seu Dmitri? E a mulher, líder do Esquadrão Winger, a quem encontrariam dali uma semana? A chamada Akiko Soeny? Teria ela outro nome? Um nome... real?
*
A semana passou sem nenhum incidente maior... mas não sem nenhum incidente. Itsuo tentara fugir e fora recapturado, e seria interrogado de novo naquela tarde, e dessa vez pela mulher, Akiko Soeny. Sophie pensara em fugir algumas vezes, mas toda vez que via o olhar frio de Tekuryu sobre si, engolia em seco e protelava os planos, preocupada principalmente com Kaori, que era mais uma espiã que uma guerreira, e estava passando por maus bocados... ela era frágil.
A tarde, Sophie foi até a sala aonde seria conduzido o interrogatório de Itsuo. Sentou-se numa cadeira ao lado de Dmitri e esperou, ansiosa por ver que tipo de mulher era Akiko. Alguns minutos, não poucos, se passaram e Tekuryu começou a demonstrar impaciência:
— Onde está essa mulher?
— Calma, eu cheguei... não se pode tomar um banho para descansar da viagem, Tekuryu querido?
A voz era doce e aveludada e a mulher era uma das mais belas, senão a mais bela, que já se vira. Usava um uniforme de couro branco, colado a seu corpo perfeito, e uma capa de cetim cor-de-rosa estava pendurada em seus ombros. Usava botas de cano longo até as coxas, também barncas, e tinha longos cabelos castanho claros e olhos cor-de-rosa... Ela olhou para Sophie, deu um sorriso de meio-desprezo, meio-sarcasmo e sentou-se em sua cadeira em frente a Itsuo, a curva dos seios fartos aparecendo no zíper da roupa que ela não subira por completo.
— Então, você é o tal espião?
— ...
— Ora, por que a cara feia? Não gosta do que vê? - disse inclinando-se para frente, mostrando mais da curva mal escondida de seus seios.
— Sua vadia!
— Oh! Como você é rude! - ela levanta, tira o chicote que leva preso a cintura, e o estica, fazendo som de estalo - Quase, eu disse quase me magoou.
Ela pôs o salto fino como uma agulha na virilha dele e disse:
— Você preza o que tem aqui? Ou não precisa dele mesmo?
— Sua...
— Se disser essas rudezas de novo... - ela força um pouco o salto fino e altíssimo nele, machucando um pouco - eu não vou ter pena de eamagá-lo, meu bem. - ela diz, com um tom mais aveludado que antes, mas com um brilho ameaçador em seus olhos rosados.
— O que você quer que eu diga? O que eu descobri? Se eu descobri alguma coisa? Morra, sua vaca!!!
Ela deu um chute no rosto dele, e ele caiu no chão com um gemido. Ela disse, com a voz um pouco alterada pela raiva:
— Você sabe o que os seus chefinhos fazem com as pessoas?! Eles as transformam em seres sem emoções, boas ou más, em robôs, em seres sem livre arbítrio! Você acha que isso é correto? Ou seu cérebrinhozinho foi lavado também?
— Argh, cof... - ele tosse, caído no chão.
"Tipinho insolente..." ela pensa e diz :
— Levem esse verme asqueroso para meu quarto. Quero falar com ele a sós.
Sophie percebe o olhar ameaçador que Tekuryu dirige a ela, e
o gesto de desdém que ela faz. "Onde eu fui me meter? Isso me parece
tão maior que uma guerrilha..."
Continua...
Por Fernanda del Rey
seiraiflik@icqmail.com
18/01/2001