Meu Querido Amante...



Por Umi no Kitsune



Isso não é cabível a uma raposa como ele! Não é justo! Não é certo! Nunca permitiu que fizessem isso com ele, não vai ser agora que vai acontecer! Hiei voltara do Makai de manhã e enquanto Kurama fazia papel de Shuuichi indo a faculdade e depois ao trabalho do pai, ele ficou esperando, dormindo na cerejeira. Ao entardecer, quando Kurama chegou, notou a presença do koorime, ainda dormindo, e estranhou que ele não tivesse feito nenhum contato durante o dia. Na verdade, ficou um pouco triste por ele não ter avisado que chegou, mas a felicidade de tê-lo de volta era maior.
 
 

Aquecimento:

Depois do primeiro banho, no sentido mais real da palavra ( Hiei estava realmente mal cheiroso!), Kurama, vestindo um roupão branco, levou a roupa suja para a área de serviço enquanto Hiei, vestindo apenas a parte de cima de um moletom preto, fuçava a geladeira na cozinha.
 
  O koorime tomou os lábios de Kurama calando-o e, num movimento ágil, colocou-o sentado sobre a mesa, afastando a comida que foi posta pela raposa.
 
  Hiei parou com os beijos e com a cabeça baixa, apenas abraçava a cintura de Kurama. Kurama deu uma leve risada e abraçou Hiei, fitando-o nos olhos.
 
 

E foi assim que Hiei voltou ao Makai para terminar com seu "treinamento" e voltar... no mesmo dia? Passaram-se dois dias, três, quatro, uma semana, duas semanas... um mês. Nesse "meio tempo"...
 
 

1º round:
 
 

O detetive apoiou-se na porta cansado. A porta se abriu e... Yusuke começou a vasculhar a casa. Como sempre, tudo no seu devido lugar, limpo e com cheiro de youko. Cheiro de... Youko? Yusuke entrou na cozinha e deparou-se com a cena mais inédita de sua vida. Kurama na forma youko, sob a mesa se agarrando fortemente aos pés da mesma.
 
  O Youko mudou a expressão vendo que machucara Yusuke e movimentando-se como uma raposa, foi de quatro até o amigo. "O que está acontecendo? Não pare agora! Não o impeça! Ele não está pensando em você. Não é justo com ele! Não é você quem ele quer! Não é você..." Yusuke não sabia o que fazer. Estava ficando sem ar, estava sendo castigado e estava gostando! Mas não podia. Não devia... Ah! Mas como queria! De repente o beijo foi ficando mais suave, Yusuke voltara a respirar e já estava com os pés encostando o chão. O detetive abriu os olhos e observou espantado o que acontecia. O Youko perdia sua forma grande e imponente para uma mais pequena e delicada. Shuuichi apareceu completo então, dando-lhe pequenos e preguiçosos beijos no rosto e pescoço para depois cair quase inconsciente nos braços de Yusuke.
 
 

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Kurama tremeu ao sentir a brisa fria insistindo em arrepiar-lhe os braços. Abriu um olho devagar, já estava escuro, era como se uma ressaca tivesse tomado conta de seu corpo, a pálpebra pesava algumas toneladas... Levantou um pouco o rosto tentando identificar com mais precisão onde estava. No seu quarto. Olhou pra si mesmo, estava descoberto dos lençóis, por isso o frio... Não. Estendeu o olhar até encontrar a janela. Aberta. Vazia. "Por isso o frio...", pensou enquanto observava o movimento lento e desigual que a brisa provocava nas cortinas.

Uma cena veio à sua mente, tomando-o de assalto. "Inari! Que pensamento horrível!", Kurama tampou os olhos com a mão tentando, assim, fazer a cena desaparecer. Levantou-se meio cambaleante e foi alcançar o armário. Pegou uma camisa de mangas compridas, mas no mero esforço de vestir-se, perdeu o equilíbrio batendo o corpo sobre uma das portas de madeira.

Enquanto tentava achar suas mãos dentro da roupa, alguém abriu abruptamente a porta de seu quarto fazendo entrar uma claridade que o cegou. Automaticamente, Kurama escondeu o rosto com os braços, gemendo desconfortável com a luz.

Kurama sentou-se na cama cobrindo o rosto com as mãos e desatando a chorar. Yusuke pensou em confortá-lo, mas ele apenas ficou parado com as mãos estendidas em torno de Kurama, sem tocá-lo.
 
  Kurama saiu correndo do quarto, deixando Yusuke com os lábios formigando pelo leve toque e com a mente repedindo uma única frase: "Não quero..." Ele caiu em uma ilusão, uma ilusão deliciosa e... Yusuke lambeu devagar os próprios lábios sentindo o gosto doce de Kurama. Com um sorriso tímido, o detetive se levantou e seguiu para fora do quarto.

Chegando na sala, deparou-se com Kurama em pé, olhando para a janela de braços cruzados e ainda com lágrimas nos olhos. Um pequeno soluço escapou-lhe e ele levou uma mão à boca tentando conter os futuros. Yusuke se aproximou e puxando delicadamente um braço de Kurama o trouxe para sentar-se no sofá.
 
 

Yusuke olhou para o chão tentando esconder a tristeza impressa em seu rosto. Depois tomou fôlego e andou na direção da porta. Ao se aproximar de Kurama ele desviou o olhar e disse com a voz alterada:
 

 
 
 
 

2º round:
 
 

E mais um mês se passou. Kurama recebeu um telefonema de Yusuke, querendo saber se ele precisava de alguma coisa. Kurama agradeceu dizendo que não e pediu que Yusuke não o procurasse mais, pelo menos até Hiei voltar...

O som do outro lado da linha indicava que Yusuke já tinha desligado. Kurama afastou o fone do ouvido e o apoiou sobre o colo. Kurama sentiu um leve tremor correr pelo seu corpo. Pôs o aparelho na base e levantou-se. Olhou para o telefone mais uma vez. Deu um passo a frente, virou de costas e virou de novo encarando. Se afastou andando até o outro extremo da sala ficando perto da janela. Olhou de novo para o aparelho. Apoiou os cotovelos no parapeito da janela e abaixou o rosto olhando o chão. Depois voltou a olhar o telefone. Andou todo o caminho de volta e sentou no sofá ao lado do telefone. Antes de pegar no fone, uma pequena brisa refrescou seus dedos. Kurama olhou para frente e viu Hiei sentado displicentemente no parapeito da janela tirando uma das botas, completamente alheio a presença da raposa.
 
    Kurama virou-se na cama e enroscou-se satisfeito no corpo adormecido de Hiei. Definitivamente aquela cama era muito grande para uma só pessoa. Apesar de ser uma cama de solteiro... "mas a presença dele deixa tudo diferente", pensou admirando a face de Hiei. Os lábios da raposa se curvaram num sorriso e ele inclinou o rosto beijando delicadamente os lábios de Hiei. Olhou de novo e beijou a testa, depois o nariz, depois a boca de novo, depois uma bochecha, a outra, a boca de novo, o nariz, uma orelha, a boca...
 
 
 
 

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FLASH! FLASH!

Hiei continua piscando os olhos com mais intensidade agora, enquanto Kurama deixa seus lábios e se vira para a máquina colorida a frente deles.

Kurama mostra as pequenas fotos, do tamanho da ponta de um dedo, para Hiei que arregala os olhos. Três fotos tinham Kurama e ele abraçados, as outras três era Kurama e ele abraçados e se beijando!!! Kurama tira uma foto e gruda no nariz do koorime A foto é puxada de uma só vez do nariz de Hiei Kurama sorri vendo Hiei se irritar com a cortina. Estava com saudades desse temperamento do seu koorime. "Ele fica tão lindo bravo..."
 
 

Já estavam andando há um bom tempo, quietos. O sol já tinha se posto e algumas estrelas começavam a aparecer.


 
 

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3º round:
 
 

Faltando algumas quadras para chegar Hiei diz meio que irritado para Kurama:

Kurama apurou os sentidos e parou assustado no meio da calçada com a confirmação do youki de Yusuke na frente de sua casa. Kurama sorri e volta a andar. Hiei o acompanha indiferente. Nunca a volta para casa foi tão torturante. Kurama estava visivelmente incomodado com o fato de Yusuke estar na porta de sua casa. Hiei apenas caminhava captando todas as reações da raposa. Antes de virarem a última esquina, o koorime some no ar deixando Kurama sozinho. A raposa ficava mais tensa conforme caminhava e, agora, sem a presença de Hiei. Kurama concluiu que ele fez isso porque nunca gostou de admitir que estava com ele, apesar de todos saberem. "Mas por que justo agora???", pensou Kurama enquanto cerrava os punhos e era notado por Yusuke.

O detetive estava apoiado no muro que cercava a casa e desviou o olhar ao ver Kurama.

A noite já tinha caído por completo e, mesmo com a ajuda da luz da lua, Kurama não percebera a tensão e um leve rosado na face de Yusuke. Vê-lo sorrir e falar amavelmente quando esperava ser quase que escorraçado fez, sem que Yusuke quisesse, um sentimento quente e cheio de esperança crescesse em seu peito. Já devia ter imaginado que Kurama nunca o trataria com desrespeito, mesmo que o merecesse, a raposa sempre lhe mostraria um sorriso e sempre o ouviria. Era isso que Yusuke queria. Ter uma chance de ser ouvido, de falar e mostrar tudo o que está sentindo e sabe desde aquela tarde.

Claro que não esperava a chegada de Hiei. Mas conseguiu se preparar psicologicamente quando sentiu que o youki de Kurama estava acompanhado pelo do koorime, antes dos dois chegarem e, por sorte, se separarem. O detetive ainda sentia a presença dele já dentro da casa, e isso o deixava mais tenso. Seu alívio é que Kurama o recebera com uma atitude positiva e, parecia-lhe, disposto a escutar.

Kurama teve que passar as mãos na própria roupa para secar o suor que não parava de brotar no meio de seus dedos. Nos poucos segundos entre o sumiço de Hiei e a aproximação de Yusuke, Kurama conseguiu criar o plano mais maluco que já passou pela sua cabeça. Com certeza Hiei não está imaginando que Kurama vai trazer Yusuke pra dentro de casa... que quer colocar os dois, aliás, os três juntos para que tudo fique esclarecido apenas com a cena que se formará. Para Kurama, Yusuke não pensaria em nada arriscado, talvez ficasse sem reação e um pouco constrangido, mas com certeza, com Hiei estando com eles, nada de mal poderia acontecer. Yusuke enxergaria que o que ele pensa que sente é apenas temporário e se convenceria que um dia, iria passar. Kurama apenas não contava com uma traição.

Yusuke parou atrás dele, muito próximo. Kurama podia sentir a respiração quente mexendo com alguns fios de seu cabelo que, com a inevitável "brisa", faziam-lhe cócegas na nuca. Antes de girar a chave para abrir a casa, Kurama se sentiu obrigado a passar a mão envolta do pescoço para interromper o arrepio gostoso. Quando a porta foi aberta, o ruivo sentiu-se preso por uma mão forte que cobriu perfeitamente a circunferência de seu punho. Kurama voltou-se encarando com um pouco de irritação Yusuke que, para a sua surpresa, estava sério e intimidador.

Mantendo a raposa presa, Yusuke entra na casa. Ele começa a admirar a decoração, como se fosse a primeira vez que entrava lá. Continuou, sem olhar para Kurama, aparentando ser o dono da situação. Kurama olhava com cautela dentro dos olhos de Yusuke. Não estava gostando nada daquilo, queria tirar sua mão da de Yusuke, mas por alguma razão não conseguia. Seus lábios estavam levemente abertos, prontos desde que fora preso, para dar uma resposta, uma bronca, reclamar ou simplesmente... esperar. Podia sentir seu rosto ficar vermelho, não exatamente por causa da situação, mas porque uma onda de calor instalou-se em seu corpo, atrapalhando suas idéias e vontades.

Com uma prece mental, Kurama pedia que Hiei aparecesse logo. Não devia demorar muito, afinal Hiei sempre se mostrou muito possessivo e as últimas atitudes de Yusuke eram mais do que suficientes para trazer um demônio muito zangado para dentro da sala.

De onde estava, Kurama podia ver perfeitamente os olhos castanhos quase negros de Yusuke e, seguindo com o olhar, atrás do detetive, podia não só ver, como ser ameaçado também, pelos olhos vermelhos de Hiei. O koorime apareceu exatamente no momento em que a mão de Yusuke o soltou. Kurama obedeceu. Talvez porque suas pernas não o agüentariam mais, talvez porque não se sentia seguro em desobedecer Hiei agora, talvez porque não sentisse mais nada, apenas as batidas fortes de seu coração que refletiam no seu corpo todo como um soluço insistente. A notícia com certeza não foi dada para impressionar. Ainda mais do jeito como foi dada. Hiei não mudou o tom de voz, não piscou, não demonstrou um traço de nervosismo. Como se tivesse acabado de falar algo do cotidiano, enfadonho e típico. Os olhos de Kurama piscaram algumas vezes, mas nem isso foi capaz de ajudá-lo a digerir a novidade e a raposa continuou olhando para Hiei em um pedido mudo para que repetisse o que tinha acabado de dizer. Kurama abaixou o rosto e suspirou de alívio. Pensar em Hiei como o assassino de Mukuro era, inesperadamente, algo doloroso para Kurama. Kurama olhava fixamente para Hiei esperando que ele terminasse a frase, mas ele não terminou. Os olhos vermelhos desviaram-se de Kurama e uma expressão irritada enfeitou o rosto de dele. Yusuke se agachou ficando na mesma altura que Kurama e segurou as mãos do ruivo entre as suas. Kurama franziu o cenho e balançou a cabeça tentando por os pensamentos em ordem. De uma hora para a outra sua vida foi invadida por um furacão que destruiu tudo o que tinha criado e acreditado para o futuro. O que tinha feito para merecer isso? Por que a mão de Yusuke cobrindo as suas lhe dão uma sensação de conforto desconhecida? Por que o olhar distante de Hiei lhe deixa com o coração cheio de culpa e medo? Por que sentia que o pior ainda não tinha começado?

Soltando-se das mãos de Yusuke, Kurama levantou-se, tirou o casaco, jogou-o sobre a mesa e caminhou na direção da cozinha. Entrou e serviu-se de um copo d’água. Depois ficou um bom tempo admirando a água calma e transparente no copo. "Estou fugindo...", pensou enquanto imaginava como estariam os dois sozinhos na sala. Deixando o copo na pia, Kurama soltou a cabeça para trás e suspirou, depois saiu andando até parar na porta da sala, atraindo a atenção de Hiei que apenas virou os olhos em sua direção e Yusuke, que se levantou e caminhou até ele.

Antes de Yusuke chegar muito perto, Kurama recomeçou a andar e, ignorando os dois, começou a subir as escadas.

Kurama pôde ler nos olhos castanhos que nada do que falasse ou fizesse impediria o detetive de continuar. Sentindo-se prensado entre o corpo e o braço de Yusuke, que envolveu sua cintura, Kurama não fez nada a não ser permitir o beijo ao qual era forçado. Para sua surpresa, começou a responder timidamente as carícias dentro de sua boca, as linhas de calor que as mãos de Yusuke deixavam nas suas costas e ao corpo moldado perfeitamente no seu. Coisa que pensava ser possível apenas com Hiei...

Yusuke soltou os lábios de Kurama e sorriu ao constatar que o ruivo estava ofegante e completamente entregue aos seus braços. Podia sentir com satisfação o calor que conseguiu criar no corpo da raposa e no youki violentamente raivoso que começou a crescer fora da casa. Sabia que era Hiei. Por mais que corresse perigo, o koorime não deixaria Kurama sozinho. Nem Yusuke.
 
 
 
 
 
 

4º round:
 
 

O detetive aproximou-se da orelha de Kurama e sussurrou: Kurama gemeu baixinho e encolheu os ombros. Sentiu os braços de Yusuke lhe abraçando com ternura e afagando seu cabelo. Kurama escondeu o rosto na curva do pescoço do detetive e suspirou, sentindo um perfume gostoso e inebriante. O abraço se intensificou um pouco, tornando a corrente de calor entre eles mais forte. Yusuke tomou os lábios de Kurama de novo e o beijou com fervor. Mas parou ao sentir um gosto salgado. Soltou os lábios e deparou-se com Kurama chorando silenciosamente. Lágrimas que não paravam, escorregavam silenciosas pela face rosada. O detetive limpou com as mãos o rosto de Kurama, mas mais lágrimas apareceram em silêncio e acusadoras. Yusuke abraçou o ruivo meio que em desespero, apertando-o contra o peito. Queria poder fazer algo, parar aquela tristeza e dor que faziam Kurama chorar tanto, mas não sabia como. Foi quando escutou uma voz embargada e triste: Kurama mordeu o lábio e acenou verticalmente com a cabeça, demonstrando entender os sentimentos de Yusuke. Depois virou as costas e terminou de subir as escadas. Yusuke escutou o som de uma porta sendo aberta e fechada e depois o silêncio.

De volta a sala, Yusuke avistou algo curioso. Quase escondida debaixo do casaco de Kurama, estava a carteira de Shuuichi. Yusuke afastou o casaco, pegou e abriu a carteira. Seus olhos se estreitaram em raiva. Ao lado da identidade de Shuuichi Minamino estavam guardadas pequenas fotos do ruivo e Hiei juntos. Além da raiva, Yusuke experimentou a dor, pois Kurama parecia muito feliz.

Como a raiva era maior que a dor, Yusuke pegou as pequenas fotos, colocou a carteira em um dos bolsos do casaco e saiu da casa. Ao chegar no portão, o detetive parou e olhou para a janela do quarto de Kurama, com mais raiva ainda pôde sentir a presença de Hiei lá dentro. O maxilar de Yusuke se tencionou e, amassando as fotos, ele direcionou um pouco do seu youki para a mão. Depois de alguns segundos, uma gota de sangue saiu entre seus dedos e Yusuke abriu a mão que já não tinha mais nada, apenas a marca das suas unhas fincadas na carne.


 
 
 
 

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Kurama entrou no quarto, não precisou acender a luz, os olhos vermelhos de Hiei eram muito bem visualizados até na mais completa escuridão. As lágrimas ainda estavam lá, brilhantes e silenciosas. Por mais que quisesse não conseguia parar. Percebeu que o koorime virou-se de costas. Kurama andou até ele, mas não soube o que fazer. De repente, sentiu o youki de Yusuke, fora de sua casa, mas com uma raiva e dor surpreendentes. Podia sentir o youki de Hiei também e apesar de tentar esconde-lo, Hiei não conseguia disfarçar a grande mágoa que se instalara nele.

Kurama não respondeu. Não sabia a resposta. Queria realmente poder responder, mas tudo o que sentia era muito estranho e novo. Sentindo-se derrotado pelo próprio coração, Kurama sentou-se pesadamente na cama. Kurama levantou-se surpreso. Sentia seus lábios tremerem por alguma fala, algo que fizesse Hiei mudar de atitude. Mas a expressão no rosto do koorime deixou-o em uma completa solidão de sentimentos, pois a única coisa que sentia era medo de nunca mais vê-lo. Isso foi o bastante para deixar Kurama mudo e desesperado diante de Hiei. As lágrimas aumentaram e junto com elas vários soluços. Kurama deixou-se cair no chão e chorou como nunca antes. Na sua cabeça estava amaldiçoando a si mesmo por deixar-se levar por Yusuke. Olhando para cima, Kurama soluçou mais pela visão dolorosa que obteve. Hiei olhando para a janela, completamente distante, alheio a sua dor.

Hiei ajoelhou-se e olhou nos olhos de Kurama, sua raiva era tanta que tinha vontade de socá-lo até que chorasse mais e cada vez mais. Queria escutá-lo gritar de dor e arrependimento. Por que essa raposa maldita se achou no direito de brincar com seus sentimentos? Desde que começaram a se envolver, Hiei sempre o alertara de uma única coisa: não estava ali para ser mais um, estava ali para ser o único. E Kurama sempre o enrolava com a mesma ladainha: que ele sempre seria o único. Foi pura burrice ter acreditado nisso.

Kurama tentou parar. Faria de tudo para obedecer a qualquer ordem de Hiei naquele momento. Mas as lágrimas não paravam, os soluços podiam ser abafados, um pouco. Mas as lágrimas saiam sem sua vontade. Hiei se irritou e com toda a força que pode juntar deu um tapa em Kurama, que caiu com o corpo no chão, mordendo os lábios com força, segurando ao máximo o choro. Com a outra mão, o koorime segurou o queixo de Kurama, os dedos apertavam a pele com força deixando marcas brancas envolta. Kurama nem pode respirar, já estava tomado pelos lábios de Hiei que o machucavam e o sufocavam. Hiei não pensava em poupá-lo um só segundo. A mão desceu do queixo para o pescoço e de repente começou a apertá-lo como se quisesse quebrá-lo. Não acreditando que essa era a verdadeira escolha de Hiei, Kurama se debateu e agarrou o braço que o sufocava, tentando tira-lo de lá em vão.

O beijo cessou. Mas a mão de Hiei ainda sufocava Kurama sem dar trégua. Hiei soltou o pescoço e onde estava a sua mão, marcas vermelhas e fundas ficaram. Puxado pelo cabelo, Kurama foi posto na cama e, enfim, completamente solto. Hiei estava a menos de um passo de distância dele.

Um soco seco contra o estômago de Kurama o fez perder a voz. Hiei aproximou-se, sem tirar os olhos de Kurama, passou os dedos pelas marcas que deixou nele e por duas lágrimas solitárias.
 
 
 
 
 
  5º round:
 
 
 
Hiei estava sentado na cama, com um travesseiro nas costas e Kurama abraçado a ele, encostando a cabeça em seu peito. Os dois estavam nus e parcialmente cobertos pelo lençol. Hiei tinha uma mão escondida no cabelo ruivo e outra atrás da própria cabeça, na nuca. Nem parecia que foram protagonistas de uma briga violenta. Com o semblante calmo e os olhos fechados, enquanto Kurama contornava os músculos de seu peito e abdômen, Hiei abriu os olhos e mirou cada marca que fez no corpo abraçado ao seu. Hiei virou-se de repente encarando furioso Kurama Mais informações... e a mente de Kurama, sempre acostumada a resolver questões desse tipo com facilidade, estava confusa. Conseguia entender a desconfiança de Hiei sobre o Reikai e dava razão a ele, mas não entendia o que a face mecânica de Mukuro tinha de tão importante... Sendo também que ela poderia ser retirada sem que fosse preciso matar. Um sorriso triste se formou na face de Hiei que logo depois desapareceu no ar. Kurama ficou olhando para o nada, mas na sua mente o sorriso de Hiei ficou. Toda a alegria e confiança que ele passou fez Kurama sorrir também. O ruivo voltou para a cama, espreguiçou-se um pouco e voltou a dormir. Já sabia o que fazer.
 
 
 
 

6º round:
 
 
 
 

Kurama sorriu divertido diante da cara de espanto de Yusuke, que agora derretia-se diante do sorriso que tinha a frente. O ruivo deu dois passos para dentro do apartamento sabendo ser vigiado por um par atento de olhos castanhos. Acomodou-se educadamente no sofá e observou a bagunça a sua volta. Um calhamaço de papéis timbrados com o símbolo de Koenma chamou-lhe a atenção. Estavam parcialmente espalhados pela mesa de centro. Kurama ficou tão interessado neles que até se assustou quando Yusuke ajuntou todos os papéis em um bloco só e guardou dentro de uma gaveta na pequena estante ao lado do sofá. Kurama deu um suspiro longo. Silêncio. Nenhum dos dois ousava se encarar. Kurama começou então. Kurama se dirigia a porta quando foi barrado por Yusuke. O detetive não mostrava estar contente com o que acabara de ouvir e agarrou Kurama nos braços com força. A força nos braços foi diminuindo até que Kurama se viu completamente solto. Yusuke andou até as almofadas e deitou sobre elas escondendo o rosto.
 
 

**********






O corredor estava escuro, o som de uma criança chorando no outro apartamento quebrava o silêncio e a porta pintada de branco a sua frente era intimidadora. Kurama estava parado naquele lugar há pelo menos uns dez minutos. Decidiu que era hora de parar de se preocupar, estendeu a mão e tocou a campainha.

Nada. Talvez não tenha botado tanta força no botão, não se lembrava de ter escutado o som estridente. Mais uma vez. Nada. Kurama suspirou e tocou na maçaneta. A porta estava aberta.

O apartamento estava diferente, arrumado e limpo. Kurama não pode deixar de sorrir. Deixou a pequena mochila no sofá e começou a andar procurando por Yusuke. Foi até a cozinha mas ela também estava vazia. Estar sozinho naquela casa trouxe uma sensação estranha e Kurama se incomodou de estar ali, sentindo-se um intruso. Como se os móveis, as paredes, quadros, tudo lá dentro acusasse que a presença dele era errada.

Chamou mais uma vez pelo nome do detetive, mas apenas o silêncio respondeu. Hesitante, Kurama parou em frente a porta entreaberta do quarto de Yusuke. Estendeu a mão no escuro a procura de um interruptor. Um click e tudo ficou claro. Kurama soltou uma pequena risada. O quarto continuava bagunçado. A luz foi apagada e Kurama voltou para a sala.

Ao se dirigir para o sofá, Kurama esbarrou em algo. A gaveta da estante, onde Yusuke guardara os papéis do Reikai, estava ligeiramente aberta. Não foi preciso abrir o resto da gaveta para perceber que já estava vazia.

Com um suspiro, Kurama senta no sofá e decide que a única coisa a se fazer é esperar.
 
 
 
 
 
 

7º round:
 
 
 
 
 

Kurama acorda assustado no meio da noite. Olha em volta e não reconhece o lugar onde está. A fraca luz da lua que conseguia passar pelas cortinas ilumina muito pouco mas o bastante para Kurama dar-se conta que não está mais na sala. Olhando em volta, identificou uma grande cama de casal. Estava sentado nela e coberto pelo lençol, sua mochila estava apoiada em uma poltrona em frente a cama.

Deduziu logo ser o quarto de Atsuko. Kurama fechou os olhos tentando se lembrar de como foi parar ali. Ainda estava com a mesma roupa que tinha chegado, a não ser pelo casaco e sapatos que não conseguia encontrar naquela penumbra.

Em silêncio, o ruivo se levantou e caminhou até a porta. Esperava que não estivesse trancada, Yusuke não precisava ser tão desconfiado assim. A sensação de ser um intruso voltou a incomodar a mente de Kurama enquanto saia do quarto e caminhava pela escuridão do resto do apartamento.

Pra falar a verdade, Kurama nem sabia o que estava fazendo. Devia ter ficado no quarto, quietinho, sem incomodar ninguém. Mas alguma coisa dentro dele dizia para ver se Yusuke estava mesmo dentro do apartamento. Então, andando silenciosamente, com cada passo parecendo custar-lhe um suspiro, Kurama foi até a porta do quarto ao lado.

Não sabia se chamava em voz alta o nome do detetive, se espreitava na porta sem acordá-lo, se dava meia volta esquecendo essa bobagem e voltava a dormir. A primeira coisa que fez foi... passar a língua nos lábios secos, para depois morder o lábio inferior. Inspirou profundamente e ergueu a mão até a maçaneta.

As palavras entraram no ouvido de Kurama como um sussurro libidinoso, fazendo toda a pele do pescoço se arrepiar e sua face corar violentamente. O corpo de Yusuke estava colado ao seu, os braços fortes, arrancando a sua camisa de dentro da calça e deixando rastros pelo seu peito. Kurama teve que se apoiar na porta para não cair. Um gemido escapou dos lábios do ruivo quando este sentiu o calor nervoso que emanava do baixo-ventre de Yusuke. Com um dos braços na cintura de Kurama, o detetive o trouxe para mais perto, moldando ainda mais o corpo esguio ao seu. Kurama obedeceu passando os braços pelo pescoço de Yusuke e afundando seus dedos no cabelo negro. As palavras de Yusuke se misturaram com as de Hiei na mente de Kurama: "Meu amor e meu ódio, ao mesmo tempo." "É por isso que eu te amo... e te odeio." A imagem de Hiei formou-se clara diante dos seus olhos. Yusuke seguiu-o até o quarto. Kurama fez que não com a cabeça. As mesmas palavras... Yusuke sentiu seu sangue ferver ao se comparar com o koorime. Kurama levantou o rosto, os olhos molhados.
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Já era a qüinquagésima vez que olhava para a janela... e nada. Queria meter de uma vez na cabeça que seria impossível Hiei aparecer ali, na janela do apartamento de Yusuke, mas não adiantava, Kurama continuava olhando. Esperando seu koorime voltar e dizer que estava tudo acabado... que podiam voltar pra casa.

Seus pensamentos voltaram-se para a noite passada. "Foi Hiei...", pensou "... ele conseguiu. Ele entrou na minha mente... o Jagan deve ter mostrado tudo pra ele. Foi ele quem me impediu de seguir adiante com Yusuke." Kurama fechou os olhos e tocou com a ponta dos dedos nas pálpebras fechadas.

Já faz mais de três horas que Kurama tinha acordado. Quando decidiu sair do quarto, notou que estava sozinho no apartamento de novo. Estava entediado... queria fazer alguma coisa para ajudar Hiei, mas não sabia onde Yusuke tinha ido. Se tivesse acordado mais cedo... Talvez tomando um banho o tempo passe mais rápido.

Kurama podia visualizar cada gota d’água, caindo e batendo como uma carícia no seu rosto. Juntando-se a outras e escorrendo pelo seu pescoço. Molhando todo seu corpo como mãos saciando um desejo, um pecado. O ruivo abaixou-se e escorregou, até ficar completamente submerso na água. Confortável... O movimento lento e uniforme da água, a sensação de morte e vida... Se ficasse ou se apenas levantasse um pouco o rosto... Achou ter escutado o seu nome ser chamado, mas deduziu ser alguma brincadeira da sua mente, continuou submerso.

Yusuke segurou Kurama pelos ombros e o tirou da banheira como um boneco. Os olhos castanhos estavam apavorados. Os braços envolveram o corpo molhado, Yusuke deitou Kurama no seu colo. A cara de bravo e a confusão que Yusuke fez foi o bastante para Kurama não segurar mais a gargalhada.
 
 
 
  8º round:
 
 
 
Estavam correndo há muito tempo. Chegaram ao Makai e não pararam de correr desde então. Isso, claro, não incomodava Kurama, podia correr mais alguns dias sem se cansar. O problema é que estavam correndo de mãos dadas. Aliás, Yusuke não largou a mão de Kurama por um segundo sequer desde que saíram do apartamento. Yusuke desviou o olhar e tirou algo pequeno do bolso que com um aperto de botão se transformou. Recomeçaram. Yusuke parecia estar atento, mas seus pensamentos estavam confusos e perdidos. "Você faria qualquer coisa para ajudá-lo, não é?", pensou tristemente. Não era isso que queria, não era assim que queria. Se não fosse tão difícil ignorar tudo o que sente... Tem coragem para enfrentar os mais poderosos do Makai, mas não tem coragem para completar uma frase na frente daquele que... "Droga, de novo!".

Inesperadamente, Yusuke ponderou se não estava divagando demais. Talvez não. Mas... como Kurama trocou de mão sem que percebe-se? Como ele podia abraçá-lo e correr ao mesmo tempo? Sentindo seu corpo leve, a garganta seca e o coração dando mostras de ainda estar vivo, Yusuke olha pra trás.

Um sorriso travesso iluminou os olhos do detetive, que não reparou nas asas que se abriam cada vez maiores nas costas do youko. Preso por longos braços, Yusuke se vira e abraça o pescoço do youko, seus pés já não sentiam mais o chão. Com o vento, os cabelos prateados faziam uma carícia leve e delicada nos braços de Yusuke. Yusuke abaixa o olhar envergonhado. Era fácil intimidar Shuuichi por sua aparência delicada e frágil... mas agora, com Youko Kurama, Yusuke sentia que o intimidado era ele. O rosto de traços firmes mas delgados, o olhar confiante e sedutor não lembrava em nada uma aparência frágil. Delicada talvez, mas frágil não. Uma curiosidade de saber para onde estavam indo fez o detetive olhar para baixo. Prendeu a respiração. Não sabia que Kurama podia voar tão alto e tão rápido. Quase não conseguia distinguir a vegetação lá embaixo. Kurama aumentou a velocidade e deixou-se cair. Yusuke sentiu seu corpo sendo prensado contra o do youko. Quase chegando ao chão, ele toma impulso e ganha altitude de novo. O detetive agora se vê quase que arrancado dos braços dele. Yusuke não consegue terminar a pergunta. Num instante, ele se vê no meio de um monte de água fria, por pouco não se afoga engasgado. De novo o detetive não completa a frase. Kurama solta as asas e cai em cima dele. Yusuke olha aturdido para Kurama que continua rindo sem se dar conta de como uma simples palavra conseguiu deixá-lo sem fala. Não. Não era apenas uma palavra. "Ele me chamou de... que bobagem! Ele deve estar só brincando... não é?" O beijo é curto, um toque leve nos lábios, quase uma carícia. É seguido de um abraço apertado entre os dois, ambos de olhos fechados.
 
 
 
 
 
  9º round:
 
Yusuke acena com a cabeça. Kurama olha confuso para Yusuke que tinha o olhar distante para o lago onde antes estavam. Não foi exatamente um choque, mas... Kurama realmente acreditou que Hiei tinha feito alguma coisa na mente dele. Talvez só o amasse mesmo... Como foi bobo! Devia ter imaginado que Hiei não faria uma coisa desse tipo, ele tinha certeza que não era preciso. "Ele disse que confiava no truque... mas na verdade... ele confia em mim." De repente, só o fato de ter beijado Yusuke de novo, fez Kurama sentir-se pequeno e miserável. O que tinha feito? Hiei confiava nele, acreditava nele, seu koorime estava passando por um momento difícil, sendo caçado e culpado pela morte de alguém... especial. E Kurama apenas pensava no por que de estar se envolvendo com Yusuke. Por que se deixava levar pelo jeito impulsivo e determinado, pelos beijos e abraços... "Mas no que eu estou pensando?", irritou-se
 
 
 
 

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Por instinto, Yusuke volta a segurar a mão de Kurama. Eles correram o resto do caminho sem darem as mãos, sem algemas. Um longo caminho em silêncio, até perceberem a presença de Hiei. Yusuke se vira pra trás e desvia de um objeto que foi atirado na sua direção. Os dois perdem a fala. O rosto mecânico de Mukuro estava no chão. Amassado e sujo, quase irreconhecível. Eles se viram na direção da voz e Yusuke tem que se desviar de novo. Outra cabeça tão ou mais desfigurada que o rosto de Mukuro. Uma visão nada agradável. Hiei fez questão de machucar, cortar, queimar e arrancar pedaços só do lado direito da cabeça. O lado esquerdo estava praticamente intacto.

Yusuke fica alerta para outra surpresa, mas agora é Hiei quem aparece. Estava sujo e com a roupa rasgada. O koorime fica entre Kurama e Yusuke e tem um objeto redondo levemente achatado e brilhante nas mãos.

No mesmo instante, o detetive abandona sua indiferença mostrando irritação com o comportamento de Hiei. A voz de Kurama deixa o koorime sem fala. Ele não sabe se o que sente é raiva ou dor, apenas que seu coração se aperta cada vez mais, incomodando no peito. Hiei inclina um pouco a cabeça, podendo ver de relance Kurama atrás de si. Este estava sério, mas não esperava que Yusuke aproveitasse o momento para provocar mais. Yusuke estava pronto pra tudo, pra qualquer golpe, qualquer ataque. Até viu muito bem o momento em que Hiei cerrou os punhos e, com uma velocidade surpreendente, se adiantou sobre ele. Só não esperava Kurama aparecer na sua frente e receber o soco de Hiei no estômago. Foi o som seco de Kurama tentando voltar a respirar que fez com que os dois se dessem conta de que aquela cena era real. Kurama tosse, o sangue que sai mancha seus lábios. O koorime sente-se em desespero por dentro. Antes de Kurama cair, Yusuke o ampara. Hiei observa a cena perplexo, não entendendo o que aconteceu, onde errou. Yusuke abraça Kurama.
 
 
 
 

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10º round:
 
 
 
 

Uma batida. Outra. Mais outra. Seu coração parecia dar sinais de vida própria, querendo sair de dentro de seu peito. Forçou a ponta da lapiseira contra a ponta de seu dedo. Sentiu dor. Olhou para o livro aberto na escrivaninha. Conseguiu ler e entender uma frase inteira. Não estava sonhando, isso era certo. Mas por que a tontura repentina? Por que seu quarto ficou tão diferente? Mais amplo, mais curvo, mais escuro. Por que a voz grave que entrou pelos seus ouvidos está se repetindo na sua mente? Um mantra... Como isso não podia ser um sonho? Talvez um pesadelo.
 
 


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Yusuke estava com o rosto abaixado, braços estirados ao lado do corpo, os ombros caídos. Seu peito levantou-se lentamente, com um suspiro. Derrotado. Sentia-se derrotado. Não eram lágrimas que escorriam pelo seu rosto, o que sentia era como facas traçando um caminho vertical. Era humilhante, doloroso... mas inevitável. Yusuke se vira de costas e começa a andar. Kurama sente que precisa dizer alguma coisa, que faltou dizer alguma coisa.
 
 
 
 

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Já lhe aconteceu tantas coisas, coisas que imaginava impossíveis que só em livros se tornariam realidade. Que só em sonhos poderiam acontecer. Então... não sabia dizer se o que vivia, se a realidade em que vivia, era sonho ou pesadelo.

A voz grave e profunda entra na mente de Kurama de novo. Parecia uma história infantil o que ela contava e Kurama era a criança atenta, que não perde nenhum detalhe. Kurama fechou os olhos e suspirou em silêncio. Só a voz atrás de si já o deixava tenso. Sentia toda a presença dele revelando o seu desejo. Um calor forte, um arrepio constante que desejava envolve-lo. E conseguia. Será que é verdade? Kurama pensou se não conhecia ninguém mais rico que o dono daquela voz. Riqueza de pequenos detalhes que o faz ser invejado por Youko Kurama. Detalhes tão surpreendentemente belos e escondidos que nem Kurama conseguiu roubá-los todos ou simplesmente, desvendá-los todos. A decisão. Ainda não sabe exatamente o que foi decidido. Por mais incrível que pareça, sente medo dela. Apesar de já estar vivendo sob a decisão, sem saber o que foi. Não entendia.
 
 
 
 

Morte Súbita:
 
 
 
 

A casa interia estava em festa. Shuuichi Minamino concluiu com sucesso mais um semestre na faculdade de Biologia, conseguiu um emprego em uma empresa de pesquisas biológicas e, em breve, se mudaria para um apartamento que comprara com seu próprio dinheiro. Ainda tinha o maior motivo da festa, o aniversário de Shuuichi que completaria então 21 anos.

Durante o dia várias pessoas, amigos e parentes, passaram pela casa dos Minamino, cumprimentando o sucesso do filho mais velho. Vários colegas de serviço e ex-colegas de escola, a grande maioria mulheres, fizeram questão de ir prestigiar o ruivo. Era incrível como a notícia se espalhara tão rapidamente pelo bairro, ou cidade... até pessoas que Shuuichi nem se lembrava mais apareceram, como a atendente da lanchonete onde almoçou durante a adolescência.

De qualquer forma, Shuuichi viu e sorriu para várias pessoas, mas Kurama não viu ninguém. O alegre e cativante ruivo de olhos verdes atendeu ao chamado de todos, mas o youko de cabelos cor de prata e olhos dourados ignorava e pacientemente esperava todos saírem... para um entrar...

Escureceu. E de todas as pessoas presentes, Shuuichi poderia entender, mas Kurama não, que a última a sair da sua casa seria Kuwabara. Bocejos, comentários do tipo "Já está tarde, não?", "Puxa, como escureceu...", "Você parece cansado, Kuwabara... não?" faziam parte das respostas de Kurama. Sim, Kurama, Shuuichi é que insistia em esperar pela boa-vontade do amigo.

Finalmente o grandalhão decide ir embora. O sorriso do ruivo na hora da despedida nunca foi tão sincero. O suspiro que ele deu quando fechou a porta atrás de si chegou a ser acompanhado de um gemido de cansaço. Kuwabara devia estar muito feliz... mesmo com Shiori, Shuuichi e seu padrasto se despedirem para dormir, o ruivo alaranjado continuou com um monólogo animado.

Já no quarto, Kurama se joga na cama e deixa que a brisa que vem da janela o refresque. Ele fecha os olhos e sente a franja ir e voltar, fazendo carinho na sua testa e nariz. Sem perceber, o ruivo separa os lábios, como se preparando instintivamente para um beijo.

Nada acontece. Mas tem algo estranho... ele sente que não está mais sozinho. Ele sente uma presença calorosa preenchendo todo o quarto e o envolvendo lentamente, mas não consegue identificar quem é. Os olhos verdes se abrem com pequenas piscadelas até que Kurama pôde visualizar a figura bruta e sedutora de Yusuke.

O detetive se abaixa e beija, invadindo os lábios já abertos de Kurama. Um beijo diferente dos outros, menos compulsivo, menos dominador. Um beijo que espera ser retribuído da mesma forma que é dado. Então acontece. Mas logo depois que Kurama começa a responder, logo depois que sua respiração começa a acompanhar o ritmo do beijo, Yusuke se afasta e admira a face levemente rosada. Com a voz rouca e baixa ele diz:

FIM




Esta fic é dedicada a Oraide de Paula Adurens.