Fome Youkai
Por Umi no Kitsune
Um - Ningens Estúpidos!
Indefeso e tolo. A presa, não muito forte,
mas também não um fracote. Não tem nome, idade ou
sexo. Uma carne suculenta, saborosa. Lembra os velhos tempos. Quando limpava
o sangue dos lábios com a língua, sangue da presa. Indefesa,
tola, morta. Nunca se importou com os restos, fazia questão de ficar
com a melhor parte. Carne, músculos. O estômago já
reclamava há algum tempo. Não podia mais suportar, queria
comer. Se comesse, se esses pesadelos acabassem... Mas que fome!!!
Hiei sentou-se num pulo, assustado. Suava frio,
respirava pesadamente, o estômago doía. Olhou para o lado.
Kurama continuava dormindo, tranqüilo. Como será que ele superou
isso? Será que ele passou por isso? Não podia mais esperar.
Iria acabar machucando sua raposa; estava decidido: iria comer. Com um
único impulso, alcançou o sofá, onde estavam suas
roupas. Vestiu-se e em menos de dois minutos já estava "passeando"
pelas árvores.
Um casal de namorados. Beijavam-se em frente à
uma casa. A mulher se despediu e entrou, o homem começou a andar
pela calçada, assobiando. Hiei o seguiu. Um vento forte arrastou
as folhas caídas no chão, que circundaram o homem, atrapalhando
sua visão. Quando ele afastou a última folha, sentiu algo
frio em sua barriga. Olhou para baixo e viu o metal brilhante da katana
atravessando seu corpo. Foi então que percebeu a presença
de um garoto à frente. Não, parecia um garoto, mas tinha
algo nele, talvez seus olhos, adultos, passavam a sensação
de...fome! O sangue alcançou a boca e explodiu para fora, manchando
a roupa de Hiei, que observou indiferente a agonia do ningen. Os olhos
se movimentavam buscando ajuda enquanto os lábios se movimentavam
em desespero tentando gritar, mas o sangue não permitia, preenchendo
toda a garganta e evacuando pela boca.
Hiei retirou a katana e lambeu devagar a lâmina,
provando o sabor da caça. Depois pegou-a no colo e sumiu da calçada,
deixando apenas uma poça de sangue como suspeita. Em pouco tempo
alcançou uma reserva, apenas a lua testemunhando seu pecado. Com
alguns movimentos da katana, o homem é cortado em pedaços,
o sangue escoando livremente por novas saídas. O cheiro da carne
subindo as narinas, Hiei fechou os olhos por um instante, aproveitando
o momento. Mas a imagem de Kurama invadiu-lhe a mente; a raposa estava
triste, chorando, dizia que não poderia perdoar um ato tão
cruel... Uma lágrima caiu e tombou no chão como pérola
negra, enquanto Hiei ajoelhava-se entre a carne crua. O que fez? O que
ia fazer?
Aquela carne toda na sua frente, a saliva aumentando
em sua boca, os dentes rangendo... A imagem de Kurama em sua mente, as
lágrimas se acumulando em seus olhos, o coração batendo
acelerado... Não tinha outra solução? A quem deveria
obedecer?
O instinto falou mais alto. Guardar por tanto tempo
essa vontade, negar, esconder, de nada adiantou, só aumentou a fome.
Bem que ele tentou enganar; comeu coelhos, cachorros, ratos, tantos animais
que perdera a conta. Todos crus. Mas apenas a carne humana pode sustentar
um youkai. Apenas aquele sabor, aquela consistência, o sangue vermelho
que sacia como nenhuma outra bebida a sede youkai. A fome youkai.
Hiei tornou-se um animal irracional. Abocanhava
pedaços grandes e mastigava com gosto sorrindo depois de engolir
e voltar a morder, a puxar, a rasgar até arrancar o tanto de carne
desejado. Gostava também do sangue; antes de morder sugava-o todo
do músculo, depois, com as mãos, bombeava para sair mais
e comer a carne molhada.
Saciado olhava a si mesmo. De um lado as tripas,
que não lhe faziam gosto, de outro os ossos com alguns restos que
não conseguiu aproveitar. Cheirava a sangue, em volta dos lábios
uma mancha vermelha seca. As mãos também vermelhas lhe lembravam
do pecado. Mãos que na mesma noite proporcionaram carinho e levaram,
com muito orgulho, um youko ao êxtase. Agora queria escondê-las,
cortá-las fora. Como encararia Kurama? Como esconder?
***************
- Bom dia... acorde pequeno dorminhoco!- Kurama
deu um beijo estalado na orelha de Hiei que se arrepiou inteiro- Vamos!
Mas que moleza é essa?
Hiei virou-se para a raposa, os olhos abatidos
e com olheiras profundas, uma dor de cabeça latejando. Kurama estava
sentado na beira da cama com uma bandeja no colo. Na bandeja estava o café
da manhã: achocolatado com bolachas e doces. Ao ver aquela comida
de ningen, Hiei sentiu o estômago revirar e deu um tapa na mão
de Kurama, jogando a comida no chão.
-
Que merda é essa!- resmungou enquanto escondia
o rosto debaixo das cobertas.
-
Hi-Hiei?- Kurama estava pasmo com a reação
de seu koorime. Mas o que mais lhe preocupou foi o aspecto dele.- Você
não dormiu bem? O que aconteceu...parece que andou chorando!
Kurama descobrira o rosto do koorime obrigando-o
a encará-lo. Hiei desviou-se do toque de Kurama e escondeu o rosto
de novo, resmungando algo inteligível. Kurama não sabia o
que fazer. Será que machucou seu koorime na noite passada?
-
Hiei... você não quer conversar?- Kurama
passou a mão por cima das cobertas. No mesmo instante, Hiei virou-se
bruscamente encarando-o com raiva.
-
Eu não quero ver a sua cara, raposa! Vê
se some! Não me enche!
Kurama perdeu a fala enquanto encarava os olhos vermelhos
e duros de Hiei. Duas lágrimas rolaram sem que percebesse, mas Hiei
percebeu e sua face se transformou. O koorime fechou com força os
olhos e jogou-se no colo de Kurama, abraçando-o pela cintura. Os
braços fortes o apertavam, sem saber o que fazer, ainda não
assimilando direito o que estava acontecendo, Kurama levou-se pelos instintos.
As mãos acariciaram o cabelo curto e negro; ajeitando-se melhor
na cama, o ruivo tentou trazer o rosto do koorime para cima, mas ele não
deixou. Hiei não chorava, não parecia estar triste. Estava
com raiva... mas de que? Ou quem?
Esqueceram o tempo. Hiei escondendo o rosto, evitando
olhar para Kurama e deixar ser olhado, e este apenas tentando embalá-lo
ao sono perdido. Essa foi a única coisa que conseguiu pensar para
resolver o problema. Quem sabe quando acordar, Hiei não quisesse
conversar?
**************
O vento gelado uivou ameaçadoramente por
entre eles, depois, silêncio. Na subida íngreme, apenas a
respiração cansada dos seis rapazes era percebida. Outro
vento. Na nevasca não conseguiam ver nem a si mesmos, sabiam apenas
que deviam seguir o calor deixado pelo outro à frente. Enma-daio
deu uma tarefa muito difícil a seu filho, Koenma. Ele teria que
buscar quatro objetos sagrados, guardados na montanha mais alta do Makai,
no extremo norte. Só poderia acompanhá-lo o guia, que ia
até a metade do caminho, e pessoas que seriam de confiança
de Koenma. Rapidamente Yusuke, Kuwabara, Kurama e Hiei foram chamados para
a missão.
Kurama hesitou em aceitar, achava que Hiei não
estava psicologicamente preparado para uma nova missão. Andava estressado,
não queria falar, quando falava era com brutalidade e grosseria,
evitava a todo custo olhar para Kurama e freqüentemente tinha crises
onde se agarrava a raposa querendo afogar alguma culpa. Essas crises sempre
acabavam na cama, onde Kurama se entregava e Hiei investia, com raiva no
começo e carinho e calma no final. Depois o koorime caia num sono
profundo que durava um ou dois dias inteiros para acordar mal-humorado
de novo. Kurama estava preocupado, queria sair com seu koorime, sim, mas
não para uma missão no Makai, onde ele poderia ficar pior!
Hiei queria sair. Queria acabar de uma vez com
esse hábito horrível que estava cultivando. Pensou que poderia
ficar mais um bom tempo sem carne humana, mas se enganou. Continuou caçando
e comendo e se culpando; não agüentava olhar para Kurama, tinha
raiva de si mesmo e, principalmente, tinha medo. Medo de machucar sua raposa.
Longe de humanos, de qualquer tentação. Assim poderia olhar
de novo o fundo dos olhos verdes que tanto amava e que tanto se afastou.
Mas, para a sua surpresa, o tal guia era humano.
O guia levou-os até uma caverna no meio
do gelo. Acomodaram-se e acenderam uma fogueira. A partir dali ele não
poderia mais continuar, iria passar a noite para descansar e de manhã
cedo voltaria. Estavam todos, menos Hiei, incomodados com o frio, então
foi decidido que dormiriam todos juntos, um esquentando o outro. Hiei em
princípio queria rejeitar a "oferta", mas estava preocupado com
Kurama e seu corpo humano. O ruivo estava gelado quando Hiei o abraçou
por debaixo da grossa manta. Antes de deitar-se teve o cuidado de garantir
que a seqüência seria: ele, Kurama, Yusuke, Kuwabara, o guia
e Koenma. Não queria admitir, mas precisaria também do calor
youkai de Yusuke para aquecer Kurama. E o guia estava entre Kuwabara e
Koenma porque... não poderia congelar.
Hiei abraçou Kurama e entrelaçou
suas pernas nas dele, afundou o rosto no cabelo ruivo e fechou os olhos.
-
Está com frio?- perguntou baixinho
Kurama se assustou com a inesperada demonstração
de carinho, levantou um pouco o rosto tentando vê-lo, mas Hiei virou
a cabeça em direção contrária, como sempre.
-
Um pouco.- respondeu abaixando o rosto. Hiei começou
um movimento, com a mão, nas costas de Kurama, para aquecê-lo
mais rápido.
Kurama mexeu a cabeça em afirmativa e ajeitou-se
melhor nos braços do koorime, em poucos minutos estava dormindo.
Hiei não conseguiu dormir, passou a noite acordado, velando o sono
de Kurama. O movimento rítmico de sua mão nas costas da raposa
tornou-se um simples carinho. O medo tornou-se uma constante em sua vida.
Essa fome... fome de humanos. Kurama, Shuuichi é um humano! Hiei
apertou mais Kurama contra si. Lembra-se, com ódio de si mesmo,
da vontade de comer que sentiu e reprimiu no começo. Do primeiro
pesadelo que teve... bebendo o sangue de Kurama, comendo a sua carne humana,
era um monstro. Devorava cada pedaço de músculo, lambia cada
gota do doce líquido vermelho. O sangue de Kurama era doce... Quando
pegou a cabeça sem corpo, os olhos verdes sem vida, o cabelo ruivo
com mais vermelho, mais vida, misturado ao sangue... chorou, gritou seu
nome, quis se matar. Com a katana, perfurou o próprio estômago,
mas não morreu! Viveria para sempre com a culpa, com o gosto do
amante na língua, nos lábios, nas mãos. Acordou assustado,
suando frio. Kurama ao seu lado dormia profundamente. Hiei percebeu a mão
dele em sua cintura, envolvendo-o, protegendo-o. Como uma criatura bela
pode amar um monstro? Sentindo a respiração mais calma, o
koorime voltou-se para o ruivo e o abraçou também. Não
teria outro pesadelo, nunca mais machucaria Kurama, nem em sonhos. Foi
com esse pensamento que Hiei manteve-se racionalmente, quando não
estava com fome. Quando estava com fome...
Faltava pouco para amanhecer, mas todos já
estavam de pé, guardando as mantas e vestindo os casacos. A nevasca
parou e apenas ventava. Kurama foi o primeiro a acordar e foi o único
a ver Hiei saindo da caverna, enquanto os outros dormiam.
-
Aonde você vai?- perguntou ainda deitado
-
Sair. Não está óbvio?- Hiei
nem olhou para trás, apenas continuou andando.
-
Sozinho? É muito perigoso, eu vou com você.-
Kurama descobriu-se e fez que ia levantar, mas Hiei apareceu em pé,
na sua frente.
-
Não entendeu, raposa? Eu quero ficar sozinho
e não me interessa se vai ser perigoso ou não, apenas não
interfira.- rapidamente, o koorime virou as costas e recomeçou a
andar.
-
Não demore, pelo menos.- a voz de Kurama saiu
com um traço de raiva- E... tome cuidado.
Todos já estavam prontos, apenas esperavam
a volta de Hiei. Kurama perdeu a paciência e disse para continuarem,
Hiei os alcançaria depois. Logo, Yusuke, Kurama, Kuwabara e Koenma
já desapareciam no meio da neve. O mesmo acontecia com o guia, mas
que fazia o caminho de volta. Enma-daio escolheu humanos para serem os
guias da montanha por terem vida curta. Assim o segredo do caminho não
ficaria nas mãos de uma só boca por séculos, dando
tempo do guia repensar no seu serviço e oferecer o segredo a estranhos.
Os guias humanos não ultrapassavam setenta anos, por viverem numa
região muito fria, até mesmo para youkais, morriam bem cedo.
O atual está com cinqüenta anos e logo será substituído.
Logo quer dizer daqui a alguns minutos...
Por conhecer bem a região, o homem pára
desconfiado de um barulho diferente. Um uivo de vento diferente. Não
era um vento normal da montanha, alguém estava fazendo esse vento
de uivo estranho. O barulho aumenta, dando voltas em torno do guia, que
assustado começa a correr. Quase tromba na figura séria de
Hiei parado no meio do caminho.
-
Hiei-san?!!? Que bom que apareceu! Tem alguém
estranho na montanha, o senhor percebeu?- Hiei apenas balançou a
cabeça em negativa- É só prestar atenção
no ven...
O homem ia continuar a frase, mas as palavras sumiram
quando percebeu que tanto o vento quanto o uivo pararam, justamente quando
Hiei apareceu na sua frente. Os olhos do guia se arregalaram de medo ao
ver o koorime desembainhando a katana e apontando-a em sua direção.
Antes que a cabeça alcançasse o chão, o sangue que
saia dela foi deixando um rastro rubro na neve branca. O corpo caiu pesadamente
afundando na neve já pintada de sangue.
Hiei sorriu. Teria que agradecer Kuwabara e Koenma
por não deixar que sua comida congelasse. Graças ao calor
dos dois durante a noite, irá comer carne fresca agora. Hiei largou
a katana e sentou o corpo sem vida na neve. Com um golpe queimou todo o
pescoço, na região do corte, para que o sangue quente não
saísse tão rapidamente. Depois, aos poucos, foi cortando,
e em seguida comendo, pedaço por pedaço, deixando o resto
do corpo vestido e queimando os cortes, evitando uma saída brusca
do sangue, até que não foi possível aproveitar mais
nada; a carne estava tão gelada que perdera o gosto.
***************
Todos voltaram-se na direção do
grito de Kuwabara. Ele estava caído assustado com a chegada inesperada
de Hiei que, ignorando o tombo do amigo, começou a andar na direção
de Kurama, o primeiro na fila.
-
Ô, Kuwabara! Que negócio é esse?
Quer nos matar de susto?- Koenma ralhou saindo de trás de Yusuke
que não parava de dar risada.
-
Êta missãozinha besta!- Yusuke falou
depois de suspirar- Não acontece nada, não tem ninguém
dumal pra gente dar umas porradas não? Hein, Koenma?
-
Ninguém te obrigou a vir, portanto não
reclama, menino folgado...- Koenma falou esfregando as mãos contra
o frio.
-
Eu? Folgado? Tô levando metade da sua bagagem,
baixinho metido, não reclama você!
Enquanto os outros discutiam, Hiei alcançou
Kurama que não estava com uma cara muito amistosa. Ficou apenas
andando ao seu lado, calado, olhando para frente. Estranho... Kurama nem
tentou falar com ele, não insistiu em olhá-lo nos olhos,
andava como se Hiei nem estivesse ali.
-
Não me esperaram... não me importo,
faria o mesmo em situação inversa.
Hiei não conseguiu deixar de ser ríspido,
mas Kurama não reagiu, continuou andando, sem demonstrar nenhuma
alteração na face. Hiei incomodou-se com essa atitude e deu
um sonoro "Hn", querendo se fazer presente. Kurama não se alterou.
-
Resolveu ficar mudo, raposa?- Nenhuma resposta- Ótimo!
Finalmente vou andar ao seu lado sem ser obrigado a ouvir as suas besteiras.
Hiei não percebeu, mas os olhos de Kurama
se estreitaram em raiva, cheios de lágrimas. De repente, Kurama
começou a andar mais rápido, deixando para trás um
koorime espantado e confuso. Sem entender nada e bravo pela única
reação do youko, Hiei tomou impulso e parou na frente de
Kurama.
-
Mas o que diabos deu em você agora, raposa?-
Hiei perdera a paciência e estava bravo pelo silêncio de Kurama-
Porque não para com essa idiotice de...
Hiei se desequilibrou e caiu na neve, tamanha foi
a força contida no soco de Kurama. Foi então que, com o olhar
atormentado, Hiei notou uma lágrima escapando dos olhos verdes.
Olhos zangados, mas, mais que isso, magoados. Kurama passou a manga do
casaco no rosto limpando os olhos. Todos os outros, atrás dele,
estavam parados surpresos.
-
Você não me permite te questionar, te
ouvir, te olhar e... te ajudar.- Kurama falava num tom baixo, calmo e sério-
Eu só quero ter o mesmo direito ao qual você se impôs.
Olhando, não mais nos olhos do koorime, mas
para frente, Kurama voltou a andar. Hiei, ainda caído no meio da
neve, acompanhou com o rosto a sua passagem. A lateral da face vermelha,
com a marca do punho de Kurama, não doía mais que o coração
que sangrava.
Yusuke olhava a cena com espanto em seu pensamento,
quando se deu conta que Kurama já estava longe, subindo a montanha
e Hiei continuava na neve, olhando para o nada. Dando um longo suspiro,
começou a andar, tirando Kuwabara e Koenma de seus próprios
devaneios.
-
Ô, Yusuke! O que você acha que aconteceu?-
Kuwabara perguntou baixinho, seguindo o amigo.
-
Não sei. E também não nos interessa,
é bom não comentar sobre isso, escutaram?- Yusuke falou em
tom ameaçador. Os dois assentiram com a cabeça e recomeçaram
a andar.
Ao chegar onde Hiei estava, Yusuke parou e sem
voltar o rosto disse:
-
Nós vamos andando. Faça o que quiser,
não precisa nos acompanhar, apenas junte-se a nós quando
chegarmos ao topo, mas se quer sair fora da missão fale agora que
eu o aviso depois.
Hiei não respondeu, apenas sumiu no ar.
Yusuke continuou a andar, sério.
-
Você acha que ele foi embora?- Kuwabara perguntou.
-
Com certeza, não.- Koenma respondeu revirando
a chupeta dentro da boca.- Ele ficará por perto, mas não
exatamente perto de nós.
*****************
Não estava entendendo. O que aconteceu? Quando
foi que machucou Kurama? Estava tomando todos os cuidados para que não
o machucasse, não o ferisse. Mas só pensava fisicamente.
Não imaginou que poderia feri-lo de outro modo, no coração.
Foi bruto, grosseiro, ríspido, só porque não queria
olhá-lo nos olhos... não conseguia. Não achava coragem.
Não merecia ter o amor dele, mas também não conseguia
se ver sem ele. Não o merecia, mas precisava dele. De seus olhos,
do seu sorriso, do seu carinho, seu corpo e sua voz... Kurama estava com
raiva, falou com raiva e estava certo, tem o mesmo direito, não
poderia lhe cobrar nada. Por que foi tão rude? Por que fica tão
irracional quando come? Não devia tê-lo procurado logo depois
de comer carne ningen. Ainda estava transtornado e envolvido e motivado
e confuso e... não. Não era culpa do seu instinto youkai.
Era somente sua culpa não conseguir conter a fome, não conseguir
se controlar e trabalhar com essa vontade de modo a reduzi-la até
que não interferisse mais em sua vida, não machucasse mais
Kurama. Mas como fazer isso? Como controlar-se? O que deveria fazer quando
sentisse fome de novo? E se não se controlar... quem mataria?
Continua...