A tarde aproximava-se furtivamente naquele perfeito domingo em Tokyo.
Hiei estava chegando do Makai.
O koorime entrou pela janela e fez tudo exatamente como toda vez, exceto um detalhe, ele não foi atrás de Kurama. Sentou-se em sua poltrona que ficava junto a janela.
Ficou lá, imóvel durante alguns minutos, até perceber a presença de Kurama no quarto, observando-o com bastante afeição. Seus olhos vermelhos focaram a bela face de seu namorado que sorriu docemente, porém Hiei não sorriu de volta embora tenha tentado. Envergonhado, desviou seu olhar.
- Itoshii...
- Você ainda está aborrecido comigo?
- Bem, um pouco... Não precisava Ter falado aquelas coisas para mim...
- Hn.
- Mas deixa prá lá, certo? Eu também fui muito bobo em achar que você concordaria, era uma idéia idiota...
- Raposa...
- Vem cá, vem, bebê. Deve estar com fome, vou preparar um chá para nós e vou servir junto com seus biscoitinhos favoritos, o que acha?
O youkai não respondeu, apenas levantou e seguiu a raposa até a sala, queria sentar-se sobre o parapeito da grande janela que ficava junto ao sofá. Kurama foi fazer o chá. Perguntava-se se Hiei realmente estivera no Makai, pôs estava muito limpinho, afinal Hiei é Hiei e por isso não muda, sempre que volta do mundo demoníaco está sujo, empoeirado ou com algum machucado, ou com tudo junto.
Observava com olhos distantes a bela cor que tomava o céu de outono. A brisa fria beijava seu rostinho pálido num murmurinho delicado e brincalhão, enquanto o sol adormecia e tornava-se cada vez mais avermelhado. Hiei suspirou dolorosamente dando um pequeno resmungo como resposta para seus pensamentos perturbados.
Gostaria de Ter tido um dia calmo, como costumavam ser os domingos, apenas calma, paz e sossego na toca da raposa. Kurama gostava bastante dessa falta de agito. Sentia-se tão bem... o dia inteiro para curtir seu koorimezinho, para fazer com que se sentisse amado e cuidado. No entanto, passara sua manhã escutando as ordens de Mukuro que estava preparando os planejamentos e tramites das próximas semanas, ao menos não tivera que ficar correndo atrás de um monte de youkai louco para morrer...
Poderia Ter dormindo até tarde, preguiçosamente na cama durante horas, somente sentindo o abraço gostoso de Kurama, sentindo o cheiro de rosas que exala de seu cabelo macio, trocando carinhos protetores e olhares apaixonados. Um paraíso... Mas não, tinha que estar naquele mundo de demônios... Essa paz era muito agradável e praticamente a única coisa boa do Nigenkai.
- Itoshii, aqui está o chá - soprou suavemente sua voz.
- Hum?
- Chá!
- Obrigado!
- Tem biscoito também, peque aqui!
- O quê aconteceu?
- Estou apenas pensando... vamos para o quarto.
- Está bem...
O koorime assentiu suavemente com a cabeça. Precisava mesmo fazer uma pergunta para sua raposa. A mente de Hiei não parava de repetir a mesma coisa, seu coração estava disparado de tensão, tinha medo da resposta e se ela não fosse o que esperava?
De forma suave o Youko sentou-se na beirada da cama e chamou Hiei para sentar ao seu lado em seguida apoiar a cabeça no seu colo. Assim o koorime fez sem pensar duas vezes.
Podia sentir as mãos quentes de Kurama acariciando-lhe a nuca e as costas. Aquele carinho era tão gostoso, tão necessário... precisava muito dele naquele momento, porém não mais que a resposta para sua dúvida.
Seus olhos vermelhos encaram a face carinhosa da raposa. Dedos roliços acariciaram a delicada curva da cintura esquia .
- Raposa... - murmurou em um fio de voz - eu...
- Pode falar, meu amor! - seu sorriso foi tão terno que Hiei sentiu-se perder na expressão carinhosa do ruivo.
- Você está feliz?
- Ah... É claro, Hiei, eu só posso ser feliz ao seu lado. A sua felicidade é a minha... Hiei, o que eu faço para você entender.
- Não diga isso... Não gosto quando diz que a minha felicidade é a sua... Parece que você não tem vontade própria... Eu me sinto estranho. Não entendo. - os braços do koorime se apertaram eem torno da cintura, puxando a raposa para si.
- Itoshii, fique calmo. - sorriu carinhosamente - eu te amo muito e é isso que importta. Não acha?
Hiei estava corado por uma súbita timidez.
De repente um pequeno sorriso surgiu nos lábios pequeninos do demônio do fogo. Num truque astuto o koorime derrubou Kurama sobre o leito, deitando-se sobre o ruivo, afundando o rostinho no peito quente, Hiei relaxou aspirando o aroma de flores que saia dos cabelos vermelhos. Kurama sentiu a pequena mão do koorime se espalmando logo ao lado de sua própria cabeça sentindo o palpitar. Como amava aquele ritmo... calmo, carinhoso e sempre amável. Isso era um reflexo da personalidade de Shuichi.
Ficou assim durante um longo tempo.
- Raposa, perdoe-me por não saber te amar direito.
- Como?! Hiei...
- É isso! - levantou-se, então sentou sobre os quadris de Kurama, podia ver toda surpresa impressa nas íris verdes - se eu soubesse de verdade, não te faria sofrer... Não sei ser como quer, não posso dar o que precisa.
- De onde tirou essa idéia, amor? Nunca pedi que me desse mais do que pode! Nunca quis que fosse mais ou menos do que é! Só quero o meu koorime, Hiei! Entende?
A raposa sentou-se com o koorime no colo, com os braços em torno da cintura esguia. As pernas de Hiei ficaram dobradas pelos lados das coxas trabalhadas do meio humano.
Hiei baixou os olhos evitando olhar diretamente para seu namorado.
- Só quero que seja o meu bebê... - buscou as pequenas mãos de Hiei, seegurou-as carinhosamente e depois beijou-as - Mukuro falou alguma coisa nessa ultima vez que foi lá?
- Não... Eu sei dessas coisas...
O koorime soltou suas mãos e segurou o tanzen- azul marinho de Kurama, inclinou-se para frente e apoiou seu rosto pálido na curva do pescoço aconchegante onde os fios vermelhos escorriam livremente.
- Sssshh... Não fique preocupado. Nós brigamos, mas isso não é o fim de tudo... Foi apenas um mal entendido! Entenda, por mais que nos amemos, temos nossas diferenças e vez ou outra essas diferenças podem causar alguma discordância, porém não é o que vai fazer com que deixemos de nos gostar... Hiei, é inevitável que nós não nos entendamos sempre! Faz parte de um relacionamento... Até amigos brigam e olha que eles não vivem na mesma casa. - sorriu docemente para confortar seu aflito youkai.
- Mas eu queria retribuir seu amor... e a sua dedicação - murmurou muito baixinho.
- Você retribui perfeitamente... Itoshii. - disse tentando fazer com que Hiei olhasse para seu rosto - Sabe, nas primeiras semanas, quando começamos a ficar juntos, achei que escutaria você dizer que me amava e isso causava expectativas em mim, por isso me chateava... você não conseguia dizer, não era nem é culpa sua. Então eu comecei a prestar mais atenção e percebi seu amor nos gestos, olhares, cada beijo e descobri que amor é muito mais que palavras.
- Raposa...
- O seu amor é como essa florzinha.
A raposa buscou em seus cabelos uma semente. O demônio olhou para a mão macia de Kurama e vislumbrou uma pequena flor que brotava na palma.
- Seu amor é perfeito, - pôs a florzinha na mão de Hiei - por isso essa flor será o símbolo dele.
- Que flor é essa?
- O nome é amor-perfeito! - sorriu docemente.
- Kurama... mas nem carinhoso eu sou...
- Está enganado! Hiei... Prometa uma coisa para mim.
- O quê?
- Prometa que será apenas meu itoshii... Para sempre!
Com um sorriso encantador, o ruivo pôs a flor nas cabelos de Hiei, bem junto à mecha branca. Fez o koorime deitar ao seu lado e apoiando-se sobre o antebraço, beijo os pequeninos lábios com muito carinho.
- Serei...
~FIM~