Cap.1 - Squall
Um súbito gemido vindo pelas minhas costas distraiu-me, dando espaço para que as unhas de metal do youkai de pele verde avançasse sobre mim.
"Yusuke!! Cuidado!!"
Uma voz súbita me alertou do ataque a tempo que eu me esquiva-se da arma que cortou apenas o ar. Meu punho se afundou no estômago do inimigo, rasgando seu corpo e fazendo com seu sangue espirrasse sobre mim, me trazendo um arder leve no rosto. Provavelmente o sangue dele é um ácido fraco.
O corpo do cara desabou no chão. Eu balancei meu braço, como um espadachim balança a sua espada antes de a embanha-la novamente pra remover o sangue.
"...Você está bem?"
"Graças a você. E você Kurama? ...!!"
Ao me virar, petrifiquei diante o vermelho que refletiu em meus olhos. Seu corpo estava levemente curvado e sua mão apertava o lado direito de seu estômago qual a túnica estava encharcada de sangue.
"Kurama!!"
Gritando corri até meu companheiro de batalhas que se apoiava numa arvore pra poder se manter em pé.
"...Acho que me descuidei um pouco."
Sorriu ele. Porém, seu sorriso não era tão radiante como o de costume.
Na verdade deveria estar doendo pra caramba pois ele estava soando frio.
"Agüenta firme! Vou te levar até o castelo do meu velho! Lá cê vai poder se cuidar!"
Falando, eu já emprestei meu ombro à ele, erguendo-o levemente. Vi o rosto dele se torcer um pouco diante a dor que isso deveria ter lhe dado, porém comecei a dar os passos rumo o castelo de Raizen...
"Demorará mais ou menos de três a quatro dias para que ele possa se mover. Ele precisará de descanso. Não deixe-o sair da cama de jeito nenhum, ainda mais no estado que ele está."
Foram as palavras do médico que atendeu Kurama.
"Dei a ele um tranqüilizante. Ele deverá despertar daqui a três horas."
E essa três horas já tinham se passado quando Yusuke viu os olhos verdes de seu companheiro se abrirem encima de lençóis brancos e limpos em um dos quartos do castelo.
"...A quanto tempo eu estava desacordado?"
Ainda com uma voz cansada ele perguntou. Ele olhava para minha direção, mas parecia que não conseguia me focalizar. Deve de ser por causa da luminosidade. Me levantei da cadeira onde estava sentado faz um bom tempo para ir até a janela e fechar a cortina.
"A mais ou menos seis horas. Cê se lembra? Apagou ao chegar no castelo."
Respondi. Ao terminar de fechar a cortina fui novamente até a cadeira que eu estava sentado, ao lado da cama.
" O médico disse que cê vai ter que ficar três ou quatro dias de cama. Seu you-ki tá baixo e é melhor se poupar."
Na cadeira invertida deixei meu queixo encima das costas dela. Kurama piscou algumas vezes. Parecia estar puxando sua memória e organizando os fatos. Quando até que enfim ergueu o olhar vi um pequeno espanto nos olhos dele. Olhei para o meu corpo a procura da razão do tal olhar.
"Ah, isso aqui?"
Ri após avistar algumas manchas ligeiramente escuras em minha pele.
"É por causa do sangue daquele cara. Era um acido ou coisa parecida."
As manchas se espalhavam pelo meu braço. Algumas no meu pescoço e na minha bochecha, mas nada grave. Apenas ardia um pouco.
"Kurama. Brigado pelo alerta. Quase que fui mandado pro inferno via o carimbo do Koenma."
Pras minhas palavras Kurama sorriu levemente. Ainda estava pálido. Tinha perdido muito sangue.
"É melhor descansar mais um pouco."
Me levantei da cadeira. Sabia que conversa demais não faria bem para ele, e também não confiava muito no meu auto controle.
"Sorte sua que agora é férias. Seu semi intensivo de verão vai prolongar por mais um pouco."
Já na porta do quarto pisquei pra ele anunciando a prolongação de sua mentira pra sua mãe. Kurama apenas sorriu mais uma vez.
Ao sair do quarto dei um suspiro querendo me convencer que ele não teria desconfiado de nada e andei rumo salão onde alguns dos generais estavam reunidos...
Meu corpo estava dormente, cansado.
Parecia que a lei da gravidade tinha se multiplicado sobre mim afundando-me mais ainda sobre a cama macia que Yusuke providenciou.
A dor ainda era constante na região do ferimento, mas não era tão forte comparando quando eu a adquiri naquela batalha.
Estava distraído e essa distração quase me proporcionou a morte que eu mesmo escapara dezoito anos atrás. A única coisa que me salva do desânimo total foi a de Yusuke não ter se ferido e de os alvos terem sido apagados como pedia a missão. Nesse ponto poderia ser considerado como um sucesso, porém este ferimento não estava em meus planos.
"Seu semi intensivo de verão vai prolongar por algum tempo."
Dei um suspiro. Sorte minha por ter escolhido esta desculpa para vir até aqui. Não que minhas notas estavam ruim a esse ponto, porém já é um costume meu passar as férias indo em semis e cursos de tempos indeterminados.
Senti uma brisa úmida acariciar minha face. Parecia que uma tempestade estava para chegar e o céu já estava escurecendo mais rápido que o normal destes dias de verão.
Pouco a pouco, a sonolência foi me consumindo, e quando eu já estava mergulhado num raso e confortável sono, os trovões, longe, já tinham se tornado numa canção de ninar.
Lá fora, o vento batia forte nas vidraças do quarto iluminado. A estrutura do quarto era bastante firme mesmo velha, feita a mais de mil anos, mas mesmo assim não deixava que uma pequena corrente de vento se infiltrasse balançando as cortinas.
"Infelizmente, ainda não temos outra escolha a não ser esperar uma resposta do rei Yomi e da rainha Mukuro."
A voz de Hakushin ecoou dentro de minha cabeça. Eu não conseguia esconder a aflição que aumentava pouco a pouco dentro de mim e frangi a testa olhando além do rosto do meu amigo adormecido.
Conseguia ver uma aura que o envolvia. Uma aura linda, vermelha. Porém, quem o conhecia logo repararia em um fato estranho...
A aura que reflete em meus olhos é o Ki dele. A força que flui naturalmente pelo interior de si. Esta pode ser dividida em dois tipos. O rei-ki; a força característica dos humanos que tem como fonte o espírito, e o you-ki; a força característica dos seres das sombras, tendo como fonte o sombrio de suas existências. Esta foi a explicação que o meio humano meio youkai que está na minha frente me deu quando nos conhecemos.
Porém a única aura que envolvia o ruivo era rei-ki. Seu you-ki estava fraco, quase invisível...
"Droga...!!"
Resmunguei sozinho me curvando, batendo minha cabeça nas mãos cruzadas entre minhas pernas semi-abertas.
O desgraçado que feriu Kurama lançou uma maldição contra ele que o impede de usar qualquer tipo de sua força como youko.
Pra Minamino Shuichi isso poderia ser uma coisa até boa, já que sei que um dos seus maiores desejos é de poder viver junto com sua mãe como um ser humano normal. Eu também ficaria contente com isso. Sei muito bem o quanto ele gosta da sua mãe.
Mas isso seria seis meses atrás, quando ainda a verdade de Minamino Shuichi igual a youko Kurama era conhecida por uma turma restrita. Mas se agora ele perder a força, mesmo ainda com seu rei-ki vai ser difícil escapar dos ataques daqueles que querem fama e vingança pondo as mão em sua cabeça e conseguir proteger sua família. A força que ele gostaria até de perder agora era uma coisa essencial para conservar sua vida.
Ao descobrir a maldição, pedi a Hakushin e os outros para que encontrassem algum modo de desfaze-la, mas a única esperança que tenho está em cima do Yomi e da Mukuro. Ambos são bastante velhos apesar das aparências. Poderiam saber de alguma solução, ou ao menos alguma pista pra acabar com essa desgraça.
Mas o pior, viria logo.
Kurama é um ótimo guerreiro, tanto usando seu you-ki ou usando uma arma. Mas sua maior vantagem era sua inteligência. Não duraria muito, ou melhor, quando despertar na próxima vez provavelmente ele vai descobrir tudo. Ele nunca que engoliria a desculpa de que ele está apenas cansado e por isso seu you-ki está fraco, outra vez.
Nessas horas amaldiçôo plenamente minha burrice por não me permitir ter alguma idéia pra amenizar a mente do amigo que sempre estendeu sua mão quando eu mais precisava.
De qualquer modo, os mensageiros voltarão amanhã, e a única coisa que posso fazer é esperar.
E eu sou péssimo pra isso. Droga!!!
Se eu pudesse, voltaria agora mesmo pro lugar da batalha e estraçalharia o corpo do filha da puta que fez isso com Kurama!!!
Um estrondo caiu sobre o castelo iluminado mesmo já de madrugada. A tempestade parecia ser a mesma qual mostrava sua fúria devastadora dentro de mim.
"Yusuke..."
Levantei meu rosto assustado com o chamado de quem eu ainda julgada estar dormindo. Ao bater meu olhar com os olhos cor de esmeralda dele espremi um sorriso tentando disfarçar meu interior tumultuado.
"Oi, Kurama...Ainda é madrugada, pode voltar a dormir."
"...Está aí a quanto tempo?"
"Eu? ...Não me lembro direito. Fiquei pensando em um monte de coisas que perdi a noção."
A expressão em me observar era serena. Era até demais a ponto de quase me fazer ter certeza de que ele conseguia até ler meus pensamentos.
"Cê qué alguma coisa. Água? Se quiser comer algo eu dou um pulinho até a cozinha e arranjo alguma coisa pra você comer."
Perguntei a ele meio desengonçado. Kurama fechou os olhos uma vez. Um breve silêncio apertou meu coração até que ele abriu os olhos novamente. Olhando para o teto respondeu que queria um pouco de água.
"Tá. Espera só um pouco que vou num pé e volto no outro."
Pulando da cadeira agarrei a jarra vazia que estava no criado mudo e saí do quarto quase que fugindo rumo o bebedouro que tem um em cada andar das torres.
Fiquei olhando pra cabeça de leão onde a água jorrava até que a jarra ficasse cheia. De qualquer modo, agradeci ao meu péssimo bom senso que tinha se esquecido de encher a jarra d'água sendo que tinha um ferido no quarto.
Doía demais ver Kurama daquele jeito, agora mais eu tinha a impressão de que ele estava quase descobrindo tudo, se já não descobriu...
Com passos pesados voltei até o quarto onde Kurama repousa, e ao abrir a porta, meus pensamentos se congelaram.
Kurama tinha desaparecido, apenas deixando para trás a janela
aberta onde a chuva entrava sem piedade molhava o chão inteiro...
CONTINUA