Labirinto de Pandora
por Graciela Naguissa
 

Cap.2 - Lost Roses



 

"Droga!!!!"

Ao rosnar, joguei a jarra no chão e corri até a janela deixando o estrondo do impacto para trás.

Olhei para baixo no intuito de encontrar os cabelos vermelhos daquele youko doido, mas a tempestade estava muito forte impedindo que eu ao menos enxergasse o chão.

Sem mais nada a pensar pulei da janela da altura de cinco andares e tentei pelo ou menos sentir o rei-ki de Kurama. Quando abri os olhos, já tinha disparado rumo a posição qual meus instintos mandavam. Não tinha conseguido encontrar o rei-ki dele, pois parecia que ele estava camuflando, mas podia sentir seu cheiro, mesmo que seja difícil diante esta chuva, agradecendo os treinamentos que aquele desgraçado do meu pai tinha me dado.

Mesmo na lama meus passos eram firmes, quase não perdendo minha velocidade mesmo com a péssima condição que estava o chão.

Queria chamar o nome dele, mas me conti sabendo que ele não só não responderia como também era capaz de se esconder na floresta, e isso seria pior ainda.

Não conseguia entender a razão de Kurama ter escapado do quarto.

Admito que não sou sensível ou observador o bastante para entender. Essa parte do trabalho sempre ficava com ele!!

Só dava pra saber que ele não estava normal. Me lembrei do rosto dele antes da bem dita hora que sai daquele quarto.

Se fosse o Kurama de sempre nunca que sairia numa noite de tempestade ainda fraco e ferido como ele esta. Se ele se encontrasse com um youkai de quinta categoria, aqueles que usam qualquer golpe sujo pra ganhar, o mataria na certa!!

De repente senti o cheiro desaparecer no ar e parei num movimento brusco me agarrando num galho de uma árvore para não escorregar e cair de cara no lamaçal.

Olhei com cuidado cada canto. Se o cheiro acabou significa que ele deveria estar ali por perto, até que senti a movimentação de ki num outro canto. Sentindo não só rei-ki como também you-kis, recomecei a correr rumo as manifestações. Meu coração acelerou. Não tinha dúvidas que o rei-ki era do Kurama.

Droga de raposa!!!

Rosnei me lembrando das táticas que raposas usam pra despistar caçadores. Provavelmente ele tinha passado por ali e voltado mais uma vez até certo ponto prevendo que eu iria atrás dele.

Quanto mais eu me aproximava mais os you-kis ondulavam como fogo fazendo minhas pernas se apressarem ao encontro do fujão.

Quando os minutos que pareciam horas se passaram e até que enfim encontrei as sombras de alguns youkais, senti meu sangue ferver ao avistar uma túnica branca tingida em vermelho. No próximo instante, apenas pedaços de carnes rompidas que não puderam ao menos dar seu último grito estavam no chão, com seus sangues se misturando com a lama que se tornava vermelha.

Caminhei até os cabelos vermelhos que corriam pesados pelos ombros frágeis, ajoelhados no chão.

Parei por alguns instantes com os pés quase pisando nas mãos que se apoiavam encima da lama. Com a trovoada não podia escutar sua respiração, mas pelos movimentos dava pra ver que ele estava ofegante, respirando com os ombros. Dali não dava para se ver se o sangue que vi era de um novo ferimento ou do mesmo que novamente começou a sangrar.

Pelo ou menos sabia que Kurama não passava nenhum risco.

Meu coração pulsava frio.

Se passou um silêncio longo.

O mais longo que já senti até hoje.

E então, até que enfim Kurama ergueu seu rosto e...

E...

Um som seco foi abafado pelo o da chuva.

Não dava pra ver mas provavelmente o lado direito do seu rosto deveria estar ficando vermelho.

Assim, carreguei-o no colo rumo o castelo.

Na trajetória, nenhuma palavra foi trocada...

 
*********
 

O dia estava ensolarado, fazendo parecer que a tempestade de ontem apenas tinha sido um sonho.

Acordei péssimo. A sensação de que ainda permanecia cansado não era por ter dormido naquela cadeira. Era por ter que mesmo dentro do sono ter de permanecer alerta para que o ferido que lhe dera trabalho ontem não fizesse uma nova tentativa de fuga.

Quando abri os olhos, me deparei com os olhos de Kurama que me fitavam. Mas logo ao ver que acordei, Kurama desviou o olhar deixando em vista a marca vermelha que eu mesmo tinha deixado no rosto dele ontem a noite.

Cruzei tanto meus braços quanto as minhas pernas.

Nada me a arrependia de ter dado a ele aquele tapa. Eu deveria até agradecer aos céus por eu ainda ter tido algum juízo na hora e não ter dado a ele um soco, mesmo que a vontade fosse essa.

Um silêncio permaneceu no ar.

Nenhum de nós dois abrimos a boca pra pronunciar uma palavra.

Quando alguém bateu na porta, apenas respondi para que entrasse sem ao menos me mover. Era Hakushin trazendo a notícia que os mensageiros tinham voltado.

Me levantei da cadeira e caminhei rumo a porta onde Hakushin abriu caminho para que eu passasse.

Meus sentimentos estavam sólidos.

Nem me virei para me despedir daquele que se deitava sobre lençóis quase mais brancos do que ontem.

 

**********
 

Ao escutar o bater da porta, acabei soltando um longo suspiro de alivio.

Até hoje nunca tinha visto Yusuke daquele jeito.

Sua raiva era fria, diferente das explosões quais ele habitualmente demonstrava.

Ontem, após ser trazido de volta da fuga desesperada, Yusuke sem pronunciar uma única palavra ajudou-me a trocar de roupa e de fazer um novo curativo e trocar o lençol que se sujou com meu sangue.

Minha face ainda ardia ligeiramente sentindo o tapa que ele me deu na noite passada.

Sim. Aquilo foi uma loucura.

Quase acabei sendo morto por um bando de youkais de baixo nível de energia.

Mas naquela hora não conseguia pensar em outra coisa a não ser ir até o lugar onde foi efetuada a batalha numa tentativa desesperada de encontrar algum modo de desfazer a maldição lançada por aquele youkai.

Não conseguia acreditar em minha própria imprudência em ter recebido tal coisa e nem ao menos ter percebido.

É uma maldição qual eu desconheço. Provavelmente apenas alguém com profundo conhecimento nessa área saberá como a desfazer, porém encontrar alguém assim seria difícil já que a única pessoa que lhe tinha em mente já falecera há alguns séculos.

Enquanto tentava raciocinar, veio em minha mente os olhos frios de Yusuke.

Vagarosamente, toquei no lugar onde o tapa foi depositado. Minha mão fria me trazia um certo alivio para a parte que ainda permanecia quente.

Fechei meus olhos no sentimento de culpa.

Nem ao menos agradecido eu tinha...

 

 

"Feilong....?"

"Sim, rei. A rainha Mukuro pediu que lhe informasse que há um homem de vasto conhecimento morando na cidade Layara que poderia conhecer algum método para desfazer tal maldição."

"Layara? Aquela cidade que parece mais com uma lixeira?"

Frangi a testa me lembrando da paisagem da cidade onde fui apenas uma vez. Pelo ou menos, a minha impressão não foi a das melhores.

"Então é melhor mandar alguém para trazer esse tal de Pairon até aqui..."

"É Feilong, Yusuke."

Hakushin corrigiu.

"Tanto faz. O quê importa é que eu preciso dele aqui o mais rápido possível."

"Infelizmente suponho que isso será impossível."

Pras palavras do mensageiro eu voltei o olhar sobre Hakushin para ele.

"A rainha prosseguiu com as palavras, dizendo que Feilong não sairia de lá apenas pela solicitação via um mensageiro. Ele é velho e sua sabedoria o faz imprevisível."

"Significa que o cara estudou tanto que pirou de vez?"

Comentei com uma risadinha no rosto. Isso que dá em forçar a cachola demais.

"Tudo bem. Eu mesmo vou até lá."

"Yusuke. Não sei se isso seria uma boa idéia."

"Porque?"

"Aquela cidade é uma zona independente mesmo dentro de nosso reino. É realmente um depósito de lixo pois lá que é onde excluídos e fugitivos do Makai inteiro se reúnem."

"Barra pesada, então."

Devolvi com os ombros.

"Tudo bem. Eu encaro essa."

"Yus..."

"Hakushin, já basta."

Interrompi a palavra do primeiro general deste reino.

"Um amigo meu que sempre me ajudou quando eu estava em apuros está precisando de mim. Tenho que ajudar ele."

Ao falar, virei as minhas costas.

"Se eu tenho algum, este é o meu código de honra."

Não mais me virei.

Minha cabeça já estava voltada para a visita que eu tinha que dar para o tal maluco na lixeira do Makai.

 

 

 

 

Era noite no mundo das trevas.

Pelo ou menos era lua cheia. Dava pra me desviar dos buracos e bagulhos caídos pelas passagem estreitas.

Cidade de Layara.

Era a Segunda vez que piso aqui, e tudo era como na memória da ultima vinda. Sombrio, sujo e desordenado.

As casas se amontoavam uma encima da outra como pilhares negros. Competiam os lugares estreitos onde não era raro encontrar sangue nas pedras negras e fria que ficavam embaixo dos meus pés.

Já tinha dado um punhado de ouro em pó pra um youkai numa taberna imunda. Ele era um vendedor de informações. Me deu um mapa até a casa do tal sábio maluco.

Passei só o lado de youkais que davam suas últimas palavras amaldiçoando todo o mundo e por prostíbulos onde vozes em chama escapavam pelas paredes finas até encontrar a marca que o fizesse localizar.

Olhei para o papel oleoso e amarelado. Confirmei bem e comparei o mapa até chegar à conclusão que a casa, se pudesse chamar assim, de quem eu procurava está a três portas à frente.

Caminhei até a porta onde vi uma esfera desenhada na porta. Nem liguei e bati na porta quando uma sonolência invadiu minha mente, e quando reparei, eu já estava lá estendido no chão...
 

CONTINUA