Labirinto de Pandora
por Graciela Naguissa
 

Cap.3 - L'Érmite



 

Era uma sensação muito estranha.

Meu corpo estava dormindo, mas minha mente estava bem acordada.

Tentei abrir meus olhos várias vezes mas não conseguia. Era uma total escuridão. Apenas conseguia sentir um cheiro fraco de algo queimando quando de repente retomei a coordenação do meu corpo e me levantei quase que desesperado.

Minha respiração estava ofegante.

Meu coração parecia quase explodir.

Era como se eu tivesse acordado de um pesadelo.

Olhei para as minhas mãos. Depois, dei tapinhas pelo meu tórax pra ver se não tinha nada quando escutei passos se aproximando. Instintivamente entrei em forma de defesa pulando do lugar onde eu estava de lado quando acabei arregalando os olhos frente a imagem bastante estranha que estava de pé na entrada deste espaço.

"Parece que enfim você acordou."

Do homem alto veio uma voz calma junto com um sorriso.

É um youkai de cabelos negros e ondulados, chegando até seus joelhos escondidos. Usava uma túnica verde escura com bordados dourados arrastando-a no chão encerado e um óculos estranho de lentes pequenas que se enroscavam no pilar do seu nariz.

"Se abrir seus olhos mais do que isso eles irão cair."

Sorriu o homem novamente. Então até que em fim eu me dei conta que eu estava olhando o cara de cabo a rabo, como um guri impressionado com algum bagulho.

Senti meu rosto avermelhar por causa da falta de respeito meu.

"Espere um pouco. Vou lhe trazer algo para beber."

Disse o homem deixando encima de uma das pilhas de livros o manuscrito qual estava lendo.

Escutando os passos indo se distanciando, me senti tão mal a ponto de voltar a me sentar no lugar daonde eu tinha pulado quando me acordei quando tive uma sensação macia. Era uma cama, estreita mas aconchegante.

Sacudindo de leve o pé, comecei a observar o lugar. Era um quarto contínuo onde, tanto onde eu estava quanto o outro quarto está repleto de livros e manuscritos. O ar não era o dos melhores, já que o cheiro dos livros velhos estavam no ar, mas não era nada a ponto de incomodar. Era mais como se eu tivesse entrado na biblioteca da minha ex-escola.

O outro cheiro era da lamparina que queimava algo parecido como óleo.

Tentei me lembrar do que tinha acontecido comigo e porque que eu estava aqui.

Estava procurando a casa do tal Feilong e quando encontrei fiquei sonolento e acabei desmaiando.

Uma expectativa veio na minha cabeça.

No Makai não era nada normal tantos livros reunidos em um lugar.

Ansioso pra ter logo uma resposta eu pulei outra vez da cama e fui até o quarto contínuo, desviando das pilhas de livros e das estantes anexadas às paredes. Não tinha ninguém lá e vi um outro quarto igualmente repleto de livros. Quando passei pelo quarto quarto, já quase tonto com tantos bagulhos, vi uma parte da túnica daquele de óculos num outro quarto à frente. Ia até ele quando ele se virou com duas canecas de barro que erguia vapor e nossos olhares se bateram. Ele era no mínimo uma cabeça mais alta que eu.

De minha mania acabei encarando ele, só que pro meu espanto o cara sorriu novamente e estendeu a caneca pra mim.

"O...brigado..."

Resmunguei dentro da boca. Ele deu alguns passos e se sentou no único canto que não tinha quase nada, a não ser a cadeira e a mesa onde ele estava sentado. Ele me convidou com a cabeça. Eu hesitei um pouco e me sentei na frente dele. Na mesa só tinha mesmo dois lugares.

"O quê lhe traz aqui?"

Perguntou ele. Dava a impressão que ele estava até meio encolhido com tanta coisa ao redor. Eu acabei pensando um pouco. Claro que não era por estar confuso no quê que eu deveria fazer, mas como começar.

"...Em primeiro lugar..."

Aí reparei que a minha garganta estava seca. Tomei um gole da caneca que estava entre as minhas mãos. Era um chá. O cheiro adocicado provocou cócegas no meu nariz.

Respirei mais uma vez. Me vi bem melhor.

"...Você é o tal de Feilong?"

Perguntei até que enfim. Até que então me lembrei que o jeito que eu estava falando não era educado como eu devia falar. Sempre nem esquento a cabeça com essas coisas, mas esta vez era diferente. Precisava de qualquer modo da ajuda dele pra poder curar o Kurama.

O cara na minha frente se inquietou por alguns instantes. Parecia estar avaliando a razão da minha pergunta quando até que enfim abriu a boca.

"Presumo que deve estar um pouco confuso."

Arrumou os óculos.

"Respondendo a sua pergunta. Sim, sou Feilong. Pelo ou menos o único desta cidade."

"Cê pode desfazer maldições?!"

Me levantei da cadeira empolgado. A cadeira que eu estava sentado quase tombou, mas foi detido pelo armário que estava atrás dela.

"Espere um pouco. Primeiro, gostaria de saber quem é você e a razão de ter vindo me procurar."

"Ah..."

Com as palavras calmas dele, vi que só eu estava empolgado. Respirei mais fundo mais uma vez de olhos fechados. Me lembrei da cara de abandono que Kurama fez quando dei aquele tapa ante ontem. Estava mais aflito do eu que pensava.

"Sou Yusuke, filho de Raizen."

Olhei bem pros olhos verdes dele. Não se abalaram nada a ouvir meu nome. Não sei se porque já sabia ou por não se importar.

"Meu amigo foi amaldiçoado e estou procurando um modo de desfazer a maldição."

Mesmo quando dei uma pausa, ele ainda continuou calado. Pensei que ele queria saber mais.

"...É uma maldição que impede da pessoa usar seu you-ki. Eu tava procurando algum modo de desfazer quando recebi a resposta da Mukuro que você poderia me ajudar."

Feilong continuava pensativo.

Eu não encontrava mais nada pra falar e fiquei quieto. A luz da lamparina oscilava, formando sombras estranhas nas paredes de madeira escura.

Acho que passou dois ou três minutos. O silêncio aumentava mais ainda a minha aflição na forma de bolhas ferventes dentro do meu estômago. A vontade are de berrar, exigir uma resposta, só que algo me segurava dizendo que isso só ia piorar as coisas, e isso eu não queria de jeito nenhum.

Quando pensei que ele nunca mais ia abrir a boca, vi os lábios dele se mover lentamente, como slow motion.

"...Porque quer salvar seu amigo?"

"O quê?"

Arregalei os olhos.

"É seu amante para querer salvar vindo até aqui sozinho? Novo rei deste pais."

Arregalei os olhos.

Ele falou o quê eu escutei mesmo?

Foi aí que me lembrei do óbvio.

Mesmo não aparentando, ele é um youkai.

"É porque ele é meu amigo."

Respondi me apoiando na cadeira.

"Não sei se você já ouviu falar, mas eu sou meio humano, meio demônio. Pros seres humanos não é preciso de razão maior."

Ele me ajudou várias vezes. Mesmo sem o acordo com o Koenma, tenho certeza que nada ia mudar. Que ele iria me aconselhar, me estender a mão sempre que eu precisasse.

Feilong me olhou por mais alguns instantes. Parecia tentar ver em meus olhos se as minhas palavras eram verdadeiras.

"...Quero um preço."

"..."

Pensei um pouco. Não sabia ainda quanto seria um bom preço pra aquele youkai, e olhei mais uma vez pros livros espalhados.

"Que tal alguns livros a mais pra sua coleção?"

Quando falei isso, vi que os olhos dele brilhou.

"Uma das torres do castelo serve de biblioteca. Se conseguir curar Kurama, pode levar quantos livros você quiser."

Com as minhas palavras, Feilong arregalou os olhos. Foi a primeira reação maior que vi nele até agora.

"Kurama...?"

Ele deixou sua caneca na mesa.

"O youkai que foi amaldiçoado foi o Youko Kurama?"

"Foi. Pode vir comigo agora mesmo?"

Feilong tinha voltado a pensar. Nem sei se ele tinha escutado a minha pergunta.

"Ei, Feilong."

"Ah...Sim. Só precisarei de algumas informações amais para saber quais livros terei de levar."

Ao responder dele, quase me arrependi de ter vindo até ele frente a tonelada de perguntas que ele me fez depois disso...
 
 

CONTINUA