Labirinto de Pandora
por Graciela Naguissa
 
 

Cap.6  - Espelho do Id


Algo maior que amizade...Foi isso que Feilong me disse.

Que eu gosto do Kurama. Mas não gostar como um amigo. Ele me perguntou se eu não gosto dele de um outro jeito. Mas que outro jeito?! Quer dizer que ele perguntou se eu sou maricas?!

Me virei dentro da cama do meu quarto na torre principal.

Era lua cheia, e mesmo com as luzes apagadas, dava pra ver cada objeto que tinha dentro dele.

Não, não é bem assim.

Sei que, dependendo do clã e da raça, é normal nos youkais fortes Ter como parceiro um do mesmo sexo. Era algo relacionada com a porcentagem de sobrevivência dos filhos. Quanto mais forte são, mais condição de sobreviver e, menos necessidade de procriar. É, foi algo assim que me disseram faz algum tempo.

Mas, gostar. Gostar de abraçar, de abraçar, de tran...

Eu saltei da cama e balancei violentamente a cabeça com os pensamentos que fluíram dentro da minha cabeça.

Tudo bem! Kurama é bonito, até mais bonito que muitas meninas. Eu reconheço!!

Só que achar o cara bonito e gostar dele é diferente!!!!

Me lembrei dos olhos verdes, límpidos, quase que transparentes...Os cabelos longos e macios que lembram suas rosas...A pele delicada de marfim...Os lábios vermelhos e carn...!!!

Yusuke, seu idiota!! No quê que cê tá pensando, seu maluco!!!

Dei cascudos na minha própria cabeça quando imaginei como seria tocar nos lábios dele.

Pensei em me acalmar e sair do quarto pra tomar ar puro. De qualquer modo bater na minha própria cabeça me tirou por completo o pouco sono que eu sentia.

Ia sair da cama pra colocar os sapatos quando alguém bateu na porta fazendo meu coração quase sair pela boca.

"...Yusuke. Podemos conversar um pouco?"

Kurama?!

"C-claro! Entra!"

Meio que no desespero berrei e logo me senti um completo idiota ao ouvir minha voz virar ao avesso no meio do berro de tão desprevenido estava quando fui pego.

A porta se abriu e, lá estava, no corredor, a razão desta noite sem sono, usando uma capa encima do seu traje de dormir pra espantar o frio da noite.

"Pode sentar."

Falei pra ele, sentado no centro da cama, puxando pra mim meu calcanhar.

Kurama entrou em silêncio e se sentou na ponta da minha cama. No luar, o branco da sua capa parecia arder nos meus olhos.

"Do quê que cê quer falar comigo?"

Perguntei não me sentindo muito à vontade, balançando a perna no nervosismo por causa das coisas que ainda rodavam dentro da minha cabeça.

"...Eu queria, me desculpar..."

"Se desculpar? Do quê?"

Perguntei.

Kurama ficou calado por alguns segundos...

"...Eu queria me desculpar sobre o dia da tempestade."

"Ah...Então é isso."

Fiquei um pouco decepcionado. Pensava que era sobre a conversa que temos hoje a tarde, mas mesmo assim sorri, despistando um pequeno suspiro...

"Eu estava desesperado e...Não tinha pensado nas conseqüências..."

Kurama continuou com um olhar baixo, olhando pra suas mãos cruzadas, derramadas sobre seu colo.

"...Eu teria certamente morrido se você não tivesse me salvo aquela hora..."

A voz dele expressava um sentimento de culpa e arrependimento, me obrigando a exprimir um sorriso pra tentar consola-lo.

"Tudo bem. Eu já esqueci."

"Mas..."

"Tô falando sério. Não precisa se desculpar. Ainda mais, o tapa que te dei deve de ter doído."

Kurama ergueu o rosto lentamente. Parecia estar um pouco melhor.

"Então..."

Ele sorriu carinhosamente.

"...Obrigado."

"Ah...Err...Não há de que..."

Fiquei sem jeito e virei minha cara pra um lado qualquer, escondendo o vermelho do meu rosto.

"O doutor... Eu não sabia que ele foi seu professor."

Comentei, mais pra disfarçar minha inquietação.

"Foi ele quem te contou?"

"Foi...Eu fiquei conversando com ele hoje a tarde."

Kurama fechou os olhos e logo estava olhando pra fora do quarto, a lua cheia.

"Eu mal sabia ler e escrever quando o conheci, com cento e cinqüenta anos."

Só...?

"Tinha sido atacado e escapei por um triz, mas sem forças, perdi a consciência ao me esconder em uma fenda e assim fui encontrado e socorrido por Feilong. ...Eu estava ferido e nervoso. No começo fui rude, ingrato, me recusando dos seus tratamentos e muitas vezes acabava ferindo-o seriamente. Não conseguia entender o porquê dele ser gentil com alguém que nunca tinha visto em sua vida..."

De um modo, entendi a reação qual Kurama disse que teve.

"...Reparou da força escondida dentro dele?"

"...Reparei..."

Confessei. Desde o primeiro dia achava estranho não só seu estilo de vida, mas também a presença de uma força estranha que sinto quando estou perto dele.

A força dele pode ser classificada como nível "E" ou "D", que já é visto como forte comparando com a média do Makai, mas só de ver as mão dele é fácil perceber que ele não é de lutar. Os únicos calos que ele tem é calo de escrever.

"...O clã qual ele pertencia era conhecido como "Shenlong" que significa deus dragão. Eram ótimos guerreiros, protetores de uma cordilheira afastada."

"Como assim, "era conhecida"?"

"...Foi destruída, a mais de mil e trezentos anos..."

Disse Kurama com o amargo na voz.

"O shenlong era um clã extremamente forte e sábia, e isto foi considerado como ameaça para um rei da época ,que ordenou o extermínio. Feilong ainda era jovem, não foi treinado, e nunca quis, temendo que fosse descoberto, mesmo tendo tanto potencial. É por isso que mora lá, naquele local sombrio, isoladamente."

Franzi as sobrancelhas ao saber do passado que se escondia por trás daquele sorriso sereno e olhos cor de jade.

Apenas sabia que ele era inteligente, vivido, mas nunca tinha pensado que teria um passado desses...

"...Yusuke?"

Eu estava vagando pelos meus pensamentos, quando escutei o ranger da cama e fui surpreendido por uma mão macia que tocou minha testa.

"!!"

Por reflexo agarrei a mão dele erguendo meu rosto. Logo perto estava seus olhos grandes e brilhantes, surpreendidos com a minha reação. Acabei vagando na profundeza dos seus olhos esmeralda, admirando sua beleza, cristais das luzes que se refletem no sereno das manhãs da primavera...

 

Meu corpo estava quase que inteiro sobre a cama, apoiando-me apenas com meu joelho sobre o colchão. Nos olhos castanhos refletia minha imagem como um espelho dos meus sentimentos nunca revelados. Seus olhos molhados tremeram em desejo e suas pálpebras fecharam-se vagarosamente, num sinal convidativo, fazendo-me inclinar sobre seu rosto ruborizado.

Nossos lábios se roçaram, lentamente, experimentado o toque macio. Ao sentir a ponta da língua tocar na minha, senti um arrepio subir pela minha espinha...Fazendo meu coração disparar...

Yusuke puxou-me pela nuca, aprofundando o beijo que tanto sonhei, fazendo-me derruba-lo na cama macia e esfregar meu corpo no corpo que se aquecia cada vez mais, e mais...

Sua mão que estava na minha nuca deslizou sobre meu corpo da espinha para a cintura, da cintura para minhas nádegas, acariciando-as com vigor.

Rolamos sobre a cama, fazendo-me sentir o peso do seu corpo sobre o meu. Sua perna entre as minhas movia-se para cima e para baixo, em atrito com a pele sensível do interior das minhas cochas, enrijecendo pouco a pouco meu membro que começava a latejar de desejo e carência.

Senti seus lábios ardentes deslizar sobre minha face até chegar ao meu pescoço, sugando-me a pele delicada e depois fazendo-me delirar com o toque de sua língua.

Meu corpo inteiro declarava com fervor a felicidade de ter finalmente aquele que tanto desejava. Porém meu deleitar foi que brado frente o desaparecer do peso que estava sobre meu corpo.

Abri meus olhos em abandono total, ainda ofegante, e encontrei os olhos castanhos que se desviaram dos meus. Yusuke se retirou decima de mim, ainda tentando normalizar sua respiração.

"Me desculpe, Kurama...Eu não devia ter, feito isso..."

Ao murmurar da sua voz, o canto do meus olhos começaram a arder, fazendo meus olhos se umedecerem na desilusão.

"Sou eu que...tenho que me desculpar..."

Levantei-me da cama arrumando meu sobretudo e abandonando o aconchego e a maciez dos lençóis saindo do quarto do dono do castelo.

Caminhei pelos corredores como um zumbi chegando até que enfim ao meu quarto.

Ao fechar a porta, apoiei minhas costas e deslizei até o chão, deixando escorrer pelo meu rosto uma lágrima solitária...
 

CONTINUA